Baraço de batata-doce em dietas para coelhos em crescimento

Ana Carolina Kohlrausch Klinger1, Geni Salete Pinto de Toledo2, Diuly Bortoluzzi Falcone3, Aline Knob4, Leila Picolli da SIlva5
1 - UFSM
2 - UFSM
3 - UFSM
4 - UFSM
5 - UFSM

RESUMO -

O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a viabilidade da inclusão do baraço de batata-doce em dietas para coelhos de corte. Foram utilizados 27 coelhos da raça Nova Zelândia, desmamados aos 35 dias, divididos em três grupos experimentais submetidos às seguintes dietas: 0BBD, dieta controle sem inclusão de baraço de batata-doce; 10BBD, dieta experimental com 10% de substituição do feno de alfafa por baraço de batata-doce; e 15BBD, dieta experimental com substituição de 15% do feno de alfafa por baraço de batata-doce. Os animais foram alojados em gaiolas individuais em delineamento inteiramente casualisado. O ganho de peso e o consumo de ração foram registrados semanalmente, e com estes dados calculou-se a conversão alimentar. Os dados obtidos foram tabulados e analisados através de análise de variância das médias seguido pelo teste de Tukey (0.05). Os resultados obtidos demonstraram que não houveram diferenças nas variáveis estudadas. Concluiu-se, portanto, que o baraço de batata-doce pode substituir até 15% do feno de alfafa em dietas para coelhos sem afetar negativamente o desempenho dos mesmos.

Palavras-chave: Cunicultura, nutrição animal, subprodutos

Sweet potato vines in diets for growing rabbits

ABSTRACT - These study aims evaluate the viability of the inclusion of sweet potato vines in diets for growing rabbits. We used 27 New Zealand rabbits, weaned at 35 days, divided into three experimental groups submitted to the following diets: 0BBD, control diet without inclusion of sweet potato vines; 10BBD, experimental diet with 10% substitution of alfalfa hay per sweet potato vines; and 15BBD, experimental diet with 15% substitution of alfalfa hay per sweet potato vines. The animals were housed in individual cages in a completely randomized design. The weight gain and the feed consumption were recorded weekly, and with these data the feed conversion was calculated. The obtained data were tabulated and analyzed through analysis of variance of the means followed by the Tukey test (0.05). It was concluded, that sweet potato vines can replacement up to 15% of alfalfa hay in diets for rabbits without adversely affecting their performance.
Keywords: Animal nutrition, by-products, rabbits farming


Introdução

A formulação das rações consiste na mistura de vários alimentos, com a finalidade de atender às exigências nutricionais dos animais de determinada categoria, para que estes possam expressar o máximo de seu potencial genético (NUNES et al., 2001). Sendo esta responsável por 70% dos custos de produção, atender às exigências animais com baixo custo é imprescindível para o sucesso do criatório. Ainda o fornecimento de fontes proteicas de boa qualidade para a população humana, com baixo custo e oferta regular, trata-se de uma das grandes problemáticas atuais (LOUSADA JUNIOR et al., 2006; VOLPATO et al., 2015).

Nesse sentido, a criação de coelhos pode ser iniciada em pequenos espaços, com baixo investimento inicial e com grande potencial de lucros. Pode, também, ser facilmente consorciada com diversas culturas vegetais, como a da batata-doce, de modo que os animais se beneficiem das partes habitualmente descartadas, gerando proteína animal de excelente qualidade, e minimizando a geração de resíduos.

 

Sendo a cultura da batata-doce abundante no Brasil, seja para fins alimentares, seja para a produção de combustíveis, avaliar os potenciais usos das partes usualmente descartadas como o baraço é de grande relevância para melhorar a eficiência da cadeia produtiva deste vegetal. Nesse contexto, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a viabilidade da inclusão do baraço de batata-doce em dietas para coelhos de corte.



Revisão Bibliográfica

A produção cunícola, em países de clima tropical e subtropical, enfrenta limitações que a prejudicam seriamente, como por exemplo, a escassez de alimentos equilibrados a preços competitivos (MOLINA et al., 2015). Nesse contexto, o conhecimento sobre alimentos alternativos em dietas para animais apresenta grande relevância, tendo em vista que, diante da crescente utilização de cereais na alimentação animal, a oferta de grãos disponíveis para a alimentação humana diminui, aumentando o custo de produção (SILVA et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2015).

