Profissionais do setor produtivo estão preocupados com a forma que as informações da Operação Carne Fraca estão sendo trazidas ao público. Com a repercussão inicial da operação, o medo do setor é que as pessoas generalizem as irregularidades encontradas em frigoríficos do Paraná, Goiás e Minas Gerais como regra para todas as empresas e produtores do segmento.

Para a zootecnista Paula Martino, autora do blog Carne Com Ciência, ou os dados já divulgados sobre a operação estão incompletos ou a ação deixou uma série de lacunas. Ela falou sobre o tema em entrevista ao Campo Grande News.

“As informações passadas por um delegado que conhece a lei, mas [aparentemente] não de procedimentos de frigorífico, dá a entender que o problema é grave, mas muitas coisas não são conforme aquilo que parece”.

O primeiro questionamento de Paula é sobre o tempo que duraram as investigações e a tomada de providências. Se desde o início houve denúncias de carnes impróprias para consumo, por que a corporação não apreendeu imediatamente aqueles produtos?

Segundo ela, no setor, as empresas devem ser capazes de, em uma emergência sanitária, por exemplo, identificar exatamente para foram os lotes problemáticos no intuito de recolhê-los.

“Todas as indústrias exportadoras de carne in natura e derivados que são habilitadas para exportação precisam ter procedimentos de segurança alimentar. Saber fazer recall é um deles”.

Paula também diz ter notado pouco embasamento técnico na divulgação dos resultados da Carne Fraca em vários temas, como sobre a presença de ácido ascórbico acima do normal em alguns derivados e ausência de proteínas essenciais em outras.

“Por exemplo, o ácido ascórbico é um ingrediente comum na fabricação de produtos industrializados. Nada mais é do que vitamina C, que logicamente deve ser usado em uma quantia específica de acordo com a lei. Nos produtos industrializados ele acentua o sabor e muda o cheiro. Isso é super normal, assim como nitrato e nitrito para dar aquela cor rosada na salsicha. Precisa ser comprovado se a quantidade estava dentro do limite”.

Outro ponto polêmico envolve o suposto uso de papelão em alguns embutidos, informação que surgiu através de uma ligação telefônica interceptada em envolvidos na investigação usam o termo “entrar com papelão no CMS”, sigla para Carne Mecanicamente Separada.

Para a PF, os dois estavam combinando o acréscimo do papelão nos produtos. No entanto, segundo a zootecnista, em nenhum momento foi informado se os investigadores apreenderam e examinaram lotes fabricados pelas empresas suspeitas no intuito de confirmar a presença do material.

“Se existe esse laudo cabe questionar o motivo de não terem apreendido os lotes contaminados”.

Contudo, Paula reforça que se for comprovada a irregularidade, os envolvidos devem ser punidos e a situação corrigida.

“A questão é como essas informações foram divulgadas e por que elas foram divulgadas dessa maneira. Por que não houve recall desse produto? Deixaram a gente comer produto estragado durante dois anos e não falaram nada? Se houve uma acusação, por que eles não recolheram os produtos daquela empresa e fizeram um exame? Por que não deram batida na indústria e recolheram os produtos da câmara fria?”.

1 Comment
  1. Yara Araújo 7 years ago

    É muito fácil criticar com apenas aquilo que nos é “fornecido” pela mídia! Ela pode usar o seu “saber” para colocar a informação exatamente da forma que seja mais conveniente…. e como não temos o costume de estudar, de procurar maiores informações…. da nisso! Simplesmente “vitamina C provoca câncer!” Ok! Então vamos aprender a fazer fotossíntese e antes que a camada de ozônio seja totalmente destruída pois a incidência direta de UVA e UVB também são capazes de provocar inúmeras alterações nos organismos!
    Vamos estudar galera!
    PAULA MARTINO, excelente texto!
    #Zootecnia
    #AmoOQueFaço
    #AmoMinhasProfissoes

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