Balanço e digestibilidade do flúor em fontes minerais utilizadas para frangos tipo caipira

Alexandre Oliveira Teixeira1, José Pimentel Bisneto2, Leonardo Marmo Moreira3, Mariana Resende4, Mariana Nazaret Moura5, Viviane Assunção de Resende6, Alípio dos Reis Teixeira7, Carlos Magno da Rocha Junior8
1 - Universidade Federal de São João Del Rei
2 - Universidade Federal de São João Del Rei
3 - Universidade Federal de São João Del Rei
4 - Universidade Federal de São João Del Rei
5 - Universidade Federal de São João Del Rei
6 - Prefeitura Municipal de Coronel Xavier Chaves
7 - Universidade Federal de São João Del Rei
8 - Universidade Federal de Lavras

RESUMO -

Foram utilizados 120 frangos tipo caipira (646 ± 74 g), distribuídos em arranjo fatorial (2 X 2), dois fosfatos (Bicálcico – FB e Monobicálcico – FM) duas formas físicas (pó e microgranulado), cinco repetições e quatro frangos por unidade experimental. Os tratamentos foram: Dieta referência (Ref.); CALC = Ref. + Calcário; FP18= Ref.+ FB pó 18%; FM18= Ref. + FB microgranulado 18%; FP20= Ref. + FM pó 20 %; FM20= Ref. + FM microgranulado 20%. Foram utilizadas duas metodologias (coleta total – CT e o método do indicador fecal – IF). Os FB em relação ao FM possuem maior digestibilidade do flúor pelo método da CT. Os fosfatos microgranulados em relação ao pó possuem maior digestibilidade do flúor pelo método do IF. Os coeficientes de digestibilidade fecal aparente do flúor pelos métodos de CTl e do IF nas dietas em porcentagem foram: Calc.: 92,57; FP18: 75,06; FM18: 80,18; FP20: 76,58 e FM20: 77,35. A digestibilidade das fontes de minerais não variam em função da metodologia estudada.

Palavras-chave: calcário, cinza ácida, fosfato, metabolismo

Balance and digestibility of fluorine in mineral sources used to broiler chickens

ABSTRACT - It was utilized 120 broiler chickens (646 ± 74 g), distributed in factorial design (2 x 2), two phosphates (bicalcium and monobicalcium), two physical forms (powder and microgranular), five replicates and four chickens for experimental unit. The treatments were: Reference diet (Ref.); positive control = Ref. + Limestone; PP18= Ref. + powder phosphate 18%; MP18= microgranular phosphate 18%; PP20= Ref. + powder phosphate 20%; MP20= Ref. + microgranular phosphate 20%. It was used two methodologies (total collection and fecal indicator method). The dicalcium phosphates present higher digestibility of fluorine by the method of total collection in relation to the monodicalcium phosphate. The microgranulate phosphates demonstrated higher fluorine digestibility by the indicator method in relation to the powder phosphates. The coefficients of apparent fecal digestibility of fluorine by total collection and indicator methods in the diets, in percentage, were: limestone: 92.57; PP18: 75.06; MP18:
Keywords: limestone; acid ash; phosphate; metabolism.


Introdução

O flúor em pequenas quantidades é benéfico, sendo ele considerado essencial para algumas espécies. No entanto, os estudos não dão enfoque aos efeitos de sua deficiência, e sim à sua toxicidade ao ingerir alimentos com altos teores deste mineral, sendo ele considerado um elemento que possui níveis de toxicidade muito próximos dos níveis normais, podendo gerar uma intoxicação, também chamada de fluorose. Devido a estes níveis, o flúor é considerado um elemento inseguro principalmente quando se trata da inclusão de calcário e fosfatos ricos neste elemento na ração. Além disso, para a avaliação do comportamento alimentar das aves, é de grande importância que se leve em consideração a granulometria, uma vez que ela influencia na digestibilidade dos alimentos, na seleção do mesmo no cocho e no desperdício. Assim, objetivou-se no presente estudo, avaliar a digestibilidade do flúor em fontes minerais utilizadas em dietas para frangos tipo caipira bem como promover a validação de metodologias para avaliação da digestibilidade do flúor.

