Efeito da inclusão de levedura Saccharomyces cerevisiae (LBCM-45) sobre a cinética da degradação ruminal da matéria seca, fibra em detergente neutro e ácido do feno do capim Tifton

Bárbara Louise Pacheco Ramos1, Luís Antônio da Costa Filho2, Mauro Pereira de Figueiredo3, Luiza Maria Gigante Nascimento4, Tamara Rocha Moraes5, Rosilene Gomes de Souza Pinheiro6, Thais Santana Soares7, Kaike Soares Oliveira Lacerda8
1 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2 - Universidade Estadual de Montes Claros
3 - Departamento de Fitotecnia e Zootecnia - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
4 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
5 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
6 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
7 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
8 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

RESUMO -

Leveduras vivas Saccharomyces cerevisiae (LBCM-45) selecionadas e multiplicadas em fermentadores a campo foram usadas na alimentação de vacas objetivando avaliar o efeito da inclusão destas sobre a degradabilidade ruminal in situ do feno de Tifton 85 (Cynodon spp). Foram utilizadas quatro vacas girolando, não lactantes, canuladas no rúmen, submetidas aos tratamentos constituídos de rações contendo 0, 8, 17 e 26g de levedura viva/dia, compondo um quadrado latino 4×4.Para a determinação da degradabilidade ruminal utilizou-se sacos ANKOM® (modelo F-57). O procedimento de incubação das amostras moídas a 2mm foi realizado do 18º ao 22º dia nos tempos 0,12,24,48,72,96 e120 horas. Ao final da incubação ruminal as amostras foram submetidas ao processo de secagem e pré-secagem para obtenção da MS não-digerida e sequencialmente ao processo de digestão em solução detergente neutro e ácido. Não se verificou efeito significativo (p 0,01) entre a presença ou ausência de leveduras nas dietas. Conclui-se que as quantidades crescentes de leveduras não melhoraram a taxa de degradação potencial da matéria seca ou da fração fibrosa do feno do capim Tifton 85.

Palavras-chave: aditivos alimentares, ruminantes, degradabilidade in situ.

Effect of the inclusion of Saccharomyces cerevisiae yeast (LBCM-45) on the kinetics of ruminal degradation of dry matter, neutral detergent fiber and Tifton hay hay acid

ABSTRACT - Live Saccharomyces cerevisiae (LBCM-45) yeast, previously selected and grown in the fermenters, were fed to cows in order to evaluate its effect on in situ rumen degradability of Tifton 85 hay (Cynodon spp.). Four, non-lactating rumen cannulated cows were assigned to treatments consisting of rations containing 0, 8, 17 and 26 g of yeast a live/day, in a 4x4 Latin square arrangement. For rumen degradability ANKON bags were used (model F-57). The procedure for incubation of samples ground to 2 mm was conducted from 18° to 22° day during 0, 12, 24, 48, 72, 96 and 120 hours. At the end of the ruminal incubation, samples were subjected to the drying processes to obtain the non-digested the pre-drying DM and, sequentially, the digestion in neutral and acid detergent solution. There was no significant effect (p < 0,08) of incorporating increasing amounts of yeast LBCM-45 in the diets for the potential DM degradability. Rumen degradability for NDF and ADF showed no difference between the diets after inclusion or not of the yeasts. The effective degradability (2%, 5% and/h/h 8%/h) did not differ (P > 0.01) between the presence or absence of yeasts in the diets. It is concluded that the increasing amounts of yeast did not improved potential degradation rate of dry matter of Tifton 85 grass hay.
Keywords: food additives, ruminant, in situ degradability.


Introdução

Na nutrição de ruminantes tem-se intensificado a busca por aditivos que aceleram ou melhoram a eficiência de utilização dos nutrientes da dieta. A demanda para o uso de substâncias naturais promotoras do crescimento que melhoram a eficiência da produção em ruminantes, têm aumentado com o uso de aditivos contendo células vivas de microrganismos.

Dentre os aditivos alternativos, as leveduras demonstram papel importante, pois melhoram a eficiência alimentar dos ruminantes, e principalmente, atendem às exigências da maioria dos mercados importadores de carne bovina (Gattass et al., 2008; Zeoula et al., 2011). Os efeitos positivos da suplementação com levedura viva na dieta de vacas leiteiras têm demostrados melhores resultados na produção, devido ao fato de as leveduras melhorarem a digestão da fibra (Bitencourt et al., 2011). Em seus estudos, (Chaucheyras-Durand et al., 2008) citam que as leveduras possibilitam um aumento da degradação de carboidratos estruturais das plantas, através da ação dos microrganismos e a ação das leveduras na digestão de fibras.

 

Neste sentido, este trabalho tem por objetivo verificar o efeito da inclusão de cepas selecionadas de leveduras vivas Saccharomyces cerevisae LBCM-45, isoladas na região do semiárido brasileiro, no Estado de Minas Gerais, na dieta de vacas não lactantes, sobre a degradabilidade ruminal in situ do feno do capim Tifton 85.



