Componentes não fibrosos de dietas contendo caroço de algodão integral ou desintegrado, tratado ou não com lignosulfonato em dietas com elevados teores de concentrados para ovinos

Thais Santana Soares1, Pablo Teixeira Viana2, Gleidson Giordano Pinto de Carvalho3, Mauro Pereira de Figueiredo4, Hosnerson Renan de Oliveira Santos5, Luiza Maria Gigante Nascimento6, Barbara Louise Pacheco Ramos7, Yann dos Santos Luz8
1 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
2 - Faculdade Guanambi, FG/CESG
3 - Universidade Federal da Bahia - UFBA
4 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
5 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
6 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
7 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
8 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os componentes não fibrosos de dietas contendo caroço de algodão integral ou desintegrado, tratado ou não com lignosulfonato em dietas para ovinos. O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado, em um esquema fatorial com um tratamento adicional [(2×2) + 1], com três repetições, Os tratamentos avaliados foram: Caroço de algodão integral (CAI); caroço de algodão desintegrado (CAD); caroço de algodão integral tratado com lignosulfonato (CAIL) 100 g/kg de MS do CA; caroço de algodão desintegrado tratado com lignosulfanato (CADL) e uma dieta controle sem caroço de algodão (CON). Avaliou-se os teores de MS, MM, EE, PB, CNF. A desintegração do caroço de algodão com o processo químico contribuiu com a redução dos teores de MS, EE e um aumento nos valores de MM e umidade. O tratamento químico e físico juntos reduziram o valor da Proteína bruta, sendo esse menor ao da dieta controle.

Palavras-chave: confinamento, co-produto, gossypol, Gossypium hirsutum, ruminantes

Non-fibrous components of diets containing whole or disintegrated cottonseed treated or untreated with lignosulphonate in diets with high levels of concentrates for sheep

ABSTRACT - The objective was to evaluate the non-fibrous components of diets containing whole or disintegrated cottonseed, treated or not with lignosulphonate in diets for sheep. The statistical design used was completely randomized, in a factorial scheme with an additional treatment (2x2) + 1], with three replications. The evaluated treatments were: Whole cotton core (CAI); Disintegrated cotton core (CAD); Lignosulfonate-treated lignosulfonate (CAIL) core 100 g / kg CA MS; Lignosulfanate disintegrated cotton lump (CADL) and a cotton seedless control (CON) diet. The contents of MS, MM, EE, PB, CNF were evaluated. The disintegration of the cotton seed with the chemical process contributed to the reduction of DM, EE and an increase in MM values and humidity. The chemical and physical treatment together reduced the value of crude protein, which is lower than that of the control diet.
Keywords: confinement, co-product, gossypol, Gossypiumhirsutum, ruminants


Introdução

            A utilização de caroço de algodão, devido à sua alta densidade energética, tem ocorrido em substituição aos cereais da dieta por atribuir uma boa alternativa para suplementação lipídica na alimentação de ruminantes. É um alimento rico em proteína bruta (16 a 20%) e possui uma variação de 18% a 22% de gordura (Viana et al., 2009).

            O lignosulfonato é um aglutinante de frações lipídicas,altamente higroscópico, que pode atuar envolvendo os ácidos graxos e impedindo a ação das bactérias, evitando assim a biohidrogenação (Neveset al., 2009).

            Neste panorama, Vieira et al. (2012) relatam que o confinamento, com uso de altos níveis de concentrado, ou o uso exclusivo de grãos na dieta, é uma prática que vem sendo cada vez mais utilizada, objetivando-se a redução da idade de abate e a obtenção de carcaças de qualidade, tendo como um dos principais entraves o elevado custo de produção.

            São escassas as pesquisas realizadas avaliando-se a inclusão do caroço de algodão na dieta de alto concentrado para ovinos. Dessa forma, o estudo do tratamento com lignosulfonato, objetivando proteger a gordura da degradação ruminal do caroço de algodão, se apresenta como uma alternativa para maximizar o valor nutricional desta oleaginosa.

