POTENCIALIDADES E VALORIZAÇÃO DA RAÇA DE SUÍNO NATIVO PIAU NO CONTEXTO DOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA DO NORTE DE MINAS GERAIS

Guilherme Resende de Almeida1, Gabriel Gobira de Alcântara Araújo2, Jean Kaique Valentim3, Rúbia Francielle Moreira Rodrigues4, João Paulo de Souza5, Matheus Xavier Costa6, Idael Matheus Goes Lopes7, Bruno Alexander Nunes Silva8
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
3 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
4 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
5 - Universidade Federal de Minas Gerais
6 - Universidade Federal de Minas Gerais
7 - Universidade Federal de Minas Gerais
8 - Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO -

Com a chegada das grandes integrações sustentadas por empresas de grande porte, associadas aos equívocos cometidos pelos órgãos oficiais de assistência técnica e extensão rural, os suínos das raças crioulas sofreram grande descaracterização racial em função dos cruzamentos com raças exóticas, melhoradas em ambientes não tropicais. A maior parte dos pequenos produtores rurais no Brasil tem em atividades de criação de suínos caipira uma alternativa para obtenção de alimento de alto valor nutritivo e de rentabilidade. Este tipo de criação fornece um produto de excelente qualidade para a alimentação familiar, além proporcionar uma renda extra pela venda do produto. O objetivo do trabalho foi implantar e desenvolver um sistema de produção extensivo sustentável de suínos, nos centros de irradiação e manejo agroecológico nas áreas de assentamentos de reforma agrária da região do Norte de Minas Gerais, podendo ampliar a fonte de renda dos assentados e maior valorização da raça suína nativa.

Palavras-chave: Manejo extensivo, raças nativas, agricultura familiar, geração de renda

POTENTIALITIES AND VALORIZATION OF THE NATIVE SWINE PIAU BREED IN THE CONTEXT OF THE AGRARIAN REFORM SETTLEMENTS IN THE NORTH OF MINAS GERAIS

ABSTRACT - With the arrival of the large integrations supported by large companies, associated with the mistakes made by the official agencies of technical assistance and rural extension, the pigs of the creole breeds suffered great racial decharacterization due to the crosses with exotic races, improved in nontropical environments. Most of the small rural producers in Brazil have in the activities of raising pigs an alternative to obtain food of high nutritional value and profitability. This type of creation provides a product of excellent quality for the family food, besides providing an extra income by the sale of the product. The objective of this work was to implement and develop a system of sustainable extensive production of pigs in irradiation centers and agroecological management in the agrarian reform settlements of the Northern region of Minas Gerais, which could increase the source of income of the settlers and increase their value of the native swine.
Keywords: Extensive management, native breeds, family farming, income generation


Introdução

No Brasil, a suinocultura é uma atividade importante para a economia, gerando emprego e renda, com faturamento de R$ 12 bilhões por ano. Esse cenário é representado pelas cooperativas e integradoras, as quais detêm 75% do rebanho suíno nacional, enquanto os pequenos produtores independentes detêm o restante. Seu ciclo reprodutivo é veloz e o retorno financeiro rápido, o que torna interessante á pequena propriedade. A criação de suínos “crioulos, locais ou naturalizados” está presente em quase todas as propriedades rurais brasileiras, ofertando carne e a banha, importantes nos hábitos alimentares destas populações (GERMANO, 2002). A raça nativa Piau quase foi extinta, restando apenas três planteis puros no país. Goza de grande popularidade, como boa conversão alimentar e rusticidade, o que permite cruzamentos ideais com raças especializadas. O objetivo do trabalho foi implantar e desenvolver um sistema de produção extensivo sustentável de suínos, nos centros de irradiação e manejo agroecológico nas áreas de assentamentos de reforma agrária da região do Norte de Minas Gerais, possibilitando ampliar a fonte de renda dos assentados e maior difusão e valorização da raça suína nativa.