Revisão Bibliográfica

A utilização da designação de frango “tipo caipira” foi normatizada pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) (Souza et al., 2015). A ração destes animais pode ser produzida na propriedade ou adquirida pronta, mas sempre levando em consideração que a alimentação deve ser devidamente balanceada, com o intuito de serem alcançados bons resultados produtivos. Para isso, devem ser consideradas as fases da vida do animal, raça, finalidade produtiva e o sexo(Cruz, 2015). A hidroxiapatita, Ca10(PO4)6(OH)2, é o constituinte mineral do osso natural, representando de 30 a 70% da massa dos ossos e dentes. Essa grande fixação de flúor nos ossos ocorre, pois o ânion fluoreto (F-) trata-se de uma base de Lewis, considerada uma base “dura” pelo conceito de Pearson, tendo, portanto, alta afinidade química por ácidos considerados “duros” por Pearson, que é o caso do cátion Ca2+, o qual é encontrado na hidroxiapatita dos ossos. Vale lembrar que a hidroxiapatita é formada por fosfato de cálcio cristalino (Ca10(PO4)6(OH)2), representando um depósito de 99% do cálcio corporal e 80% do fósforo total de nosso organismo (Teixeira et al., 2016). Vários estudos têm sido desenvolvidos considerando a toxicidade do flúor, o que se dá pela ingestão de certas doses desse elemento, sendo a ingestão pelo animal obtida de variadas fontes, em certo período de tempo (Junqueira, 2004). A digestibilidade aparente é dada pelo coeficiente dos dados obtidos por dois tipos de coleta (coleta total e indicador fecal). O objetivo desta análise consiste em avaliar a digestibilidade, utilizando compostos indigestíveis como a cinza ácida insolúvel (CAI), referente a qual Carvalho et al. (2013) verificaram que a recuperação de CAI nas fezes foi de 100%, podendo ser utilizado como indicador fecal. As fontes estudadas por Lima (1995) foram fluoreto de sódio (NaF) com 45,24% de flúor, fluoreto de cálcio (CaF2) com 48,72%, fosfato monoamônico (NH4H2PO4) com 0,17%, fosfato supertriplo (P2O5) com 0,70%, fosfato monobicálcico granulado com 0,08%, fosfato monobicálcico comercial com 0,08% e fosfato monocálcico com 0,02%.

Materiais e Métodos

Foram utilizados 120 frangos tipo caipira, da linhagem Pesadão, com peso médio inicial de 646 ± 74 g, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial (2 X 2), sendo dois fosfatos (Bicálcico e Monobicálcico), duas formas físicas das fontes (pó e microgranulado), uma dieta referência e uma dieta contendo calcário (controle positivo), totalizando seis tratamentos experimentais. Foram utilizadas cinco repetições e quatro frangos por unidade experimental (dois machos e duas fêmeas). Os tratamentos foram: Dieta referência (Ref.); CALC.= Ref. + Calcário (controle positivo); FP18= Ref.+ Fosfato pó 18%; FM18= Ref. + Fosfato microgranulado 18%; FP20= Ref. + Fosfato pó 20 %; FM20= Ref. + Fosfato microgranulado 20%. Foram utilizadas duas metodologias para avaliação simultânea da digestibilidade do flúor (coleta total e o método do indicador fecal). A cada ração experimental foi adicionado 1% de celite® como indicador. Os parâmetros determinados são; o consumo de alimento (g); o consumo de matéria seca (g); o consumo de flúor total; da ração basal e do alimento (g); o flúor fornecido pela ração basal e pelo alimento (%); o teor de flúor nas rações e fezes (%); a excreção de flúor (g); o fator de indigestibilidade (CAI: Cinza Ácida Insolúvel); o flúor excretado pelos animais que receberam a ração com baixo teor de flúor (%) e as cinzas. A análise estatística dos parâmetros determinados nos experimentos foi realizada pelo Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG), desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa (UFV) (2000), utilizando-se os procedimentos para análises de variância e as médias entre os tratamentos contendo diferentes fontes e granulometria dos fosfatos, sendo que  as duas metodologias de determinação de digestibilidade foram comparadas pelo teste SNK (5,0%). As médias de todos os tratamentos foram comparadas com o controle positivo (calcário) pelo teste Dunett (5,0%).

