Perfil de ácido graxo do leite de vacas da raca Pantaneira suplementadas com Farinha da polpa de Bocaiúva (Acromia aculeata)

Níkolas Cáceres de Oliveira Brochado1, Pedro Gustavo Loesia Lima2, Mariane da Silva Chiodi3, Rodrigo Carvalho Ferreira4, Vitória Soares5, João Pedro Brochado Souza6, Marcus Vinicius Moraes de Oliveira7
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Maringá
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
6 - Universidade da Grande Dourados
7 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

RESUMO -

Com o objetivo de avaliar o perfil lipidico do leite de vacas da raça Pantaneira, mantidas em regime de pastoreio rotacionado em capim Mombaça (Panicum maximum) e suplementadas com diferentes níveis de farinha de bocaiúva (Acrocomia aculeata). Foram avaliadas vacas Pantaneira (n=6), submetidas aos seguintes tratamentos: Controle (sem bocaiúva), BC200 – 0,2 kg de Bocaiúva, BC600 – 0,6 kg de Bocaiúva, BC1000 – 1,0 kg de Bocaiúva, BC1400 – 1,4 kg de Bocaiúva e BC1800 – 1,8 kg de Bocaiúva. Foram encontrados no leite o mesmo perfil de ácido graxos encontrado na bocaiuva, sendo estes ácidos graxos os mais encontrados no leite do referido estudo, 21,78% de ácido oléico e 31,45% de ácido palmítico. Conclui-se que nao houve efeito do perfil de ácido graxo no leite com o aumento dos niveis de farinha de bocaiuva na dieta, porém o mesmo perfil de acido graxo encontrado na farinha de bocaiuva foi encontrado no leite avaliado.

Palavras-chave: Alimentos Alternativos, Gordura do Leite, Leite, Racas Nativas

Profile of fatty acid from cow milk of the Pantanal breed supplemented with Bocaiúva pulp flour (Acromia aculeata)

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the lipid profile of milk from Pantaneira cows, which were kept under pasture conditions in Mombaça grass (Panicum maximum) and supplemented with different levels of bocaiúva flour (Acrocomia aculeata). The following treatments were evaluated: Control (without bocaiúva), BC200 - 0.2 kg of Bocaiúva, BC600 - 0,6 kg of Bocaiúva, BC1000 - 1.0 kg of Bocaiúva, BC1400 - 1.4 kg of Bocaiúva and BC1800 - 1.8 kg of Bocaiúva. The same fatty acid profile found in the bocaiuva was found in the milk, being these fatty acids the most found in the milk of said study, 21.78% of oleic acid and 31.45% of palmitic acid. It was concluded that there was no effect of the fatty acid profile in the milk with the increase of the levels of flour of bocaiuva in the diet, however the same fatty acid profile found in the flour of bocaiuva was found in the milk evaluated.
Keywords: Alternative Foods, Milk, Milk Fat, Breed Native


Introdução

A composição lipídica do leite possui importância fundamental nas qualidades tecnológicas e nutricionais. Ainda está envolvida na produtividade, firmeza e cor dos produtos, além do envolvimento com o sabor dos mesmos. Atualmente, outra variável tem sido associada aos lipídios do leite, suas características nutracêuticas para os humanos (Lock & Bauman, 1993; Tapiero et al., 2002).

Com o objetivo de avaliar o perfil lipidico do leite de vacas da raça Pantaneira, mantidas em regime de pastoreio rotacionado em capim Mombaça (Panicum maximum) e suplementadas com diferentes níveis de farinha de bocaiúva (Acrocomia aculeata).



Revisão Bibliográfica

Fatores dietéticos também exercem influência sobre o perfil lipídico do leite de ruminantes, alterando-o. Assim, podem ser considerados: I) a espécie forrageira, que pode disponibilizar mais ou menos ácidos graxos poli-insaturados para o processo de biohidrogenação no rúmen, em especial o ácido linoleico (C18:2c9,c12) e o ácido alfa e/ou gama linolênico (C18:3) (Elgersma et al., 2003; Fernandes et al., 2007); II) a forma de oferecimento da mesma (fresca ou conservada sob a forma de feno ou ensilada), visto que, o processamento das forrageiras pode diminuir ou indisponibilizar ácidos graxos para o animal (Elgersma et al., 2003; French et al., 2000); III) a concentração lipídica da dieta, pois dietas ricas em ácidos graxos poli-insaturados, refletirão sobre a composição dos produtos carne e leite, produzindo mais ácidos graxos com efeito nutracêutico, como o ácido rumênico (C18:2c9,t11) (Bauman, 2003).



Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros de Aquidauana (NUBOPAN) pertencente à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul / Unidade Universitária de Aquidauana (UEMS/UUA), localizada no Município de Aquidauana/MS, região do Alto Pantanal Sul-Mato-Grossense. As matrizes, com cerca de 415,1±3kg de peso corpóreo, receberam individualmente 3kg/dia de ração concentrada (Tabela 1) e mais diferentes níveis da farinha de bocaiúva (Acromia aculeata). Resultando os seguintes tratamentos: Controle (sem bocaiúva), BC200 – 200 gramas de Bocaiúva, BC600 - 600 gramas de Bocaiúva, BC1000 - 1.000 g de Bocaiúva, BC1400 - 1.400 g de Bocaiúva e BC1800 - 1.800 g de Bocaiúva.

As vacas foram ordenhadas com ordenhadeira mecânica duas vezes ao dia, e para facilitar a ejeção do leite foi aplicado 0,3 ml do hormônio ocitocina, diretamente na veia mamária, com agulha hipodérmica. Semanalmente também foi avaliada a mastite sub-clínica através do procedimento Califórnia Mastite Teste (CMT), e a mastite clínica pelo método da caneca do fundo preto. Nenhum dos animais apresentaram mastite clinica ou subclínica durante o experimento.

Nos últimos dias de cada período experimental foram coletadas amostras de leite, armazenados à 4ºC, sendo realizada a analise de perfil lipídico das amostras de leite. Para tanto procedeu-se a extração da matéria graxa segundo a metodologia de Bligh & Dyer (1959), logo após foi realizada a transesterificação deste material e posteriormente foi feita a análise dos ácidos graxos por um cromatógrafo a gás. Após análises preliminares, foram realizados estudos de regressões, onde foram testados os modelos linear, quadrático e cúbico. Utilizando o programa estatístico R versão 3.2.1 (2015).



Resultados e Discussão

Segundo nossas investigações literárias esse foi um dos primeiros estudos que buscaram avaliar o perfil lipidico do leite de vacas com o consumo da farinha de bocaiúva como alimento alternativo.  O perfil dos ácidos graxos no leite não foram influenciados pela inclusão da farinha de bocaiúva (Tabela 1). Segundo Hiane et al. (2006) o perfil lipídico da bocaiúva é composto em sua maioria pelo ácido oléico e palmítico, que são digeridos com facilidade pelo intestino, sendo estes ácidos graxos os mais encontrados no leite do referido estudo, representando 21,8 e 31,5%, respectivamente.

Sabe-se que o teor de gordura do leite ainda é fortemente influenciado pela genética animal. Nesse contexto, a raça Jersey apresenta em média 5,5% de gordura, enquanto a holandesa tem cerca de 3,5% (Botaro et al., 2011). Em estudo conduzido por Biazolli (2014), não foram encontradas diferenças na porcentagem de gordura do leite de novilhas da raça Pantaneira alimentadas com diferentes níveis de concentrado (média de 4,24% de gordura no leite). Em outro estudo com a raça Pantaneira, Lopes (2014), encontrou uma diminuição na porcentagem de gordura no leite com o aumento da oferta de feno Brachiaria brizantha cv. Piatã. Ambos os trabalhos sugerem que exista uma predisposição da raça Pantaneira em secretar compostos lipídicos no leite.

Infere-se, portanto, que esse diferencial da raça Pantaneira associado aos subprodutos da bocaiúva, também nativo da região, podem potencializar a produção de manteiga, queijos e requeijão, haja vista que a gordura possui uma alta correlação com a confecção destes derivados lácteos. Tornando-se assim, a raça Pantaneira uma alternativa interessante como segurança alimentar para assentamentos e comunidades indígenas e quilombolas.

Neste contexto, infere-se que a bocaiúva pode ser um alimento interessante para ser adicionado a dieta de vacas Pantaneiras leiteiras em regiões como o Cerrado e Pantanal, tendo em vista que é um produto nativo e em abundância, facilmente encontrado no campo.



Conclusões

Nao houve efeito no perfil de ácido graxo no leite com o aumento dos niveis de farinha de bocaiuva na dieta. Porém o alta proporcao de gordura foi encontrado no leite, assim como na farinha de bocaiúva, Tornando-se assim, uma alternativa interessante como segurança alimentar para assentamentos e comunidades indígenas e quilombolas.



Gráficos e Tabelas




Referências

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