Projeto de Extensão – Caminhos do leite: sanidade da glândula mamária e qualidade do leite

Brenno Sena Alves1, Lucas Vasconcelos Costa2, Diana Milanez Ávila Dias Maciel3, Manuela Agostinho4, Juliana Figueiredo da Cunha5, Catarina Demarchi de Oliveira6, Maria Fernanda Yamashita Barbosa da Costa7, Paulo Francisco Domingues8
1 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
2 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
3 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
4 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
5 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
6 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
7 - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.
8 - Professor Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.

RESUMO -

O projeto foi realizado pelos alunos do Grupo PET-FMVZ (Programa de Educação Tutorial) dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia com o objetivo de avaliar a saúde da glândula mamária de bovinos leiteiros quanto à ocorrência de mastite em duas propriedades, incluindo-se o exame clínico dos animais e análises laboratoriais. No laboratório, foram realizados cultivos microbiológicos e antibiogramas. A partir dos dados obtidos foi possível estabelecer um protocolo de prevenção e controle de mastite nos rebanhos estudados. O projeto possibilitou o controle da mastite e melhoria na qualidade do leite, bem como houve contribuição significativa na formação acadêmica e profissional dos alunos de graduação.

Palavras-chave: Bovinos leiteiros, manejo, mastite.

Extension Project – The milk path: udder health and milk quality

ABSTRACT - The project was conducted by veterinary and animal science undergraduate students of the Tutorial Education Program (PET). The objective was to evaluate the health of the mammary gland and mastitis control in two dairy farms, including diagnostic testing and laboratory analyses. In the laboratory, microbiological cultures and antibiograms were performed. Analyses of the collected data allowed to establish a protocol for mastitis prevention and control in the herds studied. The project resulted in improvement of milk quality and mastitis control, and significantly contributed to the training and education of the participating undergraduate students.
Keywords: Dairy cattle, management, mastitis.


Introdução

As atividades extracurriculares que compõem o Programa de Educação Tutorial têm como objetivo garantir aos alunos oportunidades de vivenciar experiências não presentes em estruturas curriculares convencionais, visando a sua formação social e cidadã e favorecendo a formação acadêmica, tanto para a integração no mercado profissional como para o desenvolvimento de estudos em programas de pós-graduação. A mastite, definida como inflamação da glândula mamária, corresponde a um fator de grande impacto na produção leiteira. Trata-se de afecção de etiologia complexa, caracterizada por alterações físico-químicas e organolépticas na celularidade do leite e patológicas no parênquima mamário de animais domésticos (RIBEIRO et al., 2016). O objetivo deste projeto foi desenvolver atividades de extensão pelos acadêmicos dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia junto aos produtores de leite do município de Botucatu, SP, realizando-se o monitoramento de mastite nos rebanhos por meio da identificação dos agentes etiológicos e testes de sensibilidade antimicrobiana in vitro (antibiograma).

Revisão Bibliográfica

A mastite em animais domésticos pode ser classificada em clínica ou subclínica, com base na presença de alterações no aspecto do leite, na glândula mamária e/ou nos animais. A manifestação de diferentes sinais e sintomas clínicos pelos animais é microrganismo-dependente, ou seja, está intimamente associada a determinados grupos de agentes. Na mastite clínica, os animais apresentam alterações no aspecto macroscópico do leite, tais como: presença de pus e grumos, estrias de sangue, dessoramento do leite (RIBEIRO et al., 2016). Na mastite subclínica, não existe a exteriorização de sinais e sintomas clínicos. Em animais com infecções subclínicas, há a necessidade do uso de métodos de diagnóstico diretos ou indiretos, como o California Mastitis Test (CMT), pois não há alterações macroscópicas na glândula mamária e no leite (RIBEIRO et al., 2016). A mastite é a enfermidade mais predominante em rebanhos leiteiros em todo o mundo e continua a ser um dos maiores obstáculos para a obtenção de melhores resultados na produção leiteira na atualidade. Estima-se que, mundialmente as perdas anuais causadas pela mastite, estão por volta de 35 bilhões de dólares (BENEDETTE et al., 2008). A mastite é classificada em contagiosa e ambiental, levando-se em consideração a origem do agente infeccioso. Com relação à mastite contagiosa, as principais bactérias envolvidas são Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Corynebacterium bovis, e Mycoplasma spp. Dentre os patógenos ambientais causadores de mastite clínica estão inclusos a espécie de estreptococos, S. uberis e S. dysgalactiae que são as mais prevalentes (BENEDETTE et al., 2008).

