Efeito do sombreamento sobre os parâmetros sanguíneos de vacas da raça Girolando em lactação

Viler Carrijo Oliveira1, Karen Martins Leão2, Karen Sofia Rezende dos Santos3, Jessica Souza Andrade4, Mariana Borges Castro Dias5, Nivaldo Ribeiro de Almeida Neto6, Felipe Hernandes Carvalho7, Angélica Cabral Oliveira8
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar os parâmetros sanguíneos e pH do sangue de vacas em lactação da raça Girolando, mantidas em piquetes com e sem sombreamento. Foram utilizadas nove vacas da raça Girolando que foram submetidas a dois tratamentos, sendo piquete com sombreamento artificial e natural (sombrite, constituído de tela plástica com provisão de 80% de sombra, sendo 8,0 m2 por animal e 121 m lineares de árvores) e piquete sem sombreamento. Durante o período experimental os animais receberam a mesma dieta (silagem de milho e concentrado) e água e sal mineral ad libitum. O experimento foi realizado nos meses de julho, agosto e setembro de 2016. Os 90 dias experimentais foram divididos em 6 períodos de 15 dias em que os animais passaram de forma alternada por 3 períodos no piquete com acesso a sombra e 3 períodos no piquete sem sombreamento. Aferiu-se diariamente as temperaturas e umidade máxima e mínima no piquete com acesso a sombra e no piquete sem sombreamento através de um termo-higrômetro. Do oitavo ao décimo quinto dia de cada período aferiu-se diariamente a temperatura retal dos animais e foram realizadas 4 coletas de sangue para avaliação do pH e hemograma completo. Para a comparação das médias, dos parâmetros avaliados, entre os grupos foi utilizado o teste T a 5 % de probabilidade através do programa R statistical versão 3.0. Não foi observado diferença entre os tratamentos em nenhum dos parâmetros sanguíneos avaliados. Estes resultados podem ser consequência do pequeno estresse imposto pelo ambiente nos diferentes tratamentos, associado à boa adaptabilidade dos animais da raça Girolando ao calor. Conclui-se que não houve efeito do sombreamento sobre os parâmetros sanguíneos e pH do sangue de vacas em lactação da raça Girolando.

Palavras-chave: Ambiência, Bovino, Hemograma, pH

Effect of shading on the blood parameters of lactating Girolando cows

ABSTRACT - This study aimed to evaluate the blood parameters and pH of the blood of lactating cows of the Girolando breed, kept in pickets with and without shading. Nine cows of Girolando breed were submitted to two treatments, being a picket with artificial and natural shading (shade, consisting of plastic provision with 80% shade supply, being 8.0 m2 per animal and 121 linear meters of trees) and picket without shading. During the experimental period the animals received the same diet (corn silage and concentrate) and water and mineral salt ad libitum. The experiment was realized in July, August and September of 2016. The 90 experimental days were divided into 6 periods of 15 days in which the animals alternated between 3 periods in the picket with access to shade and 3 periods in the picket without shading. Daily were measured temperatures, maximum, minimum and moisture on the picket with access to shade and without shade picket by means of a thermo-hygrometer. From the eighth to the fifteenth day of each period the animals' rectal temperature was measured daily and four blood samples were collected for pH and complete blood hemogram. For the comparison of the means, of the evaluated parameters, a 5% probability T test was used between the groups using the R statistical version 3.0 program. No difference was observed between the treatments in any of the blood parameters evaluated. These results may be a consequence of the small stress imposed by the environment in the different treatments, associated to the good adaptability of the Girolando breed to the heat. It was concluded that there was no effect of shading on the blood parameters and pH of the blood of lactating cows of Girolando breed.
Keywords: Ambience, Cattle, Blood hemogram, pH


Introdução

            O estresse calórico é um dos principais fatores que interferem negativamente na produção leiteira, sendo mais ofensivo aos animais de maior produção, que em condições ambientais desfavoráveis, podem apresentar consumo alimentar reduzido, não atendendo as exigências nutricionais para produção (COLLIER et al., 2006).

            O desempenho produtivo dos animais pode melhorar caso seja ajustado à zona de conforto térmico, promovendo bem-estar. Reduzir efeitos nocivos do clima sobre animais em países de temperatura elevada tem sido o objetivo de produtores (LEME et al., 2005).

