BIOLOGIA DA REPRODUÇÃO EM CHARACIDAE COM ÊNFASE NO LAMBARI DO RABO-AMARELO (Astyanax bimaculatus)

Biology of reprodution in Characidae with emphasis in lambari of yellow tail (Astyanax bimaculatus)

ABSTRACT - The lambari is a fish found in all brazilian fresh water, commercialized such as fish bait and for human nourishment. They belong to the family Characidae, omnivorous, adjust to captive conditions in spite of their demand for dissolved oxygen (4 a 5 mg/L) and have reproductive strategies in lentic environments: partial spawning, adhesive egg; and lotic: high fecundity and short migrations in reproductive period. Thus, the aim of this work was to elucidate the main parameters of the Characidae reproduction through a bibliographic review, emphasizing the particularities of the Astyanax bimaculatus reproduction in order to summarize information that help to define the real possibilities of captive creation and reproduction. The study ratified the high biologic complexity of characidae that reflect on a variety of reproductive strategies and tactics (Vazzoler, 1996) and A. bimaculatus showed itself promising for fish farming and that captive breeding, both in natural or induced way is possible.

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Revisão Bibliográfica

Introdução

A família Characidae possui cerca de 1200 espécies catalogadas, sendo a quarta família de peixes mais diversificada, atrás apenas dos ciprinídeos, ciclídeos e gobídeos (MIRANDE, 2010). Diante dessa diversidade, os caracídeos possuem diferentes táticas e estratégias reprodutivas, sendo o Astyanax bimaculatus um exemplo de padrões reprodutivos peculiar desta família. O lambari do rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus ou Astyanax altiparanae) é encontrado em todo território brasileiro, sendo a sua taxonomia alterada para A. altiparanae para os lambaris de rabo-amarelo que ocorre na bacia do Tietê (GARUTTI, 1995). Esta espécie se tornou importante na piscicultura nacional devido suas características fisiológicas como, rusticidade, rápido crescimento, hábito alimentar onívoro, carne saborosa e principalmente, pela comercialização como isca-viva para pesca (METZENER et al., 2004). Além desse promissor mercado do lambari, a pressão antrópica sobre os ecossistemas através da poluição e uso excessivo dos recursos naturais modificou os ambientes naturais desses peixes inibindo e até impossibilitando os ciclos reprodutivos desta espécie. Portanto, é importante viabilizar a criação em cativeiro mediante técnicas de reprodução para esta espécie colaborando também com o repovoamento na natureza. Diante disso, o trabalho procurou elucidar os parâmetros da biologia de reprodução do A. bimaculatus a fim de verificar a possibilidade do A. bimaculatus se reproduzir em cativeiro.

Desenvolvimento

Os caracídeos possuem variados padrões reprodutivos devido à diversidade de espécies pertencentes a essa família. As suas táticas e estratégias reprodutivas, normalmente, são determinadas geneticamente e pelas interações do meio (WOOTTON, 1998). Os teleósteos, dentre os quais estão os caracídeos, possuem, em geral, dimorfismo sexual, desenvolvimento dos gametas em sexos separados, fertilização externa, sem cuidado parental. A maturidade sexual é alcançada de acordo com o peso e tamanho corporal, caracídeos como pacu (Piaractus mesopotamicus) e tambaqui (Colossoma macropomum) chegam à maturidade sexual com grande peso corporal, em contrapartida o Astyanax bimaculatus, atinge a fase reprodutiva com tamanho reduzido (machos com 7 a 9 cm e fêmeas com 9 a 12 cm) (OKUZAWA, 2002). O gênero Astyanax é o mais comum e diversificado da região neotropical, com uma temperatura ideal para o início do ciclo reprodutivo entre 26ºC a 28ºC sendo uma espécie com grande potencial reprodutivo na região tropical. Para que esse potencial seja explorado, faz-se necessário o conhecimento do seu padrão reprodutivo. Os lambaris (Astyanax sp.) são peixes de porte pequeno, exigentes quanto ao oxigênio dissolvido (4 a 5 mg/L), muito apreciados na culinária e vendidos como isca-vivas para alimentação de peixes carnívoros. Para Vidal Júnior (2010), o A.bimaculatus é uma das espécies que atinge maior tamanho para abate tornando-o atraente para o cultivo. Entretanto, fases do cultivo como a reprodução devem ser desenvolvidas para que a cadeia produtiva do lambari se estabeleça. O lambari do rabo-amarelo possui características reprodutivas tanto de peixes de águas calmas (desova parcelada, ovos levemente adesivos), como de águas de corredeiras (curtas migrações, alta fecundidade) que acabam questionando a viabilidade desses peixes se reproduzirem bem de forma natural em cativeiro (VAZZOLER, 1996). Segundo Vazzoler (1996) e Fávaro (2010) o A. bimaculatus possui fecundação externa, não migradora, sem cuidado com a prole, período reprodutivo longo (setembro a março), desova parcelada, maturidade sexual com três e quatro meses de idade, dimorfismo sexual (machos possuem nadadeira anal áspera e as fêmeas são maiores, mais arredondadas e crescimento precoce). Fávaro (2010) caracteriza-os também como animais prolíficos e rústicos com produção de 15 mil larvas por cada fêmea, desprovido de cuidado com a prole e com alta fecundidade.

