Efeitos no crescimento e qualidade óssea de frangos alimentados com ração contende anacardato de cálcio

CARLOS EDUARDO BRAGA CRUZ1, EDNARDO RODRIGUES FREITAS2, LEONARDO GOMES DA ROCHA3, ESLEY ADRIAN ANDRADE COSTA4, NÁDIA DE MELO BRAZ5, GERMANA COSTA AGUIAR6, CLEANE PINHO DA SILVA7, NAYANNA CHAVES MONTEIRO8
1 - FACULDADE TERRA NORDESTE - FATENE
2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
3 - FACULDADE TERRA NORDESTE - FATENE
4 - FACULDADE TERRA NORDESTE
5 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
6 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
7 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
8 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

RESUMO -

Objetivou-se com essa pesquisa avaliar os efeitos da inclusão de anacardato de cálcio como fonte de ácido anacárdico na alimentação de frangos de corte sobre o crescimento e qualidade óssea do fêmur e da tíbia das aves. Foram alojados 840 pintos machos de um dia de idade em um delineamento experimental inteiramente casualizado com 6 tratamentos e 7 repetições de 20 aves. Os tratamentos aplicados foram: ração sem adição de promotor de crescimento (PC), ração com PC e, os demais, rações sem PC e adição de ACC nos níveis de 0,25, 0,50, 0,75 e 1%. As variáveis analisadas foram: peso, comprimento, diâmetro, índice de Seedor, resistência e deformidade do fêmur e da tíbia esquerda das aves. Não houve diferenças significativas entre os tratamentos no crescimento e qualidade dos ossos do fêmur e da tíbia das aves, indicando que o uso do anacardato de cálcio, como fonte de ácido anacardico, não afeta a deposição óssea em frangos de corte até 42 dias de idade.

Palavras-chave: ácido orgânico, fêmur, tíbia

Effects growth bone on quality and fed of broilers bone anacardate calcium

ABSTRACT - The objective of research this was to evaluate the effects inclusion of the of anacardate calcium as a source of anacardic acid feeding in broilers the of on the bone growth and quality of femur the and tibia of the birds. 840 male of one chicks day old were in a completely housed experimental randomized design 6 treatments and 7 replicates of 20 birds with. The applied treatments were: without addition ration of promoter growth and (CP), PC diet, the rations other without PC addition and CP at the of 0.25, 0.50, 0.75 and 1% levels. The variables were analyzed:, diameter, weight length Seedor index resistance, and of the deformity femur left tibia and left of the birds. There were significant no between differences treatments on the growth and quality bones of the of the femur and the tibia form birds, indicating That the of use anacardate calcium as anarardic an acid source not does affect bone in broiler deposition chickens up to 42 days of age.
Keywords: organic acid, femur, tibia


Introdução

Com a proibição do uso de antibióticos promotores de crescimento na alimentação de aves que se destinam a alguns países, as empresas de produção de carne de frangos tiveram que se adaptar, buscando a utilização de produtos alternativos aos antibióticos nas rações. Dentre os aditivos alternativos estão os ácidos orgânicos, que possuem fortes propriedades antimicrobianas, melhorando a digestibilidade e absorção dos nutrientes da ração, reduzindo a produção de substâncias tóxicas pelas bactérias, sendo utilizados na alimentação animal no controle do crescimento de fungos e bactérias e melhora o pH intestinal e, consequentemente, a absorção de minerais, principalmente cálcio e fósforo que são fundamentais para o crescimento e melhoria do tecido ósseo (Świątkiewicz e Arczewska-Wlosek, 2012). Segundo Hamad e Mubofu (2015), a ação antioxidante do ácido anacardico também ocorre pela sua capacidade de formar quelatos com minerais que são importantes para a ação de enzimas que catalizam a oxidação lipídica. Essa propriedade pode reduzir a absorção mineral no lúmen intestinal e, assim, reduzir a absorção de minerais importantes para formação óssea. Assim, com essa pesquisa, objetivou-se avaliar os efeitos da inclusão de anacardato de cálcio (ACC) como fonte de ácido anacárdico na alimentação de frangos de corte sobre o crescimento, qualidade e composição óssea do fêmur e da tíbia.