Resíduos olerícolas, como o baraço da batata-doce são produzidos em grande escala no Brasil e apresentam, além da fibra dietética, teores consideráveis de energia e proteína (OLIVEIRA, 2013). Porém, seu uso na nutrição animal ainda é muito restrito e seu descarte para o ambiente é a prática mais comum, causando desperdício de quantidades massivas de nutrientes que poderiam ser usados para a produção de proteínas nobres de origem animal como a carne de coelhos (RODRIGUES et al., 2014).

 

Ainda neste sentido, culturas como a da batata-doce são conduzidas em pequenas propriedades familiares, onde é preponderante a melhoria da geração de renda. Neste sentido, quando os resíduos destas culturas são incluídos na alimentação cunícola, o produtor reduz os custos com ingredientes onerosos como o feno de alfafa e ainda tem adubo orgânico oriundo dos coelhos para utilizar na sua plantação.



Materiais e Métodos

O ensaio biológico foi conduzido no laboratório de cunicultura da Universidade Federal de Santa Maria-RS, Brasil. Foram utilizados 27 coelhos da raça Nova Zelândia, desmamados aos 35 dias, com peso médio inicial de 755g, divididos em três grupos experimentais submetidos às seguintes dietas: 0BBD, dieta controle sem inclusão de baraço de batata-doce; 10BBD, dieta experimental com 10% de substituição do feno de alfafa por baraço de batata-doce; e 15BBD, dieta experimental com substituição de 15% do feno de alfafa por baraço de batata-doce.

As dietas foram formuladas para atender as necessidades da categoria animal correspondente e o baraço de batata-doce utilizado nas mesmas foi previamente seco em estufa de recirculação de ar à 52ºC por 36 horas.

Os animais foram alojados em gaiolas individuais com dimensões 50x50x50cm em um delineamento inteiramente casualisado. Foram ofertadas água e ração a vontade durante todo o período experimental que teve duração de 46 dias. O ganho de peso e o consumo de ração foram registrados semanalmente, e com estes dados calculou-se a conversão alimentar.

 

Os dados obtidos foram tabulados e analisados através de análise de variância das médias seguido pelo teste de Tukey (0.05). 



Resultados e Discussão

O ganho de peso, o consumo diário de ração e a conversão alimentar foram similares nos três tratamentos (Tabela 1). Nesse sentido, Luyen e Preston (2012) estudaram os efeitos da ingestão de ração, ganho médio diário de peso e conversão alimentar em coelhos brancos da Nova Zelândia em dois sistemas alimentares: folhas de batata-doce com suplementação de casca de arroz e capim-guiné com concentrado comercial em diferentes níveis. Concluíram que com os tratamentos contendo folhas de batata-doce e casca de arroz, os animais conseguiram maiores taxas de crescimento e conversão alimentar do que com tratamentos contendo grama de Guiné e concentrado. Em contraste, no tratamento da batata doce, a conversão alimentar foi a mesma independentemente do nível de suplementação.

Ainda Aboyi et al. (2012), acompanharam o quarenta e cinco coelhos na fase de crescimento distribuídos em cinco tratamentos contendo diferentes níveis de folhas de batata doce (SPL) e concentrado peletizado (PCF): T1 (0% SPL e 100% PCF); T2 (25% de SPL, 75% de PCF); T3 (SPL 50%, 50% PCF); T4 (SPL 75%, 25% PCF) e T5 (SPL 100%, 0% PCF), respectivamente. Concluíram que houve diferenças significativas (P <0,05) no peso final, ganho de peso total, ganho de peso diário, consumo diário de ração e conversão alimentar. Nesse sentido, os coelhos dos grupos T1 e T3 tiveram maior peso corporal final e ganho de peso.

