EFEITO DA PROPÓLIS BRUTA SOBRE OS PARÂMETROS RUMINAIS EM OVINOS

Mari Lucia Marques Xavier1, Rodrigo de Nazaré Santos Torres2, Douglas dos Santos Pina3, Eduardo Henrique Bevitori Kling de Morais4, Rayane Pinho Bezerra5, Henrique Melo Silva6, Marina Daniele da Silva7
1 - UFMT- Sinop
2 - UFMT-Sinop
3 - UFMT-Sinop
4 - UFMT-Sinop
5 - UFMT-Sinop
6 - UFMT-Sinop
7 - UFMT-Sinop

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da inclusão de própolis bruta na dieta de ovinos sobre os parâmetros ruminais. O experimento foi conduzido na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Campus Sinop. Foram utilizados quatro ovinos machos com peso médio de 42,3 ± 5,7 Kg, distribuídos em um quadrado latino 4×4, todos estes fistulados no rúmen e mantidos em gaiola metabólica, perfazendo sua permanência por 48 dias, divididos em 4 períodos com 12 dias cada, os sete primeiros dias utilizados para adaptação dos animais a dieta e no ultimo dia de cada periodo ocorreu a coleta de amostras de liquid ruminal. Os tratamentos foram organizados em: 0, 4, 8 e 12 g/dia de própolis, em todos os tratamentos a própolis foi moída e misturada a ração. Para os parâmetros ruminais, não foram observados efeitos dos níveis de inclusão de própolis sobre o pH e a concentração de N-NH3, contudo ambos os fatores foram influenciados pelo tempo de coleta, apresentando comportamento cúbico. A adição de própolis bruta em até 12 g/dia em dietas de ovinos não influência os parâmetros ruminais (pH e N-NH3).

Palavras-chave: aditivos; pH ruminal; N-NH3 ruminal

EFFECT OF GROSS PROPOLIS ON RUMINARY PARAMETERS IN SHEEP

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of inclusion of crude propolis on the diet of sheep on ruminal parameters. The experiment was conducted at the Federal University of Mato Grosso (UFMT) Campus Sinop. Four male sheep with a mean weight of 42.3 ± 5.7 kg were distributed in a 4x4 Latin square, all of them fistulated in the rumen and kept in a metabolic cage, lasting 48 days, divided in 4 periods with 12 days Each, the first seven days used to adapt the animals to the diet and on the last day of each period the collection of ruminal liquid samples was carried out. The treatments were organized in: 0, 4, 8 and 12 g / day of propolis, in all treatments the propolis was ground and mixed the feed. For the rumen parameters, no effects of propolis inclusion levels on pH and N-NH3 concentration were observed, however both factors were influenced by the time of collection, presenting cubic behavior. The inclusion of propolis in the sheep diet of 12g/day did not influence ruminal parameters (pH and N-NH3).
Keywords: additive, ruminal pH, ruminal N-NH3


Introdução

 

               O uso de aditivos alimentares é uma forma que os nutricionistas dispõem para incrementar a produção animal, via modificações benéficas da fermentação ruminal com consequente melhoria da eficiência alimentar dos animais (Stradiotti Jr et al., 2004).

 

Com a presente preocupação com a segurança alimentar, principalmente com o uso de antibiótico na alimentação animal e o possível estabelecimento de resistência a antimicrobianos, assim ocorrendo a busca da redução de uso destes compostos, na formulação de dietas. Mudanças nos hábitos de consumo por parte dos consumidores são demonstradas na comunidade Europeia, a qual, reduziu em 10% o consumo de carnes de aves e suínos, por considera-las contaminadas por antibióticos (Bertechini, 2012). Não existem dados de pesquisas similares ao consumo de carnes oriundas de ruminantes, porém é eminente está tendência de comportamento por parte dos consumidores das demais carnes advindas de sistemas de criações que usam antibióticos como aditivos.

 

Desta forma, surge a oportunidade para a busca de aditivos naturais alternativos, que não agreguem risco aos produtos. Havendo destaque à própolis que é um produto natural, sendo resultado da mistura de resina vegetal coletada pelas abelhas que é misturada à saliva, cera e pólen, tendo como utilidade, as abelhas, de preenchimento de frestas e limpeza dos alvéolos e paredes da colmeia, atuando contra a proliferação de microrganismos como fungos e bactérias (Winstom, 2003).

 

O uso da própolis na dieta de ruminantes, apresenta diferentes respostas, principalmente quando avaliado in vivo, as pesquisas estão baseadas em respostas in vitro, contudo demostra potencial para utilização como aditivo para a modulação da fermentação ruminal. São atribuídos respostas com sua utilização como, aumento da digestibilidade in vitro da matéria seca (Heimbach et al., 2014). Redução na concentração de N-NH3 no liquido ruminal é aumento no fluxo de proteína bruta para o intestino (Aguiar, 2012).

