Efeito do método de desaquecimento sobre a recuperação de cavalos submetidos a prova de tambor

Roberta Ariboni Brandi1, Thais Pagotti Mota2, Madalena Lima Menezes3, Júlio Cesar de Carvalho Balieiro4, Felipe Carvalho Dias de Araújo5, Melina Gomes da Cruz6, Graziani Ferrer Correa7, Deise Carla Almeida Leite Dellova8
1 - Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
2 - Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
3 - Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
4 - Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
5 - Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
6 - Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
7 - Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP, Brasil
8 - Departamento de Medicina Veterinária, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP

RESUMO -

Com o objetivo de avaliar o efeito do método de desaquecimento sobre a recuperação de cavalos submetidos a prova de tambor, foram utilizados 10 equinos adultos, da raça Quarto de Milha, treinados. No dia do teste, houve simulação da prova de três tambores e avaliou-se dois métodos de desaquecimento: 5 minutos de trote, seguidos por 5 minutos de passo ou 10 minutos ao passo. A frequência cardíaca (FC) e a concentração sanguínea de glicose e insulina foram mensuradas com o uso de frequencímetro portátil e kits bioquímicos. Foi observado efeito do método de desaquecimento (p0,05). Na coleta de 24 horas após o exercício, observou-se que a concentração sanguínea de lactato dos animais desaquecidos ao trote e passo foi menor. Cavalos desaquecidos a trote e passo apresentam recuperação mais efetiva, com remoção de catabólitos e aumento de glicemia em 24 horas, favorecendo a realização de atividades em dias seguidos.

Palavras-chave: equino, exercício, lactato, glicose, desempenho

Effect of cooldown method on the recovery of three-barrel racing horses

ABSTRACT - To evaluate the effect of the cooldown method on the recovery of horses submitted to the three-barrel racing test, 10 adult Quarter horses were trained. On the test, there was a simulation of the three-racing exercise and two methods of cooldown were evaluated: 5 minutes trotting followed by 5 minutes walking, or only 10 minutes walking. Heart rate (HR) and blood glucose and lactate concentration were measured using a portable frequency meter and biochemical kits. The effect of the cooling down method (p<0.05) on HR was observed, but for glucose and lactate, it was not observed effect (p>0.05). At the collection time of 24 hours after the exercise, it was observed that the blood lactate concentration of horses cooled down through the trotting/walking method was lower. Horses subjected to trotting/walking cooldown present a more effective recovery, with removal of catabolites and increase of glycaemia in 24 hours, favoring the accomplishment of activities in consecutive days.
Keywords: equine, exercise, lactate, glucose, performance


Introdução

A utilização de sistemas de desaquecimento é muito importante para a recuperação do cavalo após provas (BOFFI, 2007; PÖSÖ et al., 2008). Não se tem conhecimento do desaquecimento sobre a recuperação dos animais de tambor. No desaquecimento é muito importante a remoção de catabólitos, como o lactato e para isso o método ativo vem se mostrando mais adequado (HUBBEL et al., 1997; KANG et al., 2012; BUENO el al., 2012). A reciclagem do lactato e conseqüentemente queda da concentração sanguínea, podem garantir o melhor desempenho do cavalo em dias consecutivos de competição. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito do método de desaquecimento sobre a recuperação de cavalos submetidos a prova de tambor.

Revisão Bibliográfica

Atualmente o desaquecimento de cavalos atletas ainda é um tabu na fisiologia do exercício. É de conhecimento prático que os cavalos desaquecidos tem recuperação mais rápida, mas são escassos os autores que se aprofundam no tema (BOFFI, 2007; PÖSÖ et al., 2008; WILLIANSON, et al. 1996; KANG et al., 2012), Segundo BOFFI (2007), o desaquecimento consiste na realização de exercícios de baixa intensidade, com a finalidade de manter a vasodilatação a nível muscular, facilitando a remoção do lactato muscular (WILLIANSON, et al 1996), o qual será principalmente oxidado no músculo esquelético (PÖSÖ et al., 2008). KANG et al. (2012), salientaram que o desaquecimento a trote proporcionou maior oxigenação da musculatura no pós-prova e com isso menores concentrações sanguíneas de lactato. Segundo EVANS (2000), o aumento da concentração de lactato em exercícios de alta intensidade é atribuída ao metabolismo anaeróbico predominante para suprir as exigência de energia do exercício, através da glicólise anaeróbica. Segundo COENEN (2010), a FC é um parâmetro que integra uma série de fatores como velocidade, peso do conjunto, andadura, consumo de oxigênio, entre outros, e pode ser aferida facilmente através de equipamentos disponíveis no mercado. A interpretação deste resultado indica a capacidade cardíaca do cavalo, bem como o seu status de treinamento.

