Levantamento fitossociológico em áreas de catinga sucessional submetidas a patejo caprino no Cariri paraibano

Kayo Matheus Clementino Régis1, José Ribamar Silva do Nascimento Júnior2, Albericio Pereira de Andrade3, Janieire Dorlamis Cordeiro Bezerra4, Adeilson de Melo Silva5, Géssica Solanna Calado Soares6, Italvan Milfont Macêdo7, Suelane de Melo Dias8
1 - Universidade Federal da Paraíba
2 - Universidade Federal da Paraíba
3 - Universidade Federal da Paraíba
4 - Universidade Federal da Paraíba
5 - Universidade Federal da Paraíba
6 - Universidade Federal da Paraíba
7 - Universidade Federal da Paraíba
8 - Universidade Federal da Paraíba

RESUMO -

A caatinga constitui-se uma fonte importante de alimento para os rebanhos da região Nordeste. Objetivou-se realizar um levantamento da composição florística do estrato arbustivo-arbóreo submetido a diferentes pressões de pastejo caprino em áreas de Caatinga. Avaliou-se três locais: área I com 10 caprinos; área II com 5 caprinos; e a área III sem caprinos. Analisando os parâmetros: densidade absoluta, frequência absoluta e dominância absoluta. Para a análise da heterogeneidade florística utilizou-se o índice de diversidade de Shannon e o índice de equabilidade de Pielou. A área III teve a maior densidade absoluta. Croton sonderianus e Poincionella pyramidalis foram as espécies com maior representatividade. Os valores do índice de diversidade obtidos na área I, II e III foram de 1,591; 1,669 e1,642 respectivamente. Para o índice de equitabilidade obtidos na área I, II, e III foram de 0,603; 0,672 e 0,640, respectivamente. As áreas encontram-se em estádio de sucessão semelhante.

Palavras-chave: Diversidade, Equabilidade, Sucessão

Phytosociological survey in successional caatinga areas submitted to goat grazing in the Cariri, Paraíba, Brazil

ABSTRACT - The caatinga constitutes an important food source for the herds of the Northeast region. The objective of this study was to study the floristic composition of the shrub-arboreal stratus submitted to different pressures of goat grazing in Caatinga areas. Three sites were evaluated: area I with 10 goats; Area II with 5 goats; and area III without goats. Analyzing the parameters: absolute density, absolute frequency and absolute dominance. For the analysis of floristic heterogeneity, were used the diversity index of Shannon and the Pielou equability index. Area III had the highest absolute density. Croton sonderianus, Poincionella pyramidalis were the most representative species. The diversity index values obtained in area I, II and III were 1.591; 1.669 and 1.642 respectively. For the equitability index obtained in the areas I, II, and III were 0.603; 0.672 and 0.640, respectively. The areas are in a similar succession stage.
Keywords: Diversity, Equability, Succession


Introdução

A Caatinga é o principal bioma do semiárido brasileiro, que também recebe outras nomeações populares para as diferentes formações vegetais, como: agreste, sertão, cariri, seridó, carrasco (ARAÚJO-FILHO, 2013). Conforme com Gonzaga-Neto et al. (2001) a caatinga constitui-se em uma das mais importantes fontes de alimentação para os rebanhos desta região, participando significativamente da dieta de caprinos e ovinos. A taxa de lotação acima da recomendada, aliado ao pastejo contínuo destes animais, tende a provocar efeitos marcantes para as populações de plantas nativas e, a composição das comunidades vegetais acaba sendo alterada, pois, enquanto as populações das espécies mais palatáveis sofrem uma grande pressão e tendem a se reduzir, as populações das espécies não consumidas pelos rebanhos podem aumentar. Sabendo-se da importância em se conhecer os mecanismos que definem a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas da caatinga, torna-se indispensável a necessidade de pesquisas sobre os aspectos floríticos e fitossociológicos. Nesse sentido, objetivou-se realizar um levantamento da composição fitossociológica do estrato arbustivo-arbóreo submetido a diferentes pressões de pastejo caprino em áreas de Caatinga sucessional no Cariri paraibano.

