Desempenho produtivo de novilhas mestiças Nelore sob suplementação proteico-energética em pastagem diferida de Urochloa decumbens

Alex Junio dos Santos1, Pedro Henrique Ferreira da Silva2, Carlos Augusto Brandão de Carvalho3, Felipe Zumkeler Garcia4, Robson Leandro Ferreira5, Thainá de Lima Risso6, Deygiane Theodoro Xavier7
1 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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5 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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7 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

RESUMO -

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito da suplementação proteico-energética (SPE) sobre ganho de peso médio diário (GMD) e ganho de peso total (GPT) de novilhas mestiças Nelore em pastagem diferida de Urochloa decumbens no período seco do ano. O experimento foi conduzido em Valença, RJ, sob quatro períodos de avaliação (21 dias cada), delineamento inteiramente casualizado e dois tratamentos (SPE e suplementação mineral com sal comum – SM). Para tanto, foram determinadas massa e oferta de forragem antes do início do experimento (médias de 8309 kg ha-1 de massa seca e 14,7 kg ha-1 de massa seca 100 kg-1 de peso corporal, respectivamente). As novilhas submetidas a SPE apresentaram maior GPT (média de 27,0 kg) ao final do experimento, e maior GMD (média de 0,18 kg animal-1 dia-1) em três períodos de avaliação. A suplementação proteico-energética proporciona melhor desempenho produtivo (GMD e GPT) de novilhas mestiças Nelore quando comparada à suplementação mineral.

Palavras-chave: ganho de peso total, ganho médio diário, massa de forragem, suplemento múltiplo, oferta de forragem

Performance of Nellore crossbred heifers under protein-energy supplementation in deferred pasture of Urochloa decumbens

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of protein-energy supplementation (PES) on average daily weight gain (ADG) and total weight gain (TG) of crossbred Nellore heifers on deferred pasture of Urochloa decumbens during dry season of the year. The experiment was conducted in Valença, RJ, under four evaluation periods (21 days each) and completely randomized design with two treatments (PES and mineral supplementation with common salt – MS). For that, forage mass and allowance were determined before the start of the experiment (mean of 8309 kg ha-1 dry mass and 14.7 kg ha-1 dry mass 100 kg-1 body weight, respectively). Heifers submitted to PES presented higher TG (mean of 27.0 kg) at end of the experiment, and higher ADG (mean of 0.18 kg animal-1 day-1) in three evaluation periods. The protein-energy supplementation provides better productive performance (ADG and TG) of Nellore crossbred heifers, when compared to mineral supplementation.
Keywords: total weight gain, average daily gain, forage mass, multiple supplement, forage allowance


Introdução

No Brasil, a pecuária de corte se destaca pela eficiência na competitividade econômica do setor, principalmente em relação ao custo de produção, pois a maioria do rebanho é criado em ambientes de pastagens. Entretanto, a estacionalidade da produção de forragem caracteriza-se como um entrave para os sistemas de produção e resulta em baixos índices zootécnicos (Paulino et al., 2008). Quando criado exclusivamente em pastagens, o rebanho bovino alimenta-se de forragens de valor nutritivo inferior durante o período seco do ano, com teores de proteína bruta (PB) inferiores ao nível crítico da dieta basal (Valadares Filho et al., 2010). Por isto, quando se objetiva promover manutenção do desempenho de ruminantes criados em ambientes pastoris durante todo ano, é necessário lançar mão de estratégias de suplementação. Entretanto, para que o fornecimento de suplemento múltiplo seja eficaz no desempenho destes animais para o período seco do ano, a adequada oferta de forragem é fundamental em pastos diferidos, como estratégia de suplementação volumosa durante este mesmo período (Zervoudakis et al., 2010). Com base nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho produtivo (ganho médio diário e ganho de peso total) de novilhas mestiças Nelore suplementadas com suplemento múltiplo (suplemento proteico-energético) em pastagem diferida de Urochloa decumbens.

