SOBREVIVÊNCIA DE MUDAS DE AMENDOIM FORRAGEIRO PLANTADAS EM PASTAGEM PERENE TROPICAL CONSOLIDADA

Lauro Rubin1, Suelen Chagas da Luz de Moraes2, Andréa Michele Pereira Viana3, Isabella Torres Soares4, Vicente Victório Schuster5, Adriano Rudi Maixner6
1 - Universidade Federal de Santa Maria- Campus Palmeira das Missões
2 - Universidade Federal de Santa Maria
3 - Universidade Federal de Santa Maria
4 - Universidade Federal de Santa Maria
5 - Produtor Rural
6 - Universidade Federal de Santa Maria

RESUMO -

A sobrevivência de dois tipos de mudas de amendoim forrageiro foi testada no estabelecimento de pastagem perene tropical consolidada. Mudas foram condicionadas nos tubetes plásticos durante 90 dias para enraizamento e estolões com porção de raiz foram colhidos no dia anterior ao plantio, realizado em 05/01/2016. Foram utilizadas parcelas de 16 m2, com covas espaçadas em 1 m. A sobrevivência das mudas foi avaliada 30 dias após o plantio, pela contagem das mudas vivas nas covas. As mudas produzidas em tubetes plásticos apresentaram maior sobrevivência (99%) que as de estolão com porção raiz (53%). Apesar de apenas metade dos estolões com porção de raiz ter sobrevivido, o resultado pode ser avaliado como satisfatório quando considerados a agilidade e baixo custo da confecção dessa muda. O sucesso com o uso das mudas produzidas em tubetes indica que materiais alternativos podem ser pesquisados para sua confecção, preferencialmente de baixo custo, fácil aquisição e alta biodegradabilidade.

Palavras-chave: Amarillo, Arachis pintoi, estolão, leguminosa, tubete.

SURVIVAL OF PEANUTS FORAGE SEEDLINGS PLANTED ON CONSOLIDATED PERENNIAL TROPICAL PASTURE

ABSTRACT - The survival of two seedlings types of forage peanut was tested at the establishment in a consolidated perennial tropical pasture. Seedlings were conditioned in the plastic tubes during 90 days for rooting and stolons with root portion were harvested the day before planting, performed on 01/05/2016. Plots of 16 m2 were used, with holes spaced 1 m. The seedlings' survival was evaluated 30 days after planting, by counting the live seedlings in the holes. The seedlings produced in plastic tubes presented higher survival (99%) than stolons with root portion (53%). Although only half of the stolons with root portion survived, the result can be evaluated as satisfactory when considering the agility and low cost of making this kind of seedling. The success with the use of seedlings produced in tubes indicates that alternative materials can be searched for their manufacture, preferably those with low costs, easy to acquire and high biodegradability.
Keywords: Amarillo, Arachis pintoi, stolon, legumes, recipient tube.


Introdução

Pastagens naturais são um importante recurso forrageiro no Rio Grande do Sul, caracterizadas pela diversidade em composição botânica e potencial produtivo, com predominância de gramíneas tropicais perenes. A introdução de leguminosas em sistemas forrageiros repercute em melhorias na produção vegetal e animal, incrementando produção de leite e carne em decorrência da melhor oferta de nutrientes na pastagem (Azevedo Junior et al., 2013) quando existe associação de gramíneas e leguminosas tropicais. O amendoim forrageiro é uma leguminosa tropical promissora para o Sul do Brasil, pois apresenta boa digestibilidade e aceitabilidade pelos animais, além de formar pastagens perenes mesmo com as baixas temperaturas de inverno. O estabelecimento desta forrageira pode ser feito através de sementes ou mudas, mas a oferta de sementes comerciais é baixa e com custo elevado. O estabelecimento através de mudas, por sua vez, é dificultado pelos custos de plantio, pela baixa viabilidade das mudas (que se desidratam rapidamente) e o lento desenvolvimento inicial. Uma das formas de expandir as áreas cultivadas com a forrageira é pelo plantio de mudas com parte aérea e sistema radicular já formado, utilizando, por exemplo, tubetes plásticos. O objetivo desse estudo foi verificar a sobrevivência de mudas de Arachis pintoi introduzidas em pastagem naturalizada consolidada a partir de estolões com porção de raiz ou mudas produzidas em tubetes, na região central do Rio Grande do Sul.

