Detecção de brucelose em búfalos d’agua no estado do Maranhão

Bárbara Carolina Gonçalves de Oliveira1, Alessandra dos Santos Belo Reis2, Henrique dos Anjos Bomjardim3, Danillo Henrique da Silva Lima4, Francisberto Batista Barbosa5, Tatiane Teles Albernaz6, José Diomedes Barbosa7, Jenevaldo Barbosa da Silva8
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
2 - Universidade Federal do Pará
3 - Universidade Federal do Pará
4 - Universidade Federal do Pará
5 - Universidade Federal do Pará
6 - Universidade Federal do Pará
7 - Universidade Federal do Pará
8 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

RESUMO -

A ocorrência de brucelose em búfalos foi avaliada pelos testes do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) e Fixação do Complemento (FC) em 221 búfalos d’água do Maranhão, Brasil. A detecção de búfalos positivos pelo AAT foi de 29,86% no Maranhão. No teste confirmatório da FC nenhum dos 66 animais reagentes no teste do AAT reagiram positivos. A elevada ocorrência de B. abortus observada nos animais do estado do Maranhão é preocupante para o sistema sanitário de controle e erradicação de brucelose bovina. Esses resultados mostram a importância da brucelose em búfalos, indicando a necessidade eminente de um programa de controle especifico para esses animais no Brasil.

Palavras-chave: AAT; Búfalos; Brasil; Brucella abortus.

Detection of brucellosis in water buffaloes in the state of Maranhão

ABSTRACT - The prevalence of brucellosis in buffaloes was evaluated by the RBT in 221 water buffaloes from Maranhão state, Brazil. The detection of buffaloes positive for brucellosis by RBT was 29.86% in Maranhão state. None of the 66 animals that reacted positively in the RBT test in Maranhão reacted positively in the CF confirmatory test. The high prevalence of B. abortus that was observed in animals, especially in the state of Maranhão, is worrisome for the health system for the control and eradication of bovine brucellosis. These results show the importance of brucellosis in buffaloes, indicating the imminent need of a specific control program for these animals in Brazil.
Keywords: RBT; Buffaloes; Brazil; Brucella abortus.


Introdução

O Brasil possui aproximadamente 1,3 milhões de búfalos, constituindo assim o maior rebanho bubalino do ocidente (IBGE, 2012). Destes, 63 % encontram-se na região Norte do país, onde os búfalos são utilizados tanto para exportação de animais vivos como para o consumo de carne e leite. De acordo com as últimas pesquisas realizadas no Brasil, o rebanho de búfalos apresentou um crescimento expressivo entre 2010 e 2011, com um aumento de 7,8% (IBGE, 2012).

A criação de búfalos em sistema extensivo, as dificuldades de sucesso em programas de controle sanitário em países com grandes rebanhos e o equívoco que os búfalos são resistentes a doenças que afetam bovinos são fatores que dificultam o controle da brucelose em búfalos (de Nardi Júnior et al., 2012). Nas últimas décadas a brucelose bovina tornou-se alvo de um grande programa de controle e erradicação no Brasil, pois além dos prejuízos no processo produtivo, esta doença constitui uma das principais barreiras sanitárias para a exportação do gado bovino. Esses programas normalmente não fazem uma distinção entre bovinos e búfalos, sendo adotada a mesma estratégia de controle e erradicação. No entanto, algumas características peculiares de búfalos exigem estudos específicos voltados para esta espécie, principalmente em relação às ações de epidemiologia, diagnóstico, controle e profilaxia. Assim, o presente estudo teve como objetivo investigar a soroprevalência de B. abortus em bubalinos no estado do Maranhão, Brasil.



Revisão Bibliográfica

A brucelose bovina é uma doença bacteriana causada por Brucella abortus. A doença é uma das principais zoonoses do mundo (Seleem et al., 2010). Esta doença pode ser facilmente transmitida aos seres humanos através do consumo de produtos lácteos crus e/ou contato com animais infectados (OIE, 2009). Além de ser uma ameaça à saúde pública, a brucelose pode ter grande impacto econômico não apenas para os proprietários de animais, por diminuição da produtividade animal, mas também para um país ou região por afetar toda a cadeia produtiva da carne, leite e derivados (Seleem et al., 2010). Embora os estudos envolvendo a cadeia epidemiológica da brucelose bovina sejam vastos, o mesmo não acontece com os búfalos, principalmente nos trópicos, onde os países realizam pouco investimento em controle e erradicação da doença.



Materiais e Métodos

Os animais do Maranhão eram mantidos em vegetação predominante de floresta Amazônica (floresta tropical). No estado do Maranhão os búfalos são criados predominantemente com gado de corte. Os bubalinos são vacinados contra brucelose e febre aftosa, e recebem periodicamente drogas endectocidas. Esses animais são muitas vezes mantidos em sistemas de produção que visam o lucro pela comercialização de carne, leite e animais vivos. Estes animais, na maioria das vezes são mantidos em pastagens de capim Brachiara brizanta. Em contraste, grandes áreas de pântano e pastagens ao longo das várzeas dos rios são encontrados na Ilha de Marajó. Nesta área, os búfalos são criados em zonas úmidas, embora eles sejam vacinados contra os mesmos agentes como aqueles criados no continente, endo e ectoparasiticidas são raramente usados. Estes animais são criados usando um sistema extensivo de pastagens naturais. Assim, 221 animais de dois municípios foram selecionados no Maranhão.