Revisão Bibliográfica

No Brasil, 95% do rebanho de corte é criado em ambientes de pastagem, e uma parcela menor é submetida a confinamento para terminação. Logo, estudos sobre as formas de suplementação a pasto são necessários (Gomes et al., 2015). O uso da suplementação proteico-energética durante o período seco visa aumentar a eficiência de utilização da forragem, através do aumento da população microbiana do rúmen (Valadares Filho et al., 2010). Segundo Barros et al. (2015), a utilização de suplementos múltiplos permite ao animal melhor utilização dos recursos forrageiros, e consequente ampliação do fluxo de produtos para os sistemas de produção. Neste período crítico de produção, rebanhos comerciais de corte são incapazes de manter desempenho constante. Neste sentido, Van Niekerk & Jacobs (1985) avaliaram o efeito de suplementos proteicos, energéticos e fosfatados (individualmente e combinados) sobre o consumo voluntário de forragem e ganho de peso médio diário, em bezerros mestiços Britânicos alimentados com forragem de baixa qualidade (bagaço de cana-de-açúcar), e concluíram que o nutriente limitante sob tais condições foi indubitavelmente a proteína. Outros autores obtiveram resultados similares ao observar o desempenho de rebanhos de corte que consumiram forragem diferida e suplementados com mistura múltipla (SPE). Pesqueira-Silva et al. (2015) estudaram o desempenho produtivo de novilhas Nelore em pastejo no período de transição seca-água, sob efeito de suplementos energético (SE), proteico-energético (SPE) e proteico (SP), consumidos em mesma quantidade (1 kg animal-1 dia-1). Os autores observaram ganho médio diário (GMD) de 680 g dia-1; 660 g dia-1 e 569 g dia-1 para SP; SPE e SE, respectivamente. Estes resultados corroboram a conclusão de Van Niekerk & Jacobs (1985) sobre a importância da obtenção de proteína por ruminantes suplementados no período seco do ano. Portanto, em sistemas de produção à pasto, a suplementação deve ser adotada como uma prática tecnológica de apoio ao consumo de forragem, pois geralmente o suplemento apresenta custo elevado, o que torna necessária sua utilização de forma racional. Deste modo, a suplementação em ambientes de pastagens deverá compreender ação associativa e interativa entre o consumo de forragem e suplemento. Isto potencializa o efeito sinérgico necessário para elevar o consumo, digestão e metabolismo da forragem, e consequentemente evitar o efeito substitutivo (redução do consumo de forragem em função do aumento de consumo do suplemento) (Paulino et al., 2008).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Santana, Valença – RJ (43°42’ 11’’ O, 22° 14’ 46’’ S e altitude de 551 m), sob delineamento inteiramente casualizado e dois tratamentos (suplementação proteico-energética – SPE= T1 e suplementação mineral com sal comum – SM= T2). Para tanto, 36 novilhas mestiças Nelore foram distribuídas em dois lotes homogêneos quanto ao grupo racial, categoria, idade e peso corporal (média de 296,33 kg), e alocadas em dois pastos de Urochloa decumbens (8 hectares cada) diferidos em 22/02/2016 a partir de adubação de 60 kg ha-1 de N, 50 kg ha-1 de P2O5 e 50 kg ha-1 de K2O. O período experimental foi de 88 dias (21/06/2016 à 17/09/2016), com cinco pesagens sequenciais dos animais (a cada 21 dias) e quatro períodos de avaliação. Os lotes de novilhas foram mantidos em seus respectivos pastos diferidos, com fornecimento de água à vontade. O suplemento múltiplo (tabela 1) e sal comum foram ofertados em cochos de 15 e 6 cm lineares por unidade animal (UA), respectivamente. O consumo médio diário de SPE e SM, em kg UA-1 dia-1, foi obtido por diferença de peso entre quantidade fornecida e sobras