Desempenho de novilhos mestiços Charolês x Nelore e Aberdeen Angus x Nelore em sistema de confinamento.

João Victor de Souza Martins1, Paloma Estevam de Vasconcelos2, Douglas Gomes Vieira3, Luiz Carlos Pereira4, Rafael de Oliveira Lima5, Aline Franco da Silva6, Endyara Signor Kohl7, Rodrigo Gonçalves Mateus8
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RESUMO -

O objetivo do experimento foi avaliar o desempenho produtivo de novilhos oriundos de cruzamento industrial (F1 Charolês x Nelore e F1 Aberdeen Angus x Nelore), em sistema intensivo para terminação. Foram utilizados 21 animais com média de 13 meses de idade em sistema de confinamento durante 90 dias. Após análise não se identificaram diferenças entre o desempenho e rendimento de carcaça entre os grupamentos genéticos avaliados. Conclui-se que novilhos oriundos de cruzamento industrial dos grupamentos genéticos estudados não apresentaram diferenças de desempenho e são recomendados para terminação em sistemas intensivos por até 90 dias.

Palavras-chave: Novilhos, cruzamento, desempenho produtivo.

Performance of crossbred Charolês x Nelore and Aberdeen Angus x Nelore in confinement system.

ABSTRACT - The objective of the experiment was to evaluate the productive performance of steers coming from industrial crossing (F1 Charolês x Nelore and F1 Aberdeen Angus x Nelore), in an intensive system for termination. Twenty-one animals in an average of 13 months of age were used in the confinement system for 90 days. After analysis, it was not possible to identify differences between performance and carcass yield among the genetic groups evaluated. It is concluded that steers from industrial crossbreeding of the genetic groups studied did not show differences in performance and are recommended for termination in intensive systems for up to 90 days.
Keywords: Steers, crossbreeding, productive performance.


Introdução

Diante de um mercado mais exigente, em especial quanto à qualidade da carne e precocidade dos animais, os produtores vêm adotando algumas estratégias para obtenção de uma carcaça de melhor qualidade (FRIEDRICH e RUTSATZ, 2015). Visando o aumento da produtividade o cruzamento industrial em raças zebuínas e taurinas, tornam-se uma biotecnologia de baixo custo para redução do ciclo de produção (FAÇANHA et al., 2014). No entanto a escolha da raça é fundamental para se obter os resultados desejados. Nesse sentido temos as européias continentais e britânicas. Os animais de origem continental possuem grande porte e musculatura grossa, como Charolesa, porém são mais tardias para acumular gordura na carcaça, portanto, permanecem por tempo superior no confinamento e com maior demanda por alimentos. Já as raças britânicas são de pequeno porte e musculatura moderada, como Angus, que apresentam ganhos de peso similares as continentais e com acabamento mais eficiente devido ao menor peso de carcaça (BACCI, 2009). Sendo os zebuínos os animais mais adaptados as condições tropicais, devido as características de resistência a ectoparasitas e endoparasitas (ABIEC, 2015), tornou-se a raça de base para os programas de cruzamento. Deste modo, objetivou-se avaliar o desempenho produtivo de novilhos oriundos de cruzamento industrial (F1 Charolês x Nelore e F1 Aberdeen Angus x Nelore) em sistema intensivo para terminação.

Revisão Bibliográfica

O Brasil está entre os líderes mundiais na produção de carne bovina (ABIEC, 2015), com rebanho estimado de 200 milhões de cabeça de gado (IBGE, 2016), a cadeia produtiva gera um faturamento de mais de R$ 50 bilhões ano, oferecendo cerca de 7,5 milhões de empregos (ABIEC, 2015), tornando-se atividade estratégica no cenário econômico brasileiro. O cruzamento industrial entre raças zebuínas e europeias é uma alternativa tecnológica para à obtenção de progênies superiores por meio da heterose. Possibilitando a produção de animais com características de interesse econômico, como precocidade e maciez de carne, consequentemente aumentando a rentabilidade da atividade pecuária (MENEZES; RESTLE, 2005). Segundo Venturini et al. (2011) o uso de animais taurinos nesses cruzamentos proporcionam aumento no ganhos de peso, qualidade de carcaça e redução de idade de abate. No entanto devido às restrições edafo-climáticas dificultando a produção dessa genética pura em climas tropicais, tornando a utilização de matrizes zebuínas uma boa alternativa para produção de animais com maior proporção de genes taurinos, mantendo um rebanho adaptado ao meio (GOMES et al., 2015). Segundo Kepler (1995), para a escolha da raça deve-se levar diversos fatores em consideração, tais como: ambiente, clima, solo, pastagens, exigência de mercado, mão-de-obra disponível, nível gerencial, sistema de produção, viabilidade de uso de inseminação artificial, objetivo do empreendimento, número de vacas, número e tamanho dos pastos e da propriedade.  

