Comportamento ingestivo de ovelhas gestantes consumindo diferentes fontes lipídicas

Luciana Melo Sousa1, Adriana Lima Silva2, José Victor dos Santos3, Maria Júlia Pereira de Araújo4, Paulo Arthur Cardoso Ruela5, Thauane Ariel Valadares de Jesus6, Gilberto de Lima Macedo Júnior7, Simone Pedro da Silva8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Uberlândia
5 - Universidade Federal de Uberlândia
6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes lipídicas sobre o comportamento ingestivo de ovelhas gestantes. Foram utilizadas 24 ovelhas, com idade média de 12 meses e peso corporal médio de 50 kg. O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, durante 90 dias. Foram utilizados três concentrados com diferentes fontes de gordura: controle, nutrigordura® (gordura protegida de palma) e caroço de algodão. Para avaliação do comportamento ingestivo, durante 24 horas, e a cada 5 minutos foi identificado se os animais se encontravam em alimentação, ruminação ou ócio. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso. Foi verificado maior tempo em alimentação e mastigação e menor tempo em ócio nos animais que receberam caroço de algodão. Não houve efeito da fonte de gordura sobre o tempo em ruminação. A inclusão de caroço de algodão como fonte de lipídeos afeta positivamente o comportamento ingestivo de ovelhas em gestação.

Palavras-chave: caroço de algodão, gordura protegida, ovinos

Feeding behavior in pregnant sheep fed different lipid sources

ABSTRACT - The objective was to evaluate the inclusion of different fat sources on feeding behavior in pregnant sheep. Twenty four sheep were used, with an average age of 12 months and an average weight of 50kg. The experiment was conducted at Federal University of Uberlândia, during 90 days. Three concentrates with different sources of fat were used: control, nutrigordura® (rumen-protected fat palm) and cottonseed. To evaluate the feeding behavior, in 24 hours, and every 5 minutes were noticed if the animals were feeding, ruminating or idling. The experimental design was completely randomized. It was noticed longer time of feeding and chewing and less time idling on animals fed with cottonseed. There was no effect of fat source over time on rumination. The inclusion of cottonseed as a source of fat affects positive the feeding behavior of pregnant sheep.
Keywords: cottonseed, rumen-protected fat, sheep


Introdução

Ovelhas em final de gestação apresentam queda no consumo de alimentos em função de limitações físicas do rúmen, que ocorrem devido ao crescimento do feto. Além disso, a demanda por energia aumenta, devido o maior crescimento do feto ocorrer no terço final da gestação. Dessa forma, se esses animais não forem alimentados com dietas ricas em energia, eles passam a mobilizar grande quantidade de gordura e podem desenvolver problemas metabólicos. Nesse sentido, tem sido proposto a utilização de rações ricas em gorduras para aumentar o consumo de energia nessa fase, considerada crítica dentro do sistema de produção de ovinos. As principais fontes de lipídeos para ruminantes são os óleos, as gorduras protegidas e as sementes de oleaginosas, consideradas parcialmente protegidas da degradação ruminal. Todos esses alimentos precisam ser mais bem estudados na alimentação de ovelhas gestantes, a fim de maximizar o consumo de energia e evitar distúrbios metabólicos. O comportamento ingestivo é uma ferramenta de grande importância na avaliação das dietas, pois possibilita ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhores índices produtivos. Desse modo, objetivou-se avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes lipídicas sobre o comportamento ingestivo de ovelhas em gestação.

