Características da carcaça de cordeiros mestiços Santa Inês x Dorper suplementados em diferentes níveis de concentrado

IAGO VINICIUS TEODORO CARRASCHI1, ANA LAURA ALVES DE MATOS PASSERE2, SARITA BONAGURIO GALLO3, ANA LUIZA CARVALHO DE OLIVEIRA GALVÃO4, NATHALIA TAMI NISHIDA5, GUSTAVO CARDOSO LIMA6, BIANCA FREIRE BIUM7, MATHEUS NAPOLITANO GONÇALVES8
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RESUMO -

Na terminação de cordeiros é um desafio encontrar um nível de suplementação na dieta que proporciona atributos desejáveis de carcaça aliados a utilização mínima de concentrado. Desta maneira, realizou-se um experimento em DIC com 21 cordeiros desmamados em pastagem (Cynodon dactylon (L.) Pers.) divididos em 3 tratamentos em níveis diferentes de concentrado: 1% ;1,75% e 2,5% Peso Vivo. Ao alcançarem uma média geral de 40,0 kg peso vivo realizou-se o abate e avaliaram-se: Peso vivo na Fazenda (PVF), Peso vivo no abate (PVA), Área de olho de Lombo (AOL) , Rendimento de carcaça Fria (RCF), Rendimento de carcaça quente (RCQ) e Conformação da carcaça. A suplementação de 2,5% foi maior que a 1%, exceto para AOL e conformação. Enquanto a suplementação de 1,75% e 1,0% tiveram o mesmo resultados. Conclui-se que melhor nível de concentrado é do 1,75%, pois proporciona um ótimo rendimento de carcaça com uso mais baixo de concentrado.

Palavras-chave: ovinos, rendimento, engorda

Carcass traits in Santa Inês x Dorper crossbred lambs supplemented at different levels of concentrate

ABSTRACT - In lamb finishing, it is a challenging to find a level of dietary supplementation that provides the desirable attributes on carcasses coupled with minimal use of concentrate. Therefore, an experiment was carried out in DIC with 21 weaned lambs raised in pasture (Cynodon dactylon (L.) Pers.) divided into 3 treatments at different levels of supplementation: 1%, 1.75% and 2.5% based on live body weight. After reaching a general mean of 40.0 kg live weight, lambs were slaughtered and it was evaluated: Live weight at the farm (LWF), live weight at slaughter (LWS), loin eye area (LEA), cold carcass yield (CCY), hot carcass yield (HCY) and carcass conformation. Results showed that the supplementation of 2.5% was better than 1%, except for AOL and conformation, while supplementation of 1.75% and 1.0% had the same results. Conclusions were that the best supplementation level is 1.75%, since it provides an excellent carcass yield with a lower concentrate use.
Keywords: lamb, yield, fattening


Introdução

Atualmente, o Brasil está entre os vinte maiores produtores mundiais de ovinos, ficando em décimo sétimo lugar, representando menos de dois por cento de todo rebanho mundial. Estima-se o rebanho existente no país, em torno de 17,3 milhões de cabeças de ovinos (FAO, 2010). No Estado de São Paulo, a ovinocultura não se encontra como principal atividade agropecuária da maioria dos produtores, mas tem uma grande importância econômica de produção e comercialização de carne ovina, uma vez que aproximadamente 82% dos produtores destinam seus ovinos para comercialização de carne (CARDOSO et al., 2015). Como a maioria dessa produção é voltada para corte, atualmente é utilizado o cruzamento industrial entre as raças Dorper e Santa Inês para obtenção de carcaças com ótimos atributos de músculo, conformação e cobertura de gordura de acabamento. Em contrapartida, existe um desafio a ser superado na produção de ovinos: encontrar uma relação volumoso/concentrado que maximize o lucro do produtor e forneça uma carcaça com ótimos parâmetros de qualidade. Uma vez que o uso de concentrado é o custo mais caro na produção (SOUZA et. al, 2013). Deste modo, este estudo teve como objetivo encontrar um nível adequado (mínimo possível) de concentrado para produção de cordeiros a pasto que proporciona características desejáveis de carcaça.

Revisão Bibliográfica

A raça santa inês é considerada um ovino deslanado e com aptidão para carne. Essa raça se tornou importante no cruzamento industrial para a produção de cordeiros para abate, devido às características vantajosas que apresentam: boa capacidade de adaptação, rusticidade e eficiência reprodutiva, baixa susceptibilidade a endo e ectoparasitas e ausência de estacionalidade reprodutiva (PESSOA JUNIOR, 2016) Nos últimos anos, foi introduzida no Brasil a raça Dorper, a fim de buscar outras raças com maiores aptidões para carne. Esta raça possui boa habilidade materna, altas taxas de crescimento, musculosidade e elevada qualidade de carcaça (PESSOA JUNIOR, 2016) Embora essas raças possuam características singularmente interessantes, o cruzamento entre os genótipos  torna-se ótima ferramenta para obtenção de carcaças com atributos desejáveis. Isso é verificado como uma boa estratégia para o mercado da carne ovina, uma vez que o consumidor busca cada vez mais uma carcaça de qualidade com ótimo acabamento e conformação (CARTAXO et al., 2011). Para alcançar essas características, aliadas ao lucro, os produtores buscam estabelecer uma relação de dieta adequada (concentrado/volumoso) para produção dos animais, uma vez que a alimentação é elemento mais caro na composição do custo de produção. Segundo Moreno et al., ( 2010)  o tipo de volumoso na alimentação na fase de terminação dos cordeiros  influência no peso de corpo vazio, carcaça quente e carcaça fria e  nos  rendimentos de carcaça quente e fria.  Enquanto Yamamoto (2006) encontrou que  não só o peso influencia  na obtenção do rendimento da carcaça,  outros fatores são importantes como a  velocidade de crescimento,  idade de abate  e o manejo nutricional.

