Valor nutritivo e degradabilidade de resíduos do abacaxi provenientes da agroindústria

Olga Cedro de Menezes1, Adriana Regina Bagaldo2, Bráulio Rocha Correia3, Évana Thaiza Nascimento Silva4, Rodrigo Neiva Santos5, Fabiane de Lima Silva6, Debora Inês Costa da Hora7, Ossival Ribeiro Lolato8
1 - Graduanda em Zootecnia, Bolsista PIBITI, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
2 - Professor Adjunto, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
3 - Pós-doutorando em Ciência Animal, bolsista PNPD/CAPES – PPGCA/UFRB
4 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
5 - Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal da Bahia
6 - Pós-doutorando em Ciência Animal, bolsista PNPD/CAPES – PPGCA/UFRB
7 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
8 - Pós-doutorando em Ciência Animal, bolsista PNPD/CAPES – PPGCA/UFRB

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a composição bromatológica e a degradabilidade in situ de resíduos resultantes da indústria processadora de polpa de frutas. Foram utilizados três diferentes resíduos do abacaxi, classificados de acordo o processamento, casca e coroa, resultantes da primeira etapa de despolpamento e abacaxi prensa 1º estágio, resultante da prensa e da refinação da polpa em peneira. Os dados de degradabilidade foram submetidos a análise estatística descritiva. Encontrou-se valor de degradabilidade potencial, efetiva e composição bromatológica semelhantes para todos os resíduos. A hemicelulose presente nos resíduos chamou atenção pelos valores acima de 18%, o que viabiliza uma melhor digestibilidade. Os resíduos apresentaram um potencial nutritivo para alimentação de ruminantes.

Palavras-chave: frutas, Nordeste, ruminantes, subprodutos

Nutritive value and degradability of pineapple residues from agroindustry

ABSTRACT - The objective was to evaluate the inorganic composition and in situ degradability of residues resulting from the fruit pulp processing industry. Three different pineapple residues were used, classified according to the processing, shell and crown, resulting from the first stage of pulp and 1st stage pineapple press, resulting from the press and the refining of the pulp in the sieve. The degradation data were submitted to descriptive statistical analysis. Potential degradability value was found, degradability effective and similar bromatological composition for all residues. The hemicellulose present in the residues attracted attention at values ​​above 18%, which allows a better digestibility. The residues had a nutritional potential for feeding ruminants.
Keywords: fruits, Northeast, ruminants, byproducts


Introdução

De acordo com a FAO (2016) o Nordeste responde por 27% da produção nacional de frutas, destaca-se a produção de goiaba, manga, maracujá e abacaxi. Em 2015 na Bahia foi plantado 5.800ha de abacaxi, o que produziu 144.827 mil frutos, com um rendimento de 25.165 frutos/ha (IBGE 2015). Segundo dados do MDIC (2016), a maior parte da produção nordestina de frutas é consumida pelo mercado interno. O consumo in natura, o beneficiamento das frutas através da produção de sucos e polpas de frutas são os principais métodos utilizados. No entanto existe uma diversidade de resíduos gerados pelo processamento dessas frutas. As agroindústrias investem no aumento da capacidade de processamento, gerando grandes quantidades de subprodutos, que, em muitos casos, são considerados custo operacional para as empresas ou fonte de contaminação ambiental (Lousada et al., 2005). Todavia, existem poucos estudos sobre a composição bromatológica desses resíduos. A degradabilidade in situ é uma técnica que tem por objetivo determinar a taxa de degradação do alimento no rúmen, estimar o valor nutritivo e determinar a taxa de passagem. Assim, essa técnica contribui para o melhor conhecimento nutritivo dos resíduos. Realizou-se esse estudo com o intuito de avaliar o potencial nutritivo desses resíduos da indústria processadora de polpa de frutas para alimentação de ruminantes.