Revisão Bibliográfica

Um dos primeiros aspectos a serem averiguado nas áreas florestais é a composição florística e fitossociológica, seja em áreas que tenha como objetivo a pesquisa, ou o manejo agrosilvipastoril, ou qualquer atividade que utilize os recursos vegetais (Barbosa, 2011) A fitossociologia é conceituada como a ecologia quantitativa de comunidades vegetais.  E envolve  as inter-relações de espécies no espaço e, de certa forma no tempo. Seus objetivos referem-se aos estudos quantitativos da composição florística, estrutura, funcionamento dinâmico, distribuição e relações ambientais da comunidade vegetal, mantendo relações estreitas com a Fitogeografia e as Ciências Florestais (MARTINS, 1989; Barbosa, 2011). Segundo Chaves et al (2013), as pesquisas sobre a composição florística e a estrutura fitossociológica das formações florestais são de fundamental importância, pois, oferecem recursos para a compreensão da estrutura e da dinâmica destas formações, parâmetros imprescindíveis para o manejo e regeneração das diferentes comunidades vegetais.

Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida na Estação Experimental, pertencente ao Campus II da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizada no município de São João do Cariri-PB, situada entre as coordenadas 36º 33’32” e 36º 31’20” de longitude oeste e 7º 23’36”e 7º 19’48” de latitude sul. A área tem relevo suave ondulado, com altitude variando entre 510 a 480 m. O município está inserido na zona fisiográfica do Planalto da Borborema, fazendo parte da microrregião do Cariri Oriental. Segundo a classificação de Köppen, predomina na região o clima Bsh - semiárido quente com chuvas de verão. Com temperatura média, máxima de 27,2 °C e mínima de 23,1 °C, precipitação média de 400 mm/ano e umidade relativa do ar 70%. Os solos presentes na região em estudo são Litólicos e, em menor proporção, Neossolos. O local de estudo apresenta uma área de 9,6 ha, dividida em três áreas contíguas de 3,2 ha cada. Onde foram selecionadas três categorias de ambiente: área I com 10 caprinos; área II com 5 caprinos; e a área III ausência de caprinos. Para o estudo de florística e fitossociologia foi utilizado o método de amostragem de parcelas contíguas (Muller-Dombois & Ellemberg, 1974; Rodal et al., 1992) em área de um hectare de caatinga em cada ambiente estudado. Esta área foi dividida em 100 parcelas de 10m x 10m. O processamento dos dados fitossociológicos, foi realizado por meio do programa Mata Nativa 2. Foram analisados os parâmetros: densidade absoluta (DA), frequência absoluta (FA) e dominância absoluta (DoA) (Mueller-Dombois & Ellenberg, 1974). Para a classificação das espécies, foi adotado o sistema de APG III. Para a análise da heterogeneidade florística das áreas utilizou-se o índice de diversidade de Shannon (H’) e o índice de equabilidade de Pielou (J’).

