PERFIL FERMENTATIVO DA SILAGEM DE MILHO E CAPIM-PAIAGUÁS EM DIFERENTES SISTEMAS FORRAGEIROS E ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO

Lucas Nazário Silva dos Santos1, Wender Ferreira de Souza2, Kátia Aparecida de Pinho Costa3, Analu Guarnieri4, Victor Costa e Silva5, Suelen Soares Oliveira6, Cecília Vieira da Silva7, Hemylla Sousa Santos8
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RESUMO -

O uso de silagem é uma alternativa viável para suprir o déficit de forragem no período de entressafra. Diante disso, objetivou-se avaliar os parâmetros fermentativos e o teor de matéria seca das silagens de milho e capim-paiaguás em diferentes sistemas forrageiros e estádios de maturação. O experimento foi conduzido em Rio Verde, no delineamento em blocos casualizados, com quatro repetições, em esquema fatorial 5 x 3, sendo cinco sistemas forrageiros: milho e capim-paiaguás em monocultivo; milho consorciado com o capim-paiaguás na linha; entrelinha e na sobressemeadura, e três estádios de maturação (leitoso, pastoso e farináceo). A silagem de capim-paiaguás em monocultivo apresentou maiores valores de capacidade tampão, pH e N-NH3, e menores teores de matéria seca em todos os estádios de maturação. O consórcio do milho com capim-paiaguás é uma alternativa viável por amenizar as oscilações consequentes dos processos fermentativos em silagens de capins em monocultivo.

Palavras-chave: Brachiaria brizantha, ensilagem, integração lavoura-pecuária, fermentação.

FERMENTATIVE PROFILE OF CORN SILAGE AND PAIAGUAS PALISADEGRASS IN DIFFERENT FORAGE SYSTEMS AND MATURATION STAGES

ABSTRACT - Silage use has been a viable alternative to supply the forage deficit in the dry period. The objective of this study was to evaluate the fermentation parameters and the dry matter content of the silage of corn intercropped with Paiaguas palisadegrass in different forage systems and maturity stages. The experiment was conducted in Rio Verde, in a randomized block design, with four replications, in a 5 x 3 factorial arrangement, with five forage systems: corn and Paiaguas palisadegrass monocropped; corn intercropped with Paiaguas palisadegrass in the row, inter-row and oversown; and three corn maturity stages (milky, soft dough and hard dough). The silage of Paiaguas palisadegrass monocropped presented higher values of buffer capacity, pH and N-NH3, and lower levels of dry matter were observed in all stages of maturation. The corn consortium with Paiaguas palisadegrass is a alternative for mitigating the consequent oscillations of the fermentative processes in monocropped grass silag
Keywords: Brachiaria brizantha, crop-livestock integration, fermentation.


Introdução

  A estacionalidade da produção das plantas forrageiras, devido às condições edafoclimáticas insuficientes em parte do ano, requer um planejamento e execução de práticas que visem a conservação de forragem para períodos críticos de carência alimentar do rebanho. A utilização de silagens tem sido uma eficiente alternativa para a produção de volumoso de boa qualidade largamente utilizado na alimentação de ruminantes.

  Dentre as culturas recomendadas para o processo de ensilagem, a cultura do milho é a mais tradicional e vem sendo ampliada nos últimos anos no período da safrinha em sistemas de integração lavoura-pecuária. Por outro lado, as gramíneas tropicais vêm despertando interesse para produção de silagem, com destaque para as gramíneas do gênero Urochloa, que vem sendo bastante utilizadas (Epifanio et al., 2014; Perim et al., 2014). Diante disso, o consórcio do milho com forrageiras tropicais pode trazer melhorias no processo de fermentação da silagem, além de promover o balanço nutricional.

  Sendo assim, objetivou-se avaliar os parâmetros fermentativos e o teor de matéria seca das silagens de milho e capim-paiaguás em diferentes sistemas forrageiros e estádios de maturação na safrinha.



Revisão Bibliográfica

   Na região central do Brasil, nos sistemas de produção de bovinos em pastagens, o ano é dividido em estação das águas e seca. Nessas condições ocorrem mudanças tanto qualitativas quanto quantitativas na composição da forragem, que varia com as estações do ano. Assim estratégias de suplementação devem ser adotadas refletindo diretamente no desempenho animal. A produção de silagem é uma estratégia viável, pois diminui o período de escassez de alimento proporcionando melhorias ao sistema forrageiro e ao desempenho do rebanho (Machado et al., 2007)

  Nos últimos anos o interesse em ensilar gramíneas do gênero Urochloa, teve um aumento expressivo, devido ao seu potencial de produção, avanço nas técnicas de ensilagem, bem como ao surgimento de colhedoras específicas para forrageiras de porte baixo ou médio, evidenciando o potencial dessas gramíneas em atender a demanda de forragem de qualidade para a utilização no período seco.

  Apesar das gramíneas tropicais apresentarem vantagens para a produção de silagem, como alta produção de biomassa, elas apresentam algumas desvantagens como alto teor de umidade, baixo teor de carboidratos solúveis, baixo teor de matéria seca no momento do corte e alta capacidade tampão que inibem o adequado processo fermentativo (Ávila et al., 2006).

  Sendo assim, uma alternativa para contornar esses problemas é a produção de silagem de gramíneas tropicais com culturas anuais. O sistema de integração lavoura-pecuária vem ganhando destaque por apresentar vantagens em relação aos sistemas de monocultivo (Costa et al., 2016). Assim, o interesse nesse modelo de exploração se sustenta nos benefícios, por aumenta a produção de massa seca da silagem, sendo uma alternativa promissora para fornecer alimento em período de baixa disponibilidade de forragem, além da formação da pastagem, após a colheita das culturas para ensilagem (Leonel et al., 2009).



