ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DO ESTRESSE TÉRMICO EM FRANGOS DE CORTE
Max José de Araujo Faria Junior1, Patrícia Martiniano de Oliveira2, Manoel Garcia Neto3, Marcos Franke Pinto4
1 - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
2 - Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
3 - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
4 - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
2 - Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
3 - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
4 - Faculdade de Medicina Veterinária/UNESP - Câmpus de Araçatuba
RESUMO -
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o termocondicionamento precoce e do uso do equilíbrio eletrolítico na formulação de ração em frangos de corte submetidos a estresse térmico. O termocondicionamento ocorreu no 5º dia de idade, em metade do lote. Posteriormente, as aves foram transferidas para um galpão climatizado, onde receberam ração convencional ou com balanço eletrolítico ajustado em 350mEq/kg e relação eletrolítica de 3:1. As aves sofreram estresse térmico do 35º ao 39º dia de idade. Não houve interação entre o termocondicionamento e o uso do equilíbrio eletrolítico. O termocondicionamento afetou somente o peso do coração das aves, enquanto o uso do equilíbrio eletrolítico influenciou o ganho de peso (até o 35° dia) e a conversão alimentar (até o 42° dia), além do peso médio de aves (35° dia) e peso médio do coração. O termocondicionamento e o uso do equilíbrio eletrolítico mostraram-se ineficazes para amenizar os efeitos do estresse calórico crônico em frangos de corte.
Palavras-chave: frangos de corte, eletrólitos, equilíbrio ácido-base, termocondicionamento precoce, estresse térmico
STRATEGIES FOR MINIMIZING THE EFFECTS OF HEAT STRESS ON BROILER CHICKENS
ABSTRACT - The objective of the present work was to evaluate the early thermoconditioning and the use of the electrolytic equilibrium in the feed formulation for broilers subjected to thermal stress. The thermoconditioning occurred on the 5th day of age, in half of the lot. Then, the birds were transferred to a climate controlled shed, where they received conventional ration or one with electrolytic balance of 350mEq/kg and electrolytic ratio of 3:1. The birds suffered thermal stress from the 35th to the 39th day of age. There was no interaction between the thermoconditioning and the use of electrolytic equilibrium ration. Thermoconditioning affected only the heart weight, while the use of electrolytic balance influenced weight gain (up to 35 ° day) and feed conversion (up to 42 ° day), as well as the average weight of birds (35 ° Day) and mean heart weight. Thermoconditioning and the use of electrolytic equilibrium were ineffective in mitigating the effects of thermal stress in broiler chickens.Keywords: chickens, electrolytes, acid-base equilibrium, early thermal conditioning, heat stress
Introdução
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne de frango, produzindo 13,1 milhões de toneladas (ABPA, 2016). Porém, a produção brasileira de frangos de corte tem encontrado, nas condições climáticas adversas, dependendo da época do ano e da localização geográfica, um de seus principais obstáculos, uma vez que as altas temperaturas e elevada umidade relativa se constituem em desafios constantes ao bom desempenho zootécnico de frangos de corte. Neste sentido, o termocondicionamento precoce pode se constituir em ferramenta de manejo para se obter maior tolerância ao calor, por criar uma espécie de “memória fisiológica”, pela exposição das aves ao estresse calórico, por 24 horas, na primeira semana de vida, enquanto a formulação de rações, baseada nos conceitos de balanço eletrolítico e relação eletrolítica da dieta, objetiva a manutenção do equilíbrio ácido-base das aves, corrigindo distorções metabólicas decorrentes do estresse calórico. O presente experimento teve como finalidade avaliar as possíveis interações entre o termocondicionamento precoce, ao quinto dia de idade, e o equilíbrio eletrolítico da dieta, com base em modificações no balanço eletrolítico (BE= Na+ + K+ - Cl-) e na relação eletrolítica [RE= (K+ + Cl-)/Na+], sobre o desempenho e as características de carcaça dos frangos de corte submetidos ao estresse calórico crônico.Revisão Bibliográfica
A técnica do termocondicionamento precoce consiste em uma única exposição das aves a temperaturas entre 35 e 38°C, durante 24 horas na primeira semana de vida, geralmente, empregado no 5° dia de vida (BASILIO et al., 2001; YAHAV; HURWITZ, 1996). Trata-se de uma adaptação epigenética, pois envolve mudanças orgânicas a fim de preparar o organismo a um ambiente futuro (NICHELMANN; TZSCHENTKE, 2002). Sua aplicação melhora a produtividade e reduz a mortalidade de aves, quando expostas a condições de estresse calórico (YAVAH; McMURTRY, 2001; EL-MONIARY et al., 2010; MARANDURE et al.; 2011; HASSAN; REDDY, 2012). Também, o manejo nutricional tem sido empregado, juntamente com técnicas de manejo ambiental, como medida preventiva para os efeitos danosos decorrentes do estresse calórico A formulação de rações baseada no conceito de balanço eletrolítico da dieta contribui na manutenção do equilíbrio ácido-base, pois minimiza a predisposição das aves à alcalose respiratória, em consequência do estresse calórico (TEETER et al., 1985). As aves necessitam de quantidades mínimas de Na+, K+ e Cl- na alimentação para que suas necessidades nutricionais sejam satisfeitas (BORGES et al., 2003). Definido pela diferença entre os principais cátions e ânions, o balanço eletrolítico pode ser calculado em miliequivalente (mEq) por kg de ração, através da quantificação dos principais íons envolvidos nos processos metabólicos: Na+, K+ e Cl- (Navarini, 2009). Mongin e Sauveur (1977), citados por Navarini (2009), sugeriram uma equação simplificada, subtraindo-se a quantidade de Cl- da quantidade total de cátions (Na+ + K+) da dieta. Todavia, segundo Mongin (1981), é imprescindível que a proporção entre estes íons seja adequada, para que se mantenha o equilíbrio ácido-base e se obtenha o máximo desempenho das aves, recomendando para que a formulação da dieta atenda, não apenas, ao balanço eletrolítico, pela diferença [Na+] + [K+ – [Cl-], mas também, quanto à relação eletrolítica ([K+ + Cl-]/Na+), dentro do conceito de equilíbrio eletrolítico.Materiais e Métodos
