VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONFINAMENTO DE BOVINOS EM SISTEMA ALTO GRÃO EM DIFERENTES ESTADOS BRASILEIROS E ÉPOCAS DO ANO

André Fogaça Nigeliskii1, Angelina Camera2, Paulo Santana Pacheco3, Leonir Luiz Pascoal4, Edom de Ávila Fabrício5, Greicy Sofia Maysonnave6, Gabriella Ibarra Ocaña Machado7, Ana Clara Trindade Rodrigues8
1 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
3 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
4 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
5 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
6 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
7 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
8 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

RESUMO -

O objetivo deste estudo foi avaliar a viabilidade do confinamento de bovinos de corte em sistema de alimentação Alto Grão, em quatro estados brasileiros e três épocas distintas do ano. Foram avaliados os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso e Bahia, durante os ciclos de dezembro a março, abril a julho e agosto a novembro. Estimou-se um ganho médio diário de 1,4 kg e consumo de matéria seca em 2,18% do peso corporal, para um peso inicial de 370 kg e abate aos 500 kg. Cotações históricas dos itens de custo e receita foram utilizadas. Nenhum estado apresentou valores positivos de Lucro e VPL. Os estados do Rio Grande do Sul e Mato Grosso apresentaram os menores COE e CT. São Paulo apresentou o pior resultado econômico. O ciclo de dezembro a março apresentou os piores resultados em todos os casos. Porém, os estados do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso apresentaram os menores riscos de investimento.

Palavras-chave: análise determinística, bovinocultura de corte, microeconomia, projetos de investimento, sistemas intensivos

ECONOMIC VIABILITY OF THE CONFINEMENT OF CATTLE IN THE HIGH GRAIN SYSTEM IN DIFFERENT BRAZILIAN STATES ACCORDING TO THREE PRODUCTIVE CYCLES

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the feasibility of confinement of beef cattle in a High Grain feeding system in four Brazilian states and in three distinct cycles of the year. The states of Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso and Bahia were evaluated during the cycles from December to March, April to July and August to November. It was estimated an average daily gain of 1.4 kg and a dry matter intake at 2.18% of body weight, with initial weight established in 370 kg and slaughtered at 500 kg. Historical quotes for cost and revenue items were used. No state presented positive values of GM and NPV. The states of Rio Grande do Sul and Mato Grosso presented the lowest COE and TC. São Paulo presented the worst economic result. The cycle of December to March had the worst results obtained in all the cases. However, the states of Rio Grande do Sul and Mato Grosso presented the lowest investment risks.
Keywords: deterministic analysis, beef cattle, intensive systems, investment projects, microeconomics


Introdução

As variações no valor das cotações dos itens de custo e receita representam fatores de instabilidade no resultado financeiro das atividades agrícolas (JORGE JÚNIOR, 2007). Entre as regiões do país este fato ganha maior destaque, visto que os valores de insumos e produtos cárneos têm influência de variações regionalizadas do mercado (MISSIO et al., 2009).

Apesar disso, o confinamento, que é uma atividade de alto investimento e risco (PACHECO et al., 2014; FABRICIO et al., 2017; SILVA et al., 2017), tem apresentado grande participação na produção nacional, com contribuição em cerca de 10% do número de animais abatidos (ANUALPEC, 2015).

Isto acontece pelo fato desta atividade servir como ferramenta de suprimento de mercado em épocas de entressafra (KUSS et al., 2009). Os altos níveis de concentrado em detrimento de volumoso geram diminuição nos dias de confinamento, custos com mão-de-obra, depreciação de equipamentos, e custo de oportunidade da terra (MISSIO et al., 2009), além de menor dependência de fatores climáticos.

Por isso, se torna importante a avaliação da atividade em diferentes regiões, buscando-se ter um panorama sobre os resultados de maior probabilidade de ocorrência, e sobre o comportamento dos fatores que mais agregam risco a esse tipo de investimento.

Este trabalho teve por objetivo avaliar a viabilidade do confinamento de bovinos de corte em sistema de alimentação Alto Grão, em quatro estados brasileiros e três épocas distintas do ano.



Revisão Bibliográfica

Segundo Turgeon et al. (2010), altos níveis de concentrado na dieta podem levar ao decréscimo do ganho médio diário e também no consumo de matéria seca, mas melhorar a eficiência alimentar. A redução na conversão alimentar gera menor custo por unidade de ganho e maior lucratividade do sistema produtivo (MISSIO et al., 2009), porém, o aumento da participação de concentrado na dieta gera aumento dos riscos financeiros (MISSIO et al., 2009; SILVA et al., 2017). Ainda mais que a alimentação é o segundo maior custo da atividade (MOREIRA et al., 2009; LOPES et al., 2011; CARVALHO; ZEN, 2017). Lopes et al. (2011) também considera que a aquisição de animais demonstra caráter especulativo do negócio, em que o retorno financeiro está em função dos valores de compra e venda dos animais. Este por sua vez, tem forte influência da época de compra e venda, e juntamente com a cotação de grãos, possuem grande variabilidade observada entre estados brasileiros. Quando estudos avaliam o comportamento histórico dos itens de custos, resultados financeiros negativos tendem a prevalecer (PACHECO et al., 2014; SILVA et al., 2017) quando comparado com situações mais aplicadas (MISSIO et al. 2009; MOREIRA et al., 2009). Isto mostra a importância do emprego das flutuações das cotações na simulação, garantindo maior projeção da análise.

