Parâmetros sanguíneos de jundiás submetidos a estratégias alimentares e utilização de Lippia alba na dieta

Ranieri Guedes do Amaral1, Rafael Lazzari2, Letiely Francine Rodrigues dos Santos3, Eduardo Kelm Battisti4, Samuel Marasca5, Juliano Uczay6, Thamara Luísa Staudt Schneider7, Adelita Rabaioli8
1 - Universidade Federal de Santa Maria - Campus Palmeira das Missões
2 - Universidade Federal de Santa Maria - Campus Palmeira das Missões
3 - Universidade Federal de Santa Maria
4 - Universidade Federal de Santa Maria
5 - Universidade Federal de Santa Maria
6 - Universidade do Estado de Santa Catarina
7 - Universidade Federal de Santa Maria - Campus Palmeira das Missões
8 - Universidade Federal de Santa Maria - Campus Palmeira das Missões

RESUMO -

Neste estudo foram avaliados os parâmetros hematológicos em peixes, um indicador importante para avaliar o estado de saúde dos animais. Sendo assim, foram avaliados parâmetros sanguíneos de jundiás submetidos a estratégias alimentares com pó de Lippia alba na dieta. Foram utilizados 360 juvenis de jundiá (Rhamdia quelen), durante 63 dias, com peso médio inicial aproximado de 6,25g±3,18 (20 por tanque). Observou-se que os peixes alimentados com 0,5% de pó da folha de L. alba, tiveram os parâmetros hematológicos piorados. Conclui-se que a estratégia alimentar pode ser utilizada com curto período de restrição e a dieta testada, com a adição do pó da folha de L. alba para juvenis de jundiá não é recomendada.

Palavras-chave: Rhamdia quelen, estratégia alimentar, parâmetro hematológico, Lippia alba

Blood parameters of silver catfish submitted to food strategies and use of Lippia alba in the diet

ABSTRACT - In this study the hematological parameters in fishes were evaluated, an important indicator to evaluate their health state. Therefore, the blood parameters of silver catfish were evaluated, submitted to food strategies with L. alba powder in the diet. 360 juveniles of silver catfish (R. quelen) were used for 63 days. With initial mean weight approximately 6.25g ± 3.18 (20 per tank). It was observed that fish fed 0.5% of L. alba leaf powder, worsened haematological parameters of fish. It is concluded that the food strategy can be used with a short period of restriction and the diet tested, with the addition of L. alba leaf powder for silver catfish juveniles is not recommended.
Keywords: Rhamdia quelen, food strategy, hematological parameter, Lippia alba


Introdução

A demanda de pescado tem aumentado mundialmente, principalmente, por ser considerado um alimento adequado a