Revisão Bibliográfica

Pastagens naturais são um importante recurso forrageiro no Rio Grande do Sul, caracterizadas pela diversidade em composição botânica e potencial produtivo, com predominância de gramíneas tropicais perenes. A associação de gramíneas e leguminosas tropicais em sistemas forrageiros repercute em melhorias na produção vegetal e animal, incrementando a oferta de nutrientes na pastagem (Azevedo Junior et al., 2013; Ziech, 2014). O amendoim forrageiro é uma leguminosa tropical promissora para o Sul do Brasil, pois apresenta boa digestibilidade e aceitabilidade pelos animais, além de formar pastagens perenes mesmo com as baixas temperaturas de inverno. A espécie aparece como uma importante opção na tentativa de melhorar os sistemas de produção de ruminantes e vários estudos têm demonstrado sua adaptação na região (Olivo et al., 2009; Paris et al., 2009; Nascimento et al. 2010). O sucesso no estabelecimento dessa leguminosa pode ser limitado, especialmente em áreas com vegetação consolidada ou alta incidência de invasoras. Embora a formação das pastagens de amendoim forrageiro seja mais rápida com o uso de sementes, é usual a implantação a partir de material vegetativo (mudas), pois alguns cultivares produzem poucas sementes e altos custos estão relacionados ao seu processo de colheita - já que as sementes se desenvolvem abaixo do nível do solo (Ziech, 2014). Por isso, na prática, a oferta de sementes comerciais é baixa e com custo elevado. O estabelecimento através de mudas, por sua vez, é dificultado pelos custos de plantio, pela baixa viabilidade das mudas (que se desidratam rapidamente) e o lento desenvolvimento inicial (baixa competitividade). Probst et al. (2009) demonstram resultados experimentais com sobrevivência de 90% das mudas de amendoim forrageiro com a parte aérea e radicular já formadas enquanto aquelas plantadas por estolão tiveram morte total. Então, uma alternativa para aumentar a taxa de sobrevivência no plantio por via vegetativa pode ser o transplante de mudas com o sistema radicular e aéreo já formado, utilizando, por exemplo, tubetes plásticos. Eles são comumente empregados na produção de mudas florestais e conciliam praticidade na fase de produção da muda e no seu transporte até o campo (Probst, 2009). Contudo, esta técnica representa uma etapa de enraizamento prévio, que envolve mão-de-obra, tempo e custo de produção, tornando essencial a avaliação dos tipos de mudas em situações específicas, como subsídio para a tomada de decisão.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido em uma propriedade no distrito de Boca do Monte na cidade de Santa Maria, localizada na Depressão Central do Rio Grande do Sul. O clima da região é classificado como Cfa, com temperatura média anual de 19,4 °C e variação de 10,4 ºC durante o ano. A precipitação anual varia entre 800 a 1300 mm, sendo maio o mês mais chuvoso com 191 mm e novembro o mais seco com 121 mm. Em 08/10/2015, foram coletados estolões de 20 cm de comprimento, com porção de raiz, e plantados em tubetes plásticos cônicos com 3 cm de diâmetro na parte superior e 12 cm de comprimento. Utilizou-se substrato comercial hortícola misturado com 20% de terra do matrizeiro, peneirada. As mudas foram regadas diariamente e mantidas 30 dias em ambiente com 50% de sombreamento e em pleno Sol até a implantação a campo. Na data de plantio, as mudas de tubetes apresentavam tamanho médio de 20 cm de parte aérea e 12 cm de raízes. Estolões de cerca de 30 cm de comprimento, com porção de raiz, foram colhidos no dia anterior ao plantio a campo (05/01/2016). As mudas de amendoim forrageiro foram plantadas em pastagem perene naturalizada, roçada na data do plantio a altura média de 8 cm do nível do solo e com massa de matéria seca total de 2344 kg ha-1. Os tratamentos foram dispostos em parcelas de 4x4 m, em delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Foram utilizados dois estolões com porção de raiz ou uma muda produzida em tubete em cada cova, distantes 1m entre linhas e plantas uma da outra (16 covas/parcela). Um trado metálico cônico (no formato do tubete e com delimitador de profundidade) foi utilizado para a formação das covas. Em 04/02/2016, cada cova foi revisada e contabilizada a presença ou ausência de mudas vivas de amendoim forrageiro em cada cova, calculando-se a sobrevivência percentual em relação ao total de covas plantadas. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

