COMPORTAMENTO DOS TEORES DE MATÉRIA SECA E PROTEINA BRUTA NA ENSILAGEM DE CULTIVARES MILHETO SOB ADUBAÇÃO NITROGENADA

Aldi Fernandes de Souza França1, Nelson Rafael da Silva2, Emmanuel Arnhold3, Daniel Staciarini Correa4, Leonardo Guimarães de Oliveira5, Ludmilla Brunes6, Reginaldo Nassar Ferreira7, Eliana Paula Fernandes Brasil8
1 - Universidade Federal de Goiás
2 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins
3 - Universidade Federal de Goiás
4 - Universidade Federal de Goiás
5 - Universidade Federal de Goiás
6 - Universidade Federal de Goiás
7 - Universidade Federal de Goiás
8 - Universidade Federal de Goiás

RESUMO -

Foram avaliados os teores de matéria seca da matéria original (MSmo) e da silagem (MSs), proteína bruta da matéria original (PBmo) e da silagem (PBs), assim como as densidades de enchimento e de abertura das silagens de três cultivares de milheto forrageiros submetidos a adubação nitrogenada. Os tratamentos foram constituídos por quatro cv de milheto forrageiro (ADR 500, ADR 7020 e LABH 70732) e quatro doses de N (0; 50; 100 e 200 kg.ha-1). Utilizou-se o delineamento de blocos casualizados em esquema fatorial: 3 x 4 com quatro repetições. Não foram observadas interações entre as doses de N e os cultivares avaliados em relação aos teores de MSmo, com variação de 24,50 a 26,65% entre os cultivares. Os valores de MSs diferiram (P<0,05) apenas entre os cultivares, com médias de 24,28 a 26,70%.

Palavras-chave: conservação de forragens, processo fermentativo, matéria original, Pennisetum glaucum, ureia

BEHAVIOR OF DRY MATTERS AND CRUDE PROTEIN IN THE SILAGE OF PEARL MILLET CULTIVARS UNDER NITROGEN FERTILIZATION

ABSTRACT - Were evaluated the dry matter contents of the original matter (MS mo) and silage (MSs), crude protein of the original matter (PBmo) and silage (PBs), as well as the filling and densities of the silages of three cultivars of pearl millet forage submitted to nitrogen fertilization levels. The treatments consisted of three cultivars of peral millet (ADR 500, ADR 7020 and LABH 70732) and four doses of N (0.50, 100 and 200 kg.ha-1). A randomized block design was used in a factorial scheme: 3 x 4 with four replications. No interactions were observed between the N doses and the evaluated cultivars in relation to the DMM contents, with a variation of 24.50 to 26.65% among the cultivars. MS values differed (P <0.05) only among cultivars, with averages of 24.28 to 26.70%.
Keywords: Forage conservation, Fermentative process, Original matter, Pennisetum glaucum, urea


Introdução

A produção de ruminantes no Brasil tem como base os sistemas extensivos ou semi-intensivos, em pastagens naturais ou cultivadas. Nestes sistemas a produtividade animal não pode ser maximizada de acordo com o potencial genético animal, principalmente devido à estacionalidade de produção de forragem, característica dos solos sob Cerrado da região Centro Oeste do Brasil, em função de apresentar duas estações bem definidas: período chuvoso e seco. Isto ocorre em função da diminuição da disponibilidade dos fatores climáticos, tais como: luz, temperatura e umidade. O método possibilita o fornecimento de alimento palatável durante todo o ano, principalmente no período de escassez de forragem. Neste contexto, surge como alternativa o milheto (Pennisetum glaucum L.R. Br), uma forrageira anual de fácil cultivo e apresenta alta resistência ao déficit hídrico e solos ácidos, os quais são limitantes para o cultivo de outras culturas, tais como milho e sorgo. As gramíneas forrageiras tropicais não apresentam adequados teores de matérias seca, carboidratos solúveis e valores de poder tampão que proporcionem eficiente processo fermentativo, levando a perdas decorrentes da fermentação secundária, constituindo entraves na produção de silagens de gramíneas tropicais. Recomenda-se que além do manejo adequado, a planta deverá ser colhida com teor de umidade ideal para ocorrência de melhor compactação possível da massa ensilada e manutenção de nutrientes, bem como o teor de carboidratos solúveis para promover adequada fermentação lática. Neste contexto, objetivou avaliar os parâmetros fermentativos da silagem de três cultivares de milheto ADR 500, ADR 7020 e LABH 70732, submetidos a adubação nitrogenada.

