AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO SOCIAL DE SUÍNOS MACHOS PESADOS NÃO CASTRADOS, IMUNOCASTRADOS E CASTRADOS CIRURGICAMENTE.
Jéssica Gonçalves Vero1, Évelyn Rangel dos Santos2, Ana Maria Bridi3, Caio Abércio da Silva4, Bárbara de Lima Giangarelli5, Fernanda Gonçalves Lisboa6, Ana Carolina de Figueiredo7, Keylla de Oliveira8
1 - Universidade Estadual de Londrina
2 - Universidade Estadual de Londrina
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6 - Universidade Estadual de Londrina
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RESUMO -
Objetivou-se avaliar o comportamento social de suínos machos pesados não castrados, comparados aos castrados cirurgicamente e imunocastrados. Foram utilizados 48 suínos machos da genética Agroceres PIC, divididos em três grupos: castrados cirurgicamente, imunocastrados e não castrados. Os animais foram alojados em baias com dois animais de mesmo grupo. Os comportamentos sociais avaliados foram: em ócio, interagindo, comendo e bebendo água. As avaliações ocorreram em intervalos de 5 minutos por observação direta, em quatro períodos. Os suínos não castrados permaneceram mais tempo deitados em ócio, menos tempo se alimentando e bebendo água, em relação aos castrados cirurgicamente. Comparando o comportamento social dos suínos não castrados com os imunocastrados não foi observada diferença estatística. Suínos machos não castrados permaneceram mais tempo deitados em ócio, menos tempo bebendo água e se alimentando. Assim, o menor consumo dos suínos não castrados pode reduzir os custos com ração.
Palavras-chave: bem-estar. castração cirúrgica. imunocastração. suinocultura.
Behavioral evaluation of heavy boars, barrows immunocastrated and surgically.
ABSTRACT - The objective was to evaluate the social behaviour of boars heavy, compared with barrows surgically and immunocastrated with commercial vaccine. A total of 48 male swines of genetic Agroceres PIC, divided into three groups of 16 animals: surgically castrated, immunocastrated and boars. Housed in pens with two animals of the same group. Social behaviours were observed by direct observation in four periods. The social behaviours recorded at 5 minutes intervals were: idle, interacting, eating ration and drinking water. When comparing the behaviour of the boars with the immunocastrated, no statistical difference was observed. The boars spent more time idle and less time drinking water and eating ration of immunocastrated. The lower consumption of boars can reduce the coast of ration.
Keywords: castration. immunocastration. pig farming. social behaviour. welfare.
Introdução
No Mercado interno e externo, a busca pelos consumidores por produtos de qualidade baseado em princípios éticos, levou a agroindústria dar mais importância ao bem-estar dos animais, tornando-se necessário estabelecer critérios que avaliem o bem-estar dos suínos em seus sistemas de criação. (LUDTKE, 2010).
A castração cirúrgica é uma prática comumente usada por produtores, com a finalidade de reduzir o odor sexual presente na carne de suínos machos não castrados, entretanto, pode afetar negativamente o bem-estar, por ser um método estressante, causando dor e ferimentos que podem levar a deficiências crônicas no desempenho dos animais (CARVALHO et al., 2013). A imunocastração é um método alternativo, que vem sendo utilizado com a finalidade de eliminar os danos da castração cirúrgica, além de reduzir o odor sexual presente na carne de suínos machos não castrados (BRIDI et al, 2016).
Por outro lado sabe-se que o uso de suínos machos não castrados proporciona diversas vantagens, como melhores características de desempenho, maior deposição de tecido muscular, produção de carcaças mais magras, menor custo de produção, redução da excreção de fezes e poluentes como o nitrogênio, fósforo e dióxido de carbono (BONNEAU, 1998; ROEST et al., 2009).
Baseando nesse contexto, objetivou-se avaliar o comportamento social de suínos machos pesados não castrados, comparados aos castrados cirurgicamente e imunocastrados com vacina comercial.
Revisão Bibliográfica
O abate de suínos não castrados ou de animais que mostrem sinais de castração recente é proibido no Brasil, de acordo com o artigo 121 do Decreto 30.691 de 29 de março de 1952 (BRASIL, 1952). A lei foi estabelecida se baseando no fato de que os suínos não castrados podem apresentar odor desagradável na carne, conhecido como “odor sexual”.
De acordo com a portaria nº 60 de 26 de março de 2014 da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, o abate de suínos machos não castrados foi permitido, desde que esses animais apresentem idade inferior a seis meses e todas as carcaças sejam submetidas ao teste de cocção e degustação, com o objetivo de detectar e eliminar carcaças que contenham odor sexual (PARANÁ, 2014).
Muitos países ainda utilizam-se a castração cirúrgica em suínos machos para evitar o acúmulo dos compostos esteróides hormonais que causam odor sexual. Mas existem vantagens na criação de suínos machos não castrados, por possuírem características de produção superior em comparação a suínos castrados. Além disso, a castração cirúrgica é negativa do ponto de vista do bem-estar animal, tornando-se necessário reavaliar a necessidade da castração cirúrgica (LUNDSTRÖM; MATTHEWS; HAUGEN, 2009).
