INSTALAÇÃO COMPOST BARN NA BOVINOCULTURA LEITEIRA

Marcos Augusto dos Reis Nogueira1, Michele Gabriel Camilo2, Elton Silva Rezende3, Angelo Herbet Moreira Arcanjo4, Edilane Costa Martins5, Rodrigo Henrique Teixeira6, Daniele Gabriel Camilo7, Gabriele Gabriel Camilo8
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
3 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
4 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
5 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
6 - Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais- Câmpus Rio Pomba
7 - Universidade Estadual do Norte Fluminense
8 - Universidade Estadual do Norte Fluminense

RESUMO -

Os produtores de leite tem se interessado cada vez mais por um novo sistema de confinamento para bovinos leiteiros criado nos Estados Unidos e que está ganhando espaço entre produtores brasileiros, trata-se do “Compost Barn”, um modelo de instalação que visa o máximo conforto e bem estar dos animais e, consequentemente, o aumento dos níveis de produtividade. O Compost é um sistema alternativo de confinamento para vacas leiteiras, que consiste em uma área coberta, onde os animais são estabulados sobre uma cama, geralmente, de serragem. O esterco é misturado à serragem, virando composto. Quando manejado de forma adequada, o compost fornece um ambiente limpo e confortável aos animais.

Palavras-chave: bem estar, manejo, sanidade

Installing Compost Barn on Milk Cattle

ABSTRACT - Milk producers have been increasingly interested in a new dairy confinement system created in the United States that is gaining ground among Brazilian producers, namely the "Compost Barn", an installation model that aims to maximize Comfort and well-being of the animals and, consequently, the increase of the levels of productivity. Compost is an alternative confinement system for dairy cows, which consists of a covered area where animals are housed on a bed, usually sawdust. The manure is mixed with the sawdust, turning compound. When handled properly, compost provides a clean and comfortable environment for animals.
Keywords: Well being, handling, sanity


