CARACTERIZAÇÃO DE UM REBANHO DE CHINCHILAS: ASPECTOS REPRODUTIVOS VISANDO O PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO

Fernanda Fontoura da Silva1, Jéssica Neto D'ávila2, Haendel Alexandre Lopes Torres3, Jaime Araujo Cobuci4
1 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO -

A chinchila é um pequeno roedor e a comercialização da sua pele possui um alto valor no mercado internacional. Considerando sua importância comercial foi realizado este estudo para caracterizar a população, visando à implantação de um programa de melhoramento genético. O objetivo deste trabalho foi estimar a frequência de partos múltiplos, de sexo e da incidência de nascimentos por estação do ano, pretendendo uma boa escolha dos métodos de seleção e acasalamentos adequados. Foram utilizados 1.530 animais, filhos de 334 mães e 102 pais, nascidos entre os anos de 2002 e 2006 em um criatório no interior do Rio Grande do Sul. A digitação, estruturação e as análises dos dados foram realizadas com uso do software SAS (SAS Institute Inc. 2013). O maior índice de nascimentos foi de machos e deu-se na estação da primavera. Os resultados foram positivos, indicando um aumento da frequência de partos múltiplos no período estudado, e, consequentemente, um aumento significativo da população.

Palavras-chave: chinchila, nascimento, sexo, reprodução, melhoramento animal

CHARACTERIZATION OF A CHINCHILLAS HERD: REPRODUCTIVE ASPECTS FOR THE GENETIC IMPROVEMENT PROGRAM

ABSTRACT - The chinchilla is a small rodent and the commercialization of their skin has a high value in the international market. Considering their commercial importance, this study was carried out to characterize the population, toward the implementation of a genetic improvement program. The objective of this work was to estimate the frequency of multiple births, the sex and the incidence of births per season of the year, pretending a good choice of selection methods and adequate mating. A total of 1.530 animals were used, children of 334 mothers and 102 fathers, born between 2002 and 2006 at a ranch in the interior of Rio Grande do Sul. The typing, structuring and data analysis were performed using SAS software (SAS Institute Inc.). The highest birth rate was of males and occurred in the spring season. The results were positive, indicating an increase in the frequency of multiple births in the period studied, and consequently a significant increase in the population.
Keywords: chinchilla, birth, sex, reproduction, animal breeding


Introdução

O mercado de peles, especialmente o de chinchilas, exerce um papel de alto valor no comércio internacional. A chinchila é um pequeno mamífero roedor, originário da Cordilheira dos Andes, região compreendida por Argentina, Bolívia, Chile e Peru. Pesam cerca de 500g e medem aproximadamente 35cm. O Brasil é o segundo maior produtor de chinchilas do mundo e segue expandindo sua criação, sendo esta de fácil manejo e de boa rentabilidade. O estado do Rio Grande do Sul lidera a produção e comercialização no Brasil, e cerca de 70% do total de exportações. O gerenciamento adequado desta população deve ser fundamentado em parâmetros populacionais, pois permite um programa de seleção genética dos animais, pouco frequente na gestão de espécies silvestres. Além disso, o estudo de caracterização reprodutiva da população permite realçar alguns aspectos importantes que poderão afetar a gestão da própria população, especificamente em termos da escolha dos métodos de seleção e de acasalamentos mais adequados (CAROLINO; GAMA; VICENTE, 2008). Nesta ordem o objetivo deste estudo foi formar um banco de dados, avaliar e caracterizar fenotipicamente uma população de chinchilas sob aspectos reprodutivos como sexo, estação de nascimentos e tipo de partos (único e múltiplos), os quais permitem monitorar o desempenho reprodutivo da população, dando um primeiro passo para estabelecimento de um programa de melhoramento genético.

Revisão Bibliográfica

As chinchilas são consideradas animais importantes para a economia devido ao alto valor da comercialização de sua pele. Originadas na região dos Andes, as chinchilas são caracterizadas como pequenos mamíferos roedores, de hábitos alimentares vegetarianos e com uma média de 35cm de tamanho, aproximadamente 500g e uma pelagem sedosa de cor cinzenta. De acordo com DORR et al. (2014) a única pele que não pode ser produzida artificialmente é a pele de chinchila, por isso sua grande valorização no mercado internacional. Segundo Gurgel (2005), a criação da chinchila em cativeiro teve o auge na década de 70. Além do bom retorno financeiro, a produção de chinchilas é economicamente viável, tendo em vista que podem ser criadas em pequenas áreas e apresenta baixos custos de produção (DORR et al., 2014). Apesar disso, quando comparada com outras criações de animais domésticos em cativeiro, a criação de chinchila é pequena, assim, modelos de manejo adequados ainda não são bem conhecidos e mudam frequentemente (DE DAVID ANTONIO et al., 2007). A chinchila atinge sua maturidade sexual por volta dos 9 meses de idade. Antes disso é realizada uma avaliação dos animais para verificar quais serão destinados à reprodução e quais serão destinados à pele. (ALVES et al., 1997). Segundo o mesmo autor, da cobertura até o parto são em média 4 meses de gestação, podendo nascer de 1 a 4 filhotes. O estudo dos aspectos reprodutivos é de fundamental importância para o estabelecimento de um programa de melhoramento genético, visando otimizar a produção. Para Gamba et al. (2007), apesar de sua importância comercial, há uma carência de experiências no que se refere às chinchilas, devido ao escasso número de estudos científicos na área da chinchilicultura. A análise demográfica visando a caracterização das populações permite avaliar se existem desequilíbrios nas contribuições genéticas e ambientais para a população em avaliação, detectando possíveis afunilamentos ocorridos ao longo do tempo, além de ser fundamental para quem pretende colocar em prática um programa de melhoramento genético por seleção dos animais (CAROLINO; GAMA; VICENTE, 2008).