            Alguns fatores são observados para determinar a habilidade de tolerância dos animais ao estresse térmico, como a temperatura retal e frequência respiratória (PERISSINOTTO et al., 2009). Estes parâmetros auxiliam a avaliação do equilíbrio térmico entre o animal e o ambiente (SOUSA JÚNIOR et al., 2008).

            O sistema sanguíneo é sensível as mudanças de temperatura e é um indicador de respostas fisiológicas a agentes estressores. Alterações quantitativas e morfológicas nas células sanguíneas são correlacionadas ao estresse térmico, demonstradas por variações nos valores do hematócrito (% do volume de hemácias em relação ao volume total de sangue), número de leucócitos circulantes, conteúdo de eritrócitos e teor de hemoglobina no eritócito (IRIADAN, 2007).

            Neste contexto objetivou-se avaliar o hemograma completo e pH do sangue de vacas em lactação da raça Girolando, mantidas em piquetes com e sem acesso a sombreamento.



Revisão Bibliográfica

            O sombreamento de pastagens apresenta uma forma eficiente de amenizar os efeitos indesejáveis do clima tropical quente úmido sobre os animais melhorando assim o conforto térmico (GARCIA et al., 2011).

            A temperatura retal é o parâmetro fisiológico que indica a quantidade de calor acumulado pelos animais durante um período, apresentando maiores valores ao fim do dia e em momentos de maior radiação solar (LINHARES et al., 2015).

            Análises séricas permitem obter várias informações sobre o estado de saúde dos animais, também sendo usado como apontador seguro de estresse térmico devido às alterações nos parâmetros hematológicos (ROBERTO et al., 2010).

            De acordo com Viana et al. (2002) variáveis ambientais como clima, altitude, umidade relativa do ar e temperatura ambiente podem provocar variações significativas nos constituintes do hemograma. Ferreira et al. (2009), relatam que as variáveis hematológicas são de grande importância para caracterizar o estresse calórico em bovinos.

            Os animais que são afetados pelo estresse térmico, a frequência respiratória aumenta e o dióxido de carbono (CO2) é eliminado dos pulmões rapidamente após produzido. Isso acarreta a queda do COsanguíneo. Na tentativa de manter a relação CO2/bicarbonato (HCO3) constante no sangue, o rim eleva a excreção de HCO3. Com mais CO2 saindo dos pulmões e mais bicarbonato excretado pela urina, a concentração sérica de bicarbonato é diminuída, tornando o pH do sangue mais alcalino, sendo chamado de alcalose respiratória. Os animais sujeitos ao estresse calórico correm o risco de apresentarem um quadro de acidose ruminal, pois apresenta, liquido ruminal de pH inferior, menor atividade de ruminação, menor porcentagem de gordura no leite e capacidade de tamponamento diminuída pela saliva (RICCI et al., 2013).



Materiais e Métodos

            O experimento foi realizado no setor de Bovinocultura do IF Goiano – Campus Rio Verde, localizado a 17°48’49.7”S e 50°53’54.5”W, após aprovação do Comitê de Ética no uso de animais do IF Goiano (protocolo 8291310516). Foram utilizadas nove vacas Girolando em lactação, com grau de sangue três quarto e sete oitavo, que foram submetidas a dois tratamentos, sendo piquete com sombreamento artificial e natural (sombrite, constituído de tela plástica com provisão de 80% de sombra, sendo 8,0 m2 por animal e 121 m lineares de árvores) e piquete sem sombreamento. Durante o período experimental os animais receberam a mesma dieta (silagem de milho e concentrado), água e sal mineral ad libitum.

            O experimento foi realizado em julho, agosto e setembro de 2016. Os 90 dias experimentais foram divididos em 6 períodos de 15 dias em que os animais passaram de forma alternada por 3 períodos no piquete com acesso a sombra e 3 períodos no piquete sem sombreamento. Diariamente aferiu-se a temperatura e umidade máxima e mínima nos piquetes com acesso a sombra sem sombreamento.

            Do primeiro ao sétimo dia de cada período, os animais se mantiveram no piquete, para uma adaptação com o ambiente. Do oitavo ao décimo quinto dia de cada período aferiu-se a temperatura retal no momento das ordenhas, as 7:30 e 15:00 horas.

            No oitavo, décimo, décimo segundo e décimo quarto dia de cada período foram realizadas coletas de sangue para avaliação do pH e hemograma completo.

