INFLUÊNCIA DO CONFORTO TÉRMICO DAS EDIFICAÇÕES RURAIS NA PRODUÇÃO DA BOVINOCULTURA DE LEITE

Juliana Domingues Scatolon1, Brenna Rocha Rotondo2, Maria Alessandra Bacaro Boscoli3, Tadeu Alcides Marques4
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RESUMO -

Edifícios rurais possuem papel fundamental no gado leiteiro, especialmente no clima tropical, onde altas temperaturas e variações de umidade os afetam fisiologicamente, causando estresse térmico. O objetivo do trabalho foi verificar a influência do desempenho térmico de construções rurais na produção de leite. Foram avaliadas as temperaturas e umidade relativa do ar (UR) com termômetros de bulbo seco e bulbo úmido em uma propriedade leiteira em Anhumas/SP, com animais ¾ e 7/8 Girolando, em dezembro de 2016 e janeiro de 2017. Os resultados mostram que na segunda quinzena de janeiro (2017) as temperaturas estavam baixas, em 21ºC e 23ºC e UR alta de 82% e 91% a produção aumentou em relação ao mês de dezembro, quando as temperaturas foram altas, em 27ºC e 35ºC e UR baixa de 48% e 64% em consequência da escassez de chuva. Concluiu-se que, os animais ordenhados em temperaturas altas e UR baixa, apresentaram produção menor que os animais ordenhados em temperaturas baixas e UR alta.

Palavras-chave: Bovinocultura de leite, Conforto térmico, Bem-estar animal, Arquitetura Rural, Arquitetura bioclimática.

THERMAL COMFORT INFLUENCE ON RURAL BUILDINGS IN THE PRODUCTION DAIRY CATTLE

ABSTRACT - Rural buildings play a key role in dairy cattle, especially in tropical climate, where high temperatures and moisture variations influence the physiological responses, causing thermal stress. The objective of this work was to verify the influence of thermal performance in rural constructions on milk production. The temperatures and moisture were evaluated with dry bulb and wet bulb thermometers, in a dairy farm in Anhumas / SP, with animals ¾ and 7/8 Girolando, in december 2016 and january 2017. The results show that in second fortnight of january (2017) the temperatures were low, 21ºC and 23ºC, and high moisture of 82% and 91%, the production increased if compared to december, when temperatures were high at 27ºC and 35ºC and moisture was low at 48% and 64%, as a consequence of the lack of rainfall. It was concluded that, the animals milked at high temperatures and low moisture, presented lower production than the animals milked at low temperatures and high moisture.
Keywords: dairy cattle, thermal comfort, welfare, bioclimatic architecture, rural architecture.


Introdução

A bovinocultura de leite está entre uma das atividades agrícolas que se destacam na base da economia de diversos países, entre eles os maiores produtores em 2014 foram respectivamente os Estados Unidos com uma produção de 931,1 bilhão de litros a União Europeia com 144,7 bilhões de litros, a Índia com 141,1 bilhões, o Brasil ocupa nesse ranking o quinto lugar com 33,3 bilhões de litros de leite. (SEAB, 2014) A diferença exorbitante nos números de produção entre o Brasil e outros países dá-se em consequência das formas de manejo animal, a salubridade do ambiente e da influência das altas/baixas temperaturas associadas às variações de umidade do ar. Estes fatores quando fora dos indicies estabelecidos para conforto térmico, prejudicam o desempenho produtivo do animal e comprometem as funções fisiológicas podendo levar o animal a óbito em situações extremas de estresse térmico pelo frio ou calor, sendo assim a edificação tem relação direta com o bem estar e a capacidade produtiva. (TAKAHASHI et.al, 2009; BORGES et. al., 2003)