 

                Dessa forma, objetivou-se com este estudo avaliar o efeito da inclusão de própolis bruta sobre os parâmetros ruminais em ovinos.

 

Revisão Bibliográfica

OLIVEIRA, J. S. (2005)Utilização da monensina e da própolis para manipulação e Fermentação ruminal em bovinos. (Doutorado). UFMG- MG.  

OLIVEIRA, J. S; LANA, R, P; BORGES, A.C.(2004) Efeito da monensina e estrato de própolis sobre a produção de amônia e degrabilidade in vitro e in vitro da proteína bruta de diferentes fontes de nitrogênios. Revista Brasileira de Zootecnia. V.33, n.2, p. 504-510.

 

PEIXOTO, J. P. N; RODRIGUES, A. E; GOIS, G. C.(2010) Efeito da própolis de abelhas africanizadas em microorganismo do liquido ruminal. Revista Verde. Mossoró-RN. V.5,n.1, p. 86-90.

 

RUSSELL. J, B.(2002) Rumen microbiology and its role in ruminant nutrition. Ithaca NY, 118p.

 

SAS INSTITUTE. S.A.S. system for Windows. Versão 9.0, Cary: SAS Institute, 2005.

 

STRADIOTTI JR, D.(2002) Ação da própolis sobre a fermentação ruminal. (Doutorado). Viçosa- MG..

 

WINSTON. M. L. A biologia da abelha. Tradução Carlos A. Osowsk, Porto Alegre, 2003. P. 276.

 

 

 

 

 

Materiais e Métodos

 

O experimento foi conduzido no Setor de Pesquisa em Metabolismo Animal, na Universidade Federal do Mato Grosso campus Sinop, sendo as análises químico bromatologicas da própolis, da dieta, das sobras e das fezes realizadas no Laboratório de Nutrição Animal e Forragicultura, localizado na mesma instituição.

 

                Os animais foram alocados em gaiolas de metabolismo individual segundo o delineamento em quadrado latino (4x4). Foram usados quatro ovinos machos castrados da raça santa Inês com peso médio 42,3 ± 5,7Kg, todos fistulados no rúmen, recebendo dieta que atenda às suas exigências conforme NRC (1985), com a proporção de volumoso e concentrado (40:60).

 

                O volumoso foi constituído de capim elefante (Pennisetum purpureum Schumach), triturado e o concentrado composto de milho e farelo de soja, todos os animais receberam sal mineral (Tabela 01).

 

Tabela 1: Composição bromatologica da dieta e da própolis. bromatological composition of the diet and propolis

 

 ITENS

COMPOSIÇÃO (%MS)

MS

MO

MM

PB

EE

FDN

Volumoso

21,95

20,74

1,21

6,55

3,84

68,21

Concentrado

85,93

85,30

0,63

18,86

4,17

15,00

Própolis

99,60

99,46

0,14

3,24

61,80

----

 

MS= Matéria seca; MO= Matéria orgânica; MM= matéria mineral; EE= extrato etéreo; FDN= Fibra insolúvel em detergente neutro; PB= Proteína bruta.

 

 

 

Todos os animais foram alimentados duas vezes ao dia às 08:00 e as 16: 00 horas. O experimento teve duração de 48 dias, sendo divido em quatro períodos constituídos de 12 dias cada,sendo no ultimo dia de cada periodod ocorrendo a coleta de liquid ruminal.

 

                Os tratamentos foram organizados na seguinte maneira: 0, 4, 8 e 12 g/dia de própolis, sendo em todos os tratamentos a própolis moída e misturada a ração.

 

No ultimo dia de cada períodos experimentais, ocorreu a coleta de líquido ruminal, foi coletado 0; 2; 4; 6; 8 horas pós-prandial em recipientes de 50 mL, sendo o pH mensurado imediatamente após a coleta. Após a mensuração do pH, ocorreu a acidificação de uma alíquota de 10mL, com H2SO4 (50% v/v) na proporção de 1 mL para 50 mL de líquido ruminal sendo o mesmo mantido congelados (-5º C) para posterior analise do nitrogênio amoniacal pelo método da destilação de Kjeldahl (Detmann et al., 2012).

 

                As variáveis foram analisadas segundo o delineamento em quadrado latino (4 X 4) conforme o modelo abaixo:

 

Yijk = μ + PPi + Aj + Pk +  εijk

 

                Em que: yijk: observação referente ao efeito do nível de própolis I, no animal J no período K; μ: média geral; PPi: nível de inclusão de própolis (I = 0, 4, 8, e 12 g/dia); Aj: efeito do animal J; Pk: período experimental K e εijk: Erro aleatório associado à cada observação.

 

                O efeito dos níveis de inclusão de própolis na dieta, foi avaliado através da partição da soma de quadrado de tratamentos em contrastes ortogonais para avaliar o efeito linear, quadrático e cúbico. Todas as análises estatísticas foram feitas no SAS (Sistema de Análises Estatísticas, versão 9.0) por meio do procedimento PROC GLM (SAS, 2005), considerando 0,05 de probabilidade para o erro tipo I.