Revisão Bibliográfica

O Brasil possui diversas raças de animais domésticos que se desenvolveram a partir de raças trazidas pelos colonizadores portugueses logo após o descobrimento. Ao longo dos últimos cinco séculos, estas raças foram submetidas à seleção natural em determinados ambientes, a ponto de apresentarem características específicas de adaptação a tais condições, sendo hoje conhecidas como “crioulas, locais ou naturalizadas”. Dentre estas raças temos os suínos de raças nacionais, também conhecidos como “porcos tipo caipira” (CAVALCANTE, 1984). A suinocultura caipira é difundida no meio rural em razão da sua capacidade de reprodução e facilidade de criação. Esse modelo tem por características de produção o uso da mão-de-obra familiar, contempla a segurança alimentar e estimula a economia com a venda do excedente. Estudos e investimentos na suinocultura intensiva posicionaram o Brasil como quarto produtor e exportador mundial de carne suína (ABPA, 2016). O consumo de carne suína derivada de porcos caipiras era uma tradição no passado de nosso país. Após a década de 70, o consumo e criação de porcos caipiras se enfraqueceram devido à produção industrial de suínos, trabalhando com raças importadas, gerando um sistema de integração produtivo (MARIANTE, 2006). O grande mito em relação ao consumo de porcos caipiras estava nos possíveis malefícios que sua gordura poderiam trazer. Estudos realizados com suínos criados livres e abatidos tardiamente observaram que, além da quantidade maior de proteína na carne, a gordura em maior porcentagem é rica em ácidos graxos insaturados, considerados saudáveis ao consumo humano (SILVA FILHO et al., 2008). As políticas de Assistência Técnica e Extensão Rural no meio rural são serviços extremamente fundamentais no processo de desenvolvimento da cadeia produtiva para a agricultura familiar. Segundo Franco (2007), é de suma importância tendo em vista que o produtor rural, normalmente, encontra-se desassistido. Com esta perspectiva o Sistema Intensivo de Suínos Criados ao Ar Livre (SISCAL) se apresenta como uma alternativa para o ingresso na produção de suínos ou elevar a sua produção e não dispõe de recursos financeiros (EMBRAPA, 2002).

Materiais e Métodos

Para inicio do projeto de extensão foi realizado o contato com os agricultores e exposição do projeto, identificação dos agentes multiplicadores e formação de núcleos familiares. Os agentes multiplicadores são os agricultores que tem experiência na criação de suínos e, após a capacitação, estes produtores se tornaram o referencial para sua comunidade, formação de núcleos familiares, possuindo cada núcleo pelo menos um agente multiplicador, para facilitar a articulação. Foi implantada uma granja núcleo de manejo agroecológico de suínos no assentamento Estrela do Norte, no município de Montes Claros utilizando animais puros da raça Piau. Foi realizado um levantamento dos fatores limitantes e potenciais junto à comunidade, com o objetivo de se consolidar um modelo de criação de suínos que melhor se adapta às especificidades locais. A implantação desse projeto complementou alguns programas e ações desenvolvidos nessas áreas; Programa de Segurança Alimentar e Nutricional, em parceria com o Governo do Estado; Projeto Terra-Sol (Apoio à Agroindustrialização), desenvolvido em parceria com o INCRA/MDA; Projeto de Estruturação da Rede Bio Natur de Sementes Agroecológicas, em parceria com a COONATERRA; Programa Nacional de Biodiesel, em parceria com a Petrobrás, Programa de promoção do desenvolvimento Sustentável nas áreas de assentamento, em parceria com a AESCA e Governo de Navarra/ Espanha.

