Inclusão de farelo de algodão em dietas de frangos de corte de um a 21 dias de idade

Adiel Vieira de Lima1, Luiz Carlos de Araújo Viana2, Fabrícia Vieira da Silva3, Maria do Socorro de Lima4, Teófilo Izídio de Morais Severo5, Leandro Emanoel Mira de Souza6, Marco Aurélio Carneiro de Holanda7, Mônica Calixto Ribeiro de Holanda8
1 - UFRPE-UAST, discente do curso de Zootecnia
2 - UFRPE-UAST, discente do curso de Zootecnia
3 - UFRPE-UAST, discente do curso de Zootecnia
4 - UFRPE-UAST, discente do curso de Zootecnia
5 - UFRPE-UAST, discente do curso de Zootecnia
6 - UFRPE-UAST, discente do curso de Zootecnia
7 - UFRPE/UAST, docente do curso de Zootecnia, orientador
8 - UFRPE/UAST, docente do curso de Zootecnia

RESUMO -

Teve-se por objetivo avaliar a inclusão do farelo de algodão (Gossipyum sp) em dietas para frango de corte de um a 21 dias de idade. Foram utilizados 300 pintos da linhagem Coob, com um dia de idade e peso inicial médio de 55 g, em um delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e quatro repetições totalizando 20 unidades experimentais com 15 aves cada. Os tratamentos foram constituídos de uma ração referência à base de milho e farelo de soja e quatro rações experimentais com 3,0; 6,0; 9,0 e 12,0% de farelo de algodão. As variáveis avaliadas durante o período experimental de 21 dias foram consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar, mensuradas semanalmente. Para as análises estatísticas utilizou-se de análise de variância e regressão, e os testes F e Tukey com nível de significância a 5% de probabilidade, com o uso do pacote computacional Assistat (2012). Conclui-se que a inclusão do farelo de algodão em até 12,0% não afeta o desempenho zootécnico das aves.

Palavras-chave: alimento alternativo, aves de corte, composição nutricional, desempenho zootécnico

Inclusion of cottonseed meal in broiler diets from one to 21 days of age

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the inclusion of cottonseed meal (Gossipyum sp) in diets for broiler chickens from one to 21 days of age. A total of 300 chicks of the Coob line, with one day of age and average initial weight of 55 g, were used in a completely randomized design with five treatments and four replications totaling 20 experimental units with 15 birds each. The treatments were composed of a reference ration based on corn and soybean meal and four experimental rations with 3.0; 6.0; 9.0 and 12.0% cotton meal. The variables evaluated during the 21 - day experimental period were dietary intake, weight gain and feed conversion, measured weekly. For the statistical analyzes, we used the analysis of variance and regression, and the F and Tukey tests with significance level at 5% of probability, using the Assistat (2012) computational package. It is concluded that the inclusion of cottonseed in up to 12.0% does not affect the zootechnical performance of the birds.
Keywords: alternative food, cutting birds, nutritional composition, zootechnical performance


Introdução

A Avicultura no Brasil participa economicamente no Produto Interno Bruto, tanto na produção de carne e ovos, como em outras fontes de alimento. No Brasil, as rações para aves são comportas basicamente de milho e farelo de soja, podendo representar até 90% das dietas e, aproximadamente, 80% do custo totalde produção. Além disso, estes dois ingredientes não são produzidos em todas as regiões do país e, portanto, estão sujeitos a variação de preço durante o decorrer do ano, o que acaba se tornando um ponto negativo para os avicultores, principalmente aqueles localizados em áreas que tradicionalmente não produzem estes grãos em grande escala, tal como no Nordeste. Desta forma, tornam-seimportantes estudos que avaliem a inclusão de alimentos alternativos em dietas na Avicultura, e possibilitem a viabilidade da utilização de subprodutos e seu efeito sobre o desempenho econômico e zootécnico das aves, visto que muitos desses alimentos apresentam boa palatabilidade e aceitabilidade por parte dos animais. Com as incessantes buscas por alimentos alternativos que substituam parte do farelo de soja, tidocomo componente mais caro das dietas, o farelo de algodão vem se mostrando como alternativa interessante devido aseus altos teores de proteína a depender da quantidade de casca presente no farelo, além da disponibilidade e facilidade aquisição. Assim, objetivou-se avaliar a inclusão do farelo de algodão em dietas para frango de corte de oito a 21 dias de idade no Semiárido pernambucano.

