Comportamento de ovinos confinados alimentados com diferentes níveis de inclusão de resíduo úmido de cervejaria

Anderson Lopes Pereira1, José Antônio Alves Cutrim Junior2, Danilo Rodrigues Barros Brito3, Eduardo Del Sarto Soares4, Aline Paiva Coelho5, Igor Cassiano Saraiva Silva6, Edneide Marques da Silva7
1 - IFMA Campus Maracanã
2 - IFMA Campus Maracanã
3 - IFMA Campus Maracanã
4 - IFMA Campus Maracanã
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6 - IFMA Campus Maracanã
7 - IFMA Campus Maracanã

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de ovinos alimentados com diferentes níveis de inclusão de resíduo úmido de cervejaria (RUC) nas proporções 0; 10; 20 e 30% do concentrado. As respostas foram averiguadas por meio de um ensaio de delineamento inteiramente casualizado em arranjo fatorial completo 4×8 (quatro níveis de inclusão x oito períodos do dia) com cinco repetições. Foram avaliados o percentual diário destinado a ingestão de ração (IR), ruminação (RU), ócio (OC) e outras atividades (AT), e a frequência do consumo de sal (CS), micção (MI), defecação (DF) e bebendo água (BA), em 24 horas. Não houve efeito dos níveis de inclusão de cevada para a ingestão de ração e micção (P>0,05). Os níveis de inclusão de RUC influenciaram na resposta da ruminação, ócio, outras atividades, ingestão de sal e água e na defecção (P<0,05). Os níveis de RUC influenciam no comportamento dos animais, maximizando as atividades de comportamento ao nível de 20%.

Palavras-chave: Cervejarias, Comportamento, Coprodutos, Níveis de Inclusão

Behavior of confined sheep fed with different inclusion levels of wet brewery residue

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the behavior of sheep fed with different inclusion levels of wet brewery residue (RUC) in proportions 0; 10; 20 and 30% of the concentrate. The responses were investigated using a completely randomized complete factorial 4x8 (four inclusion levels x eight periods of the day) with five replicates. The daily percentage for feed intake (RI), rumination (RU), leisure (OC) and other activities (TA), and frequency of salt consumption (CS), micturition, And drinking water (BA) in 24 hours. There was no effect of inclusion levels of barley for feed intake and urination (P> 0.05). Inclusion levels of RUC influenced rumination, leisure, other activities, salt and water intake, and defection (P <0.05). RUC levels influence the behavior of animals, maximizing behavioral activities at the level of 20%.
Keywords: Breweries, Behavior, Coproducts, Levels of Inclusion


Introdução

O estudo do comporta­mento ingestivo dos animais é uma ferramenta para ava­liar se o alimento fornecido encontra-se adequado do ponto de vista nutricional (DIAS, 2012), sendo uma ferramenta de grande importância na avaliação das dietas, pois possibilita ajustar o manejo alimentar dos animais para a obtenção de melhor desempenho pro­dutivo (FRASSON et al., 2016). O manejo alimentar adequado é fundamental para o sucesso da produção animal, onde se busca ajustar o aporte nutricional com as exigências dos animais (RIBEIRO et al., 2011). Por isto, buscam-se alternativas alimentares que possibilitem um bom desempenho animal e que sejam economicamente viáveis, e uma dessas alternativas são resíduos agroindustriais. Entre essas alternativas encontra-se o resíduo úmido de cervejaria (RUC), um subproduto da indústria cervejeira que apresenta elevada qualidade nutricional e grande potencial para a produção animal (FRASSON et al., 2016). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento ingestivo de ovinos inteiros em diferentes níveis de inclusão de resíduo úmido de cervejaria.