 

Resultados e Discussão

 

Os valores de pH e N-NH3 (Tabela 02), apresentaram efeito cubico em resposta ao tempo, esta resposta e condizente ao sugerido por Russell, (2002) que ao longo de um período a variação nos valores de pH e N-NH3 no liquido ruminal está relacionado com a presença de substrato e fatores que ponderam atividade microbiana. Esta relação substrato e atividade microbiana resulta em oscilações nos parâmetros ruminais.

 

                A variabilidade temporal de pH e nitrogênio amoniacal ruminal (NAR) assume comportamento não linear, com taxas de elevação e queda diferenciadas em funções das taxas de degradação, assimilação microbiana, de absorção de produtos da fermentação e de liberação de tampões no rúmen (Detmann et al., 2007).

 

Tabela 02: Efeito da inclusão da própolis na dieta de ovinos, sobre o pH e a concentração de N-NH3, nos diferentes tempos de coleta. Effect of inclusion of propolis in the diet of sheep on the pH and the concentration of N-NH3, at different times of collection.

 

 Itens

 

Tratamento*

 

Tempo

Tratamento X Tempo

0

4

8

12

Média

 

0

2

4

6

8

Média

P – Valor

 

Ph

6,89

6,87

6,94

6,92

6,91

 

7,27

6,69

6,72

6,82

7,02

6,90

0,88

 

N-NH3(mg/dL)

9,66

10,47

8,43

7,68

9,06

 

13,79

13,04

4,95

5,15

8,38

9,06

0,98

 

Contraste

 

Tratamento (P-valor)

 

Tempo (P-valor)

pH

 

N-NH3

pH

N-NH3

Linear

0,67

 

0,27

0,01

<,0001

Quadrático

0,95

 

0,63

<,0001

<,0001

Cubico

0,65

 

0,56

0,0006

0,0009

 

* Tratamento = g/animal/dia; modelos= ŶpH=7,2623-0,4349*Tempo+0,0935*Tempo2-0,0054*Tempo3 R2=0,40; ŶN-NH3=14,0856+0,4623*Tempo-1,0071*Tempo²+0,1081*Tempo³   R²=0,37.

 

 

 

                Os valores de pH estão adequados para maximização do crescimento dos mais variados microrganismos ruminais, os quais podem potencializar o consumo e digestibilidade da matéria seca da dieta. Conforme Kozloski (2011), o pH de 6,7 é o requerido dentre as bactérias fermentadoras de carboidratos fibrosos para o máximo crescimento.

 

                Avaliando o extrato alcoólico de própolis em dieta de vacas de leite em pastejo Oliveira (2005), não observou diferença na concentração de N-NH3 e no pH em relação a dieta controle. Peixoto et al. (2010) avaliando tanto o extrato alcoólico como aquoso de própolis não observou alterações no pH entre os tratamentos.

 

                Contudo, em discordância as observações anteriores, Oliveira et al. (2004) relataram que em in vitro, tanto a monensina e a própolis foram eficientes na redução da produção de N-NH3. Em experimentos in vivo esta capacidade de reduzir a produção de N-NH3 com o uso de própolis na dieta foi relatada por Stradiotti Jr et al., (2004).

 

Conclusões

 

A adição de própolis bruta em até 12 g/dia em dietas de ovinos não influência os parâmetros ruminais (pH e N-NH3).

 


Referências

 

AGUIAR, S. C. Quantificação e caracterização dos compostos ativos da própolis e seus efeitos sobre a nutrição e qualidade do leite de vacas e cepas bacterianas do rúmen. (Doutorado). 2012.

 

BERTECHINI. A, G. Nutrição de monogástricos. Editora UFLA, Lavras –MG. 2012, 373p.

 

DETMANN, E; SOUZA, N. K. P; COSTA, V.A. C.(2012) Avaliação do nitrogênio amoniacal em fluido ruminal.in: DETMAN, E; SOUZA, M. A; VALADARES FILHO, S. C. Métodos para análise de alimentos. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema.

 

DETMANN, E; CECON, P.R; PAULINO, M.F; VALADARES FILHO, S.C; HENRIQUES, L.T; DETMANN,K.S.C(2007). Variáveis ruminais avaliadas por meio de funções matemáticas continuas. Pesquisa brasileira agropecuária. V.42, n.11.

 

HEIMBACH, N. S; ÍTAVO, C. C. B. F; FRANCO, G. L.(2014) Resíduo da extração de própolis marrom na dieta de ruminantes: Digestibilidade e produção de gás in vitro. Archivos de zootecnia. V. 63, n. 243. P 259-267.

 

KOZLOSKI. G, V. (2011). Bioquímica dos ruminantes. 3 Ed, Santa Maria: Editora da UFSM, 216p.

 

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient Requirements of Sheep. 6ª .ed. Washington: National Academy Press. 1985.

 





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