COONSUMO E COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVINOS CONSUMINDO RAÇÃO EXTRUSADA EM DIFERENTES RELAÇÕES VOLUMOSO:CONCENTRADO

Paulo Arthur Cardoso Ruela1, Gilberto de Lima Macedo Junior2, Nayan Cosenza Drummond3, Maria Julia Pereira de Araújo4, Adriana Lima Silva5, Luciano Fernandes Sousa6, Simone Pedro da Silva7, João Pedro Dias Almeida8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Uberlândia
5 - Universidade Federal de Uberlândia
6 - Universidade Federal do Tocantins
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito do uso de ração extrusada em diferentes relações de volumoso e concentrado sobre o consumo e comportamento ingestivo de ovinos cruzados. O experimento foi delineado em Quadrado Latino 5×5, com animais alojados em gaiolas metabólicas. Foram utilizados cinco ovinos machos ½ Dorper e ½ Santa Inês, não castrados, de peso corporal médio de 34 kg e idade média de 7 meses. Os tratamentos consistiram em diferentes relações volumoso:concentrado (V:C) com uso de ração extrusada. As relações V:C foram: 30:70; 40:60; 50:50; 60:40 e 70:30. O comportamento ingestivo foi obtido em período de 24 horas, a cada cinco minutos. Não houve efeito da utilização da ração extrusada nas diferentes relações V:C sobre o consumo de matéria seca expresso em kg/dia, consumo matéria seca expresso em relação ao peso corporal e sobre o comportamento ingestivo (P>0,05). A utilização de ração extrusada em diferentes relações V:C não afeta o consumo e comportamento ingestivo de ovinos.

Palavras-chave: nutrição, ruminante, matéria seca

INTAKE AND FEEDING BEHAVIOR OF SHEEP CONSUMING EXTRUDED RATION WITH DIFFENT FORAGE:CONCENTRATE RATIO

ABSTRACT - This study was conducted to evaluate the effect of the use of extruded ration in different roughage:concentrate ratios on consumption and ingestive behavior of crossbred rams. The experiment was designed in a 5x5 Latin Square, with five animals housed in metabolic cages. Five ½ Dorper and ½ Santa Inês rams, with an average body weight of 34 kg and 7 months old were used. The treatments consisted in different roughage:concentrate (R:C) ratios of extruded ration. Roughage:concentrate ratios, in percentage, were: 30:70; 40:60; 50:50; 60:40 e 70:30. Ingestive behavior was measured in a 24-hours period, in every five minuts. There was no effect of the utilization of extruded ration with different R:C ratios on dry matter intake (DMI) expressed in kg/day, dry matter intake in relation to body weight (BW) and on ingestive behavior (P>0.05). The use of extruded ration in different R:C ratios do not affect consumption and ingestive behavior of rams.
Keywords: nutrition, ruminant, dry matter


Introdução

A extrusão é um processo que combina calor, umidade e força mecânica para modificar as características da ração. Através desse processamento é possível melhorar o valor nutritivo dos alimentos volumosos e concentrados, sendo capaz de reduzir fatores antinutricionais, melhorar a utilização do amido e diminuir a taxa de degradação da proteína dentro do rúmen (Walhain et al., 1992). Mensurações de consumo são de extrema importância em estudos de nutrição de ruminantes, pois dele vai depender a quantidade total de nutrientes que o animal recebe para produção, saúde e reprodução (Coelho da Silva, 2006). Além disso, avaliações de comportamento ingestivo permite ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho produtivo. Objetivou-se avaliar o efeito do uso de ração extrusada em diferentes relações de volumoso e concentrado sobre o consumo e comportamento ingestivo de ovinos cruzados.

Revisão Bibliográfica

O estudo de consumo aliado ao comportamento ingestivo é fundamental para melhor entendimento dos aspectos produtivos consequentes de cada alimentação. A maximização do consumo de nutrientes é necessária para o atendimento dos requerimentos mantença e produção dos animais (Hübner et al., 2008). Questões como quantidade de arraçoamento, textura da dieta ou ração, métodos de processamento dos alimentos são imprescindíveis no que diz respeito ao melhor desempenho produtivo dos animais. O fator determinante da quantidade de alimento ingerido por um ruminante em um determinado período de tempo se deve principalmente ao número de refeições nesse período e da duração e velocidade da ingestão de cada refeição (Thiago et al., 1992). Todos estes processos são resultados da interação do metabolismo do animal, bem como das propriedades físicas e químicas da dieta. Partindo deste princípio, assume-se que o estudo de comportamento ingestivo e consumo, aliados ao entendimento dos diversos tipos de processamento do alimento, são imprescindíveis para aplicação de novas técnicas de nutrição e manejo alimentar que possibilitem uma melhor produção e rentabilidade.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na fazenda experimental Capim Branco, da Universidade Federal de Uberlândia, no município de Uberlândia, MG. Teve duração de 75 dias, sendo divido em cinco períodos de 15 dias para adaptação coleta de dados. Foram utilizados cinco ovinos machos ½ Dorper e ½ Santa Inês com peso corporal médio de 34 kg e idade de 7 meses. Os animais foram alojados em gaiolas metabólicas onde recebiam sal mineral, água e a ração extrusada, com diferentes relações volumoso:concentrado, sendo o volumoso Foragge® e o concentrado o Nutratta Beef®. A ração veio misturada pelo fabricante em um único produto onde neste havia os dois pellets (concentrado e volumoso). As rações foram balanceadas para ganhos de 200g/dia e o seu fornecimento foi feito duas vezes ao dia (8h e 15:30h). Os tratamentos utilizados no experimento foram ração extrusada com diferentes relações volumoso:concentrado, sendo os seguintes: 30%:70%; 40%:60%; 50%:50%; 60%:40% e 70%:30%. A composição químico-bromatológica da ração extrusada fornecida aos animais está apresentada abaixo (Tabela 1). A coleta de sangue foi feita no primeiro e último dia de cada período experimental e posteriormente feita média dos valores. Todas as coletas foram realizadas no período da manhã, anteriormente à primeira alimentação, através de venopunção jugular com auxílio de Vacuntainer® acoplado a tubo sem anticoagulante. Logo após a colheita do sangue, as amostras foram centrifugadas e transferidas para eppendorfs® que foram congelados e posteriormente processados em espectrofotômetro Bioplus® 2000 utilizando kit comercial da LabTest®. Os metabólitos proteicos analisados foram: albumina, proteína total, creatinina, ureia e ácido úrico e os metabólitos minerais foram cálcio, fósforo e magnésio. O delineamento experimental adotado foi o Quadrado Latino 5x5, sendo cinco tratamentos e cinco repetições. Para comparações das médias obtidas foi adotado estudo de regressão a 5 % de probabilidade.

