Prevalência das principais patologias que acometem sistema genital de tourinhos jovens por meio de exame andrológico

Ana Paula Luiz de Oliveira1, Jeanne Broch Siqueira2, Adalfredo Rocha Lobo Júnior3, José Domingos Guimarães4, Rogério Oliveira Pinho5
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, Unaí/MG
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, Unaí/MG
3 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, Unaí/MG
4 - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG
5 - Médico Veterinário da Minitub, Porto Alegre/RS

RESUMO -

Objetivou-se identificar e descrever a prevalência das principais patologias que acometem a genitália externa e interna de tourinhos jovens em rebanhos de corte criados extensivamente. Foram avaliados 6408 touros jovens da raça Nelore, por meio de exames andrológicos. Destes, 5% foram descartados da reprodução e classificados conforme a característica da alteração. Observou-se que a maioria dos touros descartados apresentou patologias relacionadas aos testículos, especialmente as assimetrias testiculares (31,7%) e às vesículas seminais (31,39%), seguidas pela espermiogênese imperfeita (17,15%) e alterações de pênis (6,8%). As demais alterações como lesões nos membros anteriores e posteriores, alterações sistêmicas, no cordão espermático e/ou prepúcio apresentaram baixa incidência. Verificou-se efeito (P<0.05) das variáveis perímetro escrotal (PE) e defeitos espermáticos maiores, menores e totais (DM, DMEM e DT) em relação aos tipos de alterações dos touros descartados. O PE foi menor nos touros com patologias de testículo (possivelmente pela alta incidência de descarte por baixo PE) e de pênis (animais descartados por aderências penianas são pré-púberes, consequentemente mais jovens). Em relação aos defeitos espermáticos, houve diferença (P<0.05) para DM, DMEM e DT para os animais descartados por espermiogênese imperfeita. O conhecimento das características seminais, dos órgãos genitais internos e externos decorrentes do exame andrológico poderá promover um direcionamento mais adequado da seleção para fertilidade e tratamento de touros em rebanhos.

Palavras-chave: andrologia, patologias reprodutivas, touros

Prevalence of the main pathologies that affect the genital system of young bulls by means of andrological examination

ABSTRACT - The objective was to identify and describe the prevalence of the main pathologies affecting the external and internal genitalia of young bulls in extensively reared herds. The total of 6408 Nelore bulls were evaluated by means of andrological examinations. Of these, 5% were discarded from reproduction and classified according to the characteristic of the alteration. It was observed that the majority of discarded bulls had testis-related pathologies, especially testicular asymmetries (31.7%) and seminal vesicles (31.39%), followed by imperfect spermiogenesis (17.15%) and penile alterations (6.8%). Other alterations such as lesions in the anterior and posterior limbs, systemic changes in the spermatic cord and / or foreskin presented low incidence. There was an effect (P<0.05) of the variables scrotal circumference (SC) and major, minor and total spermatic defects (MD, MIND and TD) in relation to the types of bulls discarded. The SC was lower in bulls with testis pathologies (possibly due to the high incidence of discarding under SC) and penises (animals discarded by penile adhesions are prepubertal, consequently younger). Regarding the spermatic defects, there was difference (P<0.05) for MD, MIND and TD for the animals discarded by imperfect spermiogenesis. Knowledge of the seminal characteristics of the internal and external genital organs resulting from the andrological examination may promote further selection of fertility and treatment of bulls in herds.
Keywords: andrology, reproductive pathologies, bulls


Introdução

A seleção de machos a serem utilizados como reprodutores é uma das etapas mais importantes para os rebanhos que adotam o sistema de monta natural, principalmente ao considerar que o touro transmite 50% de seu genótipo a um grande número de fêmeas (QUIRINO, 1999). A avaliação da aptidão reprodutiva do touro baseia-se na ausência de enfermidades extragenitais que possam interferir no estado geral ou capacidade de realização de cópula, ausência de defeitos hereditários que possam ser observados no fenótipo do animal, ausência de infecções genitais, e capacidade de fecundação (KRAUSE, 1993). Identificar estas alterações torna-se fundamental para descartar os animais acometidos, além de estabelecer manejo adequado para o rebanho. Assim, objetivou-se com este estudo, identificar e descrever a prevalência das principais patologias que acometem a genitália externa e interna de tourinhos jovens avaliados por meio de exame andrológico em rebanhos de corte criados extensivamente.