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no confinamento 2P na Fazenda Bela Vista II no município de Camapuã, Mato Grosso do Sul. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados com dois tratamentos: 8 machos F1 Aberdeen Angus x Nelore com peso médio de 408,5 kg; e 13 machos ½ Charolês x Nelore com peso médio de 415,92 kg, totalizando 21 unidades experimentais com idade média 13 meses. O experimento iniciou-se no mês de abril de 2015 e término no mês de julho de 2015, correspondendo  90 dias de confinamento para engorda. Foi fornecido durante o período experimental silagem de milheto como volumoso e como concentrado milho moído, gordura protegida, farelo de soja, uréia pecuária, núcleo mineral com monensina e Optigen®. Os animais foram mantidos em baias coletivas com espaçamento de 25 m² e linha de cocho de 0,25 m lineares por animal, com acessos livre a dieta e água. As dietas foram balanceadas correspondendo a 2,3% do peso vivo para ambas as raças. As pesagens dos animais foram realizadas no início e no final do experimento, após jejum de sólidos de 12 horas. Ao final da pesquisa foram calculados os índices de desempenho de ganho de peso médio diário (GMD), ganho de peso médio total (GPT) e rendimento de carcaça pós morten. Para avaliação química das dietas foram coletadas conforme a fase de fornecimento, em dieta inicial e dieta de terminação que foram destinadas para análise no Laboratório de Biotecnologia aplicada à Nutrição Animal da Universidade Católica Dom Bosco. Foram avaliados, segundo AOAC (2000), os teores de matéria seca (MS) proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) da silagem de milheto e das dietas de crescimento e terminação. Os dados copilados foram analisados, com uso do Proc GLM e do teste de F, a 5% de probabilidade, para comparação de médias, com auxílio do programa estatístico SAS versão 9.1 (2004).

Resultados e Discussão

De acordo com os resultados, os grupamentos genéticos não apresentaram efeito (P<0,05) para as para as variáveis de desempenho durante o período experimental (Tabela 2). O consumo de matéria seca, conversão alimentar e eficiência alimentar também não houve diferença (P<0,05) entre os grupamentos apresentados na Tabela 2. Observando um consumo médio de 11,2 kg dia-1 de MS, representando uma conversão alimentar média de 7,3 kg da dieta para cada kg de ganho de peso vivo. Outros autores avaliando diversos cruzamentos entre taurinos e zebuínos também afirmam a manutenção da conversão alimentar em relação ao ganho de peso (ALVES et al., 2004). Porém Goulart et al., (2008) comparando animais de diferentes grupos genéticos oriundos de cruzamentos com Nelore, observou maior ganho de peso nos animais ½ Aberdeen Angus x ½ Nelore, e maior consumo MS em relação ao desempenho. As avaliações de rendimento de carcaça e espessura de gordura subcutânea não apresentaram diferenças significativas (Tabela 2). Notou-se que os animais apresentaram média de peso de carcaça quente de 20,4 arrobas, com rendimento médio de carcaça de 55,2%. Portanto, possibilitando a intensificação de utilização das forrageiras, permitindo a diluição dos custos fixos de produção e conseqüentemente a redução do tempo para o abate, gerando maior desfrute da propriedade (RESENDE et al.,2008). Quanto a cobertura de gordura Owens et al., (1995) comenta que a evolução de deposição de gordura corporal é inicialmente com a maturidade, ao contrário da deposição de proteína, que tende a cessar após o peso adulto, os valores de espessura de gordura subcutânea devem ser no mínimo de 2,5 mm, pois ela funciona como um isolante térmico, que diminui a velocidade de resfriamento da carcaça, evitando a desidratação, o escurecimento e a redução da maciez da carne quando armazenada no frigorífico. Restle et al., (2001) avaliando novilhas ¾ Charolês ¼ Nelore terminadas em confinamento por 80 dias observaram espessura de gordura de 4,78mm, muito superior ao encontrado no experimento. Restle e Vaz (1999) também verificaram espessura de gordura superior em 1/2 Charolês 1/2 Nelore que foi de 3,63 mm, porém os animais foram abatidos aos 24 meses. Portanto a avaliação do peso de carcaça é uma medida de interesse para os frigoríficos no intuito de avaliar o valor do produto adquirido e os custos operacionais, visto que carcaças com pesos diferentes demandam a mesma mão-de-obra e tempo de processamento (RESTLE et al., 1999; COSTA et al., 2002). No experimento, os animais foram abatidos com 90 dias de confinamento, e ambos os grupos genéticos apresentaram uma espessura de gordura subcutânea considerada aceitável para os frigoríficos. Além disso, o peso da carcaça quente também obteve interesse para o mesmo.  

Conclusões

Conclui-se que novilhos oriundos de cruzamento industrial dos grupamentos genéticos estudados não apresentaram diferenças de desempenho e são recomendados para terminação em sistemas intensivos por até 90 dias.

Gráficos e Tabelas




Referências

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