Utilização de plantas medicinais como tratamento alternativo em patologias animais pela comunidade rural do Bacuri no município de São Raimundo das Mangabeiras – MA

Andréia Freitas de Oliveira1, Cassiano Ricardo Gomes da Silva2, Candida Aparecida de Sousa Ciriaco3, Irenir Pereira Privado4, Suelma Francisca Feitoza Sousa5, Waliston Gabriel Assis6, Ranjef Carneiro Araújo7
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RESUMO -

O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo a respeito do uso de plantas medicinais para o controle de enfermidades de animais na comunidade rural do Bacuri do município de São Raimundo das Mangabeiras/MA. Para a coleta de informações, foram feitas entrevistas semiestruturadas com 48 moradores da comunidade. Os entrevistados citaram 47 espécies para uso medicinal e foram evidenciadas 23 indicações gerais, sendo antihelmíntico, tratamento de coriza infecciosa em aves, cicatrização de feridas, diarréia e repelente contra ectoparasitas de aves as principais indicações terapêuticas. Conhecer o uso tradicional de plantas medicinais pode fornecer pistas importantes de plantas com compostos bioativos, permitindo o aumento do conhecimento científico a respeito destas espécies, e conseqüentemente a validação de seu uso medicinal.

Palavras-chave: fitoterapia, plantas medicinais, veterinária, sanidade animal

Use of medicinal plants as alternative treatment of medical conditions in animals in Bacuri rural community, São Raimundo das Mangabeiras county, Maranhão state.

ABSTRACT - The present work aimed to conduct a study on the use of medicinal plants for treatment of medical conditions in animals in the rural community Bacuri, São Raimundo das Mangabeiras county, in order to know the medicinal plants used by it as well as register their particulars. To collect information, semi-structured interviews were conducted with 48 community residents. The interviewees mentioned 47 species of medicinal plants and 23 general indications have been evidenced, being anthelmintic, treatment of infectious coryza in birds, wound healing, diarrhea and repellent against ectoparasites of birds the main therapeutic indications. Knowing the traditional use of medicinal plants may provide important clues for plants with bioactive compounds, allowing the increase of scientific knowledge about these species, and consequently validate your medical employment.
Keywords: phytotherapy, medicinal plants, veterinary, animal health


Introdução

A percepção sobre o poder curativo de algumas plantas é uma das formas de relação entre comunidades e plantas, sendo as práticas relacionadas ao uso tradicional de plantas medicinais o que muitas populações possuem como alternativa para a manutenção da saúde ou o tratamento de doenças (GIRALDI;HANAZAKI, 2010). Quanto ao uso de plantas medicinais para o tratamento dos animais, a procura vem aumentando gradativamente, principalmente devido a pressão do consumidor, que cada vez mais anseia por mercadorias produzidas de forma ecologicamente correta. Portanto, a fitoterapia pode representar uma alternativa ecologicamente viável, contribuindo inclusive para o aumento da lucratividade pecuária, uma vez que reduz o uso de medicamentos convencionais (VIEIRA, 1999). O conhecimento veterinário tradicional começou a ser valorizado em diversas partes do mundo, seja porque é reconhecido como uma importante fonte de descoberta de substancias para a medicina alopática, seja pelo fato de constituir uma alternativa mais viável e acessível para comunidades rurais dispersas e pobres, ou ainda pela questão da importância da documentação do conhecimento tradicional antes que o mesmo seja erodido pela tendência de globalização contemporânea. O objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento das plantas medicinais conhecidas e utilizadas por uma comunidade rural do município de São Raimundo das Mangabeiras, MA.

Revisão Bibliográfica

Desde a antiguidade, as plantas são utilizadas pelo homem que aprendeu com os animais a distinguir as plantas comestíveis daquelas que podiam ajudá-lo a sanar suas enfermidades (BENDAZZOLI, 2002; YWATA et al., 2005). Neste sentido, a origem do conhecimento do homem sobre as propriedades medicinais das plantas confunde-se com sua própria história (NOVAIS et al., 2003). Atualmente, momentos de grandes transformações e mudanças de paradigmas vem ocorrendo e as novas tendências globais de uma preocupação com a biodiversidade e as idéias de desenvolvimento sustentável, aliados à ineficiência de alguns produtos sintéticos, ao alto custo dos medicamentos alopáticos e à busca da população por tratamentos menos agressivos ao organismo e meio ambiente, trouxeram novos ares ao estudo das plantas brasileiras. Novas linhas de pesquisas foram estabelecidas em universidades brasileiras, algumas delas buscando bases sólidas para a validação do uso de plantas (RIBEIRO et al., 2005). As plantas com fins medicinais são ainda muito usadas pelos criadores, como tratamento alternativo ou complementar na veterinária, empregando-se tanto vegetais frescos, extratos vegetais e produtos naturais (SIMONI, 2011). A terapia com plantas se reveste de especial importância para os agricultores familiares, de subsistência e para comunidades isoladas, devido a fatores como incremento dos custos com serviços veterinários, dificuldade em adquirir fármacos sintéticos e a crescente demanda por alimentos orgânicos (CÁRCERES et al., 2004; DOMINGO, 2005). Portanto, o uso de produtos naturais é uma alternativa para o controle das nematodeoses gastrintestinais (ATHANASIADOU et al., 2007), pois pode reduzir os custos dos tratamentos e prolongar a vida útil dos produtos sintéticos disponíveis no mercado (KRYCHAK-FURTADO, 2006). Além disso, a utilização de plantas traz benefícios ao meio ambiente, pois são biodegradáveis e se  apresentam como suprimento auto-sustentável (HAMMOND et al., 1997).