Revisão Bibliográfica

A capacidade reprodutiva de touros é dependente de vários fatores tais como: problemas no manejo reprodutivo e nutricional, idade, condições climáticas e/ou doenças, que podem influenciar na qualidade do sêmen refletindo positiva ou negativamente em seu potencial reprodutivo. Portanto, a seleção de reprodutores por meio do exame andrológico tem por finalidade identificar animais com boa qualidade de sêmen assim, o touro contribuiria para a melhoria da fertilidade e consequentemente aumento da lucratividade do rebanho (FONSECA; SANTOS; MALINSKI, 1997). A fertilidade pode ser definida como a capacidade de gerar filhos normais, condição essencial para o progresso genético e alta produtividade animal (GALLOWAY, 1979), podendo ser alterada por condições que afetem o desejo ou habilidade de cópula do animal (impotentia coeundi) e/ou habilidade dos espermatozoides em fertilizarem o oócito (impotentia generandi) (VAN CAMP, 1997). Alterações dos órgãos genitais do touro sejam de ordem ambiental, genética, infecciosa ou traumática, podem resultar em subfertilidade, infertilidade ou esterilidade. Os touros subférteis têm capacidade de gerar descendentes, fator indesejável quando esta alteração é de caráter genético, uma vez que esta condição será transmitida às próximas gerações. Por isso, na identificação de subfertilidade é aconselhado realizar exames criteriosos, analisando diferentes ejaculados, em diferentes datas, visando obter diagnóstico e prognóstico seguros (VALE FILHO et al., 1979). Estas características são avaliadas por meio de exames andrológicos de rotina, testes complementares e teste de comportamento sexual, associados ao desempenho reprodutivo em regime de monta natural, com objetivo de predizer com maior acurácia o potencial reprodutivo dos machos, possibilitando ao produtor uma otimização do uso de seus reprodutores (MARTINS, 2001).

Materiais e Métodos

Foram avaliados 6408 touros jovens da raça Nelore (20 a 22 meses de idade), por meio de exames andrológicos (2004 e 2005), em rebanho localizado na região noroeste do Estado de São Paulo. Os animais foram criados a pasto (Brachiaria decumbens e Panicum maximum), com sal mineral e água ad libitum e, confinados em média aos 18 a 20 meses. A avaliação consistiu de exame dos órgãos genitais internos, com palpação transretal das ampolas dos ductos deferentes e das glândulas vesiculares, e do prepúcio, pênis, testículos e epidídimos. Realizadas as mensurações da biometria testicular (perímetro escrotal, comprimentos e larguras dos testículos direito e esquerdo), e a coleta de sêmen por eletroejaculação, avaliando-se os aspectos físicos do sêmen (turbilhonamento, motilidade e vigor) e a morfologia espermática (defeitos maiores, menores e totais). A maturidade sexual foi classificada em: aptos à reprodução; aptos à reprodução em regime de monta natural; temporariamente inaptos à reprodução e; descartados (GUIMARÃES, 1997). Os animais descartados foram distribuídos em categorias conforme a característica da alteração em: 1: alterações de pênis (aderências parcial ou total e persistência de frênulo); 2: testículos (assimetria, atrofia e calcificação testicular e, baixo perímetro escrotal para a idade), 3: membros anteriores ou posteriores (lesões de casco, membros, higroma, aprumo, fraturas); 4: epidídimo (fibrose ou aplasia segmentar de epidídimo); 5: cordão espermático (encurtamento do cordão espermático e rotação testicular); 6: espermiogênese imperfeita; 7: estenose do esfíncter anal; 8: prepúcio (fimose); 9: fibropapiloma e; 10 vesiculite uni ou bilateral. As análises descritivas e de variâncias (probabilidade de 5% para o teste F) foram realizadas respectivamente com procedimentos MEANS e MIXED do software Statistical Analysis Systems (SAS 2008, versão 9.2). O teste t de Student foi aplicado para descriminar as médias quando efeitos significantes foram observados.