Revisão Bibliográfica

O estudo do comportamento ingestivo tem recebido atenção crescente de pesquisadores das áreas de Produção e Nutrição Animal (Macedo et al., 2007). Segundo Carvalho et al. (2008), animais em regime de confinamento geralmente consomem alta quantidade de concentrados para suprir as exigências de energia e proteína. Entre os ingredientes mais utilizados destacam-se o milho e o farelo de soja, pois formam excelente combinação de energia e proteína de alto valor biológico, entretanto, o elevado custo constitui fator limitante à sua utilização. Neste contexto, esforços têm sido despendidos na busca por alimentos alternativos de baixo custo que possam substituir parcial ou totalmente os ingredientes padrões. As gorduras protegidas são ácidos graxos que são combinados com cátions bivalentes como o cálcio, formando sais insolúveis no pH ruminal, que confere uma proteção a esses ácidos graxos que permitem eles passarem pelo rumen “inertes”. Estes ácidos graxos de cadeia longa fornecidos através da suplementação lipídica são absorvidos e utilizados com alta eficiência para a lactação, pois podem ser diretamente transferidos para a gordura do leite poupando energia para outras funções produtivas da glândula mamária. A gordura protegida de palma é mais segura, garante aporte energético similar ao da gordura de soja e diminui muito o risco de queda nos teores de gordura do leite. As atividades diárias dos ovinos compreendem períodos que alternam alimentação, ruminação e ócio. Os períodos de ruminação e ócio ocorrem entre as refeições, existindo diferenças entre indivíduos quanto à duração e repetição dessas atividades, que parecem estar relacionadas às condições climáticas e de manejo, ao apetite dos animais, à exigência nutricional e, principalmente, à relação volumoso:concentrado da dieta (Silva et al., 2009). Nesse sentido, o estudo do comportamento ingestivo dos ruminantes tem sido usado com o objetivo de estudar os efeitos do arraçoamento ou quantidade e qualidade nutritiva de alimentos sobre o comportamento ingestivo, estabelecer a relação entre comportamento ingestivo e consumo de nutrientes e verificar o uso potencial do conhecimento a respeito do comportamento ingestivo para melhorar o desempenho animal.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, na Fazenda Experimental Capim Branco, no setor de ovinos e caprinos. Foram utilizadas 24 ovelhas gestantes, com idade média de 12 meses e peso corporal médio de 50 kg. Esses animais receberam três rações com diferentes fontes de gordura: controle (isento de gordura suplementar), nutrigordura® (gordura protegida de palma) e caroço de algodão inteiro (Tabela 1). E também silagem de milho (volumoso). O experimento teve duração de 90 dias, sendo quinze dias para adaptação dos animais às dietas e ao ambiente experimental e 75 dias para a determinação do comportamento ingestivo. As ovelhas estavam com aproximadamente 60 dias de gestação no início do experimento. Antes do início experimental as ovelhas estavam em pasto de capim Braquiária brizantha, cultivar Marandu recebendo suplemento proteico e energético na forma de proteinado. As ovelhas foram protocoladas e foi realizado ultrassonografia para a confirmação da prenhez. As rações foram balanceadas segundo o NRC (2007) para ovelhas em gestação. As mesmas foram compostas por silagem de milho, farelo de milho, farelo de soja, diferentes fontes de gordura e mistura mineral específica para espécie ovina. A relação volumoso:concentrado foi de 60:40. Os animais foram mantidos em baias coletivas com piso ripado, passaram por procedimento padrão de pesagem, identificação, vermifugação e posteriormente foram sorteados nos tratamentos. A oferta de ração foi à vontade (cerca de 3,5% do peso corporal), de forma que sobrasse entre 10 e 15% da ração total fornecida. O fornecimento da ração ocorreu duas vezes ao dia (8 e 16 horas). A avaliação de comportamento ingestivo foi realizada aos 60 dias de experimento (mais ou menos 120 dias de gestação), para isso a cada cinco minutos, durante 24 horas, foram identificados se os animais estavam em ócio, ruminação ou alimentação. A variável mastigação total foi obtida pelo somatório do tempo gasto em alimentação e ruminação (Hodgson, 1982). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado. As médias foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Os animais que receberam caroço de algodão apresentaram maior tempo em mastigação (Tabela 2), o que pode ser explicado pelo fato da proteína do caroço de algodão apresentar lenta degradabilidade e ter maior tempo de permanência no rúmen (Manella et al., 2000). Esta característica pode ser vantajosa para a otimização da síntese de proteína microbiana, ou seja, em associação com fontes energéticas de lenta degradabilidade (casca de soja, milho moído, etc.) possibilita a sincronização da liberação de amônia (degradação da proteína) e da cadeia de carbono (degradação da fibra), de forma mais homogênea ao decorrer do período. Além disso, pode estar relacionado com o fato de o grão do caroço ter sido fornecido inteiro aos animais, o que estimula a ruminação, fazendo com que os animais apresentem maior tempo em mastigação, já que o cálculo da mastigação total é obtido pelo somatório do tempo gasto em alimentação e ruminação. Também apresentaram maior tempo em alimentação (Tabela 2), o que pode ter ocorrido pelo fato desse alimento ter sido oferecido inteiro aos animais, o que possibilitou que houvesse seleção ou rejeição por esse ingrediente e ocasionou maior tempo em alimentação. E foi observado menor tempo em ócio nesses animais comparado aos outros tratamentos. O aumento no tempo de mastigação total e a redução no tempo despendido em ócio em função da inclusão do caroço de algodão na dieta podem ser explicados pelo aumento no tempo gasto com ruminação. Segundo Van Soest (1994), o tempo gasto em ruminação é proporcional ao teor de parede celular dos alimentos volumosos, sendo a efetividade da fibra, fator primordial para estímulo da mastigação. Alimentos concentrados e fenos finamente triturados ou peletizados reduzem o tempo de ruminação, enquanto volumosos com alto teor de parede celular tendem a elevar o tempo de ruminação. Apesar do caroço de algodão ter sido fornecido como concentrado para esses animais, o línter (fibras de celulose) contido dá a ele características de alimento volumoso. O caroço de algodão é considerado um alimento muito palatável para ruminantes, e “completo”, porque reúne características de alimento volumoso (> 18% de FB na MS), de concentrado proteico (> 20% de PB na MS) e de concentrado energético (rico em energia). Além disso, é considerada a relação volumoso:concentrado, que foi de 60:40. A capacidade das fibras de estimular a ruminação é denominada "efetividade". Segundo Peres (2002) vários trabalhos já demonstraram a "efetividade" da fibra do caroço de algodão. Acredita-se que o "enchimento" provocado pelo caroço de algodão acaba diminuindo a taxa de passagem dos alimentos pelo rúmen, o que estimula a ruminação. Não houve efeito da fonte de gordura sobre o tempo em ruminação (Tabela 2). Segundo Van Soest et al. (1991), a atividade de ruminação em animais adultos ocupa cerca de oito horas por dia com variações entre 4 e 9 horas. Assim, verifica-se que o tempo de ruminação está dentro da média esperada, visto que foram gastos 4,27 horas, em média, ruminando.