Materiais e Métodos

 O experimento foi realizado no município de Rio Verde, Goiás, na safrinha de 2015, no delineamento em blocos casualizados, com quatro repetições, em esquema fatorial 5 x 3, sendo cinco sistemas forrageiros: milho em monocultivo (MM); capim-paiaguás em monocultivo (PM); milho consorciado com o capim-paiaguás na linha (MPL); milho consorciado com o capim-paiaguás na entrelinha (MPE) e milho consorciado com o capim-paiaguás em sobressemeadura (MPS), e três estádios de maturação (leitoso, pastoso e farináceo), com quatro repetições, em delineamento de blocos casualizados, totalizando 60 parcelas experimentais. O híbrido foi o de duplo propósito AS 1581 para produção de grãos e silagem.

  O milho foi semeado em linhas espaçadas em 0,5 metros usando três plantas por metro linear. Foram aplicados 150 kg/ha de N, 240 kg/ha de P2O5, 75 kg/ha de K2O e 20 kg/ha de FTE – BR 12.

  As forrageiras foram colhidas aos 80, 90 e 110 dias após a semeadura (DAS) para a ensilagem, nos estádio leitoso, pastoso e farináceo, respectivamente. O material foi picado em ensiladora estacionária, em partículas de aproximadamente 10 mm. E este material foi armazenado em silos experimentais de PVC, medindo 10 cm x 40 cm. Posteriormente, foram compactados e lacrados com tampas de PVC.

  Após 50 dias de fermentação, os silos foram abertos, descartando-se a porção superior e inferior. A porção central do silo foi homogeneizada e colocada em bandejas de plástico. Parte da silagem in natura foi separada para análises dos parâmetros fermentativos como nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3/NT), através do método descrito por Bolsen (1992), capacidade tampão (CT), pH e outra parte para a determinação da matéria seca (MS), através dos métodos descrito por Silva e Queiroz (2002).

  Para comparação das silagens, os dados foram submetidos à análise de variância e médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software SISVAR (Ferreira, 2011).



Resultados e Discussão

  Observou-se interação significativa (P<0,05) entre sistemas forrageiros e estádios de maturação para capacidade tampão, pH, N-NH3 e teor de MS.

  Em relação aos sistemas forrageiros a silagem de capim-paiaguás em monocultivo apresentou maior capacidade tampão (Tabela 1). Nos sistemas consorciados foi possível verificar redução nos valores de capacidade tampão, relacionado com a maior proporção de milho na silagem, conferindo maior qualidade a silagem, por possibilitar que a fermentação ocorra de maneira adequada.

  Nos estádios de maturação, houve redução da capacidade tampão no estádio farináceo, para o milho em monocultivo e consorciado. Esse resultado se deve possivelmente, a maior contribuição de carboidratos solúveis, com a maturação dos grãos do milho.

  Avaliando o pH das silagens, observa-se que os maiores valores foram obtidos nas silagens de capim-paiaguás em monocultivo (P<0,05). Isso se deve a maior capacidade tampão das silagens de capins tropicais, acarretando em fermentações indesejáveis.

  Segundo Tomich et al. (2004) para que uma silagem seja considerada de boa qualidade é necessário que se tenha valores de pH entre 3,8 e 4,2, nessa faixa se tem a restrição das enzimas proteolíticas da planta e de enterobactérias e clostrídeos. Contudo, observa-se que somente a silagem do capim-paiaguás em monocultivo apresentou valor de pH superior a 4,2, encontra-se acima dos preconizados para uma boa fermentação em todos os estádios de maturação. Isso reforça a importância de se produzir silagem de cultura anual com gramínea tropical, em consórcio, de forma a garantir a redução do valor de pH nas silagens, um dos fatores fundamentais para conservação do produto ensilado.

  Comparando os estádios de maturação, apenas a silagem de capim-paiaguás foi influenciada, com maior valor de pH no estágio leitoso do milho. Pode-se inferir que quando ensilados em estádio de desenvolvimento vegetativo precoce, a forrageira possui menor teor de MS, correlacionando com maior valor de pH. Além disso, o menor teor de matéria seca vai influenciar negativamente no processo fermentativo, impedindo o rápido abaixamento do pH, facilitando a ocorrência de fermentações indesejáveis.

  As silagens de milho em monocultivo e dos sistemas consorciados apresentaram reduções nos teores de N-NH3, devido ao milho possuir maiores teores de carboidratos solúveis. Entretanto, nota-se que os teores médios de N-NH3 das silagens de todos os sistemas de forrageiros permaneceram abaixo de 100 g kg-1, propiciando fermentação lática adequada, reduzindo a proteólise e inibindo microrganismos indesejáveis (Kung Jr. & Shaver 2001).

  Adicionalmente, observa-se que no estádio farináceo as silagens de milho em monocultivo e consorciadas na sobressemeadura apresentaram teores de MS adequados (Tabela 2), de acordo com Ferreira et al. (2001) que recomenda ensilar o milho em estádios mais avançados de maturidade, quando apresentar de 300 a 370 g kg -1 de matéria seca.



Conclusões

O consórcio de milho com capim-paiaguás é uma alternativa viável por amenizar as oscilações consequentes dos processos fermentativos em silagens de capins exclusivos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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