Materiais e Métodos

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo - FZEA/USP, protocolo número 6922200315. Foram utilizados 10 equinos da raça Quarto de Milha, com idade aproximada de 5 anos, todos em carreira. O treinamento dos cavalos foi acompanhado por 30 dias, nos quais os animais foram treinados semanalmente, segundo o protocolo: três vezes na semana foram montados (pelo mesmo ginete) por cerca de uma hora, sendo submetidos a aquecimento de 30 minutos (a passo, trote e galope) e, no restante do tempo, os animais foram submetidos ao flexionamento e passagem nos tambores. Após treinamento, foram desaquecidos ao passo por 5 minutos.  Nos outros dias da semana foram soltos em piquetes. Para a avaliação dos métodos de desaquecimento, os cavalos foram submetidos a simulações da prova de três tambores, onde avaliou-se dois tipos desaquecimento: 5 minutos de trote seguidos de 5 minutos de passo, ou 10 minutos ao passo. Todos os animais foram submetidos aos dois métodos de desaquecimento, em períodos distintos. A frequência cardíaca foi aferida por meio de frequencímetro portátil (POLAR ELECTRO OY®) nos tempos: antes do exercício, antes e ao término de cada etapa do protocolo descrito acima e imediatamente após a passagem pelo tambor, imediatamente após o desaquecimento, 2, 4 e 6 minutos após o desaquecimento, após a retirada da sela e após a ducha. Foram coletadas amostras de sangue nos tempos: antes do exercício, imediatamente após a passagem pelo tambor, 2, 4, 6 minutos e 6, 24, 48 e 72 horas após exercício, para as concentrações de glicose e lactato, realizadas através de kits bioquímicos. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado e para análise dos dados utilizou-se o procedimento Mixed, levando em consideração o esquema fatorial com medida repetida no animal de 2x9, para as variáveis de frequência cardíaca,  glicose e lactato, utilizando o programa estatístico SAS, 2000.

Resultados e Discussão

Foi observado efeito do método de desaquecimento (p<0,05) sobre a FC, com ajuste linear da regressão (y=88,87-2,1804x) para desaquecimento a passo e ajuste quadrático para o desaquecimento a trote e passo (y= 97,6-7,811x+0,4154 x2). Antes do início do exercício, os equinos apresentaram níveis glicêmicos e de lactato médios de respectivamente, 82,5±2,16 mg/dl e 0,53±3,04 mmol/l; e após a passagem pelo tambor de 93,08±2,16mg/dl e13,09±3,04mmol/l, demonstrando aumento (p<0,05) dos níveis sanguíneos dessas variáveis. Não foi observado efeito (p>0,05) do método de desaquecimento sobre a concentração sanguínea de glicose (Gráfico 2) e lactato (Gráfico 3), porém foi observado efeito do tempo de coleta (p<0,05), a partir das 6 horas de recuperação. Nos tempos de 2, 4 e 6 minutos, de recuperação não foi observado efeito do método de desaquecimento e do tempo de coleta (p>0,05), sendo observado valor médio de 101,1±3,5 bpm. Na coleta de 24 horas após o exercício, observou-se dado relevante, pois a concentração sanguínea de lactato dos animais desaquecidos ao trote e passo foi de 0,68mmol/l, enquanto que os cavalos desaquecidos ao passo apresentaram 1,13 mmol/l, uma diferença fisiologicamente marcante (Gráfico 3). Observou-se também que os cavalos desaquecidos ao trote e passo apresentaram maiores concentrações glicêmicas (91,4± 3,4 mg/dl), após o exercício, quando comparados com os cavalos desaquecidos ao passo (87,5± 3,6 mg/dl) (Gráfico 2). Corroborando com o observado na presente pesquisa, FERRAZ et al (2009), observaram que os cavalos desaquecidos ativamente (3m/s por 20 minutos) apresentam tendência de recuperação das concentrações de lactato sanguíneo e citam que este fato é explicado pela gliconeogênese que ocorre em virtude do aumento da remoção de lactato muscular e sanguíneo, pois o metabolismo hepático e a utilização do lactato, como substrato energético, se mantêm elevados (WASSERMAN et al., 1991).             O estimulo a glicogênese sugerido, pode ser evidenciado pela comportamento da glicemia observado neste estudo. Houve efeito do aquecimento (p<0,05) sobre a glicemia, que passou de 82,5±2,16 mg/dl (basal) para 93,08±2,16 (mg/dl) após a passagem pelo tambor, corroborando com o observado por SIMÕES et al. (1999) e GORDON et al. (2006). Este resultado pode ser atribuído ao aumento da atividade de hormônios que regulam o metabolismo energético, como as catecolaminas e glucagon, que ao serem liberados provocam glicogenólise e gliconeogêonese hepática, elevando a concentração de glicose plasmática.