Materiais e Métodos

A coleta de dados foi realizada na Comunidade Rural Bacuri, assentamento federal localizado no município de São Raimundo das Mangabeiras, Estado do Maranhão, onde atualmente moram 62 famílias. Com o objetivo de obter informações abordando variáveis econômicas e sociais de cada entrevistado, utilizou-se o modelo de entrevista estruturada com a elaboração de um roteiro com perguntas fechadas e diretas, abordando-se dados referentes às características pessoais como sexo, idade, escolaridade, tempo de residência no distrito e a utilização das plantas como remédio. Na busca de dados sobre o uso dos vegetais utilizados como remédio foi elaborado outro roteiro estruturado para a catalogação das plantas medicinais usadas pelos informantes, contendo questões diretas, abertas e fechadas, na qual os entrevistados pudessem relatar os seus conhecimentos empíricos sobre o uso das plantas medicinais encontradas na região. Com o auxílio desse roteiro, foi possível obter informações quanto à origem dos vegetais (nativas da região ou cultivadas), nome vulgar da planta, para que tipo de enfermidade é usado, em qual animal é utilizada, a parte da planta utilizada, a freqüência de uso e a forma de utilização (infusão, decocção, maceração, xarope e como utiliza; na forma de banhos, cataplasma, compressa, inalação, gargarejo, emplasto, massagem ou para beber). As informações coletadas em cada questionário foram tabuladas e apresentadas em percentagem através do uso do software Excel.

Resultados e Discussão

Foram entrevistadas 48 pessoas, sendo 61,4% do total do sexo feminino e 38,6% do sexo masculino, com. faixa etária entre 24 e 78 anos. Entre os entrevistados que utilizam plantas, a maioria (35 = 92,1%) relatou que adquiriu através de familiares (pais e avós) e idosos. Este fato já era esperado visto que, a transmissão oral é o principal modo pelo qual o conhecimento é transmitido. As disseminações do conhecimento de plantas medicinais na comunidade são devido a necessidade e dificuldade de encontrar remédios. Os moradores relataram que vivem sem recursos médico-veterinários suficientes para atenderem suas necessidades. Dos entrevistados que utilizam plantas, 92% (n =35) citam a preferência pelo seu uso por acreditarem que as mesmas não fazem mal à saúde. Contudo, é de grande importância educar a população, conscientizando-a sobre o uso adequado das plantas e medicamentos ditos naturais, já que o uso inadequado de plantas dita medicinais, pode trazer uma série de efeitos colaterais. Foram citadas 47 espécies, distribuídas em 45 gêneros e 26 famílias, sendo as famílias Fabaceae, Anacardiaceae e Malvaceae, com maiores números de representantes. As espécies mais citadas foram Bowdichia vigilioides H. B. e K (sucupira), Anadenanthera falcata Benth (angico), Cedrela odorata L. (cedro), Dimorphandra gardneriana Tul. (fava-danta), Caryocar brasiliensis Camb. (pequi), Myracrodruom urundeuva Fr. Al (aroeira). Vinte e três doenças foram citadas como tratadas por meios etnoveterinários. Antihelmíntico (17 espécies), tratamento de coriza infecciosa em aves (12 espécies) e  cicatrização de feridas (10 espécies) foram as principais indicações terapêuticas. As partes das plantas mais utilizadas na preparação de medicamentos etnoveterinários foram as cascas (40%), as folhas (31%), as frutas (9%), as plantas inteiras (9%), as sementes (6%) e as raízes (4,5% ). As cascas tendem a ser bastante procuradas por estarem disponíveis tanto no período chuvoso como no seco. Já a elevada utilização de folhas é interessante, pois quando se trata de espécies nativas a retirada de folhas representa menor risco para a planta, tendo implicações na conservação de germoplasma (PAULINO et al, 2011). A maioria das preparações (95,6%) utilizou apenas uma única planta, mas em 4,1% dos casos, várias plantas medicinais diferentes foram utilizadas para preparação. As doses não foram padronizadas e a duração do tratamento foi o período de tempo até que os entrevistados observassem melhora do animal. O método mais utilizado foi a maceração (27%), seguida de infusão de água (24%), emplastro (12%) e chá (8%); A administração oral foi relatada como o método principal de administração, e os banhos e emplastros são os métodos principais de administração tópica. Dados como estes, vale salientar, com relação ao uso medicinal das espécies em questão, não significam sua utilização efetiva, mas o seu conhecimento sobre o uso de forma empírica (SILVA, 2012).

Conclusões

Toda a comunidade possui o conhecimento de plantas do cerrado que são usadas para curar doenças em animais e estes dados podem vir a contribuir com outras pesquisas futuras no meio acadêmico, tanto para preservar o conhecimento tradicional, bem como para o desenvolvimento de fármacos e nutracêuticos com base em plantas.


Referências

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