Ocorrência de Tunga penetrans em antas (Tapirus terrestres)
Larissa Camargo do Amaral1, Vanessa Veronese Ortunho2, Lucio de Oliveira de Souza3, Gabriela de Souza Peres Carvalho4
1 - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
2 - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
3 - Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira
4 - Uiversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
RESUMO -
Este trabalho relata a ocorrência da infestação pelo parasita Tunga penetrans, e o tratamento efetuado em Tapirus terrestres, pois há poucos relatos dessa ectoparasitose em animais selvagens.
O mesmo apresenta a avaliação de um casal de Tapirus terrestres no Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira/SP, que apresentava claudição e hiporexia, por isso realizou-se um exame clínico nos animais, e posteriormente observou-se a ocorrência do parasita nos membros.
Há mais publicações em animais domésticos do que em animais silvestres, por isso fez-se esse trabalho para mostrar a susceptibilidade da espécie ao parasita.
Palavras-chave: animais silvestres, pulgas, sanidade.
Tunga penetrans in Terrestrial Tapirus
ABSTRACT - This work will report the occurrence of the infection by the parasite Tunga penetrans in terrestrial Tapirus, in which little is known of this infection in wild animals.
A pair of terrestrial Tapirus was also evaluated in the Wildlife Conservation Center of Ilha Solteira / SP, initially by a clinical examination in the animals.
Some scientific articles were consulted in which results were obtained in domestic animals rather than in wild animals, but this same work shows the health damages of terrestrial Tapirus caused by these parasites.
Keywords: wild animals, fleas, health.
Introdução
A anta (
Tapirus terrestres) encontra-se em vários ambientes terrestres: como florestas e ambientes próximo de água e em ambientes secos. No Brasil, esse animal ocorre por praticamente todo o país com exceção do Sul do Estado do Rio Grande do Sul e Nordeste (SOCIEDADE DE ZOOLÓGICOS E AQUÁRIOS DO BRASIL, 2013).
As
Tapirus terrestres podem sofrer patologias infecciosas, traumáticas, parasitárias, como a presença de
Tunga penetrans.
Esse parasita é uma pulga adulta fêmea que penetra na pele de seus hospedeiros formando uma estrutura chamada de neosoma para dar continuidade ao seu ciclo vital (LINARDI; AVELAR, 2014). Alimentam-se de sangue de animais de sangue quente como o homem, cão, gatos, ratos e até mesmo de animais selvagens, causando sérios prejuízos (URQUHART et al.,1996).
Em animais domésticos há vários relatos sobre a presença desse parasita, porém relatos de ocorrência em silvestres são escassos e somente foi encontrado o trabalho feito por Frank et al. (2012) que relata a presença desse parasita em tamanduás, e na espécie estudada ainda não houve relato sobre a ocorrência de
Tunga penetrans, por isso esse trabalho é importante pois menciona a ocorrência do parasita em
Tapirus terrestres e apresenta o tratamento realizado.
Revisão Bibliográfica
As antas estão entre os maiores herbívoros de estômago simples existentes no Brasil, fato que implica no dispêndio da maior parte do tempo em forrageio de grandes quantidades de plantas, pois seu mecanismo de fermentação da celulose é de baixa eficiência (EMMONS, 1990).
Apresentam um ciclo reprodutivo bastante lento, com gestação de 13 meses e apenas um filhote por vez. O intervalo entre concepções é cerca de 24 meses, o que faz com que populações reduzidas tenham poucas chances de se restabelecerem na ausência de uma adequada intervenção de manejo (REDFORD 1992; ALVARD et al ., 1997; BROOKS et al., 1997).
As
Tapirus terrestres podem sofrer patologias infecciosas, traumáticas, parasitárias, e como exemplo pode-se citar a presença de
Tunga penetrans, sendo esse parasita representante das pulgas penetrantes nos mamíferos, ocorrendo no homem também, sendo conhecida como “bicho de pé” (URQUHART et al.,1996).
A distribuição de
Tunga penetrans inclui regiões da África, Ásia, América do Norte e do Sul, mas não ocorre na Europa. A fêmea penetra na pele dos pés e alguns dias depois seus segmentos abdominais atingem o diâmetro de até 1 cm, seu abdômen se torna muito distendido e cheio de ovos, formando um nódulo característico. Esta pulga aparecerá nos pés das pessoas, causando séria irritação (FELDMEIER et al., 2006).