Revisão Bibliográfica

Leveduras são fungos unicelulares, não filamentosos, utilizados como ferramenta biotecnológica em vários setores industriais, sendo a espécie Saccharomyces cerevisiae tradicionalmente utilizada na fermentação de carboidratos e a mais utilizada como aditivo em suplementos para animais (Martin; Nisbet, 1992). Os aditivos em dietas para ruminantes têm sido usados visando melhorar a relação simbiótica entre os microrganismos presentes no rúmen e seu hospedeiro (Franzolin et al., 2004).

Dentre os aditivos para o uso em ruminantes temos as leveduras, que têm seu uso regulamentado no Brasil e boa aceitação no mercado mundial por serem consideradas como aditivos seguros (Oliveira et al., 2005). A utilização de leveduras vivas como aditivo microbiano para alimentação animal é atualmente bem aceita e amplamente utilizada, com seu uso especialmente intensificado desde que elas foram reconhecidas oficialmente como aditivos alimentares na Europa.

As leveduras são aceitas como aditivos em todos os mercados importadores de carne bovina, inclusive na Europa, que é um dos mercados mais exigente do mundo em relação à segurança alimentar (França e Rigo, 2011). O estudo sobre o modo de ação das leveduras vivas como aditivos suplementares para ruminantes é bastante amplo.

Alguns resultados do uso desse aditivo estão bem caracterizados, e muitos são os mecanismos de ação propostos para explicar os efeitos da sua adição à dieta de ruminantes sobre a melhora do desempenho animal (Santos; Greco, 2012).

 Os efeitos das leveduras vivas no ambiente ruminal, bem como o desempenho dos animais, ainda não estão totalmente elucidados, contudo, com o aumento dos experimentos utilizando leveduras como aditivos na dieta de ruminantes, poderá definir em que condições de dieta esses aditivos devem ser usados nas dietas de forma a beneficiar o desempenho animal (Morais et al., 2011).

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido no Estábulo Experimental do Laboratório de Nutrição Animal, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campus de Vitória da Conquista-Bahia.Foram conduzidos cultivos diários das leveduras em propagadores plásticos conectados a aeradores.

O inoculo de levedura (LBCM-45) contendo 1,8x1011 UFC/mL, foi incubado no meio de cultura composto por melaço de cana-de-açúcar pasteurizado, acrescido de fonte de nitrogênio na forma de ureia misturada ao sulfato de amônio, por um período de 24 horas. Após este período, as leveduras frescas foram misturadas à dieta das vacas.

Foram utilizadas 4 vacas Girolando multíparas, não lactantes, canuladas no rúmen, com aproximadamente 559 kg de peso vivo, estabuladas individualmente. Utilizou-se a proporção concentrado: volumoso de 20:80 com base na matéria seca. O concentrado utilizado foi milho moído, farelo de soja e leveduras vivas. Como volumosos, utilizou-se palma forrageira e capim elefante. Os tratamentos T1, T2, T3 e T4 foram compostos por diferentes níveis de levedura correspondendo ás quantidades de zero, 8, 17 e 26 gramas de levedura/vaca/dia.

O delineamento utilizado foi o quadrado latino 4 × 4, com duração de 88 dias, divididos em 4 períodos experimentais com 22 dias de duração cada, sendo 16 dias de adaptação à dieta e 6 dias de coletas de amostras.

Para a determinação da degradabilidade ruminal utilizou-se sacos ANKOM® (modelo F-57). O procedimento de incubação das amostras moídas a 2mm foi realizado do 18º ao 22º dia em ordem reversa nos tempos 0,12,24,48,72,96 e 120 horas.

Para estimativa da degradabilidade potencial da MS e parâmetros da cinética da degradabilidade ruminal de cada unidade experimental foi utilizado o modelo de Ørskov e McDonald (1979), para estimativa da fração fibrosa (FDN e FDA), foi utilizado o modelo de Mertens e Loften (1980). Os resultados foram submetidos à análise de variância e analisados pelo programa SAS (2002).

Resultados e Discussão

Os resultados médios para os parâmetros cinéticos da degradação da matéria seca do feno de Tifton 85 estão apresentados na Tabela 1. Como reflexo positivo do incremento da concentração de celulase no rúmen, verificou-se efeito significativo (p<0,08) da adição das leveduras sobre a degradabilidade potencial da MS. Todavia, não foi possível evidenciar para o parâmetro degradabilidade efetiva nas diferentes taxas de passagem da matéria seca de (2%/h, 5%/h e 8%/h) qualquer diferença para a presença ou ausência de leveduras LBCM nas dietas.

Tabela 1: Estimativas dos parâmetros cinéticos da degradabilidade ruminal in situ da matéria seca (MS) do feno do capim Tifton cv.85 nas dietas com inclusão de leveduras LBCM 45.