Conclusões

A inclusão do caroço de algodão (grão inteiro) como fonte de lipídeos afeta o comportamento ingestivo de ovelhas em gestação. O grão fornecido inteiro estimula a mastigação e faz com que esses animais passem menor tempo em ócio e maior tempo em alimentação.

Gráficos e Tabelas




Referências

Grant, R.J.; Albright, J.L. Feeding behaviour and management factors during the transition period in dairy cattle. Journal of Animal Science, v.73, n.12. p.2791-2803, 1995. Hodgson, J. Influence of sward characteristics on diet selection and herbage intake by the grazing animal. In: HACKER, J.B. (Ed.) Nutritional limits to animal production from pasture. Queensland: CAB, 1982. p.153-166. Peres, J.R. Caroço de algodão e resíduo de cervejaria como substitutos de forragens. Milk Point, 2002. Disponível em: < http://m.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/caroco-de-algodao-e-residuo-de-cervejaria-como-substitutos-de-forragens-15921n.aspx> Acesso em: 30/03/2017. Manella, M.Q.; Lourenço, A.J.; Leme, P.R. Bovinos nelore em pastos de Brachiaria brizantha com suplementação protéica ou com acesso a banco de poretína de Leucaena lecocephala. In: REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 37.,Viçosa, MG. 2000. Anais…Viçosa: SBZ, 2000. 0693. National Research Council - NRC. Nutrient requirements of small ruminants. 2007, 362p. Van Soest, P.J.; Robertson, J.B.; Lewis, B.A. Methods for extraction fiber, neutral detergent fiber and nonstarch polysaccarides in relation to animal nutrition cows. Journal of Dairy Science, v.83, n.3, p.3583-3597, 1991.