Composição bromatológica e degradabilidade de resíduos da acerola resultantes do processamento de sucos e polpas de frutas
Olga Cedro de Menezes1, Adriana Regina Bagaldo2, Bráulio Rocha Correia3, Victoria Machado Daltro de Carvalho4, Pedro Henrique Soares Mazza5, Fabiane de Lima Silva6, Isabele Simões Alves7, Debora Inês Costa da Hora8
1 - Graduanda em Zootecnia, pela UFRB, Cruz das Almas-BA. Bolsista PIBITI/CNPq. e-mail: olgacedro@hotmail.com
2 - Professor Adjunto UFRB, Cruz das Almas-BA
3 - Pós-doutorando em Ciência Animal, bolsista PNPD/CAPES – PPGCA/UFRB, Cruz das Almas-BA
4 - Graduanda em Zootecnia, UFRB, Cruz das Almas-BA
5 - Mestrando em Ciência Animal, UFRB, Cruz das Almas-BA
6 - Professora,UFRB, Cruz das Almas-BA
7 - Graduanda em Zootecnia, UFRB, Cruz das Almas-BA
8 - Graduanda em Zootecnia, UFRB, Cruz das Almas-BA
RESUMO -
Objetivou-se avaliar a composição bromatológica e a degradabilidade in situ de resíduos resultantes da indústria processadora de polpa de frutas. Foram analisados três resíduos da acerola, classificados de acordo processamento, resíduo despolpadeira refere-se a retirada da casca e sementes das frutas, as quais devem sair inteiras, o 1º e 2º estágio refere-se à refinação da polpa em peneiras de diferentes diâmetros. Os dados de degradabilidade foram submetidos a análise estatística descritiva. A acerola despolpadeira apresentou valor de fibra em detergente neutro e lignina que explicam a menor degradabilidade entre os resíduos, a acerola refino 1º estágio e a acerola refino 2º estágio apresentaram valores dos parâmetros de degradabilidade, degradabilidade potencial e degradabilidade efetiva semelhantes. Com as análises foi possível perceber que a acerola refino 1º e 2º estágio possuem um potencial nutritivo na alimentação de ruminantes.
Palavras-chave: ruminantes, subprodutos, valor nutricional
Bromatological composition and degradability of acerola residues resulting from the processing of fruit juices and pulps
ABSTRACT - The objective was to evaluate the inorganic composition and in situ degradability of residues resulting from the fruit pulp processing industry. Three residues of the acerola, classified according to processing, were analyzed. Pulp residue refers to the removal of the bark and seeds of the fruits, which must leave whole, the 1st and 2nd stage refers to the refining of the pulp in sieves of different diameters. The degradability data were submitted to descriptive statistical analysis. The acerola pulp presented a neutral detergent fiber and lignin value explaining the lower degradability between the residues, the first stage refining acerola and the second stage refining acerola presented values of the parameters of degradability, potential degradability and similar effective degradability. With the analysis it is noticed that the acerola refining 1st and 2nd stage have a nutritional potential in the feeding of ruminants.
Keywords: Ruminants, byproducts, nutritional value
Introdução
A fruticultura no Brasil é um dos setores com maior destaque, segundo o IBGE, no ano de 2013 o Brasil colheu 41,8 milhões de toneladas de frutas frescas. Com uma produção de 4,5 milhões de toneladas, a fruticultura é uma das atividades que mais geram emprego e renda e promove o desenvolvimento em algumas regiões na Bahia (SEAGRI 2015).
No entanto existe uma diversidade de resíduos gerados pelo processamento dessas frutas. As agroindústrias investem no aumento da capacidade de processamento, gerando grandes quantidades de subprodutos, que, em muitos casos, são considerados custo operacional para as empresas ou fonte de contaminação ambiental (Lousada et al., 2005). Uma alternativa de diminuir o acumulo desses resíduos, o impacto ambiental causado e os custos na produção de ruminantes no período da seca é a utilização destes na alimentação animal.
A degradabilidade in situ é uma técnica que tem por objetivo determinar a taxa de degradação do alimento no rúmen, determinar a taxa de passagem pelo rúmen. Assim, essa técnica contribui para o melhor conhecimento nutritivo dos resíduos.
Realizou-se esse estudo com o intuito de avaliar o potencial nutritivo de resíduos da acerola da indústria processadora de polpa de frutas.
Revisão Bibliográfica
A acerola é uma frutífera nativa das ilhas do Caribe, América Central, Norte e Sul (Ritzinger e Ritzinger ,2011), ela pertence à família
Malpighiaceae, gênero
Malpighia, possui cerca de 30 espécies. É cultivada comercialmente no Brasil desde meados dos anos 80, principalmente no Nordeste, com destaque para os estados de Pernambuco, Paraíba, Bahia e Ceará. (CODEVASF,2003). Em regiões tropicais a planta chega até 9 safras/ano, com colheitas diárias. Devido ao período curto para consumir a fruta
in natura, uma alternativa é o processamento dela, como a produção de polpa de fruta.