Conclusões

O desaquecimento do cavalo de tambor é muito importante para a sua recuperação. Cavalos desaquecidos, utilizando trote e passo, aparentemente recuperam-se mais efetivamente em 24 horas, favorecendo a realização de atividades em dias seguidos, como é pratica desta modalidade equestre. Este trabalho pode ser utilizado com base para o desenvolvimento de programas de treinamento de cavalos desta modalidade para garantir melhor desempenho e recuperação.

Gráficos e Tabelas




Referências

BOFFI, F.M. Metabolismos energeticos y ejercicio. In: Boffi, F.M. Fisiologia del ejercicio en equinos. Buenos Aires: Inter-medica, 2007. Cap.1, p.302. BUENO, G.M.; BERNARDI, N.S.; DIAS, D.P.; GOMIDE, L.M.; GRAVENA, K.;  LACERDA NETO, J.C. Curva lactacidêmica em equinos da raça Quarto-de-milha durante a realização da prova dos três tambores. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia, v.10, p.80-81, 2012. COENEN, M. Remarks on the benefits of heart rate recordings. In: Kentucky Equine Research Nutrition Conference, 17., 2010, Lexington, United States. Proceedings… Lexington: 2010. P.42-54. EVANS, D.L. Training and fitness in athletic horses. Sydney: Rural Industries Research and Development Corporation,  University of Sydney, 2000. 1. FERRAZ, G.C.; TEIXEIRA-NETO, A.R.; LACERDA-NETO, J.C.; QUEIROZ-NETO, A. Respostas ao exercício de intensidade crescente em equinos: alterações na glicose, insulina e lactato. Ciência Animal Brasileira, v.10, p.1332-1338, 2009. GORDON, M.E.; MCKEEVER, K.E.; BETROS, C.L.; MANSO FILHO, H.C. Exercise-induced alterations in plasma concentrations of ghrelin, adiponectin, leptin, glucose, insulin, and cortisol in horses. The Veterinary Journal, v.84, p.1982-1690, 2006. HUBBELL, J.A.E.; HINCHCLIFF, K.W.; MUIR, W.W.; ROBERTSON, J.T.; SAMS, R.A.; SCHMALL, L.M. Cardiorespiratory and metabolic effects of walking, standing and standing with a splint during the recuperative period from maximal exercise in horses. American Journal of Veterinary Research, v.58, p.1003-1009, 1997. KANG, O.K.D.; RYU, Y.C.; YUN, Y.M.; KANG, M.S. Effects of cooldown methods and durations on equine physiological traits following high-intensity exercise. Livestock Science,  v.143, p.70-66, 2012. PÖSÖ, A.R.; HYYPPÄ, S.; GEOR, R.J. Metabolic responses to exercise and training. In: HINCHCLIFF, K.W.; GEOR, R.J.; KANEPS, A.J. Equine Exercise Physiology: The science of exercise in the athletic horse. Philadelphia: Sauders, 2008. Cap.12, p.248-273. SAS. The SAS system for windows. Release 8.01, Cary: SAS Institute Inc., 2000. SIMÕES, H.G.; CAMPBEL, G.S.C.; KOKUBUN, E.; DENADAI, S.B.; BALDISSERA, V. Blood glucose responses in human mirror lactate responses for individual anaerobic threshold and for lactate minimum in track tests. European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology, v.80, P.34-40, 1999. WASSERMAN, D.H.; CONNOLLY, C.C.; PAGLIASSOTTI, M.J. Regulation of hepatic lactate balance during exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 23, p.912-919, 1991. WILLIAMSON, L.H.; ANDREWS, F.M.; MAYKUTH, P.L.; WHITE, S.L.; GREEN, E.M. Biochemical changes in three-day-event horses at the beginning, middle and end of phase C and after Phase D. Equine Veterinary Journal, v.22, p.92-98, 1996.