Caracterização qualitativa do feno de tifton 85 (Cynodon sp.) disponível para comércio na Microrregião de Pinhalzinho-SC

Daniel Augusto Barreta1, Alexandre Bernardi2, Mauricio Barreta3, Aline Zampar4, Antonio Waldimir Leopoldino da Silva5
1 - Zootecnista, Mestrando em Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina
2 - Zootecnista, Mestrando em Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina
3 - Zootecnista, Mestrando em Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina
4 - Doutor (a), professor (a) do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina
5 - Doutor (a), professor (a) do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina

RESUMO -

A produção e comercialização de feno é uma atividade em expansão na microrregião de Pinhalzinho-SC, no entanto, não há informações que caracterizem a qualidade intrínseca do material disponível ao consumidor. O presente estudo buscou avaliar a qualidade do feno de tifton 85 disponível para comércio na microrregião de Pinhalzinho. Foram realizadas visitas a 10 produtores de feno comercial, na qual adquiriu-se três fardos por propriedade. O material foi analisado quanto a composição químico-bromatológica. As propriedades diferiram (p<0,05) entre si em termos de proteína bruta (PB), variando de 8,73 a 12,03%, para nutrientes digestíveis totais (NDT) os valores concentraram-se entre 60 e 62,16%, enquanto que para fibra em detergente neutro (FDN) variaram de 72,21 a 76,14%, quanto a digestibilidade estimada da matéria seca (DEMS) esta variou de 57,46% a 60,33%. A qualidade intrínseca do feno de tifton 85 é bastante variável entre propriedades.

Palavras-chave: bromatologia, comercialização, proteína bruta

Qualitative characterization of tifton 85 hay (Cynodon sp.) Available for trade in the Pinhalzinho Microregion-SC

ABSTRACT - The production and commercialization of hay is an expanding activity in the Pinhalzinho-SC microregion, however, there is no information that characterizes the intrinsic quality of the material available to the consumer. The present study aimed to evaluate the quality of tifton 85 hay available for trade in Pinhalzinho microregion. Visits were made to 10 producers of commercial hay, in which three bales were acquired per property. The material was analyzed for the chemical-bromatological composition. The properties differed (p<0.05) from each other in terms of crude protein (CP), ranging from 8.73 to 12.03%, for total digestible nutrients (NDT), the values were between 60 and 62.16 %, While for neutral detergent fiber (NDF) ranged from 72.21 to 76.14%, as the dry matter digestibility (DEMS) ranged from 57.46% to 60.33%. The intrinsic quality of tifton 85 hay is quite variable between properties.
Keywords: bromatology, commercialization, crude protein


Introdução

Santa Catarina é o quinto maior produtor de leite do País, sendo a região Oeste do Estado a principal produtora (Epagri/Cepa, 2016). Na região, destaca-se o município de Pinhalzinho, onde é preponderante o sistema de produção de leite à base de pasto com suplementação, mas também é significativo o aumento do uso de sistemas de confinamento, sendo que em ambos os sistemas é comum o uso de forrageiras conservadas. Tal fato evidencia a importância do feno para a atividade leiteira, este aumento da demanda fez com que muitos produtores migrassem para a atividade de produção e venda de fardos de feno, vislumbrando um mercado ascendente (Neres & Ames, 2015). Contudo, as informações quanto a qualidade químico-bromatológica do material comercial são escassas, o que implica em uma determinação de qualidade pautada apenas no aspecto visual dos fardos. Assim, com este trabalho objetivou-se avaliar a qualidade químico-bromatológica de fenos de tifton 85 disponíveis para comércio na microrregião de Pinhalzinho.

Revisão Bibliográfica

Feno é o produto conservado obtido pela desidratação parcial e controlada de forrageiras, obtendo-se uma forragem cujo valor nutritivo deve ser próximo ao do momento de corte. Seja como suplemento de uso estratégico em épocas de entressafra ou como base da alimentação, é inegável a importância dos fenos nos sistemas de produção de ruminantes (Silva et al., 2015). A fenação pode ser realizada mediante a colheita do excesso das pastagens ou através do cultivo de áreas exclusivas para corte. Nos últimos anos, a produção de feno no Brasil recebeu substancial incremento. Ainda que não se tenha dados oficiais a respeito, observa-se uma tendência crescente de emprego deste material na dieta animal (Reis et al., 2013). A Região Oeste de Santa Catarina é um exemplo desta realidade, destacando-se, neste contexto, as gramíneas do gênero Cynodon, em particular tifton 85 e jiggs. Jobim et al. (2001) afirmam que as gramíneas do gênero Cynodon apresentam características favoráveis à fenação, como alta produção de forragem (20 ton. MS/ha), bom teor proteico (12% de PB) e boa relação lâmina/caule. A qualidade do produto pode ser afetada por inúmeros fatores, Cândido et al. (2008) especificam melhor estes fatores, fazendo referência à espécie forrageira, fertilidade do solo, disponibilidade de água para produção da forrageira, idade da planta no momento do corte, condições climáticas na ocasião da fenação, rapidez na desidratação, umidade e forma de armazenamento. Tais informações elucidam que, para se ter um feno de alta qualidade, é necessário haver um sinergismo entre estes fatores. Mesmo conhecendo as possíveis interferências destes fatores na qualidade do feno, são escassas informações que caracterizem a qualidade bromatológica do material comercial. Isso também é comum nos EUA, onde o mercado é mais consolidado, porém os produtores vêem o feno como um produto homogêneo (Dant et al., 2017).