Variável1 (%)

Tratamentos (%)2

 

Efeitos4

 

T1

T2

T3

T4

CV(%)3

L

Q

A

11,39

12,36

11,26

11,65

9,46

0,8944

0,6152

B

62,55

63,20

68,18

66,56

6,12

0,1081

0,5795

C

0,0210

0,0210

0,0190

0,0200

29,51

0,6865

0,9615

Lag

1,9

2,2

2,5

2,3

22,51

0,2042

0,2756

D.Potencial5

73,95

75,56

79,44

78,19

4,60

0,0823

0,4408

D.E. 2 %

42,2

41,6

43,3

43,1

9,09

0,6467

0,9137

D.E. 5 %

29,9

31,1

30,0

30,7

10,13

0,9277

0,9206

D.E. 8 %

24,4

25,5

24,3

25,0

9,63

0,7800

0,9660

*1Nomenclaturas: a – fração solúvel; b – fração potencialmente degradável; c – taxa de degradação (kg.h-1); Lag - tempo de colonização; DP – degradabilidade potencial (%); DE – degradabilidade efetiva com taxa de degradação de 2, 5 e 8%; *2T1; T2; T3 e T4 = zero, 8, 17 e 26 gramas de levedura/vaca/dia, respectivamente;3 Coeficiente de variação; *4Efeito linear e quadrático;5 Y=0,1431x + 48,40.

 Para a degradabilidade ruminal da FDN e FDA também não se evidenciaram qualquer diferença entre as dietas pela inclusão ou não das leveduras (Tabela 2).

Tabela 2: Estimativas dos parâmetros cinéticos da degradabilidade ruminal da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), in situ do feno do capim Tifton cv.85 nas dietas com inclusão de leveduras LBCM 45.

Variável1

(%)

Tratamentos (%)2

 

 

Efeitos4

 

0

33

66

100

3CV(%)

L

Q

 

 

 

FDN

 

 

 

 

I

31

30,75

31,21

26,37

19,62

0,1039

0,7523

B

69

69,25

74,98

73,63

7,38

0,1039

0,7523

C

0,021

0,032

0,024

0,031

38,47

0,9239

0,8614

Lag

7,07

7,61

5,17

8,46

37,52

0,8474

0,3357

D.E. 2 %

28,69

28,21

33,45

29,7

10,59

0,2214

0,3884

D.E. 5 %

24,06

23,05

29,03

23,87

18,55

0,5523

0,4418

D.E. 8 %

20,55

18,99

25,35

19,52

27,36

0,7662

0,5247

 

 

 

FDA

 

 

 

 

I

25,9

30,77

31,35

26,75

27,48

0,8642

0,2748

b

74,10

69,23

73,07

73,25

6,72

0,9107

0,3305

c

0,033

0,035

0,042

0,036

39,08

0,8899

0,8855

Lag

5,85

5,67

6,10

7,78

48,39

0,4007

0,5676

D.E. 2 %

34,12

31,04

31,35

31,40

15,88

0,5163

0,5603

D.E. 5 %

30,6

27,01

27,14

27,34

19,62

0,4625

0,5167

D.E. 8 %

27,91

23,85

24,02

24,51

22,20

0,4515

0,4454

 

*1Nomenclaturas: I – fração indegradável (%); b – fração potencialmente degradável (%); c – taxa de degradação (kg.h-1); Lag – tempo de colonização (%); DE – degradabilidade efetiva com taxa de degradação de 2, 5 e 8%; 2T1; T2; T3 e T4 = zero, 8, 17 e 26 gramas de levedura/vaca/dia, respectivamente; 3Coeficiente de variação; 4Efeito linear e quadrático.



Conclusões

A suplementação com levedura vivas Saccharomyces cerevisiae (LBCM-45) não melhora a taxa de degradação potencial da matéria seca no rúmen em dietas contendo 80% de volumosos a base de palma e capim elefante.




Referências

BITENCOURT, L. L. et al. Diet digestibility and performance of dairy cows supplemented with live yeast. Scientia Agricola, Piracicaba, v. 68, n. 3, p. 301-307, May/June 2011.

CHAUCHEYRAS-DURAND, F.; WALKERA, N. D.; BACH, A. Effects of active dry yeast on the rumen microbial ecosystem: Past, present and future. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 145, n. 1, p. 5-26, Apr. 2008.

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GATTASS C.B.A. et al. 2008a. Consumo, digestibilidade aparente e ganho de peso em bovinos de corte confinados e suplementados com cultura de levedura (Saccharomyces cerevisiae cepa 1026). Ciência Animal Brasileira. 9(3): 535-542.

MARTIN, S.A.; NISBET, D.J. Effect of direct-fed microbial on rumen microbial fermentation. Journal of Dairy Sciene, Lancaster, v. 75, p. 1736-1744, 1992.

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