Revisão Bibliográfica

  •  INTRODUÇÃO
O tipo de instalação utilizada para alojamento de vacas leiteiras tem grande influência nos resultados de produtividade e sanidade obtidos no rebanho, bem como sobre a qualidade do leite obtido. Vários fatores devem ser considerados ao planejar as instalações, visando principalmente à obtenção de conforto térmico, espaço físico adequado, espaço de cocho, tipo de piso, entre outros Dessa forma, os produtores de leite tem se interessado cada vez mais em um novo sistema de confinamento para bovinos leiteiros, criado nos Estados Unidos e que está ganhando espaço entre produtores brasileiros, trata-se do “Compost Barn”, um modelo de instalação que visa o máximo conforto e bem estar dos animais e, consequentemente, o aumento dos níveis de produtividade.  
  • REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
   Instalações e sua Relação com o bem estar animal   O bem estar animal é definido como o estado do animal frente às suas tentativas de se adaptar ao ambiente em que se encontra (Broom, 1986). Portanto, quanto maior o desafio imposto pelo ambiente, mais dificuldade o animal terá em se adaptar e, consequentemente, menor será seu grau de bem estar (Bond et al., 2012). Estar confortável significa que o animal atingiu certo nível de bem estar. Por isso o manejo que os animais estão submetidos, independente do tipo de sistema adotado, tem que proporcionar conforto, incluindo controle térmico, abrigo, espaço físico, água limpa, dieta nutritiva, ausência de dor e de medo (Baccari Jr, 2001). Sendo assim, torna-se imprescindível, sob o ponto de vista da concepção de instalações para criação de animais de alto desempenho produtivo, a elaboração de projetos cuidadosamente pensados, que levem em consideração as características ambientais da região, os quesitos de bem estar dos animais e acima de tudo as exigências térmicas dos usuários em questão. Estas exigências dizem respeito às faixas de conforto térmico dos animais, ou seja, a região termoneutra e os limites, inferior e superior, de estresse térmico por frio e calor, respectivamente (Barbosa, 2013). Instalação Compost Barn O sistema Compost Barn foi criado no EUA em meados dos anos 80, mas só a partir de 2001 começou a ser difundido em ampla escala. Trata-se de uma alternativa ao confinamento de vacas que pode oferecer uma solução não só ao conforto animal, mas também ao conforto dos colaboradores e facilitar a implementação de rotinas dentro da fazenda. O sistema tem a compostagem da cama como princípio básico do seu funcionamento, revirar a cama permite aeração do material e, com isto, que ocorram fermentação e secagem do material (Rosa, 2014). Esse sistema é composto basicamente por uma grande área de cama comum (área de descanso), normalmente formada por maravalha ou serragem, separada do corredor de alimentação ou cocho por um beiral de concreto e o diferencial deste sistema é a compostagem que ocorre ao longo do tempo com o material da cama e a matéria orgânica dos dejetos dos animais (Brigatti, 2013). De acordo com Endres e Janni (2013) o compost barn é indicado para vacas em período de lactação e normalmente utilizado em propriedades de pequeno e médio porte. Material de uso na cama e suas limitações Segundo Shane et al. (2010), o material de cama mais comumente utilizado é a serragem seca, mas o custo, a disponibilidade e a poeira são crescentes preocupações entre os produtores e os agricultores Um recente estudo descritivo considerou diversos materiais de cama alternativos, tais como pó de serra, aparas de madeira, palha de linho, palha de trigo, casca de aveia, pó de palha e palha de soja para o seu estudo, os resultados deste estudo mostraram que os materiais alternativos que foram utilizados nos galpões parecem funcionar semelhante à serragem (Shane et al. 2010). Em estudos iniciais da Universidade de Minnesota, espigas de milho, soja ou linho em palha finamente processados, também tiveram um bom desempenho. A palha de trigo não possui bons resultados, pois possui uma camada de cera, tornando mais difícil para os microrganismos penetrarem e menos susceptível de absorção de umidade (Bewley e Taraba, 2009). Princípios da Compostagem Este sistema possui como diferencial a compostagem que ocorre ao longo do tempo com o material da cama e a matéria orgânica dos dejetos dos animais. O processo de compostagem consiste em produzir dióxido de carbono (CO2), água e calor a partir da fermentação aeróbia da matéria orgânica (Rosa, 2014). O oxigênio usado na compostagem é proveniente da aeração diária que deve ser realizada na cama e o sucesso do processo de compostagem depende da manutenção de níveis adequados de oxigênio, água, temperatura, quantidade de matéria orgânica e atividade dos microrganismos, que produzem calor suficiente para secar o material e reduzir a população de microrganismos patogênicos, para que esse processo ocorra, a temperatura da cama deve variar de 54 a 65˚C a 30 cm da superfície da cama (Milani e Souza, 2010). O tipo de equipamento para revolver a cama, vai depender do material utilizado, o importante é que sempre