O tema bem-estar dos animais é de crescente importância social e científica, pois não tem impacto somente sobre os animais, mas afeta toda a cadeia produtiva, desde a renda dos produtores até a qualidade do produto final (SMULDERS et al., 2006). Em inúmeros países importadores de carne, a questão do bem-estar animal é exigida, por grande parte da sociedade e demandam por ações que melhorem a qualidade de vida dos animais.(HÖTZEL, MACHADO FILHO, 2004).
Materiais e Métodos
Foram utilizados 48 suínos machos, da genética Agroceres PIC. Os suínos foram divididos em três grupos, com 16 animais cada: castrados cirurgicamente, imunocastrados com vacina Vivax®, dividida em duas doses (oito e quatro semanas antes do abate) e não castrados.
O experimento ocorreu durante a fase de terminação. Os suínos iniciaram a terminação aos 106 dias de idade (com 59,39 ± 7,26 kg de peso vivo) e foram abatidos com peso médio de 124,69 ± 8,47 kg aos 167 dias de idade.
O delineamento experimental foi em blocos casualizados e os animais foram blocados de acordo com o seu peso vivo. Nas análises estatísticas a baia foi considerada a unidade experimental (oito repetições por grupo, havendo dois animais por baia). Os animais dos três grupos experimentais receberam rações isonutrientes e isoenergéticas,
ad libitum, com duas reposições diárias, as 8:00 e às 17:00 horas.
A análise comportamental foi desenvolvida por meio de observação direta, realizada por observadores treinados. As avaliações comportamentais foram realizadas em quatro períodos, sendo: 1º período: seis semanas antes do abate; 2º período: cinco semanas antes do abate; 3º período: três semanas antes do abate; 4º período: semana do abate. Cada período teve duração de 12 horas (das 6:00 às 18:00 horas). Os comportamentos avaliados foram o tempo de permanência dos suínos em ócio (em pé, sentado ou deitado), interagindo, comendo ração e bebendo água. As observações foram registradas com intervalos de 5 minutos (BREWSTER; NEVEL, 2013).
Os dados foram submetidos à análise de variância no
software estatístico R versão 3.1.3 e analisados através de modelos lineares de efeitos mistos, utilizando o pacote nlme versão 3.1-120. O modelo incluiu como efeito fixo os tratamentos e como efeito aleatório os quatro períodos de observação.
Resultados e Discussão
De acordo com a Tabela 1, não houve diferença significativa (P>0,05) ao comparar os comportamentos sociais de suínos machos não castrados aos imunocastrados.
Entretanto, ao comparar suínos não castrados com castrados cirurgicamente foi possível observar que os animais não castrados permaneceram mais tempo deitados em ócio e menos tempo comendo ração e bebendo água do que os castrados cirurgicamente (P<0,05). Em relação às demais variáveis comportamentais (ócio em pé e sentado e interagindo) os resultados obtidos não foram significativos (P>0,05).
O menor tempo despendido no comportamento alimentar apresentado pelos suínos machos não castrados pode ser explicado pelo fato de que esses animais passam maior parte de seu tempo realizando comportamentos sociais, diminuindo assim o tempo de acesso ao comedouro e consequentemente a ingestão de ração (CRONIN et al., 2003).
Além disso, ao se tratar de animais de diferentes classes sexuais, dentre os principais fatores que interferem no comportamento alimentar, estão os hormônios gonadotróficos, visto que a produção de testosterona nos machos não castrados influencia diretamente na diminuição do consumo de ração (LANTHIER et al., 2006).
Segundo Cronin et al. (2003), suínos machos castrados cirurgicamente diminuem a atividade geral do grupo, mas por outro lado, possuem maior comportamento alimentar em relação aos suínos machos não castrados.
Para Prunier et al. (2006), o processo cirúrgico, bem como a privação dos hormônios testiculares são consequências da castração cirúrgica e podem afetar o bem-estar dos animais e influenciar no comportamento dos suínos machos.
Em relação à ingestão de água, de acordo com Brooks et al. (1984) a quantidade de água ingerida está diretamente relacionada à quantidade de alimento ingerido. Logo, o menor tempo dedicado ao acesso aos bebedouros é explicado pelo fato de que os suínos não castrados ingeriram menor quantidade de ração em relação aos castrados cirurgicamente, já que a baixa ingestão de água acompanhou o baixo comportamento alimentar.
Conclusões
Suínos machos não castrados permaneceram mais tempo deitados em ócio e menos tempo bebendo água e se alimentando em relação aos imunocastrados. Dessa forma, o menor consumo dos suínos não castrados pode reduzir os custos com ração.
Gráficos e Tabelas
Referências
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BRASIL.
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