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado na microrregião de Pinhalzinho, região Oeste do estado de Santa Catarina, onde o clima, segundo a classificação de Köppen é considerado subtropical de verão ameno, sem estação seca (Cfb). Foram selecionados 10 produtores de feno de tifton 85 que comercializam o produto na região. Os produtores foram escolhidos de forma a representar, na maior amplitude possível, o segmento em questão. Fez-se a visita presencial aos produtores, na qual foram adquiridos três fardos por produtor (provenientes do corte mais recente), sendo que as propriedades constituíram os tratamentos e os fardos as repetições. Os fardos foram escolhidos ao acaso em diferentes pontos do local de armazenamento. De cada fardo foi retirada uma amostra para determinação da matéria seca (MS), conforme a metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002).  Na sequência, o material foi encaminhado para análise químico-bromatológica de proteína bruta (PB), nutrientes digestíveis totais (NDT), fibra em detergente neutro (FDN) e digestibilidade estimada da matérias seca (DEMS) por meio de Espectrometria de Refletância por Infravermelho Próximo (NIRS), segundo descrito por Marten et al. (1989). Os dados foram submetidos à análise de variância (p<0,05) e quando significativas as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey (p<0,05).

Resultados e Discussão

Os teores de PB, NDT e FDN, bem como a DEMS dos fenos, de acordo com a propriedade produtora, são apresentados na Tabela 1. O teor de PB do feno diferiu (p<0,05) entre as propriedades, situando-se entre os limites 87,3 a 120,3 g kg-1, variação esta que pode ter sido ocasionada por fatores como idade ao corte, nível de adubação, condições de secagem e armazenamento entre outros.  O teor de PB médio observado (107,6 g kg-1) ficou abaixo dos valores obtidos por Taffarel et al. (2014), com feno ceifado aos 35 dias e seco a campo (141,6 g kg-1). Contudo, foi semelhante ao encontrado por Oliveira et al. (2000) aos 39 dias de rebrote. Quanto a NDT, os fenos apresentaram uma média de 606,3 g kg-1, valor semelhante ao citado por Rodrigues (2009). O NDT é uma forma de estimar o valor energético do material e tem correlação negativa com o teor de fibra (NRC, 2001). Este indicador é influenciado por uma série de fatores, tais como idade da planta, adubação nitrogenada, relação folha/colmo, tipo de secagem (a campo ou galpão) e época do ano (Ataíde Júnior et al., 2000; Taffarel et al., 2014; Rezende et al., 2015). Esta multiplicidade de fatores não permite apontar precisamente os elementos que possam ter determinado as diferenças (p<0,05) verificadas entre os tratamentos. Os teores de FDN situaram-se entre 722,1 e 764,1 g kg-1, com média de 749,8 g kg1, similar ao registrado por Rodrigues (2009), mas que podem ser considerados elevados. Ribeiro e Pereira (2010) afirmam que os elevados valores de FDN apresentados pelo tifton 85 reproduzem uma característica própria do gênero Cynodon. A FDN compreende as frações celulose, hemicelulose e lignina da forragem, as quais retardam a degradação do alimento, diminuem a digestibilidade e determinam redução na taxa de consumo (Cardoso et al., 2006). As propriedades diferiram (p<0,05) quanto ao teor de FDN do feno. O que pode ser devido à idade da planta, fatores climáticos, nível de adubação, tipo de desidratação e período de armazenagem (Oliveira et al., 2000; Ribeiro & Pereira, 2010; Taffarel et al., 2014). A DEMS apresentou diferença entre as propriedades (p<0,05), acompanhando os teores de NDT (de forma direta) e FDN (de forma inversa). O valor médio de DEMS (58,57%) está próximo aos índices verificados por Ribeiro & Pereira (2010).

Conclusões

Foram verificadas diferenças de qualidade nos fenos disponíveis para comércio, principalmente em relação à PB. Contudo, os valores encontrados são condizentes com a literatura e dentro de uma normalidade.

Gráficos e Tabelas




Referências

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