INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA PRODUÇÃO DE MATÉRIA SECA DO CAPIM MASSAI EM ÁREA DE RENOVAÇÃO

Fernando José dos Santos Dias1, Rodrigo Vanderley Mota2, Arlan Alves Lourenço3, Vanessa Caetano de Castro Passos4, Ricardo Fagundes Marques5, Guilherme Henrique Rodrigues Pinheiro6, Sidnei Roberto de Marchi7, Marcia Dias8
1 - UFG/Regional Jataí
2 - UFG/Regional Jataí
3 - UFG/Regional Jataí
4 - UFG/Regional Jataí
5 - UFG/Regional Jataí
6 - UFMT/Campus Universitário do Araguaia
7 - UFMT/Campus Universitário do Araguaia
8 - UFG/Regional Jataí

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o impacto das plantas daninhas na produção de matéria seca do capim massai em área de renovação em delineamento em blocos casualizados. Comparou-se o tratamento controle (não convivência) e a convivência com as plantas daninhas em seis períodos (15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias) após a emergência. Foi realizado em cada período, o estudo fitossociológico das plantas daninhas e análise de matéria seca do capim. Os dados foram analisados em modelo misto em parcela subdividida e comparação de médias por contrastes ortogonais, com ajuste da regressão. As espécies T. bartramia, W. americana e S. latifola obtiveram maior importância relativa (IR,%) diminuindo (P<0,05) a produção de matéria seca da forrageira após os 30 dias, o que pode ser devido a competição por nutriente e ao sombreamento. Assim, as plantas daninhas diminuem a produção de matéria seca do capim massai após os 30 dias de convivência, sugerindo que o seu controle seja realizada neste período.

Palavras-chave: convivência, Panicum maximum, Cerrado, estudo fitossociológico

WEED INTERFERENCE IN DRY MATTER PRODUCTION OF THE MASSAI GRASS IN A RENEWAL AREA

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the impact of weeds on the production of dry mass of the Massai grass in a renovation area in a randomized block design. Control (non-coexistence) and weed coexistence were compared in six periods (15, 30, 45, 60, 75 and 90 days) after emergence. It was carried out in each period, the weed phytosociological study and dry matter analysis of the grass. The data were analyzed in mixed model in split plot and comparison of mean by orthogonal contrasts, with regression adjustment. The species T. bartramia, W. americana and S. latifola showed higher relative importance (RI, %), decreasing (P<.05) the dry matter production of forage after 30 days, which may be due to competition for nutrient and shading. Thus, weeds decrease the dry matter production of the Massai grass after the 30 days of coexistence, suggesting that its control be performed in this period.
Keywords: coexistence, Panicum maximum, Cerrado, phytosociological study


Introdução

O capim massai (Panicum maximum cv massai) é um hibrido originado do cruzamento entre Panicum infestum e Panicum maximum que está sendo amplamente cultivado devido à alta produtividade, a resistência e a menor exigência nutricional em comparação as outras espécies do gênero Panicum (VALENTIM et al., 2001). Porém, necessita de um manejo adequado de plantas daninhas para que este tenha condições de expressar o seu potencial produtivo. Apesar de o capim massai ser uma forrageira amplamente cultivada, ainda são poucos os estudos do impacto das plantas daninhas na produtividade desta forrageira. Estes estudos são importantes para elaborar um manejo mais adequado dessas plantas, para diminuir os impactos ambientais e manter a produtividade e a qualidade da forragem (PITELLI, 1987). Assim, tem-se como objetivo verificar a importância relativa das plantas daninhas e avaliar a produção de matéria seca do capim massai em área de renovação na região do Cerrado Matogrossense.

Revisão Bibliográfica

O capim Massai possui boa produção de matéria seca, aproximadamente 21 t ha-1 ano-1. Possui boa adaptação a solos compactados, de acidez elevada e com baixa fertilidade; apresentando maior tolerância a estresses ambientais, incluindo estresse hídrico (VALENTIM et al., 2001). Para implantação de uma boa pastagem, com alta produção de matéria seca, alto valor nutritivo e que permaneça por longos anos na mesma área sem a necessidade de reforma, são necessário alguns cuidados com relação ao manejo de plantas daninhas. Segundo definição de Blanco (1972) planta daninha é definida como toda planta que germine espontaneamente em uma área de interesse humano de modo a prejudicar, de alguma forma, uma determinada atividade exercida. Uma das formas de interferência das plantas daninhas ocorre pela competição com plantas cultivadas, esta competição é entendida como a concorrência por fatores de crescimento como água, nutrientes, luz, gás carbônico (CO2) e oxigênio (O2) entre indivíduos em uma comunidade de plantas, havendo redução na produtividade destes indivíduos ou até mesmo a morte daqueles indivíduos menos competitivos (Koch et al., 1983). Dessa forma, o resultado da competição com as plantas daninhas, no período do estabelecimento da pastagem, pode promover redução de até 96% da produção de massa de matéria seca total (SCHUSTER et al., 2013). O sucesso de qualquer programa de controle de plantas daninhas tem como base a identificação das espécies presentes e como estas plantas se comportam biológica e ecologicamente no ambiente onde se encontram (CURRAN, 2001). Assim, o estudo fitossociológico das plantas daninhas é feito, através da amostragem destas plantas em um determinado local, em que é realizado o calculo dos índices de densidade relativa, dominância relativa e frequência relativa para, através destes, estimar-se a importância relativa; índice que mensura a importância (capacidade de interferência) das espécies em um determinado local.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido de novembro de 2015 a fevereiro de 2016 em área de renovação de pastagem pertencente ao campo experimental da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Universitário do Araguaia (Barra do Garças – MT). O clima da região é Aw, segundo Köppen, e com solo classificado como Latossolo Vermelho Distrófico de textura arenosa, apresentando no período experimental precipitação de 800 mm e temperatura de 29,3ºC. A semeadura do massai foi realizada a lanço, manualmente, em quantidade suficiente para obter no mínimo dez plantas da forrageira por metro quadrado. O experimento foi locado segundo delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições e parcelas de 3 x 4 m. Os tratamentos foram constituídos pela não convivência e pela convivência com plantas daninhas espontâneas avaliadas nos períodos: 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias após a emergência. Nos períodos de 15 a 90 dias foram realizadas amostragem da pastagem apenas nas parcelas que compreendem cada período e nas parcelas controle (0 dias de convivência). A amostragem foi realizada na área de um quadrado de 0,5 x 0,5 m, lançado aleatoriamente. O material amostrado foi pesado e separado o capim das plantas daninhas para a análise de matéria seca (AOAC, 1990) e o estudo fitossociológico das plantas daninhas (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG, 1974), considerando a importância relativa (IR, %). As amostras (capim e plantas daninhas) foram pré-secas em estufa de ventilação forçada a 60ºC até peso constante. Posteriormente, as de capim foram moídas para a análise de matéria seca (MS) para o cálculo de produção (t ha-1). Os dados foram analisados em modelo misto a 5% de significância, considerando o efeito do bloco aleatório, em parcela subdividida, sendo a parcela constituída da convivência ou não convivência com plantas daninhas e a subparcela, o período após a emergência. A comparação de médias foi realizada por contrastes ortogonais, com ajuste da regressão.

Resultados e Discussão

Foram identificadas nove espécies de maior importância: Diodia teres (Diodia), Spermacoce latifola (Erva-quente), Sida rhombifolia (Guanxuma), Waltheria americana (Malva-veludo), Ipomoea purpúrea (Corda-de-viola), Glycine wightii (Soja perene), Mimosa pudica (Mimosa), Croton glandulosus (Canela-de-perdiz) e Triunfetta bartramia (Carrapichão). As espécies T. bartramia, W. americana e S. latifola destacaram-se pela maior importância relativa (IR;%). Porém, deve-se ressaltar que todas as espécies tiveram sua importância em termos de competição e o somatório de suas interferências pode interferir na produtividade do capim (SPADOTTO et al., 1994). Analisando a produtividade da MS do capim massai (Tabela 1), não houve interação (P>0,05) dos fatores principais (convivência e dias após emergência). Somente nos períodos de 15 e 75, não houve diferença (P>0,05; Tabela 1), enquanto que nos outros períodos houve maior produtividade da MS para a não convivência com as plantas daninhas. A produção de MS do capim massai, sob a não convivência com plantas daninhas, teve um comportamento linear (P<0,05) ao longo dos dias, enquanto que a convivência obteve comportamento quártico (P<0,05; Tabela 1 e Figura 1). Esse resultado pode ser atribuído à competição por recursos entre as plantas daninhas e o capim, ocasionando alteração no crescimento normal da forrageira (JAKELAITIS et al., 2010). Analisando a Figura 1, considerando a inclinação da reta do tratamento de convivência com as plantas daninhas, observou-se que a partir dos 60 dias houve aumento da produção de matéria e aos 75 dias, não foi detectada diferença estatística entre convivência e não convivência. Este aumento na produção pode ser atribuído a maior produção de colmo, tendo em vista que as plantas ao serem sombreadas tendem a destinar suas reservas para a produção e alongamento de caule na tentativa de escapar do sombreamento, característica comum entre as forrageiras que exigem luz em quantidade para sua máxima produção (ZANINE & SANTOS, 2004). Porém é importante ressaltar, que uma maior proporção de colmo ou diminuição na relação folha/colmo influencia negativamente a digestibilidade e qualidade da forrageira (Van Soest, 1983). Aos 90 dias as médias de produção de matéria seca das plantas sob a convivência com as daninhas foi reduzida para 7,85 t ha-1 versus 12,96 t ha-1 do tratamento controle. Acredita-se que a competição tenha propiciado maior taxa de senescência de folhas e perfilhos, como observado a campo, que ocorre para beneficiar o desenvolvimento das gemas apicais e pelo fato do próprio sombreamento propiciar maior senescência de folhas e perfilhos basais (SZYMEZAK et al., 2016). Devido a evidencia de queda na produtividade do massai em torno dos 30 dias de convivência, sugere-se que o controle de plantas daninhas seja realizado em torno deste período, evitando assim, a perda e qualquer alteração no padrão de produção de matéria seca pela forrageira.

Conclusões

As plantas daninhas com maior importância relativa foram Triunfeta bartramia (Carrapichão), Waltheria americana (Malva-veludo) e Spermacoce latifola (Erva-quente). As plantas daninhas diminuem a produção de matéria seca do capim massai após os 30 dias de convivência, sugerindo que o seu controle seja realizada neste período.

Gráficos e Tabelas




Referências

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS – AOAC. Official methods of analysis. v.1, 15.ed., Virginia: Arlington. 1990. 1117p. BLANCO, H.G. A importância dos estudos ecológicos nos pragramas de controle das plantas daninhas. O Biológico, v.38, n.10, p.343-50, 1972. JAKELAITIS, A. et al. Efeito da interferência de plantas daninhas na implantação de pastagem de Brachiaria brizantha. Revista Caatinga, v.23, p.8-14, 2010. KOCH, W.; WALTER, H. The effects of weeds in certain cropping systems. X Int. Congr. Plant.Protect., 1, p. 90-97, BCPC. 1983. MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and methodes of vegetation ecology. New York. Willey and Sons Inc., 1974. 547p. PITELLI, R.A. Competição e controle das plantas daninhas em áreas agrícolas. In: SEMINÁRIO TÉCNICO SOBRE HERBICIDAS EM REFLORESTAMENTO, Piracicaba, 1986. IPEF - Série Téc., v.4, n.12, p.25-35, 1987. SCHUSTER, M.Z. et al. Interferência de plantas daninhas no estabelecimento do trevo branco como cultura forrageira. Ciência Rural, v.43, p.2148-2153, 2013. SPADOTTO, C.A. et al. Determinação do período crítico para prevenção da interferência de plantas daninhas na cultura de soja: uso do modelo "Broken-stick". Planta Daninha, v. 12, p. 59-62, 1994. Szymczak, L.S. et al. Habilidade competitiva de capim aries com plantas daninhas no estabelecimento: características morfológicas. Ciência Agronômica, v.47, n.3, p.471-480, 2016. VALENTIM, J.F.; MOREIRA, P. Adaptação, produtividade, composição morfológica e distribuição estacional da produção de forragem de ecotipos de Panicum maximum no Acre. Rio Branco: Embrapa Acre, 1994. 24p. (Boletim de Pesquisa, 11). VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2. Ed. Corvallis: O & B Books, 1983. 344p. ZANINE, A.m.; SANTOS, E.M. Competição entre espécies de plantas: A review. Revista da FZVA, v.11, n.1, p.10-30, 2004.