Revisão Bibliográfica

Os antibióticos promotores de crescimento nos últimos 50 anos vêm sendo estudados para diferentes espécies de interesse zootécnico como terapêutico, no tratamento de infecções bacterianas do trato gastrintestinal e como moduladores do crescimento. Hoje a preocupação é que esses antibióticos possam causar resistência cruzada entre as bactérias que infectam os animais e as que são patogênicas para o homem, mesmo que essa suposição não tenha sido comprovada satisfatoriamente em estudos científicos (Huyghebaert et al., 2011). Existe atualmente uma forte campanha principalmente pela União Europeia para não utilizar antibióticos promotores de crescimento na alimentação animal. A União Europeia é uma das maiores importadoras de carne de frango do Brasil desde 2006 proibiu o uso de antimicrobianos promotores de crescimento na alimentação animal, permitindo apenas uso de ionóforos monensina e salimomicina (Council, 2003). Nessa nova condição para a produção de aves, a indústria de aditivos vem investigando produtos naturais alternativos aos antibióticos promotores de crescimento como: probióticos, prebióticos, fitoterápicos (óleos essenciais, alho, orégano, etc) e ácidos orgânicos. O ácido anacárdico é um composto fenólico derivado do ácido salicílico, contendo uma cadeia lateral de 15 carbonos, que pode conter uma, duas ou três ligações insaturadas, sendo um produto natural encontrado nas diferentes partes do cajueiro (Anacardium occidentale L.) e outras plantas, como o Ginkgo biloba (Wang et al., 1998) e espécies do gênero Knema (Gonzales et al., 1996). No cajueiro, o ácido anacárdico é encontrado em maior proporção na castanha de caju, contido no líquido da casca da castanha de caju (LCC) onde é o principal constituinte (Trevisan et al., 2006). O ácido anacárdico apresenta atividade inibitória ao crescimento de microrganismos e uma grande capacidade antioxidante que foi relacionada à inibição da formação de superóxidos e ação inibidora da xantina oxidase, mas sendo consumido em excesso pode acarretar problemas de toxicidade (Trevisan et al., 2006; Achanath et al., 2010). Segundo Hamad e Mubofu (2015), a ação antioxidante do ácido anacardico também ocorre pela sua capacidade de formar quelatos com minerais que são importantes para a ação de enzimas que catalizam a oxidação lipídica. Essa propriedade pode reduzir a absorção mineral no lúmen intestinal e, assim, reduzir a absorção de minerais importantes para formação óssea.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no setor de avicultura da Universidade Federal do Ceará. Foi utilizado um galpão experimental com 48 box de 1,0x1,5m. Foram utilizados 840 pintos de um dia, da linhagem AgRoss 308 distribuidos em delineamento experimental inteiramente casualizado com 6 tratamentos e 7 repetições de 20 aves cada, totalizando 140 aves por tratamento. Os tratamentos aplicados foram: T1 = Controle negativo - ração sem adição de promotor de crescimento (PC); T2 = Controle positivo - ração com adição de PC; T3 = Ração com adição de 0,25% de ACC e sem adição de PC; T4 = Ração com adição de 0,50% de ACC e sem adição de PC; T5 = Ração com adição de 0,75% de ACC e sem adição de PC; T6 = Ração com adição de 1,00% de ACC e sem adição de PC. As rações experimentais foram formuladas para serem isonutrientes e isoenergéticas de acordo com as exigências nutricionais recomendadas pelo manual da linhagem. Para o cálculo das mesmas foram consideradas as composições químicas dos ingredientes apresentadas por Rostagno et al. (2011). O ácido anacárdico foi adicionado nas rações na forma de anacardato de cálcio, produto intermediário do processo de obtenção do ácido puro, a partir do líquido da castanha de caju (Trevisan et al., 2006). Ao final do experimento (42 dias), após a pesagem, foram selecionadas 2 aves por parcela, com o peso semelhante ao peso médio de cada parcela, para serem sacrificadas e retirada a coxa e sobrecoxa, que foram identificadas e pesadas em balança digital com precisão de 0,01g, em seguida acondicionadas em freezer a -20°C, até o momento da desossa. Ápós a dessosa, o fêmur e tíbia foram pesadas em balança de precisão (0,01 g) e medidos por meio de um paquimitro digital. A avaliação da densidade óssea foi realizada através do índice de Seedor, obtido pela divisão do valor do peso (mg) pelo do comprimento (mm) do osso. Os parâmetros de resistência e deformidade óssea foram determinados no osso in natura como auxílio de uma prensa mecânica.