O processamento da polpa de fruta é uma atividade agroindustrial importante, agregando-lhe mais valor, desfavorecendo os altos índices de desperdício na comercialização das frutas “
in natura” (Kepler e Fair, 2008). Contudo existem inúmeras indústrias nesta atividade, onde é observado a necessidade de uma solução para o problema dos resíduos gerados na extração dessas polpas. São inúmeras e sérias as consequências ao meio ambiente quando esses resíduos são depositados de forma incorreta (Jerônimo et al., 2002).
A utilização desses resíduos da indústria processadora de frutas na alimentação de animais ruminantes apresenta potencial, todavia os estudos ainda são em pequena escala. Lousada et al. (2005) compararam resíduos desidratados de abacaxi, acerola, goiaba, maracujá e melão, oriundos da extração de sucos e polpas, para alimentação de ovinos. Chegou à conclusão de que existem um bom valor nutritivo e necessário maior estudo destes.
Materiais e Métodos
O estudo foi realizado no Laboratório de Análises Bromatológicas, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. As amostras utilizadas foram disponibilizadas pela empresa FRUTAB – Frutas da Bahia LTDA, situada em Ipiaú-BA. Foram analisados três resíduos da acerola, classificados de acordo processamento, resíduo despolpadeira refere-se a retirada da casca e sementes das frutas, as quais devem sair inteiras, o 1º e 2º estágio refere-se à refinação da polpa em peneiras de diferentes diâmetros. As amostras foram preparadas para as análises de teor de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG), conforme técnicas descritas por Detmman et al. (2012).
O conteúdo de carboidratos totais (CT) e carboidratos não fibrosos (CNF) foi calculado segundo a equações propostas por Sniffen et al. (1992).
Para a realização da degradabilidade in situ incubou as amostras em saquinhos de Tecido não Tecido, com medidas de 5cm X 5cm, segue a relação de 20mg de matéria seca/cm² e incubados nos tempos 0, 3, 6, 12, 18, 24, 48, 72, 96, 120, 144, 160, 192, 216, 240 e 312, conforme as recomendações de Valente (2010).
Para interpretação dos perfis de degradação da matéria seca e fibra, utilizou-se o modelo exponencial proposto por Orskov & McDonald (1979): DP = a + b (1 - e-ct), em que “DP” é a degradabilidade ruminal potencial, “a” é a fração solúvel, “b” é a fração insolúvel ou potencialmente degradável, “c” é a taxa de degradação da fração “b” e “t” é o tempo de incubação em horas, sendo a + b ≤ 100. A degradabilidade efetiva (DE) da MS e FDN no rúmen, foi calculada segundo o modelo matemático proposto por Orskov & McDonald (1979): DE = a + (b x c / c + k), em que “k” é a taxa estimada de passagem das partículas no rúmen, definida por 2,5 e 8%/h.
Os resultados de degradabilidade foram interpretados estatisticamente por meio de análise descritiva.
Resultados e Discussão
Ao levar em consideração o valor de PB dos resíduos o seu fornecimento para o animal poderá ser realizado no total da dieta, seguindo recomendação de Van Soest (1994) de mínimo de 7% de PB na MS e todos os resíduos possuem valores acima (Tabela 1). Como se trata de resíduos da indústria de suco e polpa de frutas, já se esperava um teor de matéria seca mais baixo do que alimentos como o farelo de soja e fubá de milho, 85,09 e 86,22% de MS (Oliveira
et al., 2014), o que dificulta o armazenamento. Os teores de extrato etéreo estão dentro do limite recomendado por McGuffey & Schingoethe (1980), de até 8% de EE, devido à redução de ingestão de alimento. A lignina, composto fenólico de baixa digestibilidade, da acerola despolpadeira está mais alto que os outros resíduos (Tabela 1), o que explica os valores baixos dos parâmetros (Tabela 2) e das taxas de degradabilidade (Tabela 2). Segundo Van Soest, (1994), os carboidratos não fibrosos, são prontamente fermentáveis, assim, disponibiliza maior aporte de energia para o crescimento dos microrganismos ruminais que permite maior adesão e menor tempo de colonização, e consequentemente maior digestão. A acerola 1º e 2º estágio possuem valores maiores que 50%, o que pode explicar o valor dos parâmetros (Tabela 2).
Observa-se que os valores da fração solúvel (a) da matéria seca e fibra em detergente neutro (Tabela 2) teve um aumento, isso pode ser atribuído ao tipo do refino e ao material que é resultante em cada fase. A fração insolúvel potencialmente degradável (b) da MS e FDN variaram, também de acordo com o processamento da fruta. Pode-se levar em consideração a composição bromatológica onde a acerola despolpadeira possui maior quantidade de FDN, FDA e LIG (Tabela 1) respectivamente, em relação aos outros resíduos, o que explica o valor baixo da fração solúvel e da taxa de degradação (c).
A degradabilidade potencial da MS e da FDN (Tabela 2) aumentaram de acordo com o refinamento de cada resíduo, isso pode ter ocorrido devido a quantidade de material solúvel. Em relação a degradabilidade efetiva houve um decréscimo em todos os resíduos.
Conclusões
Os resíduos acerola refino 1º e 2º estágio possuem características nutricionais que podem ser posteriormente testadas na alimentação de ruminantes. Contudo, a acerola despolpadeira possui taxas de DE e DP baixas, devido ao conteúdo celular indigestível estar em maior quantidade, como a lignina.
Gráficos e Tabelas
Referências
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