Revisão Bibliográfica

O constante aumento da produção de frangos de corte, com a consequente expansão da indústria de rações, tem gerado demandas por pesquisas de novas fontes alimentares, principalmente energéticas e proteicas (PIMENTEL et al., 2007). Diante disso, torna-se necessária a busca por alimentos alternativos para suprir as necessidades das aves, com baixos custos de produção e altos níveis de desempenho zootécnico. De acordo com Brumano et al. (2006) o farelo de algodão é um alimento fibroso e o trato digestório das aves, principalmente as mais jovens, apresentam menor capacidade de digestão da fibra dietética, pois não possuem o sistema digestivo plenamente desenvolvido, além do trato digestivo não possuir enzimas capazes de digerir a fibra da dieta, afetando a taxa de passagem do alimento no trato gastrointestinal, prejudicando, assim, a digestibilidade dos demais alimentos contidos na dieta disponibilizando uma menor quantidade de nutrientes para absorção. Holanda (2011) reforça que o trato digestório dos animais alimentados com dietas contendo elevados teores de fibra sofre comprometimento quanto à digestão e absorção dos nutrientes o que repercute negativamente sobre o desempenho animal. Devido o farelo de algodão ter nível considerável de fibra, e a mesma ser diluidora da energia, é necessária a adição de gordura com finalidade de elevar o valor energético da ração para atender as exigências nutricionais das aves. Neste sentido, Santos et al. (2009) expõem que há melhorias na palatabilidade e facilidade na digestão e absorção de constituintes não lipídicos dos ingredientes quando da adição de óleos e gorduras nas rações de aves, além de proporcionar um incremento de energia às dietas. O farelo de algodão (30%) mostra-se como alimento alternativo interessante, pois segundo Rostagno et al. (2011), este ingrediente possui em sua composição 29,98% de proteína bruta e o farelo de algodão (39%), apresenta 39,21% de proteína bruta. Alguns trabalhos científicos sugerem a utilização de farelo de algodão como alimento alternativo na dieta de frangos de corte em substituição ao farelo de soja. Carvalho (2010), Diaw et al. (2010) e Pimentel et al. (2007) propuseram a substituição ao farelo de soja pelo de algodão nos níveis de até 12,0, 18,75, 19,41%, respectivamente, em dietas para frangos de corte sem observar efeitos negativos sobre o desempenho zootécnico, demonstrando o potencial uso deste ingrediente como forma de reduzir os custos com alimentação.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no aviário experimental da Estação de Agricultura Irrigada de Parnamirim pertencente a UFRPE/UAST, no município de Parnamirim-PE, com latitude de 08º 05’ 26” S e longitude de 39º 34' 42" W, com clima Semiárido BSh segundo classificação de Köopen, de 30 de agosto a 21 de setembro de 2016. Foram utilizados 300 pintos da linhagem Coob, com um dia de idade e peso inicial médio de 55 g, vacinados contra as doenças Marek, Newcastle e Gumboro. As aves foram alojadas em galpão de alvenaria medindo 5,6 x 11,0 m e altura de pé direto de 2,3 m, cobertura em telha de cerâmica, orientação Leste-Oeste, laterais vazadas e teladas. Na fase inicial todas as laterais possuíam cortinas de lona, para manter o controle da temperatura interna e evitar correntes de ar do galpão favorecendo o desenvolvimento dos pintos. O piso em alvenaria foi recoberto com uma camada de 5 cm de casca de arroz. Internamente o galpão experimental foi divido em parcelas de 2,3 m2, delimitadas por uma estrutura de madeira e tela. Foram utilizados comedouro do tipo tubular com capacidade de 10 kg e bebedouros tubulares para atender 15 aves. Disponibilizou-se água limpa e ração ad libitum durante todo período experimental. O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e quatro repetições, com 15 aves por parcela. Os tratamentos foram: nível de zero (ração referência a base de milho e farelo de soja), 3; 6; 9 e 12% de substituição do farelo de soja pelo farelo algodão. O farelo de algodão (30%) foi previamente extrusado e adicionado sulfato ferroso na proporção de cinco para um. As variáveis analisadas foram consumo de ração, ganho de peso, e conversão alimentar a partir do oitavo dia de idade das aves até o 21° dia enquanto durou o período experimental. As análises estatísticas foram realizadas por análise de variância e regressão, utilizando os testes F e Tukey com nível de significância (p < 0,05), usando o Assistat (SILVA, 2012).

Resultados e Discussão

Os dados de ganho de peso (GP), consumo de ração (CR) e conversão alimentar (CA) de frangos de corte alimentados com farelo de algodão em substituição ao farelo de soja são apresentados na Tabela 1.   Tabela 1. Médias, desvio padrão, coeficiente de variação (CV) e valor da significância a 5% (p), para as variáveis GP, CR e CA de frangos de corte alimentados com dietas contendo farelo de algodão criados no Semiárido pernambucano
Variável

Nível de inclusão (%)

CV (%)

p (p>0,05)

0

3,0 6,0 9,0

12,0

 

1 a 7 dias

   
GP

0,155

0,146 0,143 0,160 0,133 10,2

ns

CR

0,202

0,201 0,214 0,222 0,225 9,5

ns

CA

1,290

1,370 1,450 1,530 1,610 8,7

0,003

 