Revisão Bibliográfica

A etologia é a ciência que estuda os aspectos referentes ao comportamento animal, além disso, pode contribuir positivamente na adequação e aprimoramento dos sistemas de manejo, visando o aumento da produtividade e bem estar dos animais (CÂNDIDO et al., 2011), além de racionalizar as práticas de manejo, visando à redução de custos (FIGUEIREDO et al., 2013). Com o estudo do comportamento, existem inúmeros parâmetros a serem utilizados, sendo que os mais enfatizados são os que descrevem: o tempo de alimentação e ruminação, números de alimentações, períodos de ruminação e eficiência da alimentação e ruminação (MACEDO et al., 2007). De acordo com Ferreira (2006), os fatores que influenciam o consumo de alimentos em ruminantes podem estar ligados ao animal (raça, sexo e peso corporal), alimento (composição da dieta, forma física e palatabilidade), manejo e ambiente. Entre estes últimos fatores, o tempo de acesso ao alimento, à frequência de alimentação, o espaço disponível, o fotoperíodo, a temperatura e umidade são os mais relevantes. Outro fator que geralmente influencia o consumo em confinamentos é que sempre que o alimento é distribuído nos cochos os animais são estimulados a ingerir (CHASE et al., 1976). As atividades diárias dos ovinos compreendem períodos que alternam alimentação, ruminação e ócio. Os períodos de ruminação e ócio ocorrem entre as refeições, existindo diferenças entre indivíduos quanto à duração e repetição dessas atividades, que parecem estar relacionadas às condições climáticas e de manejo, ao apetite dos animais, à exigência nutricional e, principalmente, à relação volumoso:concentrado da dieta (SILVA et al., 2009). Segundo Van Soest (1994), o tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor da parede celular dos volumosos. Alimentos concentrados e fenos finamente triturados ou peletizados reduzem o tempo de ruminação, enquanto volumosos com alto teor de parede celular tendem a elevar o tempo de ruminação.

Materiais e Métodos

A pesquisa foi conduzida no setor de Ovinocaprinocultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Campus São Luís – Maracanã. Os tratamentos foram constituídos por níveis crescentes de inclusão de Resíduo Úmido de Cervejaria (RUC) em dietas para ovinos nas proporções de 0%, 10%, 20% e 30%. O volumoso fornecido foi o capim tifton-85. Assim todos os ingredientes para os concentrados proteicos e energéticos, assim como o calcário e volumoso foram obtidos em comércios do município de São Luís – MA, em quantidades suficientes para realização de todo processo experimental. Os animais foram alimentados com volumoso (feno de capim-tífton-85), concentrado, fornecida água “ad libitum” e mistura mineral. A composição e proporções dos ingredientes das dietas estão descritos na tabela 1. Para as observações do comportamento, utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado em arranjo fatorial 4x8 (quatro níveis de inclusão e oito períodos do dia) com cinco repetições (ovinos). O ensaio de comportamento foi realizado aos 45 dias de confinamento, com duração de 24 horas, utilizando-se dois observadores para cada tratamento. As mensurações consistiram em dois tipos: 1 – atividades contínuas (Tempo consumindo ração, Tempo ruminando, Tempo em outras atividades e Tempo em ócio) tomadas em intervalos de 10 minutos; 2- conjunto de atividades pontuais (Frequência de ingestão de sal, Frequência de micções, Frequências de defecações e Frequência de ingestão de água) tomadas a cada vez que o animal executasse. Os dados foram analisados por meio de análise de variância e teste de comparação de médias, por meio do teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Como ferramenta de auxílio às análises estatísticas, será utilizado o procedimento PROC GLM do programa estatístico SAS.