 

Também em ensaio biológico com porcos, que estudou o efeito de dietas com diferentes tipos de ingredientes volumosos, incluindo as folhas de batata-doce, Ty et al. (2007) concluíram que os suínos alimentados com folhas de batata-doce, tiveram ganho de peso e parâmetros de desempenho semelhante aos alimentados com outros ingredientes (como uva e amoreira). Assim, os benefícios de incluir folhas secas de batata-doce em alimentos para animais têm sido amplamente documentados em numerosos estudos nos últimos cinco anos sugerem que é possível substituir parte das fontes convencionais de proteínas, como farinha de soja por folhagem tropical em dietas para cultivo.



Conclusões

Concluiu-se que o baraço de batata-doce pode ser incluído com sucesso na dieta de coelhos como uma alternativa mais econômica ao feno de alfafa até o nível de 15%  sem afetar negativamente o desempenho dos animais.




Referências

ABOYI, F. O.; IYI, E. O.; MACHEBE, N. S. Effects of feeding sweet potato (Ipomoea batatas) leaves on growth performance and nutrient digestibility of rabbits. African Journal Of Biotechnology, v.11, n. 15, p. 3709-3712, 2012. DOI: 10.5897/AJB11.3103. Acesso em 18 jan. 2017

LUYEN, L.T.; PRESTON, T.R. , Growth performance of New Zealand White rabbits fed sweet potato (Ipomoea batatas) vines supplemented with paddy rice or Guinea grass supplemented with commercial concentrate. Livestock Research for Rural Development, v.24, n.7, p.?-?, 2012. Disponível em: < http://www.lrrd.org/lrrd24/7/luye24127.htm>. Acesso em: 19 jan. 2017

LOUSADA JUNIOR, J. E. et al. Caracterização físico-química de subprodutos obtidos do processamento de frutas tropicais visando seu aproveitamento na alimentação animal. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 37, n. 1, p. 70-76, 2006. Disponível em: <http://www.ccarevista.ufc.br/seer/index.php/ccarevista/article/view/225/220>. Acesso em: 18 jan. 2017.

MOLINA, E. et al. Effects of diets with Amaranthus dubius Mart. ex Thell. on performance and digestibility of growing rabbits. Word Rabbit Science, Valencia, v. 23, n. 1, p. 9-18, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.4995/wrs.2015.2071>. Acesso em: 12 jan. 2017.

NUNES, R.V. et al. 2001. Composição Bromatológica, Energia Metabolizável e Equações de Predição da Energia do Grão e de Subprodutos do Trigo para Pintos de Corte. Revista Brasileira de Zootecnia. v.30, n.3, p.785-793, 2001. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-35982001000300025

OLIVEIRA, A. F. G. et al. Avaliação de dieta formulada com subprodutos de mandioca na produção de sêmen de coelhos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 67, n. 1, p. 109-118, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1678-7252>. Acesso em: 16 jan. 2017.

OLIVEIRA, E. R. A. Subprodutos agroindustriais na dieta de coelhos em crescimento. 2013. 108 p. Tese (Doutorado em Zootecnia)–Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, 2013. Disponível em: <http://ww2.pdiz.ufrpe.br/sites/ww2.prppg.ufrpe.br/files/elton_roger_alves_de_oliveira.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2017.

RODRIGUES, M. O. et al. Folhas e caules de cenoura em substituição ao feno de alfafa em dietas para coelhos em crescimento. In: JORNADA ACADÊMICA INTEGRADA, 29., 2014, Santa Maria. Anais... Santa Maria: UFSM, 2014. Disponível em: <http://portal.ufsm.br/jai/trabalho/arquivo.html?arquivo=14759>. Acesso em: 28 dez. 2016.

SILVA, H. O.; FONSECA, R. A.; FILHO, R. S. G. Características produtivas e digestibilidade da farinha de folhas de mandioca em dietas de frangos de corte com e sem adição de enzimas. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 29, n. 3, p. 823-829, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982000000300026&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 19 Jan.  2017.

 

TY, C.; BORIN, K.; PHINY, C. A note on the effect of fresh mulberry leaves, fresh sweet potato vine or a mixture of both foliages on intake, digestibility and N retention of growing pigs given a basal diet of broken rice. Livestock R for Rural Development, v.19, n.9, p.?-?, 2007. Disponível em: < http://www.lrrd.org/lrrd19/9/chha19136.htm>. Acesso em 19 jan. 2017.