CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE BOVINOS DE DOIS GRUPOS GENÉTICOS TERMINADOS EM CONFINAMENTO

Danielle Leal Matarim1, Juliana Jorge Paschoal2, Rodrigo Filardo Cardoso3
1 - Professora das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU. Doutoranda em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. danielle.matarim@fazu.br
2 - Professora das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU. Doutora em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo (FZEA/USP). juliana.paschoal@fazu.br
3 - Graduado em Zootecnia, Faculdades Associadas de Uberaba - FAZU. rodrigofcardoso27@hotmail.com

RESUMO -

O objetivo desse estudo foi avaliar características de carcaça de bovinos Nelore e cruzados Nelore x Angus, com diferentes idades, terminados em confinamento. O experimento foi conduzido na FAZU, onde foram avaliados 39 bovinos, sendo 19 animais da raça Nelore, e 20 cruzados Nelore x Angus, com idade média de 30 e 24 meses, respectivamente. A dieta, baseada em concentrado sem fibra efetiva, foi fornecida aos animais três vezes ao dia. Foram coletadas por ultrassonografia informações da área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS), espessura de gordura na garupa (EGG) e marmoreio (MAR). Após o abate dos animais obteve-se o peso da carcaça quente (PCQ), rendimento de carcaça (RC) e peso de estômagos. As características de carcaças medidas por ultrassom foram semelhantes para os dois grupos, assim como o peso de estômagos. Os animais Nelore apresentaram maiores médias de PCQ e RC, no entanto, os animais cruzados apresentaram superioridade quanto ao MAR.

Palavras-chave: Angus, marmoreio, Nelore, rendimento de carcaça, ultrassonografia

CHARACTERISTICS OF CARCASS OF BOVINES OF TWO GENETIC GROUPS FINISHED IN FEEDLOT

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate carcass characteristics of Nelore cattle and crossbred Nellore x Angus, with different ages, finished in feedlot. The experiment was conducted on FAZU, where 39 cattle were evaluated, 19 animals of Nelore and 20 crossbred Nellore x Angus, with an average age of 24 and 30 months, respectively. The diet, based on concentrate without effective fiber, was provided to the animals three times a day. Ultrasound information were collected by the rib eye area (REA), backfat thickness (BF), rump fat thickness (RF) and marbling (MAR). After the slaughter of animals was the hot carcass weight (HCW), carcass yield (CY) and weight of stomachs. The characteristics of ultrasound measurements were similar for the two groups, as well as the weight of the stomachs. The Nelore animals presented higher averages of HCW and CY, however, the animals crossed showed superiority as the MAR.
Keywords: Angus, marbling, Nelore, carcass yield, ultrasound


Introdução

A pecuária de corte apresenta-se em destaque na economia brasileira, sendo a atividade econômica que ocupa a maior extensão de terras no país. Essa atividade tem como base genética, predominantemente animais Bos taurus indicus, sendo destaque a raça Nelore, utilizando-se ou não cruzamento (FERRAZ; FELÍCIO, 2010). A opção do cruzamento permite a junção de características dos Bos taurus indicus como a tolerância climática, aumento da resistência a doenças e parasitas, e características dos Bos taurus taurus como a precocidade sexual e de terminação, permitindo produzir carcaças com excelente acabamento de gordura e qualidade de carne (HIGHFILL et al., 2012). Aliado à genética, o confinamento é considerado uma estratégia alimentar para a fase de engorda dos animais, com o propósito de melhorar a produtividade e a rentabilidade da atividade. A adoção desse sistema antecipa o abate dos animais reduzindo seu tempo na propriedade, pode melhorar a qualidade da carcaça e ainda ser comercializado com bons preços no período da entressafra. Todas estas estratégias tem como objetivo a maior produção de carne, que ao final da cadeia de produção pode ser traduzida em rendimento de carcaça (RC). O RC é influenciado por fatores raça, sexo, condição corporal e peso ao abate, além do manejo alimentar e sistema de terminação (LIMA, 2013).  Além do rendimento há informações que podem ser obtidas com o animal ainda vivo e são indicativas de produção e qualidade de carne, como AOL, EGS, EGG e MAR.

