Avaliação dos hormônios triiodotironina, tiroxina e enzima aspartatoaminotransferase em bovinos da raça Tabapuã em pastagens com e sem sombreamento natural

Felipe Augusto Pessoa Drumond Ponte1, Filipe Araújo Canedo Mendonça2, Júlia de Miranda Moraes3, Alliny das Graças Amaral4, Rodrigo Medeiros da Silva5, Rodrigo Zaiden Taveira6
1 - Universidade Estadual de Goiás
2 - Universidade Estadual de Goiás
3 - Universidade Federal de Goiás
4 - Universidade Estadual de Goiás
5 - Universidade Estadual de Goiás
6 - Universidade Estadual de Goiás

RESUMO -

Objetivou-se avaliar as dosagens dos hormônios triiodotironina (T3), tiroxina (T4) e da enzima aspartatoaminotransferase (AST) em bovinos da raça Tabapuã submetidos a pastagens com e sem sombreamento natural. As dosagens médias encontradas do hormônio T3 quando os animais estiveram em pastagens com e sem sombreamento foram de 196,64±31,53 e 204,19±27,35 NG/DL, respectivamente, não tendo havido diferença estatística significativa (P>0,05) entre estas médias. Quando avaliado o hormônio T4 as dosagens médias encontradas foram de 7,58±0,93 e 8,63±1,17 NG/DL em pastagens com e sem sombreamento, respectivamente, apresentando diferença estatística significativa (P<0,05). Em relação a enzima AST as dosagens médias encontradas em pastagens com e sem sombreamento foram 111,99±25,29 e 90,47±13,31 U/L, respectivamente. Considerando estes resultados pode ser concluído que estes animais não apresentaram estresse térmico quando desafiados à exposição direta à radiação solar.

Palavras-chave: estresse térmico, tireóide, termorregulação

Evaluation of the hormones triiodotironina, thyroxine and the enzyme aspartatoaminotransferase in cattle breed Tabapuã in pastures with and without shading natural

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the dosages of the hormones triiodothyronine (T3), thyroxine (T4) and the enzyme aspartate aminotransferase (AST) in Tabapuã cattle submitted to pastures with and without natural shading. The mean values of hormone T3 found when the animals were in pastures with and without shade were 196.64 ± 31.53 and 204.19 ± 27.35 NG / DL, respectively, and there was no statistically significant difference (P> 0.05) between these means. When the T4 hormone was evaluated, the mean values found were 7.58 ± 0.93 and 8.63 ± 1.17 NG / DL in pastures with and without shading, respectively, presenting a statistically significant difference (P <0.05). In relation to the AST enzyme the average dosages found in pastures with and without shading were 111.99 ± 25.29 and 90.47 ± 13.31 U / L, respectively. Considering these results it can be concluded that these animals did not present thermal stress when challenged with direct exposure to solar radiation.
Keywords: Thermal stress, thyroid, thermoregulation


Introdução

Conhecer as interações entre os animais e o ambiente e as variações (diárias e sazonais) dos parâmetros fisiológicos nos animais, permite a adoção de estratégias de manejo que promovam maior conforto aos animais e consequentemente, melhora nas respostas produtivas. Em resposta ao estresse calórico, ocorre diminuição do desempenho produtivo dos animais aliado, principalmente, à menor ingestão de alimentos e a desidratação, o que acarreta importantes alterações na atividade enzimática oxidativa, na taxa metabólica, na concentração de vários hormônios e nos índices hematimétricos (FERREIRA et al., 2009). As reações fisiológicas de termorregulação contribuem para a homeostase. Permitindo que os animais expressem valores normais de hormônios ligados à termogênese e ao metabolismo global. Bem como o perfil hematológico e bioquímico compatível com a adaptação ao ambiente. Assim, o sangue é uma importante fonte para determinar o perfil metabólico do animal. A glândula tireóide é sensível ao estresse térmico, pelo fato de seus hormônios estarem ligados à termogênese, uma vez que aumentam a taxa metabólica, além de apresentarem ação potenciadora sobre as catecolaminas. Portanto, os hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) podem apresentar níveis reduzidos em animais expostos a altas temperaturas, associados à menor produção de calor metabólico (JOHNSON et al., 1988). As variáveis hematológicas e bioquímicas, como a enzima hepática aspartatoaminotransferase (AST), normalmente são afetadas pelo estresse calórico, com aumento das variáveis no período pós estresse, em resposta à hemoconcentração e à possíveis danos celulares (FERREIRA et al., 2009). Face ao exposto, objetivou-se verificar se os bovinos avaliados apresentaram estresse térmico, na mudança de pastagens com sombreamento natural para pastagens sem sombreamento, medido pelas dosagens dos hormônios T3 e T4, bem como da enzima hepática AST.