8 a 14 dias

   
GP

0,331

0,307 0,320 0,315 0,285 6,5

ns

CR

0,897

0,892 0,845 0,888 0,860 5,7 ns
CA

2,722

2,918 2,647 2,824 3,021 6,1

ns

 

15 a 21 dias

   
GP

0,501

0,465 0,499 0,510 0,460 6,2

ns

CR

0,747

0,765 0,838 0,827 0,812 7,5

ns

CA

1,500

1,640 1,710 1,650 1,760 6,9

ns

 

1 a 21 dias - Período total

   
GP

0,987

0,918 0,963 0,986 0,880 6,41

ns

CR

1,640

1,650 1,680 1,710 1,670 5,2

ns

CA

1,660

1,800 1,800 1,750 1,900 4,4

ns

  No período de um a sete dias de idade, não se observou diferença significativa (p>0,05) para ganho de peso e consumo de ração nos níveis de inclusão do farelo de algodão na alimentação de frangos de corte. Resultados semelhantes foram observados por Carvalho (2008) que, trabalhando com frangos de corte utilizando os mesmos níveis de inclusão também não observou diferença significativa entre os tratamentos para os dados de desempenho na fase inicial. Contudo, observou-se diferença significativa (p<0,05) para conversão alimentar, verificando-se piora desse parâmetro com o aumento dos níveis de inclusão do farelo de algodão nas dietas, possivelmente, pelo fato de, quanto maior o nível de inclusão, maior foi a quantidade de fibra adicionada à dieta. Nos períodos de oito a 14, de 15 a 21 e de um a 21 dias (período total) não se verificou diferença significativa (p>0,05) para nenhuma das variáveis estudadas. Estes resultados divergem dos encontrados por Diaw et al. (2010) que observaram melhora no ganho de peso e consumo de ração indicando uma inclusão de 18,75% de farelo de algodão em frangos de corte industriais de um a 45 dias. Entretanto, os dados desta pesquisa corroboram com os de Holanda (2011) que também não encontrou efeitos significativos sobre o desempenho zootécnico e rendimento de carcaça em frangos de corte de crescimento lento, indicando o nível ótimo de 10,67% de inclusão de farelo de algodão nas dietas. Também Pimentel et al. (2007) e Carvalho (2010) ao substituírem o farelo de soja pelo de algodão nos níveis de até 19,41 e 12,0%, respectivamente, em dietas para frangos de corte não observaram efeitos negativos sobre o desempenho zootécnico, demonstrando o potencial uso deste ingrediente como alimento não convencional.

Conclusões

O farelo de algodão pode ser utilizado em rações de frangos de corte de um a 21dia de idade em até 12% de inclusão, sem causar prejuízos ao desempenho zootécnico dos animas, devendo-se, entretanto, fazer uma avaliação econômica para seu uso.


Referências

BRUMANO, G. et al. Composição química e valores de energia metabolizável de alimentos proteicos determinados com frangos de corte em diferentes idades. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 6, p. 2297- 2302, 2006.   CARVALHO, C. B. Avaliação nutricional do farelo de algodão para frangos de corte. 2008. 48f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.   CARVALHO, C. B.; DUTRA JÚNIOR, W. M. et al. Avaliação nutricional do farelo de algodão de alta energia no desempenho produtivo e características de carcaças de frangos de corte, Ciência Rural, v. 40, n. 5, 2010.   DIAW, M. T.; DIENG, A.; MERGEAI, G. et al. Effects of groundnut cake substitution by glandless cottonssef kernels on broilers production: animal performance, nutrient digestibility, carcass characteristics and fatty acid composition of muscle and fat. International Journal of Poultry Sciences, v. 9, n. 5, p. 473-481, 2010. HOLANDA, M. A. C. Utilização do farelo de algodão e do farelo integral de mandioca em dietas de frangos caipiras. Tese (doutorado). Universidade Federal Rural de Pernambuco. Recife-PE. 2011. 115 pp. PIMENTEL, A. C. S., et al. Substituição parcial do milho e farelo de soja por sorgo e farelo de caroço de algodão extrusado em rações de frango de corte. Ciências Animal, Maringá, v. 29, n. 2, p. 135-141, 2007.   ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; et al. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos. Composição dos alimentos e exigências nutricionais. 3. ed. Viçosa: UFV, 2011. 247p.   SANTOS, M. S. V. Desempenho e qualidade dos ovos de poedeiras comerciais submetidas às dietas com diferentes óleos vegetais. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 10, n. 3, p. 654-667, 2009.   SILVA, F. A. S. Assistat - Programa de análises estatísticas, Versão 7.7 beta. Campina Grande: UAEG-CTRN-UFCG, 2012. Disponível em: <http://www.assistat.com/indexp.html >. Acesso em: 02 Mar. 2017.