COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVELHAS RECEBENDO FIBRA DA CANA EXTRUSADA COMO VOLUMOSO

Thauane Ariel Valadares de Jesus1, Gilberto de Lima Macedo Junior2, Karla Alves Oliveira3, Carolina Moreira Araújo4, Maria Julia Pereira de Araújo5, Adriana Lima Silva6, José Victor dos Santos7, Marco Túlio Santos Siqueira8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Uberlândia
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6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da fibra da cana extrusada (Foragge®) sobre o comportamento ingestivo em ovinos. Foram utilizadas 18 ovelhas adultas, não gestantes, com idade superior a três anos. As mesmas foram alocadas em gaiolas metabólicas e distribuídas em delineamento ao acaso com dois tratamentos, sendo: silagem de milho e Foragge®. As médias foram avaliadas pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%. Analisou-se o comportamento ingestivo em 24 horas, observando em intervalos de cinco minutos se o animal estava ingerindo, ruminando ou ocioso. Os animais alimentados com Foragge® tiveram menor tempo de ruminação e mastigação total e, consequentemente, maior tempo em ócio. Os animais consumindo Foragge® apresentaram maior eficiência em ruminação e mastigação por grama de matéria seca consumida. Ovelhas adultas alimentadas com Foragge® reduzem o tempo em ruminação e mastigação total, o que pode reduzir a produção de saliva e acarretar problemas na fisiologia do rumen.

Palavras-chave: extrusão, ovelhas, ruminação

Ingestive behavior of sheep receiving extruded cane fiber as roughage

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of extruded sugarcane fiber (Foragge®) on ingestive behavior of sheeps. Eighteen adult, non-pregnant sheeps, over three years old were used. They were allocated in metabolic cages and distributed in randomized design with two treatments, being: corn silage and Foragge®. The averages were evaluated by the Tukey test at a significance level of 5%. The ingestive behavior was analyzed in a 24-hour period, observing at five-minute intervals whether the animal was ingesting, ruminating or idle. Animals fed with Foragge® showed greater efficiency in rumination and chewing per gram of dry matter consumed. Adult sheep fed with Foragge® reduce the time spent in rumination and total chewing, which can reduce the production of saliva and cause problems in the physiology of rumen.
Keywords: extrusion, sheeps, rumination


Introdução

Algumas técnicas de processamento dos alimentos como a extrusão, podem ser utilizadas para melhorar o aproveitamento dos nutrientes, de forma que, pode afetar na produção e consumo dos animais (WHITLOCK et al., 2002) e consequentemente modificar seu comportamento ingestivo. A etologia estuda o comportamento e manifestações vitais dos animais em seu ambiente de criação ou em ambientes modificados pelo homem. O conhecimento do comportamento dos animais é essencial para a obtenção de condições ótimas de criação e alimentação, podendo, desta forma, obter-se o máximo de eficiência nos sistemas de produção animal (SWENSON, 1988). Nesse sentido, objetivou-se avaliar o efeito da utilização da fibra da cana extrusada (Foragge®) sobre o comportamento ingestivo em ovelhas.