Revisão Bibliográfica

Os hormônios normalmente envolvidos nas adaptações mediadas pelo estresse térmico incluem a prolactina, o hormônio do crescimento, a triiodotironina e tiroxina, glicocorticóides, mineralocorticóides, catecolaminas e hormônio antidiurético. As alterações hormonais são mediadas através do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (EHHA). Estes estão envolvidos com o metabilosmo de nutrientes e na regulação da homeostase corporal, e por isso, encontram-se aumentados em situações de estresse térmico. Nesse sentido, a função da tireóide diminui como uma resposta de adaptaçãoe manutenção da temperatura corporal, na tentativa de diminuir o estresse pelo calor. Esta redução pode ser devido ao efeito do calor sobre o EHHA para assim, diminuir a secreção final do hormônio estimulador da tireóide (tirotrofina – TSH), e a produção final de T3 e T4, desencadeando a redução o metabolismo basal no animal. De forma contrária acontece mediante o estresse ao frio, em que os níveis de T3 e T4 se elevam para aumentarem o consumo de oxigênio e produção de calor pelas células (GUPTA et al., 2013). No que diz respeito a enzima AST, sabe-se que ela é amplamente distribuída no organismo, participando de diversas reações metabólicas, sendo mais abundante no fígado, eritrócitos e músculos. O aumento da atividade da AST é observado em acometimentos hepáticos, e esgotamento físico intenso, sendo amplamente utilizada para a avaliação do condicionamento físico de animais. Em ruminantes, esta enzima é um bom indicador do funcionamento hepático e condições gerais de estresse (GONZÁLES & SILVA, 2006).

Materiais e Métodos

Este estudo foi desenvolvido em propriedade rural localizada no município de Goiânia, GO, a 16035’27” S e 49014’40” O a 720 m de altitude. Foram utilizados 11 bovinos machos da raça Tabapuã, com idade média de 24 meses e peso médio de 539,33±59,86 kg. Inicialmente os animais permaneceram por 30 dias em pastagem com sombreamento natural abundante e, posteriormente foram colocados em pastagem sem sombreamento por mais 30 dias. Ao final de cada um dos dois períodos foram colhidas amostras de sangue para as avaliações hormonais e enzimáticas. Ambas as pastagens eram formados por capim Brachiária (Brachiaria brizantha). As colheitas de sangue foram realizadas por venopunção da veia jugular, com agulha estéril de calibre 30 x 15 mm. Foram colhidos cerca de 5 mL de amostra de sangue em tubos a vácuo, contendo anticoagulante etilenodiaminotetracético sal dissódico (EDTA) a 10%.As dosagens de triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) foram determinadas utilizando-se kits comerciais pelo método de Eletroquimioluminescência. Para a quantificação do hormônio T3 utilizou-se o kit Architect Total T3 Reagent (AbbottDiagnostics, Brazil) e para o hormônio T4 utilizou-se o kit Architect Total T4 Reagent (AbbottDiagnostics, Brazil). A enzima hepática Aspartatoaminotransferase (AST) foi determinada utilizando-se o analisador fotométrico bioquímico semi-automatizado (TP analyzer, BioTécnica, Brazil). As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do software estatístico R64 e as médias foram compradas tendo em vista a utilização do teste t (P<0,05).

