Composição do Leite de Vacas Girolando Suplementadas com Semente de Linhaça (Linum usitatissimum)

Marcio Gregório Rojas dos Santos1, Pedro Gustavo Loesia Lima2, Rodrigo Ferreira Carvalho3, Vitória Soares4, Daniela Arestides Alves5, Dirce Ferreira Luz6, Marcus Vinícius Morais de Oliveira7
1 - Universidade Estadual de Maringá
2 - Universidade Estadual de Maringá
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
6 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
7 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o desempenho de vacas Girolando (3/4 Holandês x 1/4 Gir), mantidas em sistema de pastoreio em capim-mombaça (Panicum maximum) e suplementadas com semente de linhaça (Linum usitatissimum). Utilizou-se 6 vacas em lactação distribuídas num delineamento experimental em Quadrado Latino (6×6) e submetidas aos tratamentos: CT- Controle (sem inclusão de linhaça); 200L- 200 gramas de linhaça; 400L- 400 gramas de linhaça; 600L- 600 gramas de linhaça; 800L- 800 gramas de linhaça e 1000L- 1.000 gramas de linhaça. A avaliação do desempenho teve duração de 84 dias, e os dados foram submetidos à análise de variância e estudos de regressão. Logo a semente de linhaça não afeta a produção e não altera os parâmetros de composição físico-química do leite.

Palavras-chave: Suplementação, desempenho produtivo, características físico-químicas

Composition of Milk Girolando Cows Supplemented with Flaxseed (Linum usitatissimum)

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the performance of Girolando cows (3/4 Dutch x 1/4 Gir), kept in pasture systems in Mombaça grass (Panicum maximum) and supplemented with flaxseed (Linum usitatissimum). Six lactating cows distributed in an experimental design were used in Quadrado Latino (6x6) and submitted to treatments: CT-Control (without inclusion of flaxseed); 200L- 200 grams of flaxseed; 400L- 400 grams of flaxseed; 600L- 600 grams of flaxseed; 800L- 800 grams of flaxseed and 1000L- 1,000 grams of flaxseed. The performance evaluation lasted for 84 days, and the data were submitted to analysis of variance and regression studies. Therefore, the flax seed does not affect the production and does not alter the parameters of the physical-chemical composition of the milk.
Keywords: Supplementation, productive performance, physico-chemical characteristics


Introdução

Os lipídios também podem ser utilizados para minimizar os efeitos do Balanço Energético Negativo, visto que possuem 2,25 vezes mais energia que os carboidratos. Todavia, seu uso também é restrito, haja vista os efeitos deletérios que os ácidos graxos causam no ambiente ruminal.

A alimentação de vacas leiteiras com sementes de oleaginosas na forma integral é de grande importância, já que os ácidos graxos encontram-se naturalmente protegidos e desta forma não interferem no metabolismo microbiano ruminal, sendo, portanto, os nutrientes destes alimentos digeridos e aproveitados em nível intestinal.

O linho (Linum usitassimun L.) é uma planta de ciclo anual, da qual sua semente é chamada de linhaça, apresentando a variedade dourada e marrom, ambas com semelhante composição nutricional (Henrique e Pivaro, 2012).  Além da sua utilização na indústria têxtil, tem uso significativo na nutrição humana e apresenta vantagem na alimentação de ruminantes, desde que não acarrete diminuição na produção de leite e que sua aquisição não seja onerosa.

Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar se diferentes níveis de inclusão de semente de linhaça na dieta de vacas leiteiras da raça Girolando, influenciam na produção e composição do leite. 



Revisão Bibliográfica

Os lipídios são uma alternativa para modificar a composição e características físico-químicas do leite, principalmente a porcentagem de proteína (SNIFFEN et al., 1992). Além disso, quando fornecidos na forma livre, formam uma barreira física sobre as partículas do alimento, dificultando a colonização da microbiota ruminal, com consequente alteração nos produtos microbianos.

A dieta dos ruminantes é composta por aproximadamente 3% de lipídeos, de forma a diminuir os efeitos deletérios dos ácidos graxos aos microrganismos, e consequentemente sobre a fermentação ruminal (BYERS e SCHELLING, 1989). No entanto, quando as sementes de oleaginosas são fornecidas na forma integral, podem reduzir os efeitos negativos que incidem sobre a fermentação, em consequência do menor contato dos ácidos graxos com os microrganismos ruminais.

Para ruminantes criados em regiões de clima tropical, o uso de sementes oleaginosas ainda é interessante por reduzir o incremento calórico, com o aumento da densidade energética da dieta, auxiliando no processo de aclimatação (PAULA et al., 2012). Além de diminuir distúrbios metabólicos, geralmente causados por dietas contendo elevados níveis de amido.

 

Tendo em vista tais fatores, faz-se necessário pesquisas que avaliem dietas com a capacidade de minimizar o estresse causado pelo calor, e que melhorem as características físico-químicas do leite sem afetar negativamente a produção de leite. 



