SUPLEMENTAÇÃO DE CROMO E SELÊNIO ORGÂNICO PARA SUÍNOS EM TERMINAÇÃO

João Garcia Caramori Júnior1, Charles Kiefer2, Uanderson Veríssimo de Luna3, Eduardo Viana Ferreira4, Bruno Serpa Vieira5, Camila Mendonça Silva6, Rodrigo Caetano de Abreu7, Henrique Carvalho de Oliveira8
1 - Universidade Federal de Mato Grosso
2 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
3 - Universidade Federal de Mato Grosso
4 - Universidade Federal de Mato Grosso
5 - Universidade Federal de Mato Grosso
6 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
7 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
8 - Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO -

Foram utilizados 300 suínos machos castrados, distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso, com três tratamentos e cinco repetições de 20 animais. Os tratamentos consistiram na suplementação dietética de cromo (0,8 mg/kg) e selênio (0,6 mg/kg) por diferentes períodos: controle – dieta padrão sem suplementação; sup 70 – dieta controle suplementada a partir dos 70 kg de peso vivo; sup 100 – dieta controle suplementada a partir dos 100 kg de peso vivo. Peso vivo, consumo de ração e conversão alimentar foram analisados. Não houve efeito de tratamento sobre o peso dos animais. A suplementação a partir dos 70 kg melhorou (p=0,02) a conversão alimentar dos animais entre 120 e 155 dias de vida e a suplementação a partir dos 100 kg aumentou (p=0,03) o consumo de ração entre 156 e 185 dias de vida. A hipersuplementação de cromo e selênio não interfere no peso final dos animais, porém, pode aumentar o consumo de ração na fase final da terminação.

Palavras-chave: cromo, desempenho, selênio, suíno

CHROME AND SELENIUM FOR FINISHING PIGS

ABSTRACT - Were utilizing 300 male-castrated pigs distributed in a completely randomized design with 3 treatments and 5 replications of 20 animals. Treatments consisted on dietary supplementation of chrome (0.8 mg/kg) and selenium (0.6 mg/kg) through different periods: control – standard formulation without supplementation; sup 70 – control diet supplemented after 70 kg of live weight; sup 100 – control diet supplemented after 100 kg of live weight. Average weight, feed intake, and feed conversion rate were analyzed and, in case of significant differences (p<0.05), means were compared by Tukey test. There was no effect of treatments on average weight. The supplementation after 70 kg improved (p=0.02) feed conversion between 120 and 155 days and the supplementation after 100 kg increased (p=0.03) feed intake between 156 and 185 days. In conclusion, high doses of chrome and selenium do not affect final body weight of pigs; however, they may increase feed intake during the finishing phase.
Keywords: chrome, performance , selenium, swine


Introdução

Abordagens diversas têm sido propostas nos últimos anos para reduzir a deposição de gordura e aumentar a deposição de carne na carcaça de suínos. Dentre elas, a suplementação dietética com ractopamina, tem sido uma das mais estudadas. Embora os beta-adrenérgicos sejam extremamente eficientes em reduzir a deposição de gordura e melhorar a conversão alimentar dos animais, o uso dos beta-adrenérgicos vem sofrendo restrições. Um dos possíveis substitutos da ractopamina na cadeia suinícola é o cromo. Um dos possíveis substitutos da ractopamina na cadeia suinícola é o cromo. Trabalhos distintos (Debski et al., 2004), têm demonstrado seu potencial como modulador do metabolismo energético do organismo, reduzindo a deposição de gordura e aumentando a deposição proteica. Outro micromineral com potencial para aprimorar a qualidade de carcaça de suínos é o selênio. Como componente do complexo enzimático glutationa-peroxidase, o selênio atua em estreita relação com a vitamina E e outros compostos de ação antioxidante no organismo. Sob este aspecto, seu papel principal relaciona-se com a redução da formação de peróxidos no organismo, protegendo as membranas celulares contra danos oxidativos (NRC, 1983) e, consequentemente, aumentando a capacidade de retenção de água dos produtos cárneos (Mateo et al., 2007). Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da hipersuplementação dietética de cromo e selênio sobre o desempenho de suínos na fase de terminação.