            Objetivou-se com este estudo avaliar os componentes não fibrosos de dietas contendo caroço de algodão integral ou desintegrado, tratado ou não com lignosulfonato em dietas para ovinos.



Revisão Bibliográfica

               O  caroço  de  algodão  é  um  co-produto da indústria têxtil muito utilizado na    alimentação    de    ruminantes    por apresentar  grande  concentração  de  óleo, proteína   e   fibra,   o   que   permite   a substituição  de  alimentos  volumosos  e concentrados      sem      prejudicar      a fermentação  ruminal.  Poucos  alimentos conseguem  reunir  estes  nutrientes  em altas  concentrações  e  apresentar  uma fibra  de  alta  degradabilidade  como  o caroço   de   algodão   ( Harvatine et  al.,  2002;  Rogério et  al., 2003 e Pesce, 2008).

               A  composição  química  do  caroço de  algodão  com  línter  é  de  23,0%  de proteína  bruta  (PB),  20,0%  de  extrato etéreo    (EE),    44,0%    de    fibra    em detergente neutro (FDN), 34,0% de fibra em  detergente  ácido  (FDA)  e  96,0%  de nutrientes digestíveis totais (NDT), estas qualidades    combinadas ao   baixo    custo, fazem    deste    co-produto    um    bom suplemento  protéico  e  energético  em áreas     de     produção     de     algodão (Pesce, 2008).

              Com objetivo melhorar a dieta, em termos de teor e aproveitamento de nutrientes e redução do efeito deletério da gordura no metabolismo animal, algumas técnicas de processamento de alimentos têm sido utilizadas. Entre as principais técnicas de processamento físico e químico, destacam-se a moagem (Vargas Júnior et al., 2008) e o tratamento químico com a utilização do lignosulfonato (Santos et al., 2012).

         Dentre as propriedades dos lignosulfonatos, destacam-se as tenso-ativas, aglomerantes, dispersantes, emulsificantes, aglutinante energético, umectantes, sequestrantes e há de combinar-se com proteínas. Na produção de rações para animais, os lignosulfonatos de cálcio e magnésio são utilizados no processo de peletização, em quecontribui na aglutinação dos ingredientes, além de possuir característica de palatabilizante (Melbar, 2000).



Materiais e Métodos

            O experimento foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista - Ba. Os ingredientes utilizados para elaboração das dietas experimentais foram caroço de algodão (CA), torta de algodão, milho em grão, sal mineral para ovinos, uréia pecuária, bicarbonato de sódio, suplemento vitamínico ADE em pó e lignosulfonato de cálcio.

            O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado, em um esquema fatorial com um tratamento adicional [(2x2) + 1], com três repetições, dos quais consistiram do processamento químico (tratado ou não com lignosulfonato) e o processamento físico (integral ou desintegrado) do caroço de algodão e uma testemunha conforme exposto na Tabela 1. As dietas foram formuladas conforme preconizado pelo NRC (2007).

            A desintegração do CA foi realizada em moinho de martelo, sem peneira, com granulometria aproximada de 5,0 para as dietas CAI e CAIL, e com 2,0 mm para as dietas CAD e CADL. Após a moagem, o caroço de algodão das dietas CAIL e CADL foi tratado com o lignosulfanato utilizando 100g/kg (10%) em relação ao CA, e em seguida homogeneizado com os demais ingredientes formulando as dietas experimentais para posteriores análises.

            Todas as dietas foram acondicionadas em estufa de pré-secagem a 60°C, durante 72 horas. Em seguida moídas em moinho tipo Willey, utilizando-se peneira com crivos de 1 mm, foram avaliados os teores de matéria seca de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE),) segundo procedimentos descritos por Detmann et al., (2012). Os carboidratos não-fibrosos (CNF) a partir da equação: CNF (%) = CT – FDNcp (HALL, 2003).

            Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente, mediante análise de variância (Teste F), e a testemunha foi comparada aos demais tratamentos pelo teste Dunnett e à média dos outrostratamentos foram comparadas pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade, com auxílio do programa ASSISTAT (Silva, 2006).



Resultados e Discussão

          Foi observado efeito significativo (P<0,05) para os teores de MS e Umidade das dietas experimentais comparadas entre os tratamentos (Tabela 2). Os tratamentos CAI, CAD E CAIL foram semelhantes e superiores ao controle com 88,55, 8853, 88,42 % de MS respectivamente, diferindo dos demais. Pelo desdobramento da interação verificou-se que o tratamento CADL apresenta menor teor de matéria seca (87,72 %) pela inclusão do lignosulfonato e pelo processo de desintegração que o caroço de algodão foi submetido neste tratamento (Tabela 3). Isso aconteceu devido à maior área de contato do caroço de algodão promovida pela desintegração, facilitando a aderência do lignosulfonato ao mesmo, pois o lignosulfonato possui características umectantes que ajudam a manter a umidade, segundo (Melbar, 2000), e características higroscópicas (Neves et al., 2009).

          Não foi observado efeito significativo (P<0,05) entre a testemunha e os demais tratamentos para os teores de PB (Tabela 2), mas foi verificado a influência do processamento físico do caroço de algodão nos tratamentos CAD e CADL, ocorrendo uma redução no teor de proteína bruta de 17,70 para 16,80% (Tabela 3).

          A dieta controle apresentouefeito significativo (P<0,05) quando relacionadas às outras dietas com o menor valor de EE, devido à ausência do caroço de algodão nesse tratamento (Tabela 2). Ambos os processos químico e físico do caroço de algodão promoveram a redução dos valores de EE, para o tratamento químico foi de 7,75, sem o lignosulfonato e de 7,07, com o lignosulfonato, para o tratamento físico foi de 7,87 para o caroço inteiro e de 6,95% para o caroço desintegrado (Tabela 3). O processamento químico reduz o EE devido ao lignosulfonato apresentar baixo teor de EE. Já o processamento físico, reduz o teor de EE devido à aderência do óleo do caroço de algodão a máquina desintegradora.

          Para os valores de matéria mineral (Cinzas) não foi observado efeito significativo (P<0,05) entre os tratamentos e a testemunha. Dentro dos tratamentos avaliados foi observada diferença significativa (P<0,05) entre os tratamentos sem o lignosulfonato (3,28%) e para os tratamentos com o lignosulfonato (4,10%) (Tabela 3). Isso ocorreu devido ao tratamento químico com o lignosulfonato, onde o mesmo possui na sua composição química uma porcentagem de 10% de cinzas, sendo essa proporção praticamente duas vezes o valor da matéria mineral do caroço de algodão.

          Para a variável carboidratos não fibrosos foi observado efeito significativo (P<0,05) entre a testemunha e os demais tratamentos avaliados, a testemunha foi superior aos demais, com um valor de 52,34 % e outros tratamentos CON, CAD, CAIL e CADL apresentando 39,12; 42,06; 40,04; 40,69 % respectivamente. Esse valor da testemunha pode ser explicado devido a maior proporção do milho nesta dieta em relação aos outros tratamentos, o mesmo possui 84,9 % de carboidratos em sua composição(Tabela 1) (Valadares Filho et al., 2006).

 

Conclusões

          O processo físico de desintegração, juntamente com o processo químico efetuado com a inclusão do lignosulfonato, contribuíram para a redução dos teores de Matéria seca e Extrato etéreo, e um aumento nos teores de Matéria mineral do caroço de algodão utilizado nas dietas experimentais.

          Os dois processos em conjuntos, do tratamento CADL, reduziram o valor da proteína bruta deixando com valores inferiores ao da dieta controle.