O Teste do Antígeno Acidificado Tamponado foi realizado conforme o Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (BRASIL, 2006). O método consiste em colocar 0,03 mL do soro do animal teste em contato com 0,03 mL do antígeno, em uma placa de vidro quadriculada, homogeneizar e manter a placa em movimentos rotatórios lentos e constantes até o momento da leitura. A leitura é feita após quatro minutos de reação, observando, com ou auxílio de uma caixa com luz. Quando observamos a ocorrência de aglutinação o resultado é positivo.

A Reação de Fixação de Complemento foi empregada com incubação a 37ºC nas duas fases da reação. Foi utilizado antígeno produzido com B. abortus para a prova de soroaglutinação lenta em tubos. Foi empregado sistema hemolítico formado por hemácias de carneiro sensibilizadas com hemolisina (anticorpo de coelho contra hemácia de ovino) titulada.  As frequências de animais positivos para brucelose no exame do AAT em cada uma das populações estudadas (Maranhão, Pará e Ilha do Marajó) foram avaliadas usando o teste do chi-quadrado, com o nível de confiança de 95%. 



Resultados e Discussão

A ocorrência de animais soropositivos para B. abortus no teste de AAT foi de 29,86% no Maranhão (Figura 1). A ocorrência de búfalos positivos para brucelose no teste definitivo da Fixação do Complemento no Maranhão foi de 3,88% (Figura 2). No teste confirmatório da Fixação do Complemento, nenhum dos 29,86% de animais reagentes no teste do AAT no estado do Maranhão confirmou-se.

Embora os búfalos possam funcionar como um importante reservatório da brucelose para a espécie bovina, as informações sobre a ocorrência e distribuição regional dessa doença nestes animais são escassas no Brasil (Silva et al., 2015). No estado do Maranhão ainda não existem estudos que estimam a ocorrência de brucelose em búfalos. Recentemente Silva et al. (2015) mostraram ocorrência de 4.8% (188/3917) para B. abortus em búfalos no norte do Brasil.  Em outros estados brasileiros, a maior ocorrência de brucelose em búfalos foi encontrada, em São Paulo (40,9%) e Goiás (20,6%) (Santa Rosa et al., 1961; da Costa et al., 1973).

A falta de programa de controle sanitário na bubalinocultura brasileira, o manejo extensivo e condições ambientais da região norte do país e as crenças equivocadas de que búfalos são resistentes a doenças que comumente ocorrem em bovinos tem dificultado o controle da brucelose em búfalos (Guarino et al., 2001). As diferenças existentes entre os búfalos e bovinos deve ser levada em consideração para a eficiência dos programas de controle da brucelose bubalina nestas considerações (Silva et al., 2015). Assim, novos estudos devem ser realizados no intuito de conhecer a ocorrência desta doença em áreas onde búfalos e bovinos são manejados nas mesmas condições.

A brucelose bovina tem se apresentado de forma endêmica na América do Sul (Seleem et al., 2010), tornando o estudo e controle desta doença em búfalos cada vez mais importante. Com os planos sanitários cada vez mais exigentes para a exportação da carne bovina, os búfalos podem se tornar um obstáculo para o sucesso do programa de controle e erradicação da brucelose no Brasil. As estimativas oficiais relatam perdas na ordem de US$ 600 milhões/ano na América Latina devido à brucelose bovina (Seleem et al., 2010). Mesmo com os altos custos dos programas de erradicação da brucelose, uma economia de US$ 7 para cada US$ 1 gasto na erradicação foram estimados. O programa nacional de erradicação da brucelose nos os EUA custou 3,5 bilhões de dólares entre 1934 e 1997. Neste país as perdas apenas em função da redução da produção de leite e aumento da ocorrência de abortos em 1952 foram de US$ 400 milhões (Sriranganathan et al., 2009).

Sendo a produção de búfalos uma atividade econômica importante no Brasil, especialmente na região Norte, o monitoramento e controle da brucelose em búfalos são essenciais para o sucesso desta atividade (Paulin e Ferreira Neto, 2008). Assim, sem dúvida os estudos de sorodiagnóstico são essenciais e contribuem para a formulação de um controle eficiente dessa doença no país.



Conclusões

Brucella abortus circula em búfalos do estado do Maranhão, tornando propenso a infecção de um dos maiores rebanhos bubalinos do Nordeste. A relevância do búfalo como fonte de carne, leite e couro, tração animal e moeda de troca para a população humana na região estudada, combinada com a elevada ocorrência da doença, torna inadiável a implementação de um eficiente programa de controle da doença para evitar problemas socioeconômicos que um surto possa provocar. 



Gráficos e Tabelas




Referências

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