Resultados e Discussão

Não houve efeito dos níveis de inclusão de cevada para a ingestão de ração (P>0,05), onde se obteve uma média de 18,13%, corroborando com Ribeiro et al. (2011), que encontrou 17,01% ao trabalhar com frequência de oferta de alimentos de duas vezes ao dia. Os níveis de inclusão de RUC influenciaram na resposta da ruminação (P<0,05), com crescimento da atividade até o nível de 20% de inclusão de RUC (0% com 31,11% a 20% com 37,70%), reduzindo no nível de inclusão de 30% de RUC para 28,12%. Tal fato ocorreu devido a proporção volumoso:concentrado que saiu de 46:53 (0%) para 14:85 (30%), ocasionando menor ingestão de fibra pelo animal, que por consequência reduziu seu tempo em ruminação. O tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor de parede celular dos volumosos (VAN SOEST, 1994). Observou-se efeito dos níveis de inclusão para variável ócio (P<0,05), onde os animais no tratamento de 0% de inclusão obtiveram maior tempo de realização da atividade com 35,07%/dia. A dieta nesse tratamento era composta basicamente por milho e soja que são alimentos de degradação mais rápida no rúmem, saciando-se mais rapidamente, podendo aproveitar mais o tempo livre para o descanso. Vieira et al. (2011) que ao analisar a substituição de diferentes níveis de farelo de mamona na dieta de ovinos encontrou 30,4% corroborando com os resultados deste trabalho. A variável “outras atividades” foi afetada pelos níveis de inclusão de RUC (P>0,05), na qual o menor resultado foi para o nível de 20% (14,13%), resultado este que difere de Frasson et al. (2016) que ao trabalhar com níveis de substituição do sorgo pelo resíduo úmido de cervejaria obteve 1,70%. Constatou-se efeito da inclusão de RUC para a variável ingestão de sal (P>0,05), onde houve um aumento do nível 0% de inclusão (1,50 nº vezes/animal/dia) para o nível de 30% de inclusão (3,06 vezes/animal/dia), entretanto este crescimento difere de Vieira et al. (2011) com frequência de 4,20 nº vezes/animal/dia. Não foi observado efeito dos níveis de inclusão para micção (P<0,05), sendo que o nível de 30% obteve 2,70 nº vezes/animal/dia, diferindo dos resultados encontrados por Souza et al. (2010) que ao trabalhar com diferentes volumosos na dieta de ovinos obteve uma frequência de 1,59 n° vezes/animal/dia Foi identificado que os níveis de RUC na dieta (P>0,05) influenciaram a defecação, onde o nível de 20% obteve-se uma frequência de 2,70 nº vezes/animal/dia, corroborando com Souza et al. (2010) que obteve uma frequência de 2,79 n° vezes/animal/dia. Foi observado efeito dos níveis de RUC na dieta para ingestão de água (P>0,05), na qual o nível de 30% obteve 2,60 nº vezes/animal/dia, entretanto este resultado difere de Vieira et al. (2011) que obteve 3,67 nº vezes/animal/dia (Tabela 2).

Conclusões

Os níveis de resíduo úmido de cervejaria influenciam no comportamento dos animais, maximizando as atividades de comportamento ao nível de 20% de inclusão, aumentando a ingestão de ração, ruminação, ócio, micção e defecação e diminuindo outras atividades, consumo de sal e ingestão de água.

Gráficos e Tabelas




Referências

CÂNDIDO, E. P. et al. Comportamento ingestivo de cabras de aptidão leiteira alimentadas com feno de flor de seda. Agropecuária Técnica – v. 32, n. 1, p 145–151, 2011 CHASE, L.J.; WANGSNESS, P.J.; BAUMGARDT, B.R. Feed behavior of steers fed a complete mixed ration. Journal of Dairy Science, v.59, n.11, p.1923-1928, 1976. DIAS, F.D. Substituição do alimento volumoso por casca de soja na alimentação de cordeiros das raças Texel e Ideal em confinamento. Universidade Federal de Santa Maria. Dissertação de Mestrado. Pro­grama de Pós-graduação em Zootecnia. 78 p, 2012. FRASSON, M.F. et al. Comportamento ingestivo e produtivo de cordeiros alimentados com resíduo úmido de cervejaria em substituição a silagem de sorgo. Archivos de Zootecnia. V. 65, núm. 250, p. 183-190, 2016 FERREIRA, J.J. Desempenho e comportamento ingestivo de novilhos e vacas sob frequências de alimentação em confinamento. 2006. 97f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Santa Maria - Santa Maria, 2006. FIGUEIREDO, M. R. P. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com diferentes fontes de fibra. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.65, n.2, p.485-489, 2013. MACEDO, C.A.B.; et al. Comportamento ingestivo de ovinos recebendo dietas com diferentes níveis de bagaço de laranja em substituição à silagem de sorgo na ração. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.1910-1016, 2007. RIBEIRO, E. L. A. et al. Desempenho, comportamento ingestivo e características de carcaça de cordeiros confinados submetidos a diferentes frequências de alimentação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.4, p.892-898, 2011. SILVA, T.S.; BUSATO, K.C.; ARAGÃO, A.S.L. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com diferentes níveis de manga em substituição ao milho. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2009, Maringá. Anais...Maringá: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2009. (CD ROOM). SOUZA, E. J. O. et al. Comportamento ingestivo e ingestão de água em caprinos e ovinos alimentados com feno e silagem de Maniçoba. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. V.11, n.4, p.1056-1067, 2010. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. Ithaca, New York (USA): Cornell University Press, 476 p. 1994 VIEIRA, M. M. M. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com rações contendo quatro níveis de inclusão do farelo de mamona. Revista Ceres, Viçosa, v. 58, n.4, p. 444-451, jul/ago, 2011.