Gráficos e Tabelas




Referências

DETMANN, E.; SOUSA, M.A.de.; VALADARES FILHO, S.C.; QUEIROZ, A.C.; BERCHIELLI, T.T.; SALIBA, E.de O.S.; CABRAL, L.da.S.; PINA, D.dos S.; LADEIRA, M.M., AZEVEDO, J.A.G. Métodos para análise de alimentos. EditoraSuprema. 2012. 214p.

HALL, M.B. Challenges with nonfiber carbohydrate methods.Journal of Animal Science, v.81, p.3226-3232, 2003.

HARVATINE, D.I. et al.Wholelinted cottonseed as  a  forage  substitute:  fiber  effectiveness  and digestion  kinetics. Journal  of  Dairy  Science, v.85, p.1988-1999, 2002.

MELBAR. Lignosulfonato. 22p. São Paulo. [catálogo], 2000.

NEVES, C.A.; SANTOS, W.B.R.; SANTOS, G.T.; SILVA, D.C.; JOBIM, C.C.; SANTOS, F.S.; VISENTAINER, J.V.; PETIT, H.V. Production performance and milk composition of dairy cows fed extruded canola seeds treated with or without lignosulfonate. Animal Feed Science and Technology.v.154, p.83–92, 2009.

NRC - NATIONAL RESEARCH COUNCIL.Nutrients requirements of small ruminants.Washington: National Academies Press, 2007.362p.

PESCE, D.M.C. Efeito da dieta contendo caroço de    algodão    no    desempenho,    característica quantitativa de carcaça e qualitativa da carne de novilhos         Nelore         confinados. 2008, Pirassununga.    155f.    Tese    (doutorado    em Zootecnia).    Curso    de    Pós-Graduação    em Zootecnia. Universidade de São Paulo –USP.

ROGÉRIO,  M.C.P. et  al.Uso  do  carozo  de algodão na alimentação de ruminantes. Arquivo de  Ciência  Veterinária  e  Zoologia–UNIPAR, v.6, n.1, p.85-90, 2003.

SANTOS, W.B.R. dos; SANTOS, G.T. dos; NEVES, C.A.; MARCHI, F.E. de; SILVA-KAZAMA, D.C. da; ÍTAVO, L.C.V.; DAMASCENO, J.C.; PETIT, H.V. Rumen fermentation and nutrient flow to the omasum in Holstein cows fed extruded canola seeds treated with or without lignosulfonate. Revista Brasileira de Zootecnia. v.41, n.7, p.1747-1755, 2012.

SILVA, F. de A. S.; AZEVEDO, C.A.V. de. A new version of the Assistat -Statistical Assistance Software. In: WORLD CONGRESS ON COMPUTERS IN AGRICULTURE, 4., 2006, Orlando. Proceedings... Reno, RV: American Society of Agricultural and Biological Engineers, 2006. p.393-396.

VALADARES FILHO, S.C; PINA, D.S. Fermentação ruminal. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de Ruminantes.1 ed. Jaboticabal.FUNEP, 2006, p.151-182.

VARGAS JÚNIOR, F.M.; SANCHEZ, L.M.B.; WECHSLER, F.S.; BIACHINI, W.; OLIVEIRA, M.V.M. Influência do processamento do grão de milho na digestibilidade de rações e no desempenho de bezerros. Revista Brasileira de Zootecnia. v.37, n.11, p.2056-2062, 2008.

VIANA, P.T.; SANTANA JÚNIOR, H.A. de; ALVES, E.M.; PIRES, A.J.V. Composição e utilização dos co-produtos do algodão na alimentação de bovinos. PUBVET, Londrina, v.3, n. 29, Ed. 90, Art. 645, 2009.

VIEIRA, M.M.M.; CÂNDIDO, M.J.D.; BONFIM, M.A.D.; SEVERINO, L.S.; KHAN, A.S.; SILVA, R.G. Análise bioeconômica da substituição do farelo de soja pelo de mamona para ovinos em confinamento. Agropecuária Científica no Semi-Árido, v.8, n.4, p.07-15, 2012.