Revisão Bibliográfica

Abordagens diversas têm sido propostas nos últimos anos para reduzir a deposição de gordura e aumentar a deposição de carne na carcaça de suínos (Kouba & Sellier, 2011; Brumatti & Kiefer, 2010). Dentre elas, a suplementação dietética com ractopamina, um beta-adrenérgico repartidor de energia, tem sido uma das mais estudadas. Embora os beta-adrenérgicos sejam extremamente eficientes em reduzir a deposição de gordura e melhorar a conversão alimentar dos animais, países como China, Japão, Rússia e União Europeia têm embargado a importação de produtos cárneos oriundos de lotes que receberam esses aditivos. Devido a importância desses mercados para a suinocultura brasileira, o uso dos beta-adrenérgicos no Brasil vem sofrendo severas restrições. Um dos possíveis substitutos da ractopamina na cadeia suinícola é o cromo. Trabalhos distintos têm demonstrado seu potencial como modulador do metabolismo energético do organismo, reduzindo a deposição de gordura e aumentando a deposição proteica. Embora ainda não totalmente elucidados, os efeitos do cromo sobre as características de carcaça parecem ser mediados por mecanismos distintos: 1) aumento da sensibilidade periférica à insulina (Debski et al., 2004), maximizando o uso de glicose pela células e reduzindo o desvio de aminoácidos para a rota energética celular; 2) redução dos níveis circulantes de glicocorticóides relacionados ao estresse, como o cortisol, que apresentam significativo efeito catabólico sobre a musculatura (Lawrence & Fowler, 2002); 3) aumento da síntese de RNA e da relação RNA/DNA nas células musculares, regulando o processo de tradução/síntese proteica nas fibras musculares (Zhang et al., 2011). Outro micromineral com potencial para aprimorar a qualidade de carcaça de suínos é o selênio. Como componente do complexo enzimático glutationa-peroxidase, o selênio atua em estreita relação com a vitamina E e outros compostos de ação antioxidante no organismo. Sob este aspecto, seu papel principal relaciona-se com a redução da formação de peróxidos no organismo, protegendo as membranas celulares contra danos oxidativos (NRC, 1983) e, consequentemente, aumentando a capacidade de retenção de água dos produtos cárneos (Mateo et al., 2007). Questiona-se, porém, se a suplementação com níveis superiores aos recomendados de cromo e selênio poderia induzir efeitos mais acentuados na composição da carcaça de suínos. Em caso positivo, esse benefício poderia compensar o maior custo dessa hipersuplementação. Sabe-se, no entanto, que alguns microminerais apresentam um limiar de toxicidade bastante baixo e, como consequência, sua ingestão em excesso prejudicaria o consumo de ração e o ganho de peso dos animais.

Materiais e Métodos

Foram utilizados 300 suínos, machos castrados com peso médio inicial de 70 kg, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com 3 tratamentos e 5 repetições de 20 animais. Os tratamentos consistiram na suplementação dietética de cromo (0,8 mg/kg) e selênio (0,6 mg/kg) por diferentes períodos, como segue: controle – dieta padrão (Rostagno et al., 2011), à base de milho e farelo de soja, sem suplementação; sup 70 – dieta controle suplementada com cromo e selênio a partir dos 70 kg de peso vivo; sup 100 – dieta controle suplementada com cromo e selênio a partir dos 100 kg. Cromo e selênio foram incorporados à dieta pela inclusão de um produto comercial (Advantage Terminação, Altech), no dobro da dose recomendada pelo fabricante, em substituição ao inerte. Determinou-se o consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA), ganho de peso (GP) e uniformidade. Os animais foram pesados aos 120, 155 e aos 185 dias. O consumo de ração (CR) foi calculado considerando a quantidade de ração fornecida menos às sobras nos comedouros. A conversão alimentar (CA) foi determinada pela relação entre o CR e o GP dos animais. Os dados foram submetidos à análise de variância e, em caso de diferença significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05).