• Desova e fertilidade:

Para que ocorra a desova de peixes em cativeiro é necessário conhecer o período reprodutivo no meio natural. Wolff (2007) menciona que A. bimaculatus fêmeas apresentaram maiores índices gonadossomáticos nos meses de setembro e outubro e os machos em outubro e que as maiores taxas de transferência de reservas para o desenvolvimento gonadal ocorreram entre setembro e novembro. Wootton (1998) afirma que a alocação energética para o desenvolvimento ovariano é de 15 a 20% maior que dos testículos. Navarro et al. (2006) constataram que as fêmeas cultivadas separadas dos machos apresentaram índice gonadossomático (IGS = peso das gônadas/peso corporal *100) superior quando cultivados juntos, entretanto ocorre o contrário com os machos tendo melhor desempenho quando juntos com as fêmeas. Assim, propuseram que para reprodução natural em cativeiro é necessário juntá-los no ápice de produção dos espermatozoides e separá-los no momento de maior produção dos ovócitos já que os machos maduram mais rápido que as fêmeas. Os ovos dos peixes podem ser adesivos ou não. Ovos adesivos são de peixes sedentários, de desova parcelada, grandes, medindo até 5 mm de diâmetro, submetidos ao cuidado parental e pouco hidratados no contato com água. Logo, ovos não adesivos são lisos, de estrutura muito mais simples que os adesivos, pequenos, mas muito hidratados aumentando muito de volume em contato com água, e sem cuidado dos pais (VAZZOLER, 1996; SATO et al.,1996). O A. bimaculatus possui ovos levemente adesivos, maturação precoce, elevada fecundidade, período reprodutivo longo sugerindo que os lambaris de rabo-amarelos são r-estrategistas, ou seja, suas estratégias reprodutivas estão voltadas para maximizar a produção de descendentes para que consigam atingir a maturidade sexual (VAZZOLER, 1996). Suzuki & Agostinho (1997), em seus estudos, observaram que o A. bimaculatus se reproduz mais em ambientes lóticos a montante, pois a espécie realiza pequenas migrações no início do período chuvoso para obter o estímulo necessário para reprodução. Os peixes de piracema são altamente fecundos produzindo milhares de ovócitos/kg de fêmeas (RIZZO et al., 2003). Enquanto os sedentários desovam um número bem menor que é compensado pelas desovas parceladas realizadas ao longo do período reprodutivo (ANDRADE et al., 1988). Segundo Barbieri (1992) a desova parcelada é uma estratégia da espécie Astyanax sp para evitar a competição natural e assegurar a manutenção da população provocada por turbulências ambientais (ABILHOA, 2004; MAZZONI; PETITTO, 2005).

• Reprodução Artificial do lambari

Para o bom desempenho da reprodução do lambari em cativeiro é importante obter dados como índice gonadossomático para certificar a eficiência do manejo dos reprodutores e do tratamento hormonal. Parâmetros reprodutivos como: índice de desova; fertilidade inicial (número de ovócito extraído /fêmea); fertilidade inicial relativa (número de ovócito extraído/grama de fêmea); taxa de fertilização (número de ovos viáveis/número total de ovos *100); fertilidade final (número de ovos viáveis/fêmea) e fertilidade final relativa (número de ovos viáveis/ grama de fêmea) avaliam o rendimento da embriogênese (QUEROL et al., 2003; RIBEIRO; GONTIJO, 1984). Nomura (1975) descreve que uma fêmea de lambari libera em média 600 a 8000 ovócitos, considerado bom índice de desova e boa fertilidade. Apesar de realizar curtas migrações, o lambari se reproduz bem de forma natural sem indução hormonal em cativeiro. As técnicas de reprodução artificial são usadas para sincronizar a reprodução, para maior controle dos reprodutores e desova, bem como manipular o período reprodutivo (ANDRADE; VIDAL JÚNIOR, 1994). Entretanto, a reprodução induzida mostra-se mais produtiva que a natural, pois permite melhor controle, planejamento e otimização da produção. A incubação dos ovos seguindo práticas comuns de reprodução artificial pode alcançar taxas de 90% de sobrevivência (PORTO-FORESTI et al., 2005).

Conclusão

Os caracídeos são bastante diversificados e por isso possuem diferentes formas de reprodução o que faz com que seus estudos sejam específicos. Uma de suas espécies, o Astyanax bimaculatus tem potencial para piscicultura, entretanto seu cultivo deve ser aprimorado através de pesquisas que possibilitem o melhoramento genético e desenvolvimento de todas as fases de cultivo. Assim, esta revisão evidenciou a possibilidade da reprodução natural ou artificial, em cativeiro do lambari do rabo-amarelo apesar de se tratar de um peixe com características de meio lótico e lêntico. A reprodução artificial em cativeiro pode favorecer o melhoramento genético garantindo melhorias na qualidade e sobrevivência dos alevinos. Mas necessita de mais estudos sobre o assunto testando diferentes métodos reprodutivos e diferentes doses hormonais para melhorar e ampliar a produção de alevinos e o cultivo desse peixe.

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Referências

REFERÊNCIAS

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