Revisão Bibliográfica

A intensificação dos sistemas de produção vêm crescendo cada vez mais, com o emprego de tecnologias que tornam a atividade zootécnica cada vez mais precisa. O processamento físico de alimentos é um exemplo dessa intensificação, com o objetivo de aprimorar a nutrição dos animais, no que diz respeito ao suprimento de suas exigências nutricionais e facilidade no manejo alimentar. A extrusão é um tipo de processamento físico de alimentos sendo definida como um processo de tratamento térmico dos alimentos do tipo HTST (High Temperature Short Time) que por uma combinação de calor, umidade e trabalho mecânico, modifica profundamente as matérias primas, proporcionando novos formatos e estruturas com diferentes características funcionais e nutricionais (GUERREIRO, 2007). Este processo provoca modificações físicas e químicas nos nutrientes dos alimentos e o cozimento melhora a digestibilidade do produto, devido à desnaturação das proteínas, gelatinização do amido e maior fragmentação da parede celular. Fatores antipalatáveis são destruídos e inibidores de crescimento e enzimas são inativados durante o processo. Para avaliar melhor este tipo de processamento do alimento, o estudo do comportamento ingestivo em ambientes controlados se faz necessário para melhor definir a resposta animal à dieta submetida e a formas de manejo utilizadas com o objetivo de melhorar cada vez mais o desempenho produtivo. De acordo com Van Soest (1994) os fatores que mais afetam o comportamento ingestivo dos animais são: a quantidade de fibra, matéria seca e tamanho de partícula do alimento; digestibilidade dos nutrientes (velocidade de fermentação e colonização bacteriana); e, fatores inerentes aos animais e ambiente. As atividades usualmente avaliadas no comportamento ingestivo de animais confinados são ingestão (seja de alimento, água, sal mineral ou proteinado), ruminação e ócio. A partir destas variáveis é possível avaliar a qualidade do alimento, eficiência do manejo e condições ambientais que o animal está submetido.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, nos meses de junho e julho de 2016. Foram utilizadas 18 ovelhas da raça Santa Inês adultas, não gestantes, com idade superior a três anos. As mesmas foram alocadas em gaiolas metabólicas em galpão coberto com telha de barro. Os animais receberam duas dietas distintas (Tabela 1) compostas por dois tipos de volumoso: silagem de milho e Foragge® composta da parte aérea da planta da cana de açúcar extrusada, recebendo adição de amido, ureia e minerais. As sobras foram mensuradas e, sempre que os valores eram iguais a zero, aumentou-se a quantidade fornecida em 10% até atingir sobra equivalente a 10% do ofertado. O cálculo de CMS (consumo de matéria seca) dos alimentos foi obtido por meio da diferença do ofertado em relação às sobras, que foram secas em estufa a 55° e depois a 105° para obter a matéria seca. Para a mensuração do comportamento ingestivo, os animais foram submetidos à observação visual por pessoas treinadas, em sistema de revezamento, dispostas de maneira a não incomodar os animais, por vinte e quatro horas, no último dia de cada fase de digestibilidade. No período noturno, o ambiente recebeu iluminação artificial, e as luzes foram mantidas acesas durante cinco dias antes da avaliação para promover a adaptação dos animais. Foram verificados, a cada cinco minutos, se os animais estavam realizando ingestão do alimento e de água (ING), ruminação (RUM) ou ócio (ÓCIO), de acordo com a metodologia proposta por Fischer et al. (1998). Os cálculos das atividades foram feitos em minutos por dia, admitindo que, nos cinco minutos subsequentes a cada observação, o animal permaneceu na mesma atividade. Já o tempo total gasto em mastigação (MAST) foi determinado somando-se os tempos gastos em ingestão (ING) e ruminação (RUM). Utilizou-se o delineamento ao acaso, com dois tratamentos e nove repetições. As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% significância.

