Levantamento fitossociológico em uma área de caatinga no município de Campina Grande-Paraíba

Ariane Loudemila Silva de Albuquerque1, Diogo de Souza Ferraz2, Alberício Pereira de Andrade3, Divan Soares da Silva4, Alice da Rocha Silva5
1 - Universidade Estadual de Alagoas
2 - Universidade Estadual do Piauí
3 - Universidade Federal da Paraíba
4 - Universidade Federal da Paraíba
5 - Universidade Estadual de Alagoas

RESUMO -

Objetivo-se realizar um estudo fitossociológico do componente arbustivo no município de Campina Grande, Paraíba. O levantamento fitossociológico foi realizado pelo método de parcelas, com distribuição sistemática dispostas de forma equidistante (10 x 10 m). Foram quantificados, em cada parcela, todos os indivíduos arbustivo-arbóreos vivos com circunferência à altura da base ≥ a 9 cm e altura ≥1 m. Em casos de indivíduos ramificados, a área basal individual resultou do somatório das áreas basais de cada ramificação recebendo um tratamento como se fosse um único fuste. A altura dos indivíduos foi mensurada com auxílio de uma régua graduada. O diâmetro dos indivíduos amostrados foi obtido através da medição da circunferência dos mesmos a 10 cm do nível do solo utilizando uma fita métrica milimetricamente graduada. A maior concentração de indivíduos foi verificada nas menores classes diamétricas e o maior numero de indivíduos nas menores classes de altura na área estudada.

Palavras-chave: análise estrutural, diversidade, semiárido, vegetação

Phytosociological survey in a caatinga area in the city of Campina Grande-Paraíba

ABSTRACT - The objective of this study was to study the shrub component in the city of Campina Grande, Paraíba. The phytosociological survey was performed using the plots method, with a systematic distribution arranged equidistantly (10 x 10 m). In each plot, all live shrub-arboreal individuals with base-height circumference ≥ 9 cm and height ≥1 m were quantified. In cases of branched individuals, the individual basal area resulted from the summation of the basal areas of each branch receiving a treatment as if it were a single stem. The height of the individuals was measured using a graduated ruler. The diameter of the sampled individuals was obtained by measuring their circumference at 10 cm from the soil level using a millimetric graded measuring tape. The highest concentration of individuals was verified in the lowest diametric classes and the highest number of individuals in the lowest height classes in the studied area.
Keywords: structural analysis, diversity, semiarid, vegetation


Introdução

O Nordeste do Brasil tem a maior parte de seu território ocupado pela caatinga que se caracteriza por ser uma vegetação xerófila, de fisionomia e florística variada (DRUMOND et al., 2000). Na Paraíba a região semiárida ocupa cerca de 70% do Estado, e caracteriza-se, por apresentar predominantemente clima quente e seco, ocorrência de secas periódicas, baixa pluviosidade, alta temperatura, media alta taxa de luminosidade, grande volume de evaporação e evapotranspiração. Os estudos fitossociológicos contribuem para o conhecimento da estrutura das comunidades e de algumas populações, bem como o conhecimento da flora regional, subsidiando desta forma, o manejo, a recuperação e/ou conservação dos ecossistemas. A vegetação é o componente do ecossistema que expõe os efeitos das condições ambientais e fatores históricos, de maneira óbvia e mensurável. A vegetação da caatinga tem grande importância para a manutenção da pecuária no semiárido, pois apresenta grande diversidade em sua flora, com inúmeras espécies forrageiras arbustivas, arbóreas e herbáceas. Estudos realizados no nordeste brasileiro estimam que 70% das espécies da caatinga participam, significativamente, da composição da dieta dos ruminantes. Este trabalho teve como objetivo analisar os aspectos fitossociológicos da flora arbustiva-arbórea localizada em uma área da caatinga no município de Campina Grande - Paraíba.