Revisão Bibliográfica

O milheto Pennisetum glaucum (L.) R. Brown pertence à família Poaceae, subfamília Panicoideae, gênero Pennisetum (BRUKEN, 1997). Há várias sinonímias botânicas usadas para esta espécie P. typhoides Stapf e Hubbard, P. americanum (L.) Leeke ou P. glaucum (L.) R. Brown. Originário de regiões de clima tropical semi-árido do continente africano, posteriormente disperso para a Ásia, onde ocorre os mais importantes centro de diversidade genética da espécie (KUMAR & NIOMEY, 1989) A planta possui ciclo vegetativo de aproximadamente 60 a 90 dias nos cultivares precoces e de 100 a 150 dias nos tardios. Condições de temperatura variando de 25 a 35 ºC é o ideal para seu desenvolvimento, considerando que a planta é suscetível a temperaturas abaixo de 10 ºC (GOMES et al., 2008). A planta forrageira pode ser utilizada para pastoreio, fenação, ensilagem e produção de grãos, sendo muito tolerante à seca. Por isso, é uma boa opção para o cultivo em safrinha, na região dos cerrados. Tem-se expandido de forma acelerada devido à sua rusticidade, ao crescimento rápido, à adaptação a solos de baixa fertilidade e à própria capacidade de produção de biomassa. O nitrogênio é o principal nutriente e o mais exigido no processo de produção de massa seca da maioria das plantas forrageiras cultivadas (CARNEIRO et al., 2008). A produção de massa seca do milheto tende a aumentar com acréscimo das doses de nitrogênio (GUIDELI et al., 2000; HERINGER & MOOJEN, 2002). O incremento da produção de massa seca de forragem com a adubação nitrogenada ocorre de forma linear e crescente até certo ponto (SILVA, 2010). A planta forrageira de milheto pode ser utilizada inteira, como alimento para o gado, na forma de capineira, silagem ou pastejo direto, pois produz grande quantidade de folhagem tenra, nutritiva (até 24% de PB e digestibilidade oscilando entre 60 a 78%), além de ser atóxica e de alta aceitabilidade pelos animais (AMARAL et al., 2008). De acordo com PEREIRA FILHO et al. (2005) o nitrogênio exerce influência sobre os teores de proteína bruta e da produção de biomassa verde e variam em função do estágio de desenvolvimento da planta forrageira, sendo que maiores concentrações ocorrem na fase vegetativa da cultura

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado nas dependências do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG - Goiânia Goiás. As adubações de formação realizada em função da análise de terra de acordo com as recomendações de Martha Júnior et al. (2007). As parcelas experimentais foram constituídas por cinco linhas de cinco metros lineares, com espaçamento de 0,30 m entre linhas. Os tratamentos: três cv.de milheto (ADR – 500, ADR – 7020 e LABH 70732) e quatro doses de N(ureia) (0; 50; 100 e 200 kg.ha-1). A semeadura foi realizada adotando-se taxa de 20 sementes puras viáveis (SPV), por metro linear. O corte para a ensilagem foi realizado aos 87 dias após a germinação, manualmente, a 0,15 m do nível do solo, com utilização de tesoura de aço, quando as plantas apresentaram-se entre 26 e 28% de matéria seca (MS), determinados segundo metodologia LACERDA et al. (2009). A forragem foi triturada em partículas de aproximadamente 2,0 cm. Como silos experimentais (unidades experimentais) foram utilizados baldes plásticos com capacidade para 12 kg de forragem (medidas:29 cm de altura x 87,5 cm de diâmetro) garantindo vedação adequada foi utilizado fita adesiva nas tampas. Os silos experimentais foram dotados de válvula tipo “Bunsen”. Decorridos 30 dias da ensilagem, procedeu-se a abertura dos silos experimentais, realizou-se a homogeneização da silagem, retirarando-se o  material deteriorado, retirando uma subamostra de 500 g, e seca em estufa de ventilação forçada à 55ºC, durante 72 h e posteriormente moída em moinho tipo Willey, em peneira de um mm, para as análises laboratoriais (Silva & Queiroz, 2002). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 3x4, com quatro repetições. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade com auxílio do software R (Development Core Team, 2013).

Resultados e Discussão

Não foram verificadas interações significativas (P>0,05) entre os cultivares de milheto e as doses de N em relação aos teores de matéria seca no material original (MSmo), com variação média de 24,50 a 26,65%, assim como  entre os cultivares e as doses de N para matéria seca das silagens (MSs) (Tabela 1), com variação média de 24,28 a 26,70%. Esses teores determinados nos cultivares avaliados encontram-se próximos do limite de 24,4% a 27,7%%, relatado por (FRANÇA et al., 2011), observados no material original e silagens de híbridos de sorgo, respectivamente. Todavia, tais valores se encontram próximos de 25%, como proposto por McDONALD et al. (1991), que sugere silagens com bons padrões de fermentação, quando a matéria original apresentava variação de 20 a 29% de MS, porém, com níveis de carboidratos solúveis adequados. Não foram observadas interações significativas (P>0,05) entre os cultivares de milheto e as doses de N avaliadas pela análise de variância em relação aos teores de proteína bruta no material original (PBmo), com valores  médios de 9,3 a 9,92%, com valor médio de 9,53% (Tabela1). Entretanto, foram observadas interações significativas (P<0,05) entre os cultivares e as doses de N para PB das silagens (PBs), com variação média de 8,28% na dose 100 kg de N.ha-1 para, o cultivar ADR 500 a 11,40%, na dose 200 kg de N.ha-1 para, o cultivar ADR 7020. Contudo não foram verificadas diferenças significativas (P>0,05) entre os teores de proteína bruta da matéria original (PBmo) e a proteína bruta da silagem (PBs), com valor médio de 9,53 e 9,61%, respectivamente, os valores quais se encontram acima do limite de 7,0% que, de acordo com CHURCH (1988) e VAN SOEST (1994), são satisfatórios para fornecer nitrogênio para a adequada fermentação microbiana do rúmen. A similaridade entre os valores médios de PB determinados na matéria original e nas silagens neste trabalho é típico da ausência de proteólise, caracterizando desta fora, a ocorrência de um processo fermentativo adequado, e corroboram as afirmações de VAN SOEST (1994); FRANÇA et al., (2011), de que os teores de PB, praticamente não variam com o processo de ensilagem, muito embora, as frações nitrogenadas possam apresentar alterações em diferentes proporções.

Conclusões

Tomando-se por base os teores de matéria seca e de proteína bruta da matéria determinados nas silagens em relação à matéria original, pode-se inferir que o processo fermentativo se transcorreu de forma perfeitamente adequada. Pode-se concluir que as silagens produzidas apresentam padrão satisfatório para o consumo de ruminantes.

Gráficos e Tabelas




Referências

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