Materiais e Métodos

Foram utilizados 21 animais machos com cruzamento Santa Inês x Dorper, com idade aproximada de 90 dias e peso médio inicial de 22 kg. O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado (DIC), com 7 repetições e com 3 tratamentos de suplemento proteico-energético: 1%, 1,75% e 2,5% P.V., sendo o concentrado ministrados duas vezes ao dia. Os animais estavam em pastagem de capim Coast Cross (Cynodon dactylon (L.) Pers. ) no período das águas, divididos em dois piquetes (1300 m² e 800 m²) sendo rotacionado à cada 14 dias. Quando a média geral alcançou aproximadamente 40,0 kg de peso vivo, os animais foram pesados e obteve-se o PVF (peso vivo na fazenda). Os animais ficaram em jejum por 16 horas e pesou-se novamente para obtenção do PVA (peso vivo ao abate). Os animais foram insensibilizados por eletronarcose e abatidos por secção das veias jugulares no abatedouro da prefeitura do campus da USP de Pirassununga-SP. Logo após o abate, as carcaças foram pesadas na linha do abatedouro e obteve-se o peso da carcaça quente (PCQ). O peso da carcaça fria (PCF) foi obtido após 24h de refrigeração em câmara fria de 0- 4°C. A conformação da carcaça foi obtida por análise visual e comparativa variando da escala 1 à 5, de acordo com Cezar & Souza (2007). A área de olho de lombo (AOL) foi obtida por exposição do músculo após o corte transversal na carcaça, entre a 12º e 13º costelas, através do traçado contorno do músculo em papel vegetal e posteriormente calculado a área com papel milimetrado de acordo com Neto et al., (2006). A análise estatística dos dados foi feita pelo programa MINITAB Statistical Software, version 17.

Resultados e Discussão

O rendimento da carcaça quente (RCQ) foi calculado através de %RCQ = (PCQ/PVA)*100. Desse modo, os valores encontrados a partir da equação são referentes ao rendimento de carcaça no momento do abate, antes do processo de rigor mortis. Para o rendimento de carcaça fria (RCF), obtido através %RCF = (PCF/PVA)*100 é referente aos valores do rendimento de carcaça depois do processo de rigor mortis. Os valores de RCF e RCQ aumentaram concomitantemente com os níveis de concentrado. E estatisticamente, o tratamento 2,5% P.V. apresentou valor superior em relação ao tratamento 1,0% P.V. e igual ao tratamento 1,75% P.V. Esses valores corroboram os obtidos por Gonzaga Neto et al. (2006), em que observaram que os resultados de RCQ e RCF foram altos, devido ao aumento de concentrado na dieta, com valores médios de 46,9% e 44,9%, respectivamente. Desta maneira, conforme na tabela 1, é possível verificar que estatisticamente o cordeiro que recebeu uma suplementação de 2,5% P.V teve o mesmo RCF que o cordeiro que recebeu a suplementação de 1,75% P.V. No ponto de vista de viabilidade, talvez seja mais interessante utilizar o nível de 1,75% P.V., uma vez que o concentrado é o fator mais caro na produção. Para isso, é importante a condução de  outros estudos na área de viabilidade econômica da produção de cordeiros, para indicar qual o ponto de equilíbrio entre o desempenho técnico e econômico para obter o maior lucro. Cartaxo et al. (2011), observaram que dieta com alto nível energético para cordeiros Dp x SI influenciaram no aumento de AOL e conformação. Para AOL, os resultados numéricos encontrados neste trabalho tiveram valores diferentes, porém, estatisticamente não houve diferença entre os tratamentos, assim como estatisticamente para conformação, não corroborando com o esperado.

Conclusões

O melhor desempenho zootécnico correspondeu ao fornecimento do suplemento em 2,5% do P.V., mas os resultados obtidos com o fornecimento de concentrado 1,75% do P.V., resultaram em rendimento de carcaça quente e fria, área de olho e conformação aceitáveis, além de uma menor exigência de suplementação para alcançar esses parâmetros. Desse modo, conclui-se que o mais indicado seria utilizar o valor de 1,75% de concentrado na dieta dos cordeiros.

Gráficos e Tabelas




Referências

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