Materiais e Métodos

Foram selecionadas duas propriedades de bovinos leiteiros situadas no município de Botucatu, SP, o sítio São Roque e o sítio Laranjeiras. Em ambas adotava-se o sistema de ordenha mecânica “balde ao pé”.           Durante a ordenha da manhã, após a higienização dos tetos dos animais, o leite das vacas foi examinado para verificar a presença de mastite clínica e subclínica. Foi realizado o teste da caneca de fundo preto e telada (Prova de Tamis) nos primeiros jatos de leite para diagnosticar a mastite clínica, por meio de visualização de alterações no leite, tais como: grumos, pus, secreção sanguinolenta ou aquoso. Em seguida, realizava-se o California Mastitis Test (CMT) para identificar a mastite subclínica. Para caracterizar o grau da reação foi utilizado escores de 1 a 3 cruzes, em ordem crescente de intensidade (SCHALM et al., 1971). Foram colhidas amostras de leite dos quartos mamários com mastite clínica e uma amostragem aleatória quando se tratava de casos subclínicos. Para a coleta de leite, realizou-se a antissepsia dos tetos com álcool 70% iodado, e em seguida, coletou-se 10 mL de leite em frascos estéreis. As amostras foram acondicionadas em caixa isotérmica, e transportadas ao Laboratório de Diagnóstico Microbiológico e Micológico do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública, FMVZ, UNESP. No laboratório, os alunos realizaram as análises microbiológicas. As amostras de leite foram semeadas em placas contendo ágar sangue ovino a 5% e ágar MacConkey, incubadas por 24/48/72 horas, em aerobiose. Realizou-se a identificação dos microrganismos isolados conforme as características da colônia e morfotintorial (coloração de Gram), produção de hemólise e por meio de provas bioquímicas, segundo QUINN et al. (1994).     Os microrganismos isolados foram transferidos para o meio de caldo-cérebro-coração (BHI) para realização de testes de sensibilidade antimicrobiana, de acordo com Bauer et al. (1966), em placas de Petri com ágar Mueller-Hinton.

Resultados e Discussão

Dos 242 quartos mamários amostrados nas duas propriedades, 69 (28,5%) foram positivos ao CMT. Desses, 8 (11,6%) apresentaram score 1, 14 (20,3%) score 2 e 41 (59,4%) score 3. Seis quartos (8,7%) apresentaram mastite clínica. No sítio São Roque, das 24 vacas amostradas, 12 (50%) foram positivas ao CMT (mastite subclínica) e 1 (4,2%) foi positiva ao teste de Tamis (mastite clínica). Isolou-se Staphylococcus aureus de todas as 8 amostras submetidas à cultura microbiológica. Observou-se que 100% das cepas de Staphylococcus aureus eram resistentes a Amoxicilina e Ampicilina, e sensíveis a Cefalexina, Cefoperazona, Ceftiofur e Gentamicina. Dessas cepas, 87,5% e 12,5% eram parcialmente sensíveis ou resistentes a Enrofloxacina, respectivamente. No sítio Laranjeiras, das 37 vacas amostradas, 21 (56,8%) foram positivas ao CMT e 5 (13,5%) apresentaram mastite clínica. Isolou-se Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae de 71,4 e 28,6% das 7 amostras submetidas à cultura microbiológica. As duas cepas de Streptococcus agalactiae eram resistentes à Enrofloxacina e Gentamicina, sensíveis a Cefalexina, Cefoperazona e Ceftiofur e parcialmente sensíveis a Amoxicilina e Ampicilina. Das 5 cepas de Staphylococcus aureus, 80% eram resistentes e 20% parcialmente sensíveis a Amoxicilina e Ampicilina. Observou-se que 100% dessas cepas eram sensíveis a Cefalexina e Ceftiofur, 80% eram parcialmente sensíveis e 20% eram sensíveis a Cefoperazona e 80% eram parcialmente sensíveis e 20% eram resistentes a Enrofloxacina. Quanto à Gentamicina, 80% das cepas de Staphylococcus aureus eram sensíveis e 20% resistentes. Observou-se em ambas as propriedades um grave problema de mastite contagiosa. Os alunos retornaram às propriedades para apresentar os resultados das análises microbiológicas e antibiogramas aos produtores, e fazer as recomendações para o tratamento dos casos clínicos de mastite. Apresentaram a relação dos antimicrobianos que deveriam ser utilizados, levando-se em consideração o agente causador. Considerando-se as características individuais de cada propriedade, procurou-se orientar os produtores em relação à prevenção e controle da mastite quanto ao manejo de ordenha, higienização e manutenção dos equipamentos, a realização da antissepsia dos tetos antes e após a ordenha (pré e pós-dipping) e instituir o tratamento da vaca seca (ao final da lactação) com antimicrobiano de eleição, de acordo com o resultado do antibiograma. As recomendações foram úteis para que os proprietários pudessem estabelecer um programa de controle de mastite e melhoria da qualidade do leite.

Conclusões

Com este projeto de extensão realizado pelo grupo PET-FMVZ, houve uma interação entre os alunos dos cursos de graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia com os criadores de rebanhos leiteiros, possibilitando assim, uma troca de conhecimentos a respeito da mastite e produção leiteira. Além disso, os alunos executaram as técnicas para diagnóstico das mastites nas propriedades e no laboratório, contribuindo para a formação acadêmica e profissional. Os alunos puderam vivenciar na prática a realidade do campo e os problemas do dia-a-dia das propriedades. Com os dados obtidos, os alunos puderam orientar os produtores quanto aos procedimentos de manejo para prevenção e controle da mastite.


Referências

BAUER, A. W.; KIRBY, W. M.; SHERRIS, J. C.; TURCK, M. Antibiotic susceptibility testing by a standardized single disk method. American Journal Clinical Pathology, v.45, p.493-496, 1966. BENEDETTE, M. F., et al. Mastite bovina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Garça, SP, n.11, 2008. QUINN, P. J. et al. Clinical veterinary microbiology. Virginia: Wolfe, 1994. 648p. RIBEIRO, M. G.; LANGONI, H.; DOMINGUES, P. F.; PANTOJA, J. C. F. Mastite em animais domésticos. In: MEGID, J.; RIBEIRO, M. G.; PAES, A. C. Doenças infecciosas em animais de produção e de companhia. 1. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016. p.1154-1205. SCHALM, O. W.; CARROL, E. J. JAIN, N.C. Bovine mastitis. Philadelphia: Lea & Febiger, 1971. 360p.