Resultados e Discussão

Os animais alimentados com Foragge® tiveram menor tempo de ruminação e mastigação total e, consequentemente, maior tempo em ócio quando comparada aos animais que receberam silagem de milho como volumoso (Tabela 2). Sabemos que a extrusão diminui o tamanho da partícula de fibra, sendo que essa redução tem dois efeitos, primeiramente decresce a mastigação, diminuindo sua efetividade em manter o pH ruminal, e em segundo lugar, eleva o potencial de consumo destes alimentos já que o volume ocupado pelo alimento moído será menor que aquele do alimento não processado, aumentando assim o consumo (Zanine e Júnior, 2006). No presente estudo, ao diminuir o tamanho de partícula do volumoso através do processo de extrusão os animais reduziram o tempo gasto em ruminação e mastigação, o que pode reduzir a produção de saliva e pode vir a acarretar problemas de acidose em animais, entretanto nenhum dos animais deste estudo foi diagnosticado com acidose ruminal clínica ou subclínica. Vale ressaltar também que o comportamento ingestivo dos animais recebendo o Foragge®, que é uma ração na forma extrusada, tem seu tempo bastante reduzido em relação aos animais consumindo silagem de milho. Araújo et al. (2012) trabalhando com ovinos machos inteiros, alojados em baias individuais e alimentados com feno de capim Tifton-85 e suplementação mineral, observou tempos de ingestão, ruminação e ócio de 560,00; 553,30 e 326,67 minutos, respectivamente, semelhante ao comportamento encontrado para o tratamento com silagem de milho neste estudo. Pode-se inferir que a maior digestibilidade e fermentabilidade dos nutrientes (proteínas, carboidratos e fibra) presentes no Foragge® junto com a facilidade de apreensão do mesmo, reduzem os tempos de ingestão e ruminação (uma vez que a maior digestibilidade dos nutrientes proporciona maior taxa de passagem do alimento no rumen) e consequentemente aumentando o tempo de ócio dos animais. Os animais alimentados com Foragge® tiveram maior CMS em relação à ruminação e mastigação total. Segundo Van Soest (1994), o tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor da parede celular dos volumosos. Alimentos concentrados e volumosos finamente triturados, peletizados ou extrusados reduzem o tempo de ruminação, enquanto volumosos com alto teor de parede celular tendem a elevar o tempo de ruminação e, o aumento do consumo de matéria seca tende a reduzir o tempo de ruminação por grama de alimento. Dessa forma, mostra que a eficiência de ruminação e mastigação é maior quando o animal ingere o volumoso extrusado. Porém isso não é necessariamente vantajoso, já que a baixa ruminação pode trazer consequências deletérias à fisiologia do ambiente ruminal.

Conclusões

Ovelhas adultas alimentadas com fibra de cana extrusada reduzem o tempo em ruminação e mastigação total. Mais estudos necessitam ser feitos para avaliar adequadamente se isso se constitui como um problema ou uma vantagem em maiores períodos de alimentação.

Gráficos e Tabelas




Referências

ARAÚJO, L. M.; ALVES, D. D.; PORTO, E. M. V.; SOARES, F. D. S.; SIMÕES, D. A.; SILVA, M. V. L.; SILVA, M. F.; DAVID, A. M. S. S. Desempenho produtivo e comportamento ingestivo de ovinos submetidos a diferentes estratégias de suplementação. Revista Acadêmica: Ciências Agrárias e Ambientais, Curitiba, v. 10, n. 2, p. 137-146, 2012. FISCHER, V.; DESWYSEN, A. G.; DÈSPRES, L.; DUTILLEUL, P.; LOBATO, J. F. P. Padrões nectemerais do comportamento ingestivo de ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 27, n. 2, p. 362-369, 1998. GUERREIRO, L. Produtos extrusados para consumo humano, animal e industrial. Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro – REDETEC, 2007. 24 p. Disponível em: <http://sbrt.ibict.br/dossie-tecnico/downloadsDT/MTcy>. Acesso em: 21 abr. 2016. SWENSON, M.J. Dukes Fisiologia dos Animais Domésticos. Ed. Guanabara Koogan S. A. Rio de Janeiro. 799p, 1988. VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2 ed. Ithaca: Cornell University Press, 1994. 476 p. WHITLOCK, L. A.; SCHINGOETHE, D. J.; HIPPEN, A. R.; KALSCHEUR, K. F.; BAER, R. J.; RAMASWAMY, N.; KASPERSON, K. M. Fish oil and extruded soilbeans fed in combination increase conjugated linoleic acidsin milk of dairy cows more than when fed separately. Journal of Dairy Science, v. 85, p. 234-243, 2002. ZANINE, A. M. & JÚNIOR, G. D. L. M. Importância do consumo da fibra para nutrição de ruminantes. REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria, 7(4), 1-11, 2006.