Revisão Bibliográfica

O abacaxi é uma fruta nativa do Brasil e típica em regiões tropicais e subtropicais, pertencente à família Bromeliaceae e do gênero Ananas. Segundo o IBGE (2014), no Brasil na safra de 2013 foi colhido 1.655.887 toneladas, um pouco menos do que no ano de 2014, onde foram colhidas 1.731.879 toneladas. Isso ocorreu pois em 2014 a área plantada teve um aumento, saindo de 61.950ha para 64.673ha. De acordo com DE MARTIN et al. (1978), os principais produtos da industrialização do abacaxi, são a fruta em calda e sucos pasteurizados, seguida pelas geléias. Muitos outros produtos podem ser obtidos a partir do abacaxi, como etanol de uso farmacêutico, vinhos, ácido cítrico, vinagre, amido comercial, bromelina e rações (CARVALHO et al., 1981). O beneficiamento do abacaxi, assim como de qualquer outra fruta gera resíduos, a utilização destes na alimentação de animais ruminantes apresenta potencial, todavia os estudos ainda são em pequena escala. Lousada et al. (2005) compararam resíduos desidratados de abacaxi, acerola, goiaba, maracujá e melão, oriundos da extração de sucos e polpas, para alimentação de ovinos. Chegou à conclusão de que existem um bom valor nutritivo e necessário maior estudo destes.

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no Laboratório de Análises Bromatológicas, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. As amostras utilizadas foram disponibilizadas pela empresa FRUTAB – Frutas da Bahia LTDA, situada em Ipiaú-BA. Foram analisados três resíduos de abacaxi classificados de acordo o processamento, casca e coroa, resultantes da primeira etapa de despolpamento e abacaxi prensa 1º estágio, resultante da prensa e da refinação da polpa em peneira. As amostras foram preparadas para as análises de teor de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG), conforme técnicas descritas por Detmman et al. (2012). O conteúdo de carboidratos totais (CT) e carboidratos não fibrosos (CNF) foi calculado segundo a equações propostas por Sniffen et al. (1992). Para a realização da degradabilidade in situ utilizou-se bovinos fistulados no rúmen e incubou as amostras em saquinhos de Tecido não Tecido, com medidas de 5cm X 5cm, segue a relação de 20mg de matéria seca/cm² e incubados nos tempos 0, 3, 6, 12, 18, 24, 48, 72, 96, 120, 144, 168, 192, 216, 240 e 312, conforme as recomendações de Valente (2010). Para interpretação dos perfis de degradação da MS e fibra, utilizou-se o modelo exponencial proposto por Orskov e McDonald (1979): DP = a + b (1 - e-ct), em que “DP” é a degradabilidade ruminal potencial, “a” é a fração solúvel, “b” é a fração insolúvel ou potencialmente degradável, “c” é a taxa de degradação da fração “b” e “t” é o tempo de incubação em horas, sendo a + b ≤ 100. A degradabilidade efetiva (DE) da MS e FDN no rúmen, foi calculada segundo o modelo matemático proposto por Orskov & McDonald (1979): DE = a + (b x c / c + k), em que “k” é a taxa estimada de passagem das partículas no rúmen, definida por 2,5 e 8%/h. Os resultados obtidos foram interpretados estaticamente por meio de analise descritiva.

Resultados e Discussão

Devido os resíduos serem provenientes da indústria de sucos e polpas de frutas, esperava-se um valor de MS (Tabela 1) abaixo, do que alimentos como o farelo de soja e fubá de milho, 85,09 e 86,22% de MS (Oliveira et al., 2014). Com exceção da coroa de abacaxi, os outros resíduos possuem valor de PB abaixo do recomendado por Van Soest (1994), de mínimo de 7% de PB, o que satisfaz as necessidades de mantença dos ruminantes. O teor de EE está dentro do limite recomendado por McGuffey & Schingoethe (1980), de até 8% de EE, devido à redução de ingestão de alimento. Todos os resíduos apresentaram teor de FDN abaixo de 50% e teor de LIG menor que 5% (Tabela 1). Nesse caso a amonização é uma pratica recomendada, já que tem efeito de solubilizar a hemicelulose, o que resulta numa melhor degradação. Observa-se que os valores da fração solúvel (a) e da fração insolúvel potencialmente degradável (b) da MS e FDN (Tabela 2), estão variando de acordo com o valor da FDN e FDA (Tabela 1), quanto menor esses valores, maior a influência nos parâmetros. A taxa de degradação (c) da MS e FDN (Tabela 2) são próximos. A degradabilidade potencial da MS e FDN (Tabela 2) estão semelhantes e relacionadas ao valor (c) (Tabela 2). A degradabilidade efetiva teve decréscimo, em todos os resíduos, referente a taxa de passagem, mas permaneceu com valores acima de 43% para MS e 61% para FDN.