As mudas produzidas em tubetes apresentaram sobrevivência superior (99%, P<0,05) em relação aos estolões com porção de raiz (53%). O melhor desempenho da muda oriunda de tubetes é explicado no fato de existir o desenvolvimento substancial de raízes e acúmulo de reservas na muda previamente ao plantio a campo, tornando-a mais tolerante à desidratação e favorecendo o crescimento precoce no local definitivo. Isso, por outro lado, é resultado de técnica com maiores custos em materiais, tempo e mão-de-obra, envolvidos na produção da muda em tubetes, que deve ser levado em consideração na opção pelo tipo de muda a utilizar. Apesar de apenas metade dos estolões com porção de raiz ter sobrevivido, o resultado pode ser avaliado como satisfatório quando considerados a agilidade e baixo custo da confecção da muda e a ocorrência de estiagem nos 20 primeiros dias após o plantio. Mesmo com a menor densidade de mudas sobreviventes nas áreas estabelecidas com estolões, por se tratar de espécie forrageira perene é possível que, no longo prazo, sua participação na composição da comunidade vegetal atinja equilíbrio semelhante às áreas estabelecidas a partir de mudas produzidas em tubetes. Para Probst (2009), a utilização de mudas de amendoim forrageiro com a parte aérea e radicular já formadas pode repercutir em sobrevivência acima de 90%, enquanto aquelas plantadas por estolão, não raro, têm morte total. O autor ainda indica a ocorrência regular de precipitação como um fator decisivo para o sucesso no estabelecimento de amendoim forrageiro a partir de mudas, especialmente as de estolões. Outro fator determinante pode estar relacionado à pequena cova aberta pelo trado metálico, colaborando com a manutenção da estrutura e da umidade do solo no local dos plantios e minimizando os efeitos da estiagem no ambiente radicular, para ambos os tipos de muda. Os tubetes plásticos utilizados não são comumente encontrados para venda em pequenas quantidades e sua aquisição em maior volume não se justifica para uso pontual na produção de mudas para formação de pastagens. Probst (2009) ressalta a necessidade de um sistema de produção de mudas que concilie praticidade e baixo custo, além da facilidade da operação na etapa de transplante. O sucesso com o uso de tubetes indica que materiais alternativos podem ser estudados para sua confecção, preferencialmente àqueles de baixo custo, fácil aquisição e alta biodegradabilidade.

Conclusões

As mudas confeccionadas em tubetes plásticos apresentaram maior sobrevivência que as de estolão com porção de raiz. Apesar de apenas metade dos estolões com porção de raiz ter sobrevivido, o resultado pode ser avaliado como satisfatório quando considerados a agilidade e baixo custo da confecção dessa muda. O sucesso com o uso das mudas produzidas em tubetes indica que materiais alternativos podem ser buscados para sua confecção, preferencialmente àqueles de baixo custo, fácil aquisição e alta biodegradabilidade.


Referências

Azevedo Junior, R. L. de; Olivo, C. J.; de Bem, C. M.; Aguirre, P. F., Quatrin, M.P.; Ávila, S.C. de. 2013. Nutritional value and chemical composition of pastures of peanut forage or red clover. Acta Scientiarum. Animal Sciences. 35:57-62. Nascimento, I. S. do; Monks, P. L.; Vahl, L. C. 2010. Aspectos qualitativos da forragem de amendoim forrageiro cv. Alqueire-1 sob manejo de corte e adubação PK. Revista Brasileira de Agrociência, 16:117-123. Olivo, C. J.; Ziech, M. F.; Meinerz, G. R.; Agnolin, C. A.; Tyska, D. e Both, J. F. 2009. Valor nutritivo de pastagens consorciadas com diferentes espécies de leguminosas. Revista Brasileira de Zootecnia. 38:1532-1542. Paris, W.; Cecato, U.; Martins, E. N.; Limão, V. A.; Galbeiro, S.; Oliveira, E. de. 2009. Estrutura e valor nutritivo da pastagem de Coastcross -1 consorciada com Arachis pintoi, com e sem adubação nitrogenada. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. 10:513-524 Probst, R. 2009. Produção de mudas de forrageiras com diferentes soluções nutritivas e implantação em lavoura anual. Dissertação (M.Sc.). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Probst, R.; Quadros, S. A. F. de; Erpen, J. G.; Vincenzi, M. L. 2009. Produção de mudas de espécies forrageiras no sistema hidropônico de leito flutuante (floating) com solução nutritiva à base de biofertilizante ou adubo solúvel. Acta Scientiarum. Animal Sciences. 31:349-355. Ziech, M. F. 2014. Dinâmica da produção e valor nutritivo de pastagens do gênero Cynodon consorciadas com amendoim forrageiro estolonífero. Tese (D.Sc.). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil.