Os búfalos desempenham importante função econômica e social no planeta. O leite de búfala é o segundo leite mais produzido no mundo e a carne de búfalo é sensorialmente semelhante à carne bovina. Os produtos bubalinos são, por sua composição nutricional, dotados de características diferenciadas que devem ser exploradas em consonância com o potencial da espécie. Porém, mesmo com tantos diferenciais, hoje o Brasil, país que possui o maior rebanho bubalino do Ocidente, ainda não tem apresentado à este potencial à população. É o que observa o zootecnista Ricardo Pessoa, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Ele falou sobre o tema em artigo publicado recentemente no portal Nordeste Rural.

(Foto/Reprodução: arquivo pessoal)

Estudioso da área há anos, Pessoa se apaixonou pela ‘Bubalus bubalis’ inspirado inicialmente professor Ross Cockrill, e, anos mais tarde, pelo professor Octavio Domingues, zootecnista, catedrático de Zootecnia, embora agrônomo de formação. Em suas pesquisas, Pessoa descobriu uma publicação de 1955, assinada por Octavio na Revista Suplemento Agrícola, que versava sobre a espécie.

“Cada vez que me ponho em direto contacto com a criação de búfalos, no Brasil, mais cresce aquela minha convicção, nascida em 1937, de que o búfalo deve merecer nossa particular atenção. Atenção do poder público, atenção dos técnicos, atenção dos criadores, realmente empenhados em criar riqueza, com as atividades pecuárias…. É minha convicção de que o búfalo pode e deve ser uma das nossas melhores fontes de leite, de carne, de couro. Ele poderá ser – em certas condições de meio – um competidor do zebu; e até um competidor vitorioso”.

(Foto/Reprodução: Wald1siedel /C BY-SA 3.0/Wikimedia Commons)

Segundo Pessoa, a afirmação foi mais que certeira. Ele defende que, de fato, o búfalo é uma das melhores fontes de leite, carne e couro e comprovado competidor com outras espécies de ruminantes criadas no Brasil.

Porém, 80 anos depois dos escritos do Professor Octavio, os bubalinos ainda não ocupam como poderiam à paisagem brasileira campestre. Realidade que tinha tudo para ser facilmente contornada, já que o rebanho bubalino brasileiro possui, segundo o IBGE, aproximadamente 1,5 milhão de cabeças de búfalos. A Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB) estima o rebanho bubalino brasileiro em aproximadamente 3 milhões de cabeças.

“É comum relatos de que nunca consumiram a carne de búfalos, que conhecem o búfalo como um ‘bisão’, além de imaginar a espécie como de comportamento bravio. Por outro lado, não incomum é observar a presença do Bubalus em linhas de abate nos mais variados rincões do país. Porém, uma vez obtida à carcaça a espécie de nobre potencial é condenada ao desvane. Como ouvi um dia desses de um criador: o búfalo no Brasil nasce búfalo, cresce búfalo e sai ao abate como boi”.

DIFERENCIAL

Para Pessoa, alguns criadores de búfalo infelizmente têm contribuído para o não conhecimento sobre estes animais. Segundo o especialista, a carne de búfalos possui composição nutricional diferenciada, com cor, sabor e maciez similares a carne bovina, o que facilita a comercialização como sendo desta espécie. Porém, a carne de búfalo possui reduzidos teores de ácidos graxos e colesterol, além de gordura com baixo potencial aterogênico e trombogênico.

“Em condições racionais de manejo, novilhos bubalinos criados a pasto têm sido abatidos ao redor de 18 meses de idade com aproximadamente 16 arrobas. Quanto ao leite de búfala, este possui alto teor de sólidos totais, proteína, minerais e vitaminas, reduzidos teores de gordura saturada e colesterol, além de ser naturalmente composto pela caseína A 2 A 2, esta associada à ausência de distúrbios digestivos quando da ingestão do leite e derivados lácteos. Na fabricação de derivados lácteos observa-se rendimento superior em até 100% quando comparado a outras espécies, o que permite que o leite seja comercializado pelo dobro do preço pago ao leite bovino”, detalhou o pesquisador.

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