Conclusões

Todos os resíduos do abacaxi possuem valores de degradabilidade potencial, efetiva e composição bromatológica com potencial para utilização na alimentação de ruminantes. Os valores encontrados deixam a possibilidade de próximos estudos envolvendo a utilização desses resíduos na dieta de ruminantes, com utilização ou não de tratamento físico ou químico que possibilite melhorar o valor nutritivo.

Gráficos e Tabelas




Referências

CARVALHO, V. D. de; CLEMENTE, P. R. Qualidade, colheita, industrialização e consumo de abacaxi. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, fev. 1981, p. 37-42. DE MARTIN, Z. J.; SOUZA JR., A. J.; DE LARA, J. C. C.; HASHIZUME, T. Processamento: produtos e subprodutos, características e utilização. In: MEDINA, J.C.; BLEINROTH, E.W.; DE MARTIN, SOUZA JR, A. J.; DE LARA, J. C. C.; HASHIZUME, T.; MORETTI, V. A..; MARQUES, J. F. Abacaxi: da cultura ao processamento e comercialização. Campinas: ITAL, 1978. p. 95-134. (série frutas tropicais, nº 2) DETMANN, E.; SOUZA, M.A.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Métodos de para Análise de Alimentos. Visconde do Rio Branco: Universidade Federal de Viçosa, 2012 IBGE, Disponivel em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2014/> : Acessado em novembro de 2016 IBGE, Disponivel em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2015/> : Acessado em novembro de 2016. IBGE, Disponivel em http://www.ftp.ibge.gov.br/pam2013> : Acessado em novembro de 2016. IBGE. Produção agrícola municipal. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas>. Acesso em: dezembro de 2016. LOUSADA JR, J. E.; NEIVA, J. N. M.; RODRIGUEZ, N.M. et al. Consumo e digestibilidade de subprodutos do processamento de frutas em ovinos.Revista Brasileira de Zootecnia. v. 34, n. 2, p. 659-669. 2005. McGUFFEY, R.K.; SCHINGOETHE, D.J. Feeding value of high oil variety of sunflowers as silage to lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.63, n.7, p.1109-1113, 1980. OLIVEIRA, A. G.; OLIVEIRA, V. S.; SANTOS, G. R. A. et al. Desempenho de vacas leiteiras sob pastejo suplementadas com níveis de concentrado e proteína bruta. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 35, n. 6, p. 3287-3304, nov./dez. 2014 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO. FAO. FAOSTAT. Divisão de estatística. Disponível em: http://faostat3.fao.org/download/Q/ QC/E. Acesso em: dezembro de 2016 ORSKOV, E. R.; MCDONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal Agricultural Science, Cambridge, v. 92, n. 1, p. 499-508, 1979. SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - SECEX/MDIC. Base de dados. Disponível em: <http://aliceweb.mdic.gov.br//consulta-ncm/index/type/exportacaoNcm>. Acesso em: dezembro de 2016. SNIFFEN, C.J., O’CONNOR, J.D., VAN SOEST, P.J et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets. II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science, v.70, p. 3562-3577, 1992. VALENTE, Tiago Neves Pereira, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, março de 2010. Utilização de tecidos na avaliação de compostos fibrosos e na degradação ruminal in situ de alimentos para ruminantes. VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. Ithaca: Comstock, 1994