Revisão Bibliográfica

A maior parte da região Nordeste é ocupada por uma vegetação xerófila, de fisionomia e composição florística variada, denominada caatinga. Fitogeograficamente, o bioma caatinga ocupa cerca de 10% do território nacional, abrangendo os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e o norte de Minas Gerais único estado localizado na região Sudeste (ANDRADE et. al., 2010). A caatinga ocupa cerca de 800.000 km² do Nordeste, o que corresponde a 70% da região (DRUMOND et al., 2000). É um bioma único e apresenta grande variedade de paisagens, riqueza biológica e endemismo. Os parâmetros climáticos e a vegetação assume papel preponderante na caracterização do bioma. A caracterização do semiárido nordestino como comumente e encontrado na literatura, sempre tende a minimizar a importância dessa região, pois quase sempre e enfocada num contexto centrado numa visão concebida muito mais no imaginário que na realidade que ela apresenta. Na região Semiárida nordestina os índices pluviométricos são baixos, mal distribuídos e chove em média de 350 a 700 mm/ano. Com o déficit hídrico e a evapotranspiração elevada, comumente a produção e qualidade da massa verde diminuem durante o período de estiagem, pois há uma estreita relação entre a precipitação pluviométrica e a produção (ANDRADE et. al., 2010). De modo que nesta fase, os criadores buscam alternativas para suprir a carência alimentar dos seus rebanhos. Em contrapartida, durante o período chuvoso, grande quantidade de forragem nativa é desperdiçada, por consumo insuficiente por parte dos animais bem como pelo pouco conhecimento quanto aos métodos de conservação de forragem pelos produtores (SILVA et al., 2004).  A análise da vegetação é de grande importância para o conhecimento de causas e efeitos ecológicos em uma determinada área, já que a vegetação é o resultado da ação dos fatores ambientais sobre as espécies que coabitam uma determinada área, refletindo o clima, as propriedades do solo, a disponibilidade de água, os fatores bióticos e os fatores antrópicos.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Estação Experimental Lagoa Bonita/Lucas, pertencente ao Instituto Nacional do Semiárido - INSA/MCTI, localizado no município de Campina Grande – PB, situada nas coordenadas geográficas 7°16’23’’de latitude Sul e 35°58’24’’ longitude Oeste. O município está inserido na região geográfica da Borborema, mesorregião do Agreste Paraibano e microrregião de Campina Grande, com altitude média que varia entre 400 e 600 m. Faz parte da unidade geomorfológica da superfície da Borborema. O tipo climático da área é BSh – semiárido quente com chuvas de verão, segundo Köppen, com precipitação pluvial de 750 mm ano-1 e temperatura média do ar de 22,5°C. O relevo da área experimental caracteriza-se como suave ondulado, com altitude variando de 466 a 490 m. O solo é raso, com presença de afloramentos rochosos. Na área do experimento predomina o Neossolo litólico. A vegetação predominante é formada pela floresta subcaducifólica e caducifólica conhecida na região como caatinga de cipó, a qual se modifica drasticamente ao longo das estações seca e chuvosa. Para determinação dos parâmetros fitossociológicos, foram considerados todos os indivíduos arbóreo-arbustivos vivos com circunferência à altura da base (CAB) ≥ a 9 cm e altura (h) mínima de 1 m (RODAL, 1992). Em casos de indivíduos ramificados, a área basal individual resultou da soma de áreas basais de cada ramificação (RODRIGUES, 1989). As medidas de altura foram realizadas com auxílio de uma régua graduada e para medir a circunferência dos indivíduos foi utilizada uma fita métrica. Todos os indivíduos presentes na área foram identificados com etiquetas enumeradas, contendo o número da planta.