Materiais e Métodos

Foram utilizadas informações de registro genealógico concedidas por um produtor que tem sua criação para fins comerciais no município de Camaquã, Estado do Rio Grande do Sul. Os animais são criados em gaiolas, com alimentação e temperatura controladas, em plantéis poligâmicos, chamados de família, formada por seis fêmeas e um macho, o qual tem acesso à todas elas através de um corredor que interliga a gaiola das fêmeas, conforme manejo descrito por Carvalho (1991). A avaliação da população procedeu-se em relação a uma base de dados contendo 1.530 chinchilas (Chinchilla lanigera), oriundos de 334 mães e 102 pais, nascidos entre os anos de 2002 e 2006. A digitação e estruturação do arquivo de dados para trabalho foi realizada através do uso do software onde continham as seguintes variáveis: ID animal, ID mãe, ID pai, data de nascimento, sexo e tipo de parto (múltiplo ou único). Após a estruturação dos dados, foram realizadas análises de frequência.

Resultados e Discussão

A quantidade de partos múltiplos teve um aumento significativo se comparado a quantidade de partos únicos (Figura 1 - Distribuição da frequência de partos múltiplos x únicos durante os anos). Após uma quase imperceptível queda entre 2003 e 2004, a frequência de partos múltiplos cresceu consideravelmente, como desejado. Isso pode ter ocorrido devido ao fato de o plantel de animais ter aumentado, pois alguns filhotes nascidos em 2002 se tornaram reprodutores, e assim sucessivamente. Pode-se inferir que a ocorrência de partos únicos em chinchilas é esporádica, visto que a população apresentou baixa frequência em todo o período de avaliação. Em geral a população de chinchilas cresceu ao longo do período.  Observa-se na Figura 2 (Distribuição das frequências de nascimentos da progênie entre 2002 e 2006 por estação do ano: Verão (V), Outono (O), Inverno (I), Primavera (P)) que o nascimento de machos foi levemente superior ao nascimento de fêmeas em todas as estações do ano, desde 2002 à 2006. No período total, a frequência de nascimentos da progênie foi de 55% e 45%, respectivamente, para machos e fêmeas. Constatou-se ainda que, entre os anos de 2002 e 2006, aproximadamente 35% da progênie nasceu na estação primavera, 27% no verão, 23% no inverno e 15% no outono. Assim, pode-se evidenciar uma variação no número de nascimento entre as estações. Essa ocorrência pode ser devido ao manejo, pois de acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Chinchila Lanígera (ACHILA) os machos levam cerca de dois meses para regenerar seus espermatozoides, visto que há um excesso de atividade sexual. ALVES, (1997) ressaltou que entre os meses de setembro e novembro ocorre a maioria dos partos das chinchilas. Os diversos parâmetros demográficos, quando analisados em conjunto, e não individualmente, tornam-se uma ferramenta fundamental para a execução de um programa de seleção de animais (CAROLINO; GAMA; VICENTE, 2008).

Conclusões

O rápido aumento da população está diretamente ligado à alta frequência de partos múltiplos, sendo este um indicativo da eficiência do sistema de produção. Houve maior quantidade de nascimentos na primavera e o número de nascimento de machos foi levemente superior ao de fêmeas durante todo o período.

Gráficos e Tabelas




Referências

Alves, A. M. (1997). Criacao de chinchilas: uma alternativa viavel. Dorr, A.C., Rossato, M.V., Silva, T. P., Guse, J. C., & Leite, M. (2014). Estudo multicaso sobre a comercialização de peles de chinchilas. In Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e meio Ambiente (pp. 1-16). Carolino, N., Gama, L., & Vicente, A. (2008). Retrospectiva sobre estudos demográficos em raças autóctones Portuguesas. In IX Simposio Iberoamericano sobre Conservación y Utilización de Recursos Zoogenéticos (pp. 523-526). IX Simposio Iberoamericano sobre Conservación y Utilización de Recursos Zoogenéticos. de David Antonio, S., Velho, J. P., Carvalho, P. A., Backes, A. A., Sanchez, L. M. B., & HaygertVelho, I. M. P. (2007). Predição da composição corporal e exigências líqüidas de macrominerais para ganho de peso de chinchila (Chinchilla lanigera). Ciênc. agrotec., 31(2). Rio Grande do Sul é o maior produtor de chinchila do Brasil. <http://www.rs.gov.br/conteudo/203291/rio-grande-do-sul-e-o-maior-produtor-de-chinchilas-do brasil/termosbusca=*> Acessado em: 16/03/2017





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