Resultados e Discussão

Dos 6408 touros avaliados, 309 (5%) foram descartados da reprodução. Valores muito abaixo do registrado por Carrol; Ball e Scott (1963) e Vale Filho et al. (1979), de 20 e 53,34%, respectivamente de animais descartados, o que ressalta a importância dos adequados critérios de seleção genotípica e manejo geral adotados pela propriedade. Observou-se que a maioria dos touros descartados apresentou patologias relacionadas aos testículos (31,7%), vesículas seminais (31,39%), espermiogênese imperfeita (17,15%) e alterações de pênis (6,8%). Esses resultados corroboram com Vale Filho et al. (1979), que registraram como principais causas de baixa fertilidade ou infertilidade de touros a degeneração e hipoplasia testicular e, espermiogênese imperfeita. A alta incidência de vesiculites observadas no presente estudo, possivelmente ocorreu pela predisposição e susceptibilidade dos touros jovens, principalmente devido à prática da atividade homossexual. Observou-se alta incidência de alterações testiculares, especialmente as assimetrias. A confirmação de assimetria (>1cm) principalmente na puberdade é o melhor indicador para hipoplasias. Devido a maior ocorrência ser do tipo unilateral parcial, a maioria dos touros apresenta-se subfértil, transmitindo a condição indesejável aos seus descendentes. Por sua procedência genética, animais positivos ou suspeitos devem ser eliminados da reprodução (VALE FILHO et al., 1979). Verificou-se efeito (P<0,05) das variáveis PE e defeitos espermáticos (DM, DMEN e DT) em relação às patologias dos touros descartados (Tab. 1). O PE foi menor nos touros com patologias de testículo e pênis. Embora animais com hipoplasia testicular discreta ou moderada geralmente não apresentem diferença no PE quando comparados com animais de testículos normais, o efeito significativo no presente estudo, possivelmente ocorreu pela incidência de animais descartados por baixo PE e não por assimetria testicular (indicativo de hipoplasia). Persistência de aderências penianas em animais após a puberdade são indicativos de animais tardios. Sugere-se, neste estudo, que animais descartados por aderências penianas não tenham atingido a puberdade no momento do exame andrológico, sendo consequentemente mais jovens (PEs menores), o que justificaria a diferença entre o PE para as alterações penianas. Embora não tenha sido verificada diferença (P>0,05) em relação à idade para os motivos de descarte, verificou-se que, numericamente, os animais com patologias de pênis, foram os mais jovens (638 dias/21,3 meses) em relação aos outros grupos. Houve diferença (P<0,05) para defeitos espermáticos maiores, menores e totais (DM, DMEM e DT) nos animais descartados por espermiogênese imperfeita (Tab.1), demonstrando que um touro pode ser descartado por impotentia generandi mesmo com os aspectos físicos do sêmen dentro dos parâmetros satisfatórios. Alguns defeitos não interferem na peça intermediária, podendo haver espermatozoides defeituosos com motilidade aparentemente normal.

Conclusões

A importância dos adequados critérios de seleção genotípica e manejo geral, enfatizando cuidadosos exames clínicos, sanitários e andrológicos são imprescindíveis para que touros sejam usados como reprodutores em rebanhos de corte, visto que, o conhecimento das características seminais, dos órgãos genitais internos e externos poderá promover um direcionamento mais adequado da seleção para fertilidade e tratamento de touros em rebanhos.

Gráficos e Tabelas




Referências

CARROL, E.J.; BALL, L.; SCOTT, J.A. Breeding soundness in bulls - A summary of 10,940 examinations. Journal American Veterinary Medicine Association, v.142, n.10, p.1105-1111, 1963. FONSECA, V.O.; SANTOS, N.R.; MALINSKI, P.R. Classificação andrológica de touros zebus (Bos taurus indicus) com base no perímetro escrotal e características morfológicas do sêmen. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, MG, v.21, n.2, p.36-39, 1997. GALLOWAY, D.B. Fatores que afetam a fertilidade bovina. Belo Horizonte, Colégio Brasileiro de Reprodução Animal, 1979. p.209-56. (Traduções 007-008-009/79). GUIMARÃES, J.D. Avaliação andrológica e estudos quantitativos e qualitativos da espermatogênese de touros mestiços F1 Holandês x Zebu e Red Angus x Zebu. 1997. 186p. Tese (Doutorado em Ciência Animal) - Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. KRAUSE, D. Sistema reprodutor masculino. In: DIRKSEN, G. GRUNDER, H., STOBER, M. Rosenberger-Exame Clínico dos Bovinos, 3 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1993. p. 242-26. MARTINS, L.F. Avaliação do sêmen e proteínas solúveis no plasma seminal de bodes da raça Parda Alpina. 2001. 67f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. QUIRINO, C.R. Herdabilidades e correlações genéticas entre medições testiculares, características seminais e libido em touros Nelore. Minas Gerais, 1999. 104p. [Tese (doutorado) – Escola de Veterinária/UFMG] SAS. Statistical Analysis System. User’s guide: Statistics. Version 9.2 Edition. SAS Inst., Cary, NC, 2008. VALE FILHO, V.R.; PINTO, P.A.; FONSECA, J.; SOARES, L.C.O.V. Patologia do sêmen; diagnóstico andrológico e classificação de Bos taurus e Bos indicus quanto à fertilidade para uso como reprodutores em condições de Brasil - de um estudo de 1088 touros. São Paulo: Dow Química, 1979, 54p. VAN CAMP, S.D. Common causes of Infertility in the bull.. In: The Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice. v. 13, p. 203-232, 1997. VASCONCELOS, C.O.P. Estádio de maturidade sexual em touros da raça Nelore, dos 20 aos 22 meses de idade. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Viçosa – UFV. Viçosa – MG, 62f, 2001.