INDUÇÃO E RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA EM JUVENIS DE PINTADO REAL (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) EXPOSTOS AO EUGENOL

Crislaine Palmeira Barbosa de Oliveira1, Carlos Henrique da Paixão Lemos2, Tamara Damasceno3, Ricardo Uriel Pedrosa4, Denise Soledade Peixoto Pereira5, Luiz Vitor Oliveira Vidal6, Carlos Eduardo Copatti7
1 - Universidade Federal da Bahia
2 - Universidade Federal da Bahia
3 - Universidade Federal da Bahia
4 - Universidade Federal da Bahia
5 - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
6 - Universidade Federal da Bahia
7 - Universidade Federal da Bahia

RESUMO -

O trabalho objetivou avaliar o tempo de indução e recuperação anestésica em pintado real (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) com uso de eugenol. Foram utilizados 56 juvenis de pintado real, os quais foram transferidos para aquários contendo 4 L de água e eugenol em concentrações de 0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 µL L-1. Para cada concentração testada foram utilizados oito juvenis. Nenhuma mortalidade foi observada. Os exemplares expostos ao tratamento controle e a 10 µL L-1 de eugenol não apresentaram efeito anestésico durante os 30 minutos de avaliação. Acima desta concentração, os animais atingiram estágio de anestesia leve e profunda, onde 50 µL L-1 foi a menor concentração a desencadear anestesia profunda e recuperação anestésica com tempos inferiores a 3 e 5 min, respectivamente. Conclui-se que 50 µL L-1 de eugenol é eficiente para a indução anestésica leve e profunda em pintado real.

Palavras-chave: Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus, anestesia leve, anestesia profunda.

ANESTHETIC INDUCTION AND RECOVERY IN HYBRID CATFISH (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) JUVENILES EXPOSED TO EUGENOL

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the time of induction and anesthetic recovery in hybrid catfish (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus) using eugenol. Fifty-six hybrid catfish juveniles were used, which were transferred to aquaria containing 4 L of water and eugenol in concentrations of 0, 10, 20, 30, 40, 50 and 60 μL L-1. For each concentration tested, eight juveniles were used. No mortality was observed. The specimens exposed to the control treatment and the 10 μL L-1 of eugenol had no anesthetic effect during the 30-minute evaluation. Above this concentration, the animals reached a stage of light and deep anesthesia, where 50 μL L-1 was the lowest concentration to trigger deep anesthesia and anesthetic recovery with times less than 3 and 5 min, respectively. It was concluded that 50 μL L-1 of eugenol is efficient for light and deep anesthetic induction in hybrid catfish.
Keywords: Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus, light anesthesia, deep anesthesia.


Introdução

O uso de anestésico nos sistemas de produção piscícolas é uma estratégia que visa minimizar a hipermotilidade dos peixes, o que causa efeito deletério durante a manipulação e transporte. Tais danos causam o aumento da vulnerabilidade a patógenos e doenças infecciosas. Com a redução da motilidade pelos anestésicos, há a consequente diminuição destes efeitos deletérios indesejáveis (INOUE et al., 2003).

Segundo Marking & Meyer (1985), o anestésico para ser considerado ideal deve produzir anestesia em três minutos ou menos, e permitir a recuperação dentro de cinco minutos. Adicionalmente, não deve causar toxidade aos peixes, problemas de segurança nos manipuladores e deve apresentar custo razoável.

 

O pintado real é um hibrido desenvolvido recentemente no Brasil, resultado do cruzamento entre a fêmea Cachara Pseudoplatystoma reticulatum e o macho jundiá amazônico Leiarius marmoratus. Assim, considerando a potencialidade anestésica do eugenol e a inexistência de estudos relacionados ao uso do eugenol em pintado real (Pseudoplatystoma reticulatum x Leiarius marmoratus), este trabalho objetivou avaliar o tempo de indução e recuperação anestésica em juvenis de pintado real expostos a diferentes concentrações de eugenol.



Revisão Bibliográfica

Nos sistemas de produção aquícolas os peixes estão expostos a diversos agentes estressores, os quais segundo Oba et al., (2009) são provenientes de procedimentos rotineiros, tais como: alimentação, qualidade de água, densidade e manejos dos animais como biometria, despesca e o transporte.

Segundo Ross e Ross (2008), são tidos como estressores quaisquer estímulos que causem alterações comportamentais e fisiológicas, prejudicando a alimentação, crescimento e reprodução animal.

O uso de anestésicos pode minimizar o estresse através da diminuição da atividade do sistema nervoso central, reduzindo a capacidade de deslocamento animal. Assim, segundo o mesmo autor, peixes anestesiados teriam maior facilidade para a execução de atividade rotineiras nas pisciculturas (SILVA-SOUZA et al., 2015).

O eugenol é uma substância derivada do óleo de cravo, o qual é extraído das flores e caule do cravo-da-índia (MAZZAFERA, 2003). Atualmente é o anestésico alternativo mais promissor para peixes. Sendo apontado em estudos como eficiente e seguro na indução e recuperação anestésica de tilápia-do-Nilo (VIDAL et al., 2008), jundiá (DIEMER et al., 2012) e pacu (ROTILI et al., 2012).



Materiais e Métodos

Os procedimentos experimentais foram realizados no Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cruz das Almas - Bahia. Para determinar a influência da concentração na indução e recuperação anestésica foram utilizados 56 exemplares juvenis de pintado real.