Resultados e Discussão

Na tabela 1, estão descritos os dados referentes ao balanço de flúor das fontes testadas e os coeficientes de digestibilidade aparente, determinados a partir de dados obtidos sob duas metodologias de coleta (coleta total e indicador fecal).  Não houve diferença (P>0,05) entre as fontes de flúor para os seguintes parâmetros: porcentagem de flúor na ração em matéria seca (MS); consumo diário de ração g/animal/dia (MS) e excreção fezes diária g/animal/dia (MS), pelo método da coleta total. Entretanto, foram observadas diferenças entre os fosfatos bicálcicos e monobicálcicos. Nessa determinação, o consumo de flúor/animal/dia total (MS); flúor retido g/animal/dia (MS); % de flúor total nas fezes (MS) e a excreção de flúor nas fezes g/animal/dia (MS) foi maior nos tratamentos contendo fosfato monobicálcico, devido ao maior nível de flúor neste tipo de fosfato. Observa-se que a maior digestibilidade aparente do flúor é proveniente do calcário, quando comparada com as outras fontes de flúor do presente trabalho, o que pode ser devido à presença da fluorita (CaF2), que é a composto mais comum de ser encontrado nas reservas de calcário, isto em função do cálcio e do flúor terem grande afinidade química (Couto, 1987). Não houve diferença (P>0,05) entre os métodos de determinação da digestibilidade do flúor nas fontes minerais para os parâmetros de coeficiente digestibilidade aparente F da ração (%) e coeficiente digestibilidade aparente F da fonte mineral teste. Apesar de não haver diferença, foi observado maior valor do coeficiente de variação para o método do indicador fecal em comparação ao método de coleta total. Além disso, Bünzen et al. (2009) compararam os métodos de coleta total e do indicador fecal e não verificaram diferenças entre eles para os coeficientes de digestibilidade aparente e verdadeiro.  Apesar de não ter observado diferença a nível de 5% de probabilidade, foi observada diferença (P<0,07) entre os fosfatos sobre o coeficiente digestibilidade aparente do flúor da fonte de fosfato pelo método da coleta total, no qual os fosfatos bicálcicos obtiveram os maiores valores de digestibilidade do flúor. Além disso, foi observada diferença (P<0,05) entre a granulometria dos fosfatos sobre o coeficiente de digestibilidade aparente F da fonte de fosfato pelo método da CAI, no qual os fosfatos granulados obtiveram os maiores valores de digestibilidade do flúor. Estes resultados estão de acordo com o NRC (2005), que registra que a absorção do flúor varia com a forma física e/ou constituição química da fonte em que ele se encontra. Godoy (2000), avaliando a retenção de flúor em fontes de fósforo para bovinos, observou que a retenção de flúor aparente (%) para os fosfatos: Rio (tricálcico), Monte (tricálcico) e SFT (monocálcico), foram de 68,3; 76,4 e 75,4, respectivamente.

Conclusões

Os fosfatos bicálcicos em relação ao monobicálcico possuem maior digestibilidade do flúor pelo método da coleta total. Os fosfatos microgranulados em relação ao pó possuem maior digestibilidade do flúor pelo método do indicador - cinza ácida insolúvel (CAI). Os valores da digestibilidade fecal aparente das diferentes fontes de minerais não variam em função da metodologia empregada no estudo.

Gráficos e Tabelas




Referências

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