Resultados e Discussão

No primeiro ano, foi realizada a implantação do núcleo genético com o envolvimento dos assentados cooperados da Cooperativa Veredas da Terra, paralelamente com a realização de treinamentos, nos quais tiveram a oportunidade de adquirir conhecimento técnico sobre os dados zootécnicos e manejo agroecológico dos suínos, bem como sobre as instalações apropriadas. Foram recebidos 6 animais puros da raça piau doados pelo Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa – UFV, sendo 2 machos reprodutores (M1 E M2) e 4 matrizes (F1, F2, F3 e F4). Foram feitos os cruzamentos para a produção de F1 (M1f1, M2f2, M1f3 e M2f4). Como resultados, obteve-se uma média de 7,5 leitões nascidos vivos/parto/porca; 7,2 leitões desmamados/parto/porca, capacitação dos envolvidos, irradiação para as áreas de assentamento, escolha e inclusão dos multiplicadores. Quanto aos índices zootécnicos na Unidade de Execução de Pesquisa do Paraguaçu, foram obtidos 8,6 leitões nascidos vivos/parto/porca; 6,47leitões desmamados/parto/porca. Índices estes que são inferiores aos preconizados para a suinocultura tecnificada de raças exóticas, porém, muito superiores aos índices zootécnicos obtidos na suinocultura de manejo tradicional, utilizando raças nacionais. A constituição dos multiplicadores foi igual à do núcleo, onde foram passados a um custo justo 02 marrãs e um Reprodutor F1 com idade em torno de 35dias. Estes multiplicadores fizeram dessas marrãs, matrizes e realizaram o cruzamento com o reprodutor resultando em um produto F2 que serão destinados aos comerciais. Baseado em uma produtividade de 6 leitões/porca/parto e uma prolificidade de 2 partos/porca/ano, a granja núcleo produzirá 48 leitões/ano, sendo pela probabilidade 24 machos e 24 fêmeas. Dos animais nascidos no Núcleo, 32,05% foram selecionados para reprodução em função de suas características raciais e reprodutivas, o restante foi comercializado para abate com a finalidade de captar recursos para o projeto. Em 2016 foram incorporados 28% multiplicadores a mais que no ano de 2015, devido aos resultados obtidos e a credibilidade adquirida pelo projeto, que mostrou animais mais rústicos e com desempenho produtivo e reprodutivo superior aos já vistos na região.

Conclusões

É de grande importância a preservação das raças nativas, por serem uma alternativa de renda e segurança alimentar para a agricultura familiar e, por se tratar de uma raça rústica, resistente e já adaptada às condições do semi-árido. Com a implantação deste sistema de produção sustentável e agroecológico nas áreas de assentamentos de reforma agrária da região do Norte de Minas foi possível obter melhores dados produtivos da produção, além de maior difusão e valorização da raça suína nativa.


Referências

ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal (2016). Relatório anual da ABIPECS 2012/2013. Disponível em: http://www.abipecs.org.br/uploads/relatorios/relatorios- associados/ABIPECSrelatorio2012pt.pdf. Acesso em: 22 de fevereiro de 2017. Campinas, SP, 1984, 453p.   CAVALCANTI, S. S. Produção de Suínos. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola.   FRANCO, Camilo Flamarion de Oliveria. Dinâmica da Difusão de Tecnologia no Sistema Produtivo da Agricultura Brasileira. EMEPA-PB, 2007.   EMBRAPA, BIPERS - Boletim Informativo de Pesquisa e Extensão, 2002. Sistema Intensivo de Suínos criados ao ar livre - SISCAL. Disponível em: <http://www.cnpsa.embrapa.br/index.php?idp=Pn6u61g3l>. Acessado em: 16/02/2017.   GERMANO, J. L. Como criar suínos nacionais. Brasília: EMATER, 2002.   MARIANTE, A. da S. Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar. In: O desenvolvimento rural como forma de ampliação dos direitos do campo: princípios e tecnologia. MOURA, E.G.; AGUIAR, A. das C. F. São Luís: UEMA, 2006 (Série Agroecológia UEMA volume II).   SILVA FILHO, O.L.; PIMENTA FILHO, E.C.; SOUZA, J. F.; OLIVEIRA, Â.S.; OLIVEIRA, R. et al. (2008). Caracterização do sistema de produção de suínos locais na microrregião do Curimataú Paraibano. Revista Brasileira de Saúde Produção Animal, v.9 (1), p. 07-17, jan/mar.





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