ocorra incorporação de ar na matéria orgânica, a utilização de materiais com granulometria diferentes permite que haja mais oxigênio entre as partículas (Bewley e Taraba, 2009). O composto pode ser utilizado na agricultura, trazendo diversos benefícios ao solo, quando usado imediatamente após a retirada do barracão, deve-se atentar para que toda a cama tenha sido compostada. A compostagem está ideal para ser utilizada na agricultura quando não se consegue evidenciar partículas originais e o composto assume forma parecida com turfa (Seddon, 2017). Dimensões gerais do Sistema O sistema Compost Barn exige bom planejamento, localização e gestão excepcional para fornecer um local bem ventilado e seco para as vacas deitarem. (Klaas et al., 2010). O sistema consiste tipicamente de uma grande área com cama, que é considerado como uma área de descanso para as vacas separadas de uma pista de alimentação, por um 1,2 m de altura da parede (Barberg et al., 2007). A cama é dimensionada para fornecer uma área de 10 a 25m² por vaca, isto permite que todas as vacas possam deitar-se ao mesmo tempo e ainda ter espaço para que uma vaca possa se levantar para ir e comer ou beber (Rosa, 2014). Tal como acontece com qualquer instalação para animais a escolha do local é um ponto crítico, para maximizar a ventilação natural, o celeiro deve ser localizado para tirar vantagem de ventos de verão, também deve ser ligeiramente elevada para minimizar chuvas e o escoamento para o compost (Janni et al.,2007). Ventilação adequada é essencial, pois ela remove o calor e a umidade criados pelas vacas e o excesso de calor e umidade criada pelo processo de compostagem. (Klaas e Bjerg, 2010). Becos de alimentação feitos de concretos devem ser de 1,11 a 1,3 m² de largura, com passarelas localizadas a cada 1,20-1,60 m², e em cada extremidade, para evitar que as vacas caiam na pista de alimentação, uma cerca deve ser construída em cima do muro de 0,38 m² ao lado da área da cama (Barberg et al., 2007b). Segundo Laranja (2013) a pista de alimentação deve ser larga o suficiente (com pelo menos 3,5 metros de largura) para boa circulação dos animais, evitando acidentes e possibilitando um bom acesso à comida e água e o comprimento deve ser definido pela medida mínima por animal no cocho, que é de 0,60 a 0,75 por vaca. Abaixo segue um compendio com as medidas de área de cama sugeridas por alguns autores (Tabela 1). Sistema de resfriamento Existe necessidade de resfriar os animais em uma sala (que pode ser a sala de espera), para evitar ao máximo o excesso de umidade na cama, em alguns casos, aproveita-se o corredor de alimentação como área de resfriamento com aspersores, no caso deste ser concretado, os ventiladores são imprescindíveis para retirar o excesso de umidade da cama (Silano e Santos, 2012). Segundo Endress e Janni (2013), é necessário ventilação (circulação de ar) para remover calor e umidade do ambiente, bem como o calor e a umidade que a própria cama gera.  Visto isso galpões com sistema compost barn devem ter paredes laterais de cerca de 5 m para proporcionar uma melhor ventilação e acesso para os caminhões que despejarão a cama. Muitos estábulos de Compost barn possuem ventiladores voltados para a superfície da cama para ajudar a secar a superfície. Implicações da Instalação Compost Barn Sobre os Animais O material de cama seca não só proporciona conforto para as vaca, mas também ajuda a reduzir a Contagem de Células Somáticas (CCS) que é um indicador de mastite. Barberg et al. (2007) relataram uma CCS de 325.000, com uma gama de 88.000 a 658.000 células/ml com redução das taxas de infecção da glândula mamária em seis de nove fazendas analisadas. Fulwider et al. (2007) não encontraram lesões nas patas de vacas alojadas no sistema compost barn. Barberg et al. (2007) relataram que o escore de condição corporal foi de 3,04 ± 0,11 e escore de higiene foi de 2,66 ± 0,19 para vacas em galpões de compostagem utilizando serragem como material de cama, também descobriram que 7,8% das vacas estavam clinicamente sadias e lesões de jarrete não foram observadas em 74,9% das vacas. Segundo estudos de Brigatti (2013) o produtor pode alcançar alguns resultados benéficos para a sua produção, em comparação a outros sistemas, como demonstrados na figura 1:
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Compost Barn requer excelente manejo de compactação e ventilação para um bom desempenho. Quando bem desenvolvido permite redução de mastite ambiental pela redução da carga microbiana na cama, melhoria da condição de higiene das vacas antes da ordenha, melhoria no sistema imune das vacas promovida pelo ambiente mais confortável, redução do acúmulo e descarte de dejetos, o que inclui custos para armazenamento, espaço necessário e mão de obra, em comparação com sistemas de freestall. Vale ressaltar, que o Compost Barn, assim como todo sistema de confinamento, exige cuidados e a observação de orientações técnicas para que sejam obtidos resultados positivos do ponto de vista produtivo e econômico.

Gráficos e Tabelas




Referências

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