no cocho, com 1g de precisão e frequência semanal. Para avaliação do ganho de peso total (GPT) e médio diário (GMD), as novilhas foram pesadas a cada 21 dias, após jejum completo de 12 horas. Para estimativa de massa de forragem, foram coletadas dez amostras em moldura de 0,25 m2, cortadas manualmente (rente ao solo), subamostradas, fracionadas em lâminas foliares, pseudocolmo e material morto, e secas em estufa de ventilação forçada de ar (55 ºC até peso constante). A oferta de forragem foi estimada em kg ha-1 de massa seca 100 kg-1 de peso corporal. Os tratamentos 1 e 2 foram compostos por 16 e 20 novilhas respectivamente, a fim de obter oferta de forragem similar para ambos, no início do experimento. Os resultados de GPT e GMD foram submetidos a análise de variância pelo software Assistat 7.7 e as médias comparadas pelo teste de Tukey, à 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Foram obtidos 7514 kg ha-1 de massa seca e 14,7 kg ha-1 de massa seca 100 kg-1 de peso corporal como oferta diária de forragem para o pasto do tratamento 1 (SPE) e 9104 kg ha-1 de MS e 14,8 kg ha-1 de MS 100 kg-1 de peso corporal para o tratamento 2 (SM). Estes valores estão acima daquele recomendado por Paulino et al. (2008), citado por Pesqueira-Silva et al. (2015), que indicam 4,0 a 5,0 kg ha-1 de massa seca 100 kg-1 de peso corporal de oferta diária de forragem para associar produtividade por animal, por área e eficiência de pastejo. Os consumos médios de SPE e SM foram de 0,176 e 0,021 kg UA-1 dia-1, respectivamente. Estes consumos verificados foram inferiores aquele obtido por Paula et al. (2010), que obtiveram 0,518 kg UA-1 dia-1 para SPE para bovinos recriados em pastejo durante o período seco. Tal diferença ocorreu, possivelmente, do valor percentual do ingrediente farelo de soja, que no presente estudo foi de 15,00 g 100 g-1, enquanto que no trabalho supracitado, foi de 51,00 g 100g-1. Por outro lado, o consumo de SM atendeu a exigência de consumo de sódio (Na) de 0,1% do peso corporal, proposto por Marino e Medeiros (2015). Os resultados de ganho médio diário (GMD) e de ganho de peso total (GPT) são apresentados na tabela 2. Não houve diferença (p>0,05) entre SPE e SM no ganho médio diário (GMD) para o primeiro período de avaliação (21/06/2016 à 12/07/2016), entretanto, para os quatro demais períodos, foram verificados maiores valores (p<0,05) de GMD para o tratamento SPE. O GPT foi superior (p<0,05) para novilhas que receberam suplemento proteico-energético (SPE). O melhor desempenho de novilhas sob o tratamento 1 (SPE) em comparação ao tratamento 2 (SM), possivelmente ocorreu em função do maior consumo de compostos nitrogenados, que propiciou crescimento de bactérias fibrolíticas e, por consequência, aumento na taxa de digestão e a síntese de proteína microbiana, além de incremento no consumo voluntário de forragem e melhora no balanço energético dos animais em pastejo (Pesqueira-Silva et al., 2015). A mesma assertiva foi verificada por Simioni et al. (2009), que encontraram GMD de -0,107 e 0,243 kg, e GPT de -9,00 e 20,40 kg para novilhos suplementados com sal mineral e suplemento múltiplo, respectivamente. No mesmo sentido, Silva-Marques et al. (2015), observaram GMD de -0,179 e 0,429 kg, e GPT de -15,0 e 37,2 kg para novilhas de corte também suplementadas com sal mineral e suplemento proteico-energético, respectivamente.

Conclusões

A suplementação proteico-energética proporciona melhor desempenho produtivo (ganho médio diário e ganho de peso total) de novilhas mestiças Nelore, quando comparada à suplementação mineral com sal comum (NaCl).

Gráficos e Tabelas




Referências

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