Revisão Bibliográfica

Segundo dados do ANUALPEC (2015), o rebanho bovino brasileiro é de aproximadamente 200 milhões de cabeças, composto principalmente por animais da raça Nelore. A raça tem grande aceitação devido aos índices de desempenho produtivo e reprodutivo em climas tropicais. Apesar da grande produção são intensas as pesquisas em busca de formas de maximizar a eficiência de produção de carne, o que inclui o aporte genético em consequência de cruzamentos. Assim os produtos de cruzamentos entre Bos taurus taurus e Bos taurus indicus, apresentam características de interesse dos frigoríficos mais exigentes em padrões de qualidade, como peso e acabamento, além de apresentar carne significativamente mais macia (MEDEIROS, 2006). Além da genética o sistema de produção tem grande influência na qualidade e produtividade da criação de bovinos de corte, sendo o confinamento uma estratégia alimentar que objetiva alto desempenho. Tradicionalmente as dietas de confinamento utilizam altas proporções de volumosos, porém dietas com maiores proporções de concentrado e/ou sem fibra efetiva tem se tornado viável, pois apresentam melhores respostas quanto a ganho de peso, além de reduzir os custos de mão de obra, aumentando a rentabilidade do sistema (OLIVEIRA; RIGO, 2012). A alimentação exerce influência na composição da carcaça e no acabamento do animal podendo alterar a porcentagem de gordura na carcaça e no músculo (BERG; BUTTERFIELD, 1976). Através da técnica de ultrassonografia é possível monitorar essa influência através da coleta de informações indicativas de produção e qualidade de carne. A área de olho do lombo (AOL) é indicativa de musculosidade, rendimento de carcaça e ganho de peso (FORREST e FREEMAN, 1975). Já as espessuras de gordura, medidas na área de olho de lombo (EGS) e na garupa (EGG) indicam o grau de acabamento da carcaça e refletem em carne de qualidade superior (FARIA, 2012). A gordura intramuscular também denominada marmoreio (MAR) colabora com suculência e sabor da carne. As avaliações destas características têm um grande impacto econômico em alguns países. Nos EUA, por exemplo, o produtor recebe um bônus ou penalização dependendo da qualidade da carcaça (do grau de acabamento e musculosidade) de seus animais. A tendência de mercado no Brasil é de se adotar tais práticas, uma vez que existem mercados específicos para carne de qualidade e alguns programas de certificação para garantia deste produto estão sendo desenvolvidos (FARIA, 2012).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido em uma área experimental da Fazenda Escola das Faculdades Associadas de Uberaba, localizada no município de Uberaba, MG. Foram avaliados 39 bovinos, sendo 19 animais da raça Nelore, e 20 animais cruzados Nelore x Angus, com idade média de 30 e 24 meses, respectivamente. O peso médio de entrada foi de 429 kg no primeiro grupo e o segundo grupo apresentou média de 355 kg. Os animais foram confinados por um  período experimental de 120 dias, sendo os 21 dias iniciais de adaptação às instalações e à dieta. A alimentação foi fornecida aos animais 3 vezes ao dia com relação volumoso/concentrado de 0/100, com  consumo ad libitum permitindo sobras diárias entre 5 a 10%. Antes de serem abatidos os animais passaram por avaliação ultrassonografica para avaliação das características de carcaça. Para cada animal foi colhida uma imagem entre a 12ª e 13ª costelas, para mensuração da AOL e EGS, cinco imagens entre a 11ª e 13ª costelas para estimativa da porcentagem de gordura intramuscular (MAR) e entre uma imagem da intersecção dos músculos gluteus medius e bíceps femoris, localizados entre o ílio e o ísquio, para a obtenção da EGG. As imagens obtidas foram gravadas em um microcomputador acoplado ao ultrassom, para posterior análise. O peso da carcaça quente (PCQ) foi obtido logo após o abate dos animais, pesando-se as meias carcaças devidamente identificadas, de acordo com as raças, e expresso em kg. A partir dos dados de peso vivo, estimado na entrada do frigorífico, e do PCQ foi calculado o rendimento de carcaça (RC). Após a evisceração foi obtido o peso dos estômagos. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC) e para todas as análises foi utilizado o programa estatístico SISVAR, versão 5.1. Foi realizada análise de variância e as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de significância (p<0,05).

Resultados e Discussão

Os animais Nelore e cruzados foram levados ao abate com peso vivo semelhante, 573,32 kg e 564,4 kg, respectivamente. No entanto o RC foi significativamente maior no grupo Nelore (59,46 %) que no grupo F1 (56,57%). Consequentemente o peso da carcaça quente foi superior no primeiro grupo (Tabela 1). Silva et al. (2003) avaliando o RC de bovinos predito por medidas de ultrassonografia, verificaram que animais cruzados, Brangus, apresentaram menores valores quando comparados com animais Nelore puros, 55,5% e 58,1%, respectivamente. Tal afirmação está de acordo com o observado no presente estudo em que os animais puros apresentaram maior média de RC. O peso de estômago e as características de carcaça medidas por ultrassom foram semelhantes para os dois tratamentos, exceto o MAR que foi maior nos animais cruzados em relação aos animais Nelore (2,63 %, 2,21%). As características de gordura avaliadas determinam o grau de acabamento da carcaça e sua deposição determina a qualidade da carne, pois a gordura protege a carcaça durante o resfriamento, evitando o encurtamento das fibras musculares e, por conseguinte, o endurecimento das mesmas (PINHEIRO, 2010). Bonilha et al. (2005), não observaram diferença significativa para EGG e EGS entre machos Nelore puros comparativamente a machos cruzados, ambos em confinamento, resultado semelhante ao observado no presente estudo. Sainz et al. (2003), avaliando animais Nelores machos tomaram medidas da AOL e das espessuras de gordura no lombo e na garupa a cada 3 meses, dos 15 aos 24 meses de idade. Os autores observaram que a AOL apresentou crescimento linear neste período, enquanto a deposição de EGS e de EGG, apresentaram um padrão complexo, com crescimento até 19 meses e queda após esta idade, fato que pode estar relacionado à puberdade dos animais. No presente estudo os animais avaliados encontravam-se em idades diferentes, os Nelores com média de 30 meses e Nelore x Angus com 24 meses, o que pode ter influenciado os resultados obtidos e sugere precocidade dos animais Nelore x Angus estudados. Sainz (2003) em estudo sobre a genética como condicionante na melhora da qualidade da carne brasileira, verificou rendimentos de carcaça superiores em animais puros zebuínos e animais ½ Angus com pesos de carcaça inferiores. Porém, os ½ Angus apresentaram maior área de olho de lombo, grau de acabamento e gordura subcutânea. Os autores, assim como no presente estudo, observaram maior escore de marmoreio nos animais cruzados que nos zebuínos. Souza Júnior et al. (2012) em estudo sobre características de carcaça e qualidade de carne de animais puros e cruzados, verificou que a raça Angus é eficiente em cruzamento com Nelore, produzindo carnes com maior porcentagem de marmoreio quando comparados com touros puros ao mesmo nível de acabamento, indicando que a presença dos genes dessa raça influencia positivamente essa característica.