Revisão Bibliográfica

O clima tropical predominante no Brasil é caracterizado por duas estações bem definidas, uma seca de maio a setembro e outra chuvosa de outubro a abril e pelas temperaturas elevadas em boa parte do ano, que variam de 10 a 45ºC com a média dos dias entre 20 e 25ºC, porém o período de radiação solar total depende da quantidade de nuvens e a duração do dia é sempre constante, variando em 30 minutos na localidade do Equador e 60 minutos ou mais na faixa territorial dos trópicos. (MEDEIROS & VIEIRA,1997 e VIANA, 2013) As altas temperaturas e a variação da umidade relativa do ar têm influência direta na bovinocultura de leite, alterando as respostas fisiológicas dos animais e influenciando no desempenho produtivo do animal. De acordo com Medeiros et. al. (1997) e Baeta nas regiões de clima tropical quando o animal não consegue manter-se em homeostase, ou seja, em equilíbrio térmico com o ambiente, ocorre o desperdício de energia pois o desequilíbrio eleva a frequência respiratório consumindo parte da energia que seria destinada a produção de leite. A difícil adaptação das raças produtoras de leite ao clima do Brasil ocorre porque estas são provenientes de regiões de clima temperado, mesmo com o melhoramento genético Coolier et. al,(1985) expõe que a variação da temperatura entorno de 21 e 38ºC podem reduzir de 20 a 35% da ingestão de alimentos em bovinos holandeses e 10% em bovinos da raça Jersey e o aumento da ingestão de água é significante quanto resposta ao estresse térmico, sendo utilizada como forma de dissipar o calor excedente. (LAMBERTS, DUTRA E PEREIRA, 2014)

Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida em uma propriedade da área rural do município de Anhumas, interior do estado de São Paulo. A propriedade possuí 80 animais de melhoramento genético ¾  e 7/8 Girolando em sistema de confinamento com silagem de milho, sendo 50 bovinos em lactação ordenhados duas vezes ao dia no sistema mecânico, foi verificado junto ao produtor que os animais em lactação estavam em boas condições de saúde. Dentro da sala de ordenha foi instalado um termômetro de bulbo seco e bulbo úmido e feita a verificação da temperatura e umidade no horário da ordenha, ás 07:00 e as 17:00 horas a partir do dia 12 de dezembro de 2016 e no mês de janeiro de 2017. Após a coleta de dados de temperatura e umidade foram estabelecidas as relações entre temperatura/umidade com a produção de leite em cada horário de ordenha, e os resultados apresentados por meio de gráficos. Foi verificado também o Indicie de Temperatura e Umidade (ITU) para os dias em que as temperaturas foram extremas, para isso utilizou-se a equação “ITU = 0,8 Ta + UR (Ta - 14,3)/100 + 46,3” apresentada por Buffington(1981), onde Ta é a temperatura do ambiente e UR é a umidade relativa do ar.