Os exemplares utilizados, com peso e comprimento média de 82,32 g e 23,14 cm, respectivamente, foram transferidos para aquários contendo 4 L de água e eugenol em concentrações de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 µL L-1. As concentrações foram primeiramente diluídas em etanol (1:10). No tratamento controle os peixes foram transferidos para aquários que continha apenas água e etanol proporcional a maior diluição utilizada.

Para cada concentração testada foram utilizados oitos juvenis, coletados aleatoriamente e submetidos a banhos anestésicos. Para avaliação do tempo necessário para a indução anestésica, em cada aquário foram colocados dois peixes ao mesmo tempo, sendo avaliados separadamente no período máximo de 30 minutos de acordo com Small (2003).

                Quando atingiram o estágio de anestesia profunda, os peixes foram retirados do aquário de indução e transferidos ao aquário de recuperação contendo 5 L de água sem eugenol, e o tempo de recuperação anestésica foi aferido. Os peixes foram considerados recuperados quando responderam a estímulos externos e apresentaram equilíbrio normal (ROSS & ROSS, 2008).

Foi avaliada a concentração mínima a qual os peixes atingiram o estágio anestésico entre 1-3 minutos, com recuperação inferior a 5 minutos. No final dos procedimentos experimentais, os peixes foram alojados em tanques, onde foram observados por 24 h para análise de sobrevivência.

A normalidade dos dados obtidos foi verificada por teste de Shapiro-Wilk. Os dados foram submetidos ao teste de Levene para verificar a homocedasticidade das variâncias. Os dados foram submetidos a ANOVA de uma via com 95% de significância (P < 0,05). Foi realizado regressão polinomial entre as dosagens de eugenol. 

Resultados e Discussão

Nenhuma mortalidade foi observada após 24 horas da realização dos testes, mostrando que não há efeito deletério a sobrevivência quando da utilização de eugenol como anestésico para pintado real.  Os exemplares expostos ao tratamento controle e a concentração de 10 µL L-1 de eugenol não apresentaram efeito anestésico durante os 30 minutos de avaliação. Acima destas concentrações, os animais atingiram estágio de anestesia leve e profunda em todas as concentrações testadas (20, 30, 40 e 60 µL L-1).

 

As curvas de regressão obtidas em relação aos tempos de indução anestésica leve e profunda (Figuras 1 e 2) foram linear decrescente, mostrando que a medida que foi aumentando as concentrações de eugenol, o tempo requerido para indução anestésica leve e profunda foi diminuindo gradualmente, com tendência de estabilização nas últimas concentrações. A qual seguiu o mesmo modelo encontrado por Vidal et al. (2008) para tilápia-do-nilo. Esse efeito também foi observado quando o eugenol foi utilizado em outras espécies de peixes, como jundiá Rhamdia voulezi (DIEMER, et al., 2012) e oscar Astronotus ocellatus (SILVA-SOUZA, et al., 2015).

Os tempos de recuperação anestésica variaram 228 a 297 segundos. Para recuperação anestésica não houve diferença significativa entre as concentrações testadas, assim, não houve correlação do tempo de recuperação anestésica em relação as concentrações testadas. 



Conclusões

                Conclui-se que 50 µL L-1 de eugenol é eficiente e adequado para a rápida indução anestésica leve e profunda em pintado real. 



Gráficos e Tabelas




Referências

DIEMER, O. et al. Eugenol as anesthetic for silver catfish (Rhamdia voulezi) with different weight. Ciências Agrárias, Londrina, v. 33, n. 4, p. 1495-1500, 2012.

INOUE, L. A. K.; NETO, C. S. N.; MORAES, G. Clove oil as anesthetic for juveniles of matrinxã Brycon cephalus (Gunther, 1869). Ciência Rural, Santa Maria, v. 33, n. 5, p. 943-947, 2003.

MAZZAFERA, P. Efeito alelopático do extrato alcoólico do cravo-da-índia e eugenol. Revista Brasileira de Botânica, v.26, p.231-238, 2003.

MARKING, L. L.; MEYER, F. P. Are better anesthetics needed in fisheries? Fisheries, v.10, p.2-5, 1985.

OBA, T. E.; MARIANO, S. W.; SANTOS, L. R. B. 2009. Estresse em peixes cultivados: agravantes e atenuantes para o manejo rentável. Macapá: Embrapa.

ROSS, L. G.; ROSS, B. 2008. Anaesthetic and sedative techniques for aquatic animals / Lindsay G. Ross, Barbara Ross. – 3rd ed.

ROTILI, D. A. et al.  Eugenol as anesthetic for Piaractus mesopotamicus. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.42, n.3, 2012.

SILVA-SOUZA, J. G. et al. Eugenol como anestésico para oscar, Astronotus ocellatus. Archivos de Zootecnia,  v. 64, n. 247, p. 205-210, 2015.

SMALL,  B. C.  Anesthetic efficacy  of  metomidate and  comparison  of  plasma  cortisol  responses  to tricaine  methanesulfonate,  quinaldine  and  clove oil  anesthetized  channel  catfish  Ictalurus  punctatus. Aquaculture, v.218, p. 177-185, 2003.

VIDAL, L. V. O. et al.  Eugenol como anestésico para a tilápia-do-nilo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, n.8, p.1069-1074, 2008.