Resultados e Discussão

A tabela 1 apresenta os valores médios da temperatura ambiental, índice de temperatura e umidade, umidade relativa do ar e velocidade do ar em ambiente com sombreamento e sem sombreamento durante a realização do experimento. O índice de temperatura e umidade encontrado em pastagens com e sem sombreamento foi de 71 e 83, respectivamente. Na situação sem sombreamento foi percebido maior desafio ao calor, tendo em vista o maior valor do ITU. IGONO et al. (1992) em estudo com bovinos da raça Holstein registram que valores de ITU acima de 76 já configuraria um fator estressante. Os animais deste estudo mesmo quando submetidos ao ITU de 83 não apresentaram indícios de estresse térmico pelo calor. Em relação à umidade relativa do ar, as médias foram muito semelhantes, com variação de 2,2% a mais de umidade para o ambiente com sombreamento. As dosagens médias dos hormônios tiroideanostriiodotironina (T3) e tiroxina (T4), bem como da enzima hepática aspartatoaminotransferase (AST) encontram-se apresentadas na tabela 2. Pode ser constatada diferença significativa (P<0,05) nos valores médios do hormônio tiroxina (T4) e da enzima hepática AST quando os animais estiveram em pastagens com sombreamento natural e sem sombreamento. Tendo em vista o hormônio T4, os valores médios encontrados forma de 7,58 e 8,63 ng/dl quando os animais foram avaliados em pastagens com e sem sombreamento, respectivamente, podendo ser percebido acréscimo de 1,05 ng/dl da primeira para a segunda situação.O aumento dos níveis de T3 e T4 indica que os animais não estão em estresse térmico haja vista que esses hormônios encontram-se ligados a termogênese, uma vez que são responsáveis pelo aumento da taxa metabólica. Portanto, em animais submetidos a altas temperaturas os níveis desses hormônios encontrar-se-iam reduzidos, na tentativa de diminuição da taxa metabólica geral, o que não foi verificado na maioria dos animais desse estudo. JOHNSON et al. (1988) também registram que os níveis de T3  e T4 apresentam-se mais reduzidos em animais expostos a altas temperaturas, associados à menor produção de calor metabólico. NAZIFI et al. (2003) acrescentam ainda que esses hormônios são conhecidos por serem moduladores do processo de desenvolvimento e metabolismo celular geral. De acordo com NASCIMENTO (2002) há necessidade de diferenciar os efeitos de longa e curta duração do estresse térmico sobre os níveis de T3 e T4 em ruminantes, já que com a adaptação ao estresse crônico ocorrem mudanças endócrinas que podem ser diferentes das ações decorrentes do estresse momentâneo. No que diz respeito à enzima AST as médias encontradas quando os animais estiveram em pastagens com e sem sombreamento foram de 111,99 U/L e 90,47 U/L, respectivamente, com decréscimo em 29,52 U/L quando os animais foram avaliados em pastagens sem sombreamento. Isso evidencia que esses animais, provavelmente, permaneceram em sua zona de conforto térmico, já que essa enzima hepática é uma indicadora sensível de danos celulares. Essa explicação corrobora com o estudo NAZIFI et al. (2003), os quais constataram aumento das enzimas hepáticas em pequenos ruminantes quando submetidos à situações de estresse térmico.O hormônio triiodotironina (T3) embora tenha tido seu nível aumentado quando os animais estiveram em pastagens sem sombreamento não apresentou diferença significativa (P>0,05) quando comparado à situação em que os mesmos estiveram em pastagens com sombreamento.No que diz respeito à enzima AST as médias encontradas quando os animais estiveram em pastagens com e sem sombreamento foram de 111,99 U/L e 90,47 U/L, respectivamente, com decréscimo em 29,52 U/L quando os animais foram submetidos à segunda situação.

Conclusões

Tendo em vista os resultados obtidos neste estudo pode ser concluído que os bovinos avaliados não apresentaram estresse térmico quando foram transferidos de pastagens com sombreamento para pastagens sem sombreamento, demonstrando adaptabilidade da raça Tabapuã ao desafio térmico.

Gráficos e Tabelas




Referências

FERREIRA F.; CAMPOS W.E.; CARVALHO A.U.; PIRES M.F.A.; MARTINEZ M.L.; SILVA M.V.G.B.; VERNEQUE R.S.; SILVA P.F. 2009.Parâmetros clínicos, hematológicos, bioquímicos e hormonais de bovinos submetidos ao estresse calórico. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 61(4):769-776. GONZÁLEZ, F.H.D.; SILVA, S.C. Introdução à bioquímica clínica veterinária. Porto Alegre: Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006. 357p. GUPTA M.; KUMAR S.; DANGI S.S.; JANGIR B.L. 2013. Physiological, Biochemical and Molecular Responses to Thermal Stress in Goats. International Journal of Livestock Research. 3(2): 27-38. IGONO, M.O.; BJTVEDT, G.; SANFORD,; CRANE, H.T. Environment profile and critical temperature effects on mil production of Holsteins cows in desert climate. International Journal Biometeorology, v.36, p.77-87, 1992. JOHNSON, H.D.; KATTI, P.S.; HAHN, L. et al. Short-term heat acclimatation effects on hormonal profile of lactating cows. Missouri: University of Missouri, 1988. 30p. (Research Bulletin). NAZIFI S., SABE M., ROWHMANI E., KAVEH, K. 2003. The influences of thermal stress on serum biochemical parameters of Iranian fat-tailed sheep and their correlation with triiodothronine (T3), thyroxine (T4) and cortisol concentrations.CompClin Path. 12:135-139.





©2024 Associação Brasileira de Zootecnistas

Fazer login com suas credenciais

Esqueceu sua senha?