Materiais e Métodos

O estudo foi conduzido no Setor de Bovinocultura Leiteira da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, no município de Aquidauana/MS no período de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015. Onde, encontravam-se as vacas da raça Girolando (3/4 Holandês x 1/4 Gir) em sistema de pastoreio rotacionado em capim-mombaça (Panicum maximum), com água e sal mineral à vontade. As vacas receberam diariamente, de forma individual, 2 kg de ração concentrada, em função da produção de leite (2:1). A quantidade suplementar de semente integral de linhaça (Linum usitatissimum.) foi disponibilizada em função dos tratamentos. O concentrado foi constituído de milho moído, farelo de soja, ureia/sulfato de amônio (relação 9:1, respectivamente), calcário e sal mineral. Os tratamentos avaliados foram CT-Controle (sem inclusão de semente de linhaça); 200L- 200g de semente de linhaça; 400L- 400g de semente de linhaça; 600L- 600g de semente de linhaça; 800L- 800g de semente de linhaça e 1000L- 1.000g de semente de linhaça. O ensaio teve início 10 dias após o parto das vacas, para que houvesse ambientação dos animais ao manejo de ordenha e ao concentrado. O Delineamento foi em Quadrado Latino (6x6). As vacas foram ordenhadas mecanicamente duas vezes ao dia, e o leite pesado em balança digital. Após as ordenhas, as vacas foram arraçoadas com as dietas experimentais, de forma equitativamente parcelada, em cochos individuais. Nos 4 últimos dias de cada período experimental foram coletadas amostras de leite, armazenadas em recipientes plásticos esterilizados e mantidos sob refrigeração (4ºC) e em seguida analisados, por ultrassonografia os teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais não gordurosos, bem como a condutividade e o pH. Semanalmente foi avaliada a mastite sub-clínica através do procedimento Califórnia Mastite Teste (CMT). Os dados foram analisados estatisticamente com o auxílio do software R, sendo efetuados o teste de médias e análise de regressão.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 são apresentados os dados de produção e características físico-químicas do leite, em função dos tratamentos fornecidos aos animais. Infere-se que não foram observadas alterações na produção de leite total ou corrigida para 4% de gordura, com a inclusão da linhaça. Fato este pela utilização de semente na forma integral, havendo a liberação dos nutrientes gradualmente, diminuindo os efeitos do lipídio sobre a produção do leite.

 

O teor de gordura é facilmente manipulado pela suplementação com lipídios na forma livre. O uso de gordura na forma protegida (by pass) disponibiliza poucos ácidos graxos de cadeia longa para a glândula mamária, mantendo o teor de gordura no leite. Como observado neste trabalho, o teor de gordura não foi influenciado pelos níveis de linhaça fornecida nas dietas experimentais. Fato também evidenciado por Petit et al., (2004) que não encontraram variação da gordura do leite de vacas suplementadas com 9,7% semente de linhaça, quando comparadas com o tratamento controle, mantendo este teor em 3,63%.

Neste ensaio a suplementação com semente de linhaça também não afetou a composição química do leite para lactose, pois este é um componente osmótico do leite, e dificilmente influenciado por alterações na dieta.

É fato que os ácidos graxos insaturados inibem a produção de bactérias ruminais gram-positivas, alterando a relação acetato:propionato, com efeitos negativos no teor de gordura do leite. No entanto, no presente estudo isto não ocorreu, pois o teor de gordura do leite permaneceu estatisticamente similar ao grupo controle em relação aos animais que receberam linhaça. Este fato era esperado, já que a semente de linha foi fornecida de maneira integral, estando, portanto, os ácidos graxos naturalmente protegidos da fermentação microbiana ruminal.

 

 



Conclusões

 A inclusão de semente de linhaça (Linum usitatissimum L) na forma integral não causa efeito sobre a produção e composição do leite de vacas Girolando em sistema de pastoreio.



Gráficos e Tabelas




Referências

HENRIQUE, W.; PIVARO, M.T. Óleo de linhaça na alimentação de bovinos. Pesquisa & Tecnologia, v.9, n.2, Jul-Dez, 2012.

PETIT, H.V.; GERMIQUET, C.; LEBEL, D. Effect of feeding whole unprocessed sunflower seeds and flaxseed on milk production, milk composition, and prostaglandin secretion in dairy cows. Journal Dairy Science, v.87, n.11, p.3889-3898, 2004.

SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, D.J.; VAN SOEST, P.J.; FOX, D G, RUSSEL, J. B.A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: Carbohydrate and protein availability. Journal Animal Science, v.70, n.11, p.3562-3577, 1992.

BYERS, F.M.; SCHELLING, G.T. Lipids in ruminant nutrition. In: CHURCH, D.C. The Ruminant Animal: Digestive Physiology and nutrition. New Jersey: A Reston Book, p.298-312, 1989.

 

PAULA, E.F.E.; MAIA, F.P.; CHEN, R.F.F. Óleos vegetais em nutrição de ruminantes. Revista Electronica Nutritime, art.182, v.9, p.2075-2103, 2012.