Resultados e Discussão

Considerando-se que os ácidos orgânicos podem promover redução no pH do trato gastrintestinal e, por conseguinte, reduzir a carga de microrganismo patogênico e também melhorar a absorção dos minerais (Świątkiewicz e Arczewska-Wlosek, 2012), criou-se expectativa que o uso de anacardato de cálcio promovesse melhorias no crescimento e na qualidade óssea dos frangos. Entretanto, esse efeito não se confirmou. Nesse contexto, vale ressaltar, que o anacardato de cálcio é o sal de cálcio do ácido anacárdico, composto que apresenta o núcleo do ácido salicílico e uma cadeia lateral com 15 carbonos, e que o pH intestinal dos frangos se manteve dentro dos parâmetros normais (5,6 a 6,5). Assim, a ausência de efeitos significativos do ACC sobre os parâmetros ósseos pode ser atribuída às propriedades químicas do produto anacardato de cálcio e do ácido anacárdico. As características químicas, entre outros fatores, têm sido relacionadas à variabilidade dos efeitos entre os diferentes ácidos orgânicos e suas misturas e até mesmo na inconsistência dos resultados obtidos para um determinado ácido. Świątkiewicz e Arczewska-Wlosek. (2012) estudando o efeito dos ácidos fórmico, propiônico, acético, capróico e cáprico, relataram que dietas para frangos de corte suplementados com esses ácidos orgânicos aumentaram a resistência e a rigidez do fêmur, porém, não influenciou a qualidade óssea da tíbia. Segundo Hafeez et al. (2014) o uso de ácido orgânico (fórmico e propiônico) não afetou a qualidade óssea da tíbia, de frangos de corte e concluíram que o uso desses ácidos pode ser considerado seguro no que diz respeito aos seus impactos sobre a qualidade óssea desses animais. Conforme análise dos dados (Tabela 1) não houve diferença significativa entre os tratamentos. O crescimento das aves depende da disponibilidade de nutrientes para os processos metabólicos e, para isso, os nutrientes devem ser ingeridos com a ração, posteriormente digeridos e absorvidos no trato digestório. Assim, se ocorrer redução na ingestão ou na digestibilidade dos minerais da ração, principalmente, cálcio e fósforo, problemas no crescimento e na qualidade do tecido ósseo podem ocorrer (Rath et al., 2000). Nesse contexto, como as rações foram formuladas para serem isocálcicas e isofosfóricas, e não houve diferenças significativas nos resultados, podemos inferir que a ingestão e a disponibilidade de Ca e P não variaram com a adição do ácido e, consequentemente, não influenciaram no crescimento e na qualidade dos ossos, fêmur e tíbia.

Conclusões

O anacardato de cálcio, como fonte de ácido anacárdico, em níveis de até 1% na ração, não afeta o crescimento e a qualidade dos ossos de frangos de corte.

Gráficos e Tabelas




Referências

ACHANATH, R. et al. Antimicrobial derivatives of anacardic acid and process for preparing the same. 2010. http://www.freepatentsonline.com/y2010/0016630.html, acesso 30/01/2017. COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION. Council regulation on the authorization of the additive avilamycin in feedingstuffs, 2003. Disponível em: http://register.consilium.eu.int/pdf/en/03/st06/ st06120en03.pdf. Acesso em: 30/01/2017. GONZALES, M.J.T.G. et al. Further alkyl and alkenylphenols of Knema Laurina and Knema austrosiamensis: location of the double bond in the alkenyl side chains. Phytochemistry, v.43, n.6, p.1333-1337, 1996. HAFEEZ, A. et al. Impact of thermal and organic acid treatment of feed on apparent ileal mineral absorption, tibial and liver mineral concentration, and tibia quality in broilers. Poultry Science, v.93, p.1754-1763. 2014. HAMAD, F.B.; MUBOFU, E.B. Potential Biological Applications of Bio-Based Anacardic Acids and Their Derivatives. International Journal of Molecular Sciences, v.16, p.8569-8590; 2015. HUYGHEBAERT, G.; DUCATELLE, R.; VAN IMMERSEEL, F. An update on alternatives to antimicrobial growth promoters for broilers. The Veterinary Journal, v. 187, n. 2, p. 182-188, 2011. RATH, N.C. et al. Factors regulating bone maturity and strength in poultry. Poultry Science. v.79 n.7, p.1024-1032. 2000. ROSTAGNO, H.S. (Ed.). Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos. Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais. 3ed. Viçosa: UFV/DZO, 2011. 186p. ŚWIĄTKIEWICZ, S.; ARCZEWSKA-WLOSEK, A. Bone quality characteristics and performance in broiler chickens fed diets supplemented with organic acids. Animal science. v. 57, p. 193-205, 2012. TREVISAN, M.T. Characterization of alkyl phenols in cashew (Anacardium occidentale) products and assay of their antioxidant capacity. Food and Chemical Toxicology , v. 44, p. 188–197. 2006. WANG, D. et al. Inhibitory activity of unsaturated fatty acids and anacardic viia complex. Journal of Natural Products, v.62, p.1352-1355, 1998.