Resultados e Discussão

Não houve efeito da utilização da ração extrusada nas diferentes relações volumoso:concentrado sobre o consumo de matéria seca (CMS) expresso em kg/dia e consumo matéria seca expresso em relação ao peso corporal (PC) (P>0,05) (Tabela 2). Os animais do presente estudo tiveram consumo de matéria seca médio de 1,63 kg/dia. O consumo de matéria seca médio expresso em relação ao peso corporal está acima do proposto pelo NRC (2007), que é de 3,43% do PC para animais com 8 meses, peso corporal de 30 kg e ganhos de 200g/dia, o que se deve a maior facilidade de apreensão e ingestão da ração extrusada. Também não houve efeito da utilização da ração extrusada nas diferentes relações volumoso:concentrado sobre o tempo gasto em na ingestão, ruminação e mastigação (P>0,05) (Tabela 2) o que provavelmente ocorreu porque o consumo de matéria seca não apresentou diferença entre os tratamentos e pela possível seleção feita pelos ovinos, pois de acordo com o NRC (2007) os ruminantes são animais seletivos e em geral, selecionam uma dieta de melhor qualidade com maior digestibilidade, conteúdo de proteína e menor compostos secundários. Em rações não extrusadas, o tempo gasto em alimentação e ruminação podem ser maiores devido a forma física do alimento, onde os animais ficam mais tempo apreendendo e ingerindo o alimento. De fato, no presente estudo, na relação volumoso:concentrado (60:40), os valores médios gastos em alimentação e ruminação foram 3,83 e 4,08 h/dia, respectivamente. Figueiredo et al. (2013) verificaram que os tempos em ingestão e ruminação por ovinos recebendo ração não extrusada na mesma proporção volumoso:concentrado (60:40) foram de 4,33 e 8,58 h/dia respectivamente. Possivelmente o processo de extrusão pode ter ocasionado redução no teor de FDN e FDA e aumento na quantidade de carboidratos que são susceptíveis ao ataque microbiano no rúmen (Walhain et al., 1992), o que ocasionou menores tempo em ingestão e mastigação pelos animais. Além disso, a fibra do volumoso extrusado no presente estudo estava com 2mm, ou seja, muito pequena. Os animais passaram aproximadamente 15,8% do tempo ingerindo, 20,7% ruminando e 63,4% do tempo em ócio, tais valores diferem dos encontrados por Minervino et al. (2014), que trabalharam com ovinos cruzados da raça Santa Inês, utilizando ração peletizada em uma relação volumoso:concentrado de 70:30 e encontraram média de 16,25, 41,74 e 42,01% do tempo gasto para ingestão, ruminação e ócio respectivamente. Assim, infere-se que no presente estudo, a seleção e o tamanho da fibra do volumoso tenham sido as causas dos resultados apresentados.

Conclusões

A utilização de ração extrusada em diferentes relações volumoso:concentrado não afeta o consumo e comportamento ingestivo de ovinos, podendo ser usada na alimentação desses animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

COELHO DA SILVA, J.F. Mecanismos reguladores de consumo. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES A.V.; OLIVEIRA, S.G. (Eds.) Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006. p.57-78. DUKES, H. H. et al (Ed.). Fisiologia dos Animais Domésticos. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 954 p. FIGUEIREDO, M.R.P. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com diferentes fontes de fibra. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Belo Horizonte, v. 65, n. 2, p. 485-489, abr. 2013. HÜBNER, C. H. et al. Comportamento ingestivo de ovelhas em lactação alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de fibra em detergente neutro. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 4, p. 1078-1084, jul. 2008. MINERVINO, A.H.H. et al. Behaviour of confined sheep fed with different concentrate sources. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Belo Horizonte, v. 66, n. 4, p. 1163-1170, ago. 2014. NRC. Nutrient Requirements of Small Ruminants: Sheep, Goats, Cervids, and New World Camelids. 1 ed. National Academy Press. Washington, DC, 2007. THIAGO, L. R. L. et al. Studies of conserving grass herbage and frequency of feeding in cattle. British Journal of Nutrition, v. 67, p. 3219-3336, 1992. WALHAIN, P.; FOUCART, M.; THÉWIS, A. Influence of extrusion on ruminal and intestinal disappearance in sacco of pea (Pisum sativum) proteins and starch. Anim. Feed Sci. Tech., Paris, v. 38, n. 1, p.43-55, jul. 1992.