Conclusões

Sob as condições experimentais os animais cruzados Angus x Nelore apresentaram desempenho precoce das características de carcaça mensuradas in vivo, uma vez que os animais Nelore iniciaram o experimento com idade superior em seis meses e ao final do período ambos foram abatidos com mesmo peso, AOL e espessuras de gordura. Além da precocidade o cruzamento proporcionou uma maior deposição de gordura intramuscular, ponto importante na qualidade e valorização da carne bovina. A superioridade dos animais Nelore se deu somente no rendimento de carcaça e consequentemente no peso da carcaça quente, características importantes, mas que analisadas isoladamente não se traduzem em lucro para a atividade.

Gráficos e Tabelas




Referências

ANUALPEC - Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: Instituto FNP, 2015. BERG, R. T.; BUTTERFIELD, R. M.New concepts of catle growth. New York:Halsted Press, 1976. 240 p. FARIA, M. H. A ultrassonografia como critério de abate em bovinos de corte. Pesquisa & Tecnologia, v. 9, n. 1, p. 2-10, jan-jun 2012. FERRAZ, J. B. S.; FELÍCIO, P. E. D. Production systems ‐ an example from Brazil. Meat Science, v. 84, v. 2, 238‐243, 2010. FORREST, J. C. A.; FREEMAN, W. H. Principles of meat science. Freeman and Company, 1975. 417 p. HIGHFILL, C. M.; ESQUIVEL-FONT, O.; DIKEMAN, M. E.; KROPF, D.H. Tendernessprofiles of ten muscles from F1 Bos indicus x Bos taurus and Bos taurus cattle cooked as steaks and roasts. Meat Science, n. 90, v. 4, p. 881-886, 2010. LIMA, E. S. Desempenho produtivo e qualidade da carne de bovinos nelore recebendo fontes de lipídio na dieta. Tese (Doutorado). Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Botucatu, 2013, 77 p. MEDEIROS, F. S. Angus no Cruzamento Industrial. Programa Carne Angus Certificada, n. 1, v. 1, 2006. OLIVEIRA, M. V.; RIGO, E, J. Utilização de dietas com alto grão para terminação de animais de corte. FAZU em Revista, v. 3, p. 1-5, 2012 PINHEIRO, T. R. Estudo de características de carcaça, obtidas por ultrassom, em bovinos Nelore selecionados para peso. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Zootecnia Nova Odessa - SP, 2010, 77p. SAINZ, R.D.; ARAUJO, F.R.C.; MANICARDI, F.; RAMOS, J.R.H.; MAGNABOSCO, C.U.; BEZERRA, L.A.F.; LOBO, R.B. Melhoramento genético da carcaça em gado zebuíno. In: SEMINARIO NACIONAL DE CRIADORES E PESQUISADORES, MELHORAMENTO GENETICO E PLANEJAMENTO PECUARIO. Ribeirão Preto-SP, 2003. Anais... Ribeirão Preto: ANCP, 2003. CD-ROM. SILVA, S. L.; LEME, P. R.; PUTRINO, S. M.; MARTELLO, L. S.; LIMA, C. G. L.; LANNA, D. P. D. Estimativa do peso e do rendimento de carcaça de tourinhos Brangus e Nelore, por medidas de ultra-sonografia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.5, p.1227-1235, 2003. SOUZA JUNIOR, M. D.; TORRES JUNIOR, R. A. A.; MEDEIROS, S. R.; FEIJÓ, G. L. D.; BATTISTELLI, J. V. F.; SILVA, L. N. Características de carcaça e qualidade de carne de animais cruzados de raças sintéticas, taurinas adaptadas e não adaptadas. In: IX Simpósio Brasileiro de Melhoramento Animal. Anais… João Pessoa, PB, 2012.