            A determinação do pH foi realizada imediatamente após a coleta através de peagâmetro ION pHB 500. No hemograma realizou-se a contagem de eritrócitos, plaquetas e leucócitos, a concentração de hemoglobina, hematócrito, volume globular médio (VGM), hemoglobina globular média (HGM) e o percentual de eosinófilos, linfócitos típicos, monócitos e neutrófilos.

            Para a comparação das médias, dos parâmetros avaliados, entre os grupos foi utilizado o teste T a 5 % de probabilidade através do programa R statistical versão 3.0.



Resultados e Discussão

            Na Tabela 1 estão apresentadas as médias e desvio padrão das temperaturas e umidade máxima e mínima dos piquetes com e sem acesso a sombra nos períodos em que as vacas permaneceram nos mesmos. Observa-se que a temperatura máxima do piquete sem acesso a sombra quando as vacas permaneceram no mesmo foi de 37,95±0,82 oC e a temperatura máxima do piquete com acesso a sombra quando as vacas permaneceram no mesmo foi de 34,42±0.52 oC, não havendo grande diferença de temperatura entre os períodos e de acordo com Azevedo et al. (2005) vacas Girolando meio sangue demonstraram maior tolerância ao calor que vacas sete oitavo, enquanto vacas três quarto se mantem em posição intermediária.

            A temperatura retal média das vacas as 7:30 horas foi de 37,68±0,02 oC quando mantidas com acesso a sombra e 37,64±0,02 oC quando mantidas sem sombreamento e as 15:00 horas  foi de 38,39±0,02 oC quando mantidas com acesso a sombra e 38,42±0,05 oC quando mantidas sem sombreamento.

            Na Tabela 2 estão apresentados as médias e o desvio padrão da contagem de eritrócitos, plaquetas e leucócitos, a concentração de hemoglobina, hematócrito, volume globular médio, hemoglobina globular média e pH do sangue. Não foi observado diferença entre os tratamentos em nenhum destes parâmetros, estando todos dentro dos valores de referência para a espécie bovina.

            Ferreira et al. (2009) avaliaram o hemograma de vacas da raça Girolando em condições de termoneutralidade (22 oC e 70% de umidade) e observaram uma concentração de hemoglobina de 8,96 g dL-1, sendo valores próximos aos encontrados no trabalho de 10,24 g dL-1 para animais sem acesso a sombra e 10,05 g dL-1  para os animais com acesso a sombra.  O hematócrito encontrado pelos autores foi de 26,9%, valores próximos aos resultados encontrados neste trabalho de 30,56% sem acesso a sombra e 29,97% com acesso a sombra. O valor de eritrócito encontrado pelos referidos autores foi de 7,87x106/mm3 e neste trabalho foi de 6,2x106/mm3 e 6,19x106/mm3 quando os animais foram mantidos sem acesso a sombra e com acesso a sombra respectivamente.

            No leucograma os resultados encontrados estão todos dentro dos valores referência para bovinos, não havendo diferença significativa no percentual de nenhum tipo celular entre os tratamentos avaliados. O percentual de eosinófilo foi de 6,84 ±0,65 e 5,72 ±0,35 para os piquetes sem sombra e com sombra, respectivamente. O percentual de linfócitos típicos foi de 54,16±0,69 e 53,8±0,65 para os piquetes sem sombra e com sombra, respectivamente. O percentual de monócitos foi de 2,1±0,09 e 1,92±0,08 para os piquetes sem sombra e com sombra, respectivamente. O percentual de neutrófilos foi de 37,67±0,64 e 38,44±0,15 para os piquetes sem sombra e com sombra, respectivamente.

            Os resultados obtidos no presente trabalho podem ser consequência do pequeno estresse imposto pelo ambiente nos diferentes tratamentos, associado a boa adaptabilidade dos animais da raça Girolando ao calor.



Conclusões

            Os resultados obtidos neste trabalho mostram a adaptabilidade das vacas da raça Girolando em lactação, com grau de sangue três quarto e sete oitavo a elevadas temperaturas, pois quando submetidas aos diferentes tipos de piquetes, com e sem acesso a sombra, não apresentaram diferenças nos valores do hemograma e pH do sangue. Estes resultados também podem ser consequência do pequeno estresse imposto pelo ambiente nos diferentes tratamentos.



Gráficos e Tabelas




Referências

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