No homem, a infestação pela pulga está associada à pobreza e ocorre em muitas comunidades economicamente desfavorecidas no Caribe, na América do Sul e na África, sendo que a
Tungíase é uma importante parasitose causadora de morbidade considerável em populações afetadas (HEUKELBACH, et al. 2005). Segundo Linardi e Avelar, (2014) nos seres humanos os sintomas, como dor intenso e prurido, impacto direto e complicações têm sido bem documentados.
Nos animais causa prurido, irritabilidade, hiporexia e diminuição do ganho de peso (URQUHART et al.,1996). Há vários relatos de ocorrência desse parasita em suínos e os locais predispostos ao aparecimento de lesões são: patas e escroto. Em geral esses animais toleram bastante a infecção e não demonstram grande grau de desconforto (URQUHART et al.,1996).
Esse parasita é bastante conhecido em animais domésticos, sendo que há relatos de infestações em cães, bovinos, suínos (Ribeiro et al, 2007). Porém em animais silvestres os relatos são escassos (LINARDI; AVELAR, 2014). O trabalho feito por Frank et al. (2012) que relata a ocorrência em tamanduás, causando consideráveis danos à saúde, especialmente quando as fêmeas morreram após a oviposição, gerando lesões sérias.
Por observar que essa doença é uma zoonose importante que ainda acomete muitos humanos e animais, esse trabalho mostra a ocorrência em antas, para que assim os criadores e trabalhadores de zoológicos combatam essa infestação nos animais.
Materiais e Métodos
Observou-se que o casal de antas que vivem no Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira (CCFS) estavam com claudicação e por isso realizou-se o exame físico e clínico dos animais para observar a causa.
Na inspeção das patas (figuras 1 e 2) observou-se a presença do parasita em todas as patas dos animais.
Figura 1: Animal durante realização do exame clínico.
Fonte: Acervo dos autores.
Figura 2: Mostra a presença de
Tunga penetrans.
Fonte: Acervo dos autores.
Resultados e Discussão
Após a observação dos parasitas, realizou-se o tratamento dos animais com o uso tópico de uma mistura na qual continha antiparasitário piretróide em pó com óleo. A mistura foi aplicada uma vez por semana nos animais por 3 meses, até a remissão das lesões.
No ambiente foi aplicado o inseticida piretróide para controle das formas adultas e evitando reinfestações.
O tratamento mostrou ser eficiente, pois não houve reinfestação, as lesões existentes cicatrizaram e os animais não claudicaram mais.
Conclusões
O trabalho mostrou que a anta é uma espécie susceptível ao parasita, causando prejuízos locais como dor, claudicação e sistêmicos como hiporexia.
O tratamento efetuado neste trabalho é satisfatório, podendo ser recomendado a utilização na ocorrência desta infestação.
Gráficos e Tabelas
Referências
FRANK, R. et al. Tunga penetrans and further parasites in the giant anteater (Myrmecophaga tridactyla) from Minas Gerais, Brazil.
Parasitology research, v. 111, n. 5, p. 1907-1912, 2012
FELDMEIER, H. et al. High exposure to Tunga penetrans (Linnaeus, 1758) correlates with intensity of infestation.
Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v.101, no.1, p.65-69, 2006.
HEUKELBACH, Jorg. Tungiasis.
Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 47, n. 6, p. 307-313, 2005.
LINARDI, Pedro Marcos; DE AVELAR, Daniel Moreira. Neosomes of tungid fleas on wild and domestic animals.
Parasitology research, v. 113, n. 10, p. 3517-3533, 2014.
RIBEIRO, J. C. V. C. et al. Infestação de Tunga penetrans Siphonaptera: Tungidae em cascos de vacas leiteiras F1 Holandês-Zebu.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 2007.
SOCIEDADE DE ZOOLÓGICOS E AQUÁRIOS DO BRASIL.
SOBRE A ANTA BRASILEIRA. Brasil: Szb, 2013. Disponível em: <http://szb.org.br/blog/?p=365>. Acesso em: 15 mar. 2017.
URQUHART, G.M. et al.
Parasitologia Veterinária. 2 ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 1996. 285p.