O experimento foi realizado na Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba/Unesp. Estudaram-se duas dietas (convencional e formulada com base no equilíbrio eletrolítico), associadas, ou não, ao termocondicionamento precoce, para minimizar o estresse térmico em frangos de corte. Na dieta com equilíbrio eletrolítico, estabeleceu-se balanço eletrolítico (BE= Na+ + K+ - Cl-) ajustado em 350mEq/kg e relação eletrolítica [RE= (K+ + Cl-)/Na+] em 3:1. O termocondicionamento foi aplicado à metade do lote de aves, submetendo-se pintainhos, no quinto dia de idade, à temperatura de 36°C, durante 24 horas. Foram utilizados 240 pintos machos, de um dia de idade, da linhagem Cobb-500®, durante 42 dias, no delineamento inteiramente ao acaso, em fatorial 2x2, com 4 tratamentos, 6 repetições e 10 aves por parcela. As rações foram formuladas seguindo-se as recomendações de Rostagno et al. (2011). O ajuste eletrolítico foi calculado por meio do Programa PPFR para frangos de corte (GARCIA-NETO, 2011). Na fase de terminação (do 35º ao 39º dia), todas as aves foram submetidas a um estresse térmico, durante seis horas por dia (das 10h às 16h), a 31°C. A temperatura superficial das aves foi aferida na face medial da asa de três aves por parcela, com um termômetro infravermelho, durante o primeiro, o terceiro e o último dia do estresse calórico. Foram determinadas as condições microclimáticas próximas às aves, com registros de temperatura e umidade relativa do ar e temperatura de globo negro. Avaliaram-se o ganho de peso corporal, o consumo de ração, o índice de conversão alimentar, o peso de aves e a taxa de mortalidade. Foram determinados, também, o rendimento de carcaça e os pesos da gordura cavitária, do coração e do fígado. Os resultados de desempenho e da avaliação de composição corporal foram submetidos à análise de variância, e as médias foram comparadas utilizando-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade.Resultados e Discussão
Durante o termocondicionamento (5º dia), os valores médios da temperatura do ar e de globo negro foram respectivamente de 35,5°C e 36,0°C, com umidade relativa média de 54,4%. Do 35° ao 39° dia, durante o estresse térmico (10h às 16h), as temperaturas do ar e de globo foram, em média, de 30,6°C, com umidade relativa de 54,2%. Não foram detectadas diferenças significativas na temperatura superficial das aves (P>0,05), durante o estresse térmico. Não foram observadas interações significativas entre as dietas e o termocondicionamento, porém, a adição de eletrólitos à dieta contribuiu para que, durante os primeiros 35 dias de idade, as aves apresentassem ganho de peso médio significativamente maior, o que não se confirmou ao final do período de 42 dias, após o estresse térmico (Tabela 1). Entretanto, a utilização desta mesma ração permitiu índices de conversão alimentar significativamente melhores, durante todo o período do ensaio (Tabela 1). Por sua vez, não houve efeito significativo do termocondicionamento precoce sobre o ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar, em nenhum dos períodos estudados (Tabela 1). A utilização da ração balanceada no conceito de equilíbrio eletrolítico possibilitou a obtenção de aves significativamente mais pesadas ao 35° dia, porém, após o período de estresse térmico, as diferenças desapareceram. O condicionamento térmico precoce das aves não influenciou o peso médio das aves (Tabela 2). A dieta com equilíbrio eletrolítico não reduziu significativamente a mortalidade das aves (Tabela 2). Esse resultado contrariou o que era esperado, afinal os eletrólitos exercem influência no equilíbrio ácido-base e, diante da exposição das aves às altas temperaturas, tais componentes adicionados à ração preveniriam a ocorrência do desequilíbrio eletrolítico, contribuindo para sua sobrevivência, uma vez que os transtornos metabólicos, tão comuns em situações de estresse calórico, seriam evitados. Também, o termocondicionamento precoce não interferiu na taxa de mortalidade de aves, resultado divergente daquele relatado por Arjona et al.(1990). O emprego do equilíbrio eletrolítico na ração e o termocondicionamento precoce não apresentaram efeitos significativos sobre o rendimento médio de carcaça, peso médio de gordura cavitária e peso médio do fígado, entretanto, quando adotados, diminuíram significativamente tamanho do coração das aves (Tabela 3). Resultados convergentes foram obtidos por Yahav e Hurwitz (1996), que relataram que aves termocondicionadas apresentaram menor massa cardíaca, todavia, distinto daqueles observados por El-Moniary et al. (2010), constataram diferenças significativas no peso médio do fígado, entre grupos de aves que sofreram o termocondicionamento e aquelas que não receberam o tratamento.Conclusões
A aplicação de estratégias como o termocondicionamento precoce e equilíbrio eletrolítico, utilizadas neste experimento para minimizar os efeitos de um ambiente térmico adverso, mostraram-se ineficazes para amenizar os efeitos do estresse calórico crônico em frangos de corte.Gráficos e Tabelas