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido por meio de simulação de Monte Carlo, no departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, observando-se três ciclos produtivos (Dez/Mar, Abr/Jul, e Ago/Nov) em quatro estados brasileiros: Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso e Bahia. Para a análise, foram considerados bovinos mestiços com peso de entrada de 370 kg e peso de abate de 500 kg, recebendo dieta contendo 85% de milho e 15% de núcleo proteico-mineral comercial. O consumo de matéria seca estimado foi de 2,18% do peso corporal, conforme dados de consumo e adaptação de Turgeon et al. (2010), com ganho médio de 1,4 kg/dia, resultando em um tempo de confinamento de 93 dias. Houve acréscimo de 10 dias ao período da atividade, objetivados para o preparo e manutenção de instalações, máquinas, implementos e equipamentos. A capacidade do confinamento foi determinada em 1000 animais, e a área total em 80m²/cabeça. Foram utilizadas cotações mensais históricas dos itens de custos e receita (2003 a 2015). As cotações dos animais magros e gordos, valor da terra e do milho, foram considerados fatores inerentes de cada estado, obtidos através do Anualpec e do site Agrolink. Não houve diferenciação entre estados para o cálculo dos demais itens de custos, obtidos através de cotações do Anualpec, IEA (Instituto de Economia Agrícola), CONAB, Epagri e SEAB. O IGP-DI/FGV médio do ano de 2015 foi utilizado para a correção monetária. A classificação destes itens, assim como o cálculo dos indicadores financeiros, foi realizada conforme metodologia de Pacheco et al. (2014) e Souza & Clemente (2009). A taxa mínima de atratividade foi estipulada em 0,6902% a.m. e utilizou-se um valor médio da taxa Selic de 9,5%, como taxa de desconto do fluxo de caixa. Para a simulação, tabulação e análise dos dados utilizou-se os softwares Microsoft Excel® e SAS® Studio. Como análise estatística dos dados, utilizou-se uma Análise de Variância e teste Tukey a 5% de significância.

Resultados e Discussão

A Tabela 1 apresenta os itens de diferenciação entre as simulações de cada estado. Nela, pode-se observar que a diferença entre o preço do Boi Gordo e do Boi Magro só é positiva para os três ciclos no estado no Rio Grande do Sul (média de 4,3%) e nos ciclos de Abr/Jul e Ago/Nov na Bahia (totalizando para o estado uma diferença média de 2,86% entre as cotações). No estado de São Paulo e Mato Grosso as cotações do Boi Gordo não superaram os valores de Boi Magro em nenhum ciclo, apresentando médias negativas em 7,53% e 7,43%, respectivamente. Quanto à alimentação, onde o núcleo representou um valor médio de R$ 1,30, apenas os estado do Mato Grosso e São Paulo apresentaram relação positiva entre o valor ganho em peso e o custo com alimentação.  Mato Grosso apresentou valor médio de ganho de peso superior 10,33% ao custo com a alimentação, sendo seus três ciclos favoráveis. Porém, no caso de São Paulo, somente o ciclo de Ago/Nov apresentou relação positiva (em 1,32%) e a média representou um valor de custo com alimentação superior que o ganho em peso em 5,36%. Rio Grande do Sul ficou com uma média negativa de 8,92%, e a Bahia, com valor negativo em 18,89%. Observando-se o preço do milho de 2003 a 2015, o valor no estado da Bahia apresentou-se sempre superior aos demais estados, seguido por São Paulo e Rio Grande do Sul, que apresentaram pouca variação entre si, e Mato Grosso, com os menores valores em todos os anos. Como o uso de área utilizada é menor, se comparado aos confinamentos com uso de volumoso, o custo de oportunidade da terra representou uma fração baixa dos custos fixos da atividade: 1,86% (Bahia), 7,82% (Mato Grosso), 11,81% (Rio Grande do Sul) e 13,97% (São Paulo). Não houveram resultados positivos com relação aos indicadores financeiros Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Margem Líquida (ML) e Lucro (Tabela 2). Porém, os estados do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso destacam-se por terem apresentado menores riscos. A Margem Bruta do ciclo Ago/Nov, para o estado do Rio Grande do Sul foi o único a apresentar resultado acima do nulo. Houve diferença estatisticamente significante entre as médias dos estados (p<000,1) em relação ao Custo Operacional Efetivo (COE) e Custo Total (CT), sendo o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso a apresentarem o menor custo, não diferindo entre si. São Paulo apresentou os maiores custos. Mas o fato de o CT não ter atingido R$ 5,00 indica a possibilidade de resultados positivos em situações de mercado mais favoráveis, já que há a possibilidade de o preço do Boi Gordo superá-lo.

Conclusões

Projetos de investimento em confinamento de bovinos de corte em sistema de alimentação Alto Grão apresentam alto risco financeiro. São Paulo foi o estado que apresentou o maior risco de investimento neste sistema, e o ciclo de dezembro a março apresentou os piores resultados em todos os estados estudados.

Os estados do Rio Grande do Sul e Mato Grosso apresentaram os menores riscos, sem diferença significativa entre seus resultados, possuindo as melhores condições para investimento entre as opções estudadas.



Gráficos e Tabelas




Referências

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