Resultados e Discussão

Não houve efeito de tratamento sobre o peso dos animais; porém, tanto o consumo de ração quanto a conversão alimentar foram influenciadas pela suplementação dietética de cromo e selênio (Tabela 1). A suplementação a partir de 70 kg de peso não promoveu diferença no consumo de ração em relação ao grupo controle, mas melhorou (p=0,02) a conversão alimentar dos animais no período entre 120 e 155 dias de vida. Essa resposta pode estar associada à redução nos níveis circulantes de cortisol, frequentemente descrita após a suplementação com cromo (Chang & Mowat, 1992; Anderson, 1997), uma vez que os glicocorticoides apresentam acentuada atividade catabólica sobre o metabolismo (Lawrence & Fowler, 2002). A suplementação a partir de 100 kg de peso aumentou (p=0,03) o consumo de ração em relação ao grupo controle; no entanto, não provocou mudança significativa na conversão alimentar. Embora a suplementação a partir de 70 kg não tenha alterado significativamente o consumo de ração em relação ao grupo controle, há uma tendência de aumento no consumo de ração nesses animais a partir dos 156 dias de vida. Como nossos suínos foram criados em baias comunitárias, esse comportamento pode ser um indicativo de redução nos níveis de estresse induzido pelo aumento da densidade (kg peso vivo/m2) por meio da suplementação da dieta com cromo e selênio. Essa hipótese foi previamente discutida por Boleman et al. (1995) ao suplementar os animais somente com cromo; no entanto, a combinação de cromo e selênio pode ser ainda mais eficiente em minimizar os efeitos adversos do estresse no plantel. De qualquer maneira, nossos achados não evidenciaram qualquer efeito prejudicial da hipersuplementação de cromo e selênio sobre o desempenho dos suínos na fase de terminação.

Conclusões

A suplementação de cromo e selênio, nas doses e períodos adotados neste estudo, não interfere no peso final dos animais; porém, pode aumentar o consumo de ração na fase final da terminação.

Gráficos e Tabelas




Referências

ANDERSON R, A. Chromium as an essential nutrient for humans. Regulatory Toxicology and Pharmacology, 26: 35-41, 1997. BOLEMAN S , L.; BOLEMAN S , J.; BIDNER T , D.; Et al. Effect of chromium picolinate on growth, body composition, and tissue accretion in pigs. Journal of Animal Science, 73: 2033-2042, 1995. BRUMATTI, R, C.; KIEFER C. Simulação técnico-econômica da inclusão de ractopamina em dietas de suínos em terminação. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, 62: 163-171, 2010. CHANG, X.; MOWAT, D. Supplemental chromium for stressed and growing feeder calves. Journal of Animal Science, 70: 559-565, 1992. DEBSKI, B.; ZALEWSKI W.; GRALAK M,A.  Chromium-yeast supplementation of chicken broilers in an industrial farming system. Journal of Trace Elements in Medicine and Biology, 18: 47-51, 2004. KOUBA, M.; SELLIER, P. A review of the factors influencing the development of intermuscular adipose tissue in the growing pig. Meat Science, 88: 213-220, 2011. LAWRENCE, T. L. J.; FOWLER, V. R. Hormonal influences on growth. In: Growth of Farm Animals. ED. LAWRENCE, T. L. J, FOWLER, V. R. CABI Publishing. Oxfordshire. pag. 120-145, 2002. MATEO, R, D.; SPALLHOLZ, J, E.; ELDER, R.; Et al.  Efficacy of dietary selenium sources on growth and carcass characteristics of growing-finishing pigs fed diets containing high endogenous selenium. Journal of Animal Science, 85: 1177-1183, 2007. NRC. Selenium in Nutrition. National Academy Press, Washington, DC. 1983. ROSTAGNO, H. S., L.F.T. ALBINO, J. L. DONZELE, P. C., et al. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3 ed. UFV, Viçosa, MG. 2011. ZHANG, H.; DONG, B.; ZHANG, M.; YANG, J. Effect of chromium picolinate supplementation on growth performance and meat characteristics of swine. Biological Trace Element Research, 141: 159-169, 2011.