Resultados e Discussão

Nas 40 subparcelas inventariadas na área da estação experimental do INSA em Campina Grande, PB, foram amostrados 1.479 indivíduos distribuídos 28 espécies, distribuídas em 15 famílias e 27 gêneros. Verificou-se que as espécies com maior número de indivíduos foram Croton blanchetianus, Piptadenia stipulacea, Poincianella pyramidalis, Allophylus quercifolius e Mimosa sp, equivalentes 84,73% de todos os indivíduos encontrados na área experimental. Observa-se na área experimental que os maiores números de indivíduos ocorreram a partir da segunda classe diamétrica de 3 a 6 cm (701) e na terceira classe de 6,1 a 9 cm (354) (Figura 1). O maior diâmetro observado foi de 149 cm pertencente à espécie catingueira (Poincianella pyramidalis) e o menor diâmetro, dentre as classes avaliadas, foi de 2,86 cm, pertencente à espécie de jurema branca (Piptadenia stipulacea). Dados semelhantes foram encontrados por Barbosa (2011), com relação ao maior número de indivíduos na segunda e terceira classe diamétrica. Pereira Junior, Andrade e Araújo (2012), observaram o maior diâmetro de (114 cm) para a espécie catingueira (Caesalpinia pyramidalis) e o menor diâmetro, foi de 3 cm, pertencente a um indivíduo de catinga branca (Croton rhamnifolioides). As diferenças existentes entre as distribuições diamétricas das espécies podem está relacionadas a diversos fatores, incluindo aspectos da história natural de cada espécie e do histórico de perturbações do fragmento (MACHADO et al., 2004). Na figura 2 observou-se a distribuição percentual dos indivíduos por classes de altura, no qual mostrou uma maior concentração de plantas nas classes mais inferiores, ocorrendo gradual redução à medida que se aproxima das classes com maior valor de altura, com 102 indivíduos se concentrando na primeira classe (1-2 m), 465 na segunda (2,1- 3,0 m), 553 na terceira (3,1-4,0 m) e 273 na quarta classe (4,1-5,0 m),  mostrando haver uma serie geométrica decrescente, demonstrando uma população equilibrada em processo de regeneração. As espécies com maior altura media foram Pilosocereus pachycladus e Cereus jamacaru, atingindo uma faixa de 10 m, enquanto as mais baixas foram Jatropha molíssima e Cynophalla flexuosa com altura inferior a 2 m. As demais espécies se situaram na faixa de 2,0 m a 9 m. Observa-se que a maior concentração de indivíduos ocorreu nas classes de menor altura, ocorrendo o contrário para as classes de maior valor. Segundo Santana e Souto (2006), afirmam que a baixa altura média, deve-se ao número de indivíduos amostrados que pertencem a espécies consideradas arbustivas, o que contribui para redução deste parâmetro. Dados semelhantes foram encontrados por Amorim et al. (2005) que constataram apenas duas plantas com mais de 8 m de altura, em estudo realizado em área de caatinga no Seridó do Rio Grande do Norte.

Conclusões

A maior concentração de indivíduos é verificada nas menores classes diamétricas e o maior numero de indivíduos nas menores classes de altura na área estudada.

Gráficos e Tabelas




Referências

AMORIM, I. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; ARAÚJO, E. L. Flora e estrutura da vegetação arbustivo-arbórea de uma área de caatinga do Seridó, RN, Brasil. Acta Botânica Brasílica, v. 19, n. 3, p. 615-623, 2005. ANDRADE, A. P.; COSTA, R. G.; SANTOS, E. M.; SILVA, D. S. Produção animal no semiárido: o desafio de disponibilizar forragem, em quantidade e com qualidade, na estação seca. Tecnologia e Ciência Agropecuária, João Pessoa, v. 4, n. 4, p.01-14, dez. 2010. BARBOSA, A. S. Estrutura da vegetação e distribuição espacial de cactaceae em áreas de caatinga do semiárido paraibano. 2011. 166f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal da Paraíba - Centro de Ciências Agrárias, Areia. DRUMOND, M. A.; KILL, L. H.; LIMA, P. C. F. Estratégia para o uso sustentável da biodiversidade da caatinga. Petrolina, 2000. MACHADO, E. L. M.; OLIVEIRA-FILHO, A. T.; CARVALHO, W. A. C.; SOUZA, J. S.; BORÉM, R. A. T.; BOTEZELLI, L. Análise comparativa da estrutura e flora do compartimento arbóreo-arbustivo de um remanescente florestal na Fazenda Beira Lago, Lavras, MG. Revista Árvore. v. 28, n.4, 499-516. 2004. PEREIRA JÚNIOR, L. R.; ANDRADE, A. P.; ARAÚJO, K. D. Composição florística e fitossociológica de um fragmento de caatinga em Monteiro, PB. HOLOS, Ano 28, v. 6. 2012. RODAL, M. J. N. Fitossociologia da vegetação arbustivo-arbórea em quatro áreas de caatinga em Pernambuco. 1992. 198f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. RODRIGUES, R. R. Análise estrutural das formações florestais ripárias. In: BARBOSA, L. M. (Coordenador). Simpósio sobre mata ciliar. Campinas. Anais... Campinas. Fundação Cargill, p.99-119. 1989. SANTANA, J. A. S.; SOUTO, J. S. Diversidade e Estrutura Fitossociológica da Caatinga na Estação Ecológica do Seridó - RN. Revista de Biologia e Ciências da Terra. v. 6, n.2. 2006. SILVA, J.M.C., TABARELLI, M.; FONSECA, M.T.; LINS, L.V. (orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. 2004.