Resultados e Discussão

Os dados analisados de dezembro de 2016 estão expostos no gráfico 1. Foram 40 ordenhas e 17 delas apresentaram temperatura alta e umidade relativa do ar (UR) baixa. 15 ordenhas tiveram temperatura baixa e UR alta e 7 ordenhas com temperatura alta e UR baixa. A maior produção, cerca de 990 litros ocorreu no dia 15 ás 07:00 horas, com temperatura de 19ºC e UR de 92%. Quatro ordenhas obtiveram temperaturas extremas, nos dias 14, 17, 25 e 26 ás 17:00 horas, estes dias apresentaram respectivamente temperaturas de 32ºC, 32ºC, 35ºC e 36ºC com UR de 66%, 48%, 47% e 48%. O resultado do ITU para esses dias ficou acima de 80,0 o que na escala proposta por Buffington (1981), representa situação de emergência podendo levar o animal a óbito. As ordenhas que ocorreram nos dias 12 e no dia 13, apresentaram temperaturas estáveis em torno dos 27 e 30º C e UR de 92 e 84% e oscilação na produção entorno de 2,94 litros por animal. O gráfico 2a é referente aos primeiros 15 dias do mês de janeiro de 2017 totalizando 30 ordenhas, destas, 13 ocorreram em dias com temperatura alta e UR baixa, 15 ordenhas com temperatura baixa e UR alta e duas ordenhas com temperatura alta e UR alta. A ordenha que apresentou maior produção na primeira quinzena deste mês foi ás 07:00 da manhã do dia 07 com temperatura de 23ºC e UR de 83%, totalizando uma produção de 815 litros de leite e a ordenha que apresentou menor produção foi ás 17:00 horas no dia 06, com temperatura de 36ºC e UR de 52%, com uma produção de 390 litros de leite. O ITU dessa ordenha resultou em 86,30, considerado na escala de Buffington (1981), situação de emergência  A temperatura e umidade nas ordenhas do dia 12 ás 07:00 e 17:00 horas se mantiveram estáveis, com uma produção respectivamente de 664 e 598, relacionando com o dia 13 na ordenha das 07:00 houve uma diminuição da temperatura e da umidade, totalizando nessa ordenha 704 litros, ou seja, uma queda de produção de 2.12 litros por animal. Os 16 dias restantes do mês de janeiro de 2017 totalizaram 32 ordenhas e estão apresentadas no gráfico 2b, destas 10 foram realizadas em dias com temperatura alta e UR baixa, 17 ordenhas com temperatura baixa e UR alta e 5 com temperatura alta e UR alta. Foi possível observar no gráfico que a ordenha com maior produção (818 litros) ocorreu ás 07:00 horas da manhã do dia 20, com temperatura de 22ºC e umidade relativa de 91%. A menor produção deste período apresentou o total de 571 litros de leite, temperatura de 26ºC e umidade relativa (UR) de 76%. O período referente ao gráfico 2b foi marcado por precipitação na maior parte dos dias, por tanto as temperaturas se mantiveram estáveis, apresentando alterações na umidade relativa do ar, como por exemplo, entre os dias 28 e 30, onde as temperaturas foram entorno de 21 e 27ºC com variação de umidade entorno de 91 e 77%, nas 5 ordenhas realizadas duas apresentaram queda de aproximadamente 1.50 litros por animal na produção em relação as outras 3 realizadas.

Conclusões

Pode-se concluir que, os animais quando ordenhados em horários com temperaturas altas e umidade relativa do ar baixa, apresentaram desempenho produtivo menor que os animais que foram ordenhados em temperaturas baixas e umidade relativa do ar alta.

Gráficos e Tabelas




Referências

BAÊTA, F.C. et al.  Equivalent temperature index at temperatures above the thermoneutral for lactating cows. Transactions of the ASAE,  Paper n.8874015, p.1-21, 1987 BORGES, S.A., MAIORKA, A., FISHER DA SILVA, A.V. Fisiologia do estresse calórico e a utilização de eletrólitos em frangos de corte. Revista Ciência Rural, v.33, n.5, p.975-981, 2003 BUFFINGTON, D.E.; COLLAZO-AROCHO, A.; CANTON, G.H.; PITT, D.; THATCHER, W.W.; COLLIER, R.J. Black-Globe-Humidity Index (BGHI) as comfort equations for dairy cows. Transactions of the ASAE, St. Joseph, v.24, n.3, p.711-14, 1981. COOLIER, R. J. Nutritional, metabolic and environmental aspects of lactation. In: LARSON, B. L. (Ed.).  Lactation. Iowa: State University Press, 1985. p. 80-128. LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F.R.O. Eficiencia energética na Arquitetura, Ed. 03, 2014 MEDEIROS, L.F.D; VIEIRA, D.H.Bioclimatologia animal. Ministério da Educação e Cultura, UFRRJ. 1997 SEAB, Secretária de Estado da Agricultura e Abastecimento. Análise da Conjuntura Agropecuária,2014. TAKAHASHI,L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M. Bioclimatologia Zootécnica. 1º edição; Jaboticabal, 2009 VIANA,S.S.M. Conforto térmico nas Escolas Estaduais de Presidente Prudente/SP- UNESP/Presidente Prudente, 2013