Resultados e Discussão

A área III teve a maior densidade absoluta (DA=3.042), seguido das áreas I e II, com valores de 2.145, 2.108, respectivamente (Tabela 1) sugerindo que as áreas I e II se encontram em um estágio de sucessão parecido. Araújo-Filho (2002) avaliando áreas de caatinga, obteve valores de densidade de 3.585 plantas/ha, valor próximo ao da área III. Croton sonderianus, foi a espécie que obteve o maior valor de densidade absoluta, na área I (DA=1.139), na área II (DA=952) e na área III (DA=1.660); o maior valor de frequência absoluta, na área I (FA=99,00), na área II (FA=87,00) e na área III (FA=100,00); e teve o segundo maior valor de dominância absoluta, nas áreas I, II e III, (DoA=2,91), (DoA=2,55) e (DoA=3,79), respectivamente. Poincionella pyramidalis obteve o segundo maior valor de DA, na área I (DA=525), na área II (DA=646) e na área III (DA=598); obteve valores de FA, na área I de (FA=99,00), na área II de (FA=91,00) e na área III de (FA=100,00); e apresentou os maiores valores de DoA nas áreas I, II e III, (DoA=5,57), (DoA=6,40) e (DoA=5,49), respectivamente. Jatropha mellissima apresentou valores de DA, na área I de (DA=275), na área II de (DA=235) e na área III de (DA=252); obteve valores de FA, na área I de (FA=71,00), na área II de (FA=53,00) e na área III de (FA=74,00); apresentou valores de DoA, nas áreas I, II e III de (DoA=0,44), (DoA=0,40) e (DoA=0,33), respectivamente. O elevado número de indivíduos de C. sonderianus é justificado por ser um dos principais arbustos pioneiros em áreas de sucessão secundária (ARAÚJO-FILHO, 2013). A P. pyramidalis contribui significativamente na produção de massa de forragem, tanto na época das chuvas, quanto na época seca. Na estação chuvosa a forragem é abundante e de boa qualidade nutricional, mas devido à altura do dossel arbóreo-arbustivo, encontra-se pouco acessível aos animais. Na estação da seca, a massa de forragem é abundante, devido à senescência das folhas, mas seu valor nutricional é muito baixo (ARAÚJO-FILHO, 2013). Os valores do índice de diversidade obtidos na área I foi de 1,591; na área II foi de 1,669 e na área III foi de 1,642. E os valores do índice de equabilidade obtidos na área I foi de 0,603; na área II foi de 0,672 e na área III foi de 0,640. Souza et al., (2013) comparando áreas de caatinga preservadas e áreas degradadas, constataram que os valores do índice de equabilidade foram de 0,724 na área preservada e 0,585 na área degradada, valores parecidos com os observados nesta pesquisa, indicando um estádio de sucessão secundária progressiva. Os valores dos índices de diversidade e equabilidade para as três áreas, mostraram-se muito parecidos, que, possivelmente, está associado ao estádio de sucessão próximo entre as áreas. Esta característica pode estar relacionada com o histórico de uso das áreas, que há quase três décadas foram utilizadas para a extração de lenha e agricultura.

Conclusões

Croton sonderianus e Poincionella pyramidalis são as espécies com maior representatividade nas áreas de caatinga estudada. As áreas de caatinga encontram-se em estádio semelhante, a de sucessão secundária.

Gráficos e Tabelas




Referências

ARAÚJO-FILHO, A. B. Manejos Pastoril Sustentável da Caatinga. 1ª ed. Projeto Dom Helder Camara, Recife. p.15-45, nov. 2013. BARBOSA, A. S. Estrutura da Vegetação e Distribuição Espacial de cactaceae em Áreas de Caatinga do Semiárido Paraibano. Dissertação (Mestrando em Agronomia) - Universidade Federal da Paraíba, Campus II. 2011. CHAVES, A. D. C. G., SANTOS, R. M. S.; SANTOS, J. O.; FERNANDES, A. A; MARACAJÁ, P. B. A importância dos levantamentos florístico e fitossociológico para a conservação e preservação das florestas. Agropecuária Científica no Semiarido, v. 9, n. 2, p. 43-48, 2013. GONZAGA NETO, S.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. et al. Composição Bromatológica, Consumo e Digestibilidade In Vivo de Dietas com Diferentes Níveis de Feno de Catingueira (Caesalpinea bracteosa), Fornecidas para Ovinos Morada Nova. Revista Brasileira Zootecnia. 30: 553-562. 2001. MARTINS, F. R. Fitossociologia de florestas do Brasil: um histórico bibliográfico. Pesquisas, São Leopoldo, v.40, p.103-164. 1989. MULLER-DUMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and Methods of Vegetation Ecology. New York: Wiley, 1974. 574p. RODAL, M. J. N.; SAMPAIO, E. V. S.; FIGUEIREDO, M. A. Manual sobre Métodos de Estudo Florístico e Fitossociológico: Ecossistema Caatinga. Brasília: Sociedade Botânica do Brasil, 1992. 24 p. SOUZA, G. F.; MEDEIROS, J. F. Fitossociologia e Florística em Áreas de Caatinga na Microbacia Hidrográfica do Riacho Cajazeiras-RN. Geo Temas, v. 3, n. 1, p. 161-176, 2013.