Promotores de crescimento para ovinos recebendo suplemento concentrado: Perfil de ácidos graxos voláteis (AGVs)

Rafaela Nunes Coelho1, Marcelo Vedovatto2, Ibrahim Miranda Cortada Neto3, Gabriella de Oliveira Dalla Martha4, Anderson Luiz de Lucca Bento5, Camila da Silva Pereira6, Adriana Garabini de Freitas Andrade7, Gumercindo Loriano Franco8
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RESUMO -

Avaliou-se o efeito da inclusão de promotores de crescimento na dieta de ovinos sobre o perfil de ácidos graxos voláteis (AGVs). Foram utilizados cinco ovinos em um delineamento experimental quadrado latino 5×5. Os tratamentos foram: Feno, Controle (feno + concentrado), Monensina (feno + concentrado + monensina), Salinomicina (feno + concentrado + salinomicina) e Flavomicina (feno + concentrado + flavomicina). Os tratamentos com concentrado apresentaram maior produção de AGVs totais, proporções de propionato e butirato, e menor proporção de acetato, relação acetato:propionato em relação ao tratamento Feno. Comparando o efeito dos aditivos em relação ao grupo Controle a proporção de acetato e a relação acetato:propionato foi reduzida somente pela Monensina. A Monensina e a Salinomicina aumentaram a proporção de propionato. A proporção de butirato foi aumentada com a Flavomicina e reduzida com Monensina e Salinomicina. Assim, o aditivo que causou maior alteração foi a monensina.

Palavras-chave: flavomicina, monensina, AGV, salinomicina

Growth promoters for sheep receiving concentrate supplement: Profile of volatile fatty acids (VFAs)

ABSTRACT - The effect of the inclusion of growth promoters on the sheep diet on the volatile fatty acid profile (VFAs) was evaluated. Five mongrel sheep were used in a 5x5 latin square experimental design. The treatments were: Hay, Control (hay + concentrate), Monensin (hay + concentrate + monensin), Salinomycin (hay + concentrate + salinomycin) and Flavomycin (hay + concentrate + flavomycin). The treatments with concentrate showed higher production of total VFAs, proportions of propionate and butyrate, and lower acetate, acetate: propionate ratio in relation to the treatment. Comparing the effect of the additives in relation to the control group, the proportion of acetate and the acetate: propionate ratio was reduced only by Monensin. Monensin and Salinomycin increased the proportion of propionate. The proportion of butyrate was increased with Flavomycin and reduced with Monensin and Salinomycin. Thus, the additive that caused the greatest change was monensin.
Keywords: flavomycin, monensin, VFA, salinomycin


Introdução

Os AGV são os principais produtos resultantes da fermentação microbiana dos alimentos que chegam ao rúmen. Contudo, a fermentação microbiana não é totalmente eficiente do ponto de vista de transferência de energia, já que parte da energia gerada é perdida na forma de metano (CH4), calor e CO2. Desta maneira, toda ferramenta que permita manipular a proporção entre os AGV é interessante, pois pode maximizar a fermentação microbiana, através da redução de perdas de energia (Weber, 2005). Com a evolução do conhecimento das exigências nutricionais dos ovinos, e para se obter altos desempenhos produtivos, as dietas de confinamento usuais são formuladas com altos níveis de concentrados e menores de volumosos (NRC, 2007). O fornecimento de concentrado afeta a fermentação ruminal e altera a produção de AGVs (Ma et al., 2014; Silva et al., 2016). Os AGVs são a principal fonte de energia para ruminantes, e a inclusão de aditivos como monensina, salinomicina e flavomicna na dieta de ruminantes, pode modular beneficamente a fermentação ruminal e aumentar a eficiência da utilização da energia da dieta (Anassori et al., 2011; Edwards et al., 2005) e refletir em melhor desempenho produtivo. O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da inclusão de promotores de crescimento na dieta de ovinos recebendo suplemento concentrado sobre o perfil de ácidos graxos voláteis.

Revisão Bibliográfica

A classe dos ionóforos é a mais utilizada como promotores de crescimento para animais de interesse zootécnico. Mais de 120 antibióticos pertencem a esta classe. Porém a monensina provavelmente é o aditivo mais pesquisado e utilizado na dieta de ruminantes (Nagaraja et al., 1997). Outros ionóforos como a lasalocida e a salinomicina também são amplamente pesquisados e utilizados. Segundo Edwards et al. (2005) outros antibióticos não ionóforos como a flavomicina se mostraram eficientes em alterar beneficamente a fermentação ruminal e tem sido utilizado como aditivo. A alteração benéfica provocada pelos ionóforos no rúmen acontece por estes atuarem sobre bactérias Gram-positivas, fungos e protozoários, e permitem que bactérias Gram-negativas se desenvolvam. O mecanismo de ação ocorre por transporem íons através das membranas dos microrganismos susceptíveis alterando a concentração interna de íons, pH intracelular, gradiente químico e elétrico e força próton-motora, assim levando estes a morte ou assumindo um nicho microbiano sem expressão ruminal (Russel e Strobel, 1989). Essas alterações na microbiologia do rúmen refletem em menor produção de metano, amônia e dos ácidos acético e butírico. A produção de ácido propiônico é aumentada, assim ocorre aumento na eficiência energética e possibilita aumento no ganho de peso ou na eficiência alimentar dos ruminantes (Russel e Strobel, 1989). A flavomicina apresenta mecanismo de ação diferente dos ionóforos, e a seletividade por microrganismo não é exatamente a mesma. Esta não atua sobre todas as espécies de bactérias Gram-positivas, e também não possui efeito sobre fungos e protozoários (Edwards et al., 2005). A flavomicina provoca uma inibição competitiva da enzima necessária em uma determinada etapa (transglicosilação) da formação de peptideoglicano. Assim causa a morte destas bactérias ou impede a sua reprodução (Huber e Nesemann, 1968). O aditivo se mostrou eficiente em aumentar o ganho de peso ou eficiência alimentar de ruminantes (Aitchison et al., 1989; Bretschneider et al., 2008).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande - MS. Foram utilizados cinco ovinos sem raça definida (SRD), machos castrados, providos de cânula no rúmen, alojados em gaiolas metabólicas, contendo comedouro e bebedouro. Os animais receberam dietas à base de feno de capim Coast-Cross [Cynodon dactylon (L.) Pers.] triturado, fornecido em dois tratos (às 07:00 e às 17:00 horas). Os tratamentos foram: Feno (somente feno), Controle (feno + concentrado), Monensina (feno + concentrado + monensina), Salinomicina (feno + concentrado + salinomicina) e Flavomicina (feno + concentrado + flavomicina). O feno foi fornecido ad libitum, o concentrado na quantidade de 20 g kg-1 de peso corporal (PC), os aditivos 0,75 mg kg-1 de PC e água a vontade. O delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 5x5. Em cada período os animais permaneciam por 10 dias em adaptação com 2 dias de coletas de dados. Foram coletadas amostras de aproximadamente 100 mL de líquido ruminal às 7:00 horas (antes do trato) e após 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20 e 22 horas. Para análise dos AGV foram coletados quatro mL de liquido ruminal, acidificados com 1 mL de ácido metafosfórico (25%) e armazenados (-20 °C).  A concentração de AGVs foi feita por cromatografia gasosa segundo a metodologia descrita por Erwin et al. (1961). As análises estatísticas foram feitas pelo programa SAS, inicialmente foi feita uma análise de variância e quando foram observadas diferenças significativas, as médias foram comparadas utilizando teste Tukey a 0,05 de significância.

Resultados e Discussão

A Tabela 1 apresenta resultados que possibilitam a observação das diferenças entre os tratamentos de Feno e Concentrado. O tratamento Feno quando comparado aos tratamentos que possuíam concentrado na dieta (Controle, Monensina, Salinomicina e Flavomicina) apresentou menores níveis de acetato, propionato, butirato e AGVs totais e maior relação acetato:propionato. Quando avaliado em mmol/100mmol o tratamento feno apresentou maior proporção de acetato e menor de propionato e butirato quando comparado aos tratamentos que possuíam concentrado na dieta. Analisando os efeitos dos aditivos (Monensina, Salinomicina e Flavomicina) em relação ao grupo controle em mmol/L é possível observar que a produção de acetato não foi alterada. A Monensina e a Salinomicina aumentaram a produção de propionato em relação ao grupo controle e a Flavomicina não diferiu destes. Quanto à produção de butirato, a Flavomicina apresentou a maior produção, a Monensina o menor, e a Salinomicina não diferiu do grupo Controle e Monensina. A produção total de AGVs dos aditivos não diferiu do grupo controle. A relação acetato:propionato foi menor para Monensina em relação aos demais tratamentos. A alteração na produção de AGV com a inclusão de concentrado provavelmente se deu por este ter provocado uma modificação na população microbiana do rumen que é alterada de acordo com o tipo de substrato disponível, aumentando a quantidade de protozoários, bactérias amilolíticas e proteolíticas e reduzindo o número de fungos e bactérias celulolíticas, causando alteração no tipo e na quantidade dos AGVs produzidos (Wanapat and Khampa, 2007). Os ionóforos causam essas alterações na produção de AGVs por modificarem as populações bacterianas do rúmen. As bactérias Gram-positivas que são produtoras de acetado, butirato e H2 são inibidas pelos ionóforos e as Gram-negativas produtoras de propionato encontram melhores condições para se reproduzir (Bergen and Bates, 1984). A resposta da flavomicina na proporção de AGVs difere dos ionóforos, que promovem aumento na proporção de propionato. A atuação não sendo exatamente sobre os mesmos microrganismos, possivelmente refletem nessas alterações.

Conclusões

A adição de concentrado, bem como monensina, salinomicina e a flavomicina na dieta de ovinos provocaram alteração no perfil de AGVs. A monensina foi o aditivo que mais causou alterações benéficas no metabolismo ruminal de ovinos. Em experimentos futuros devem ser avaliados os efeitos desses aditivos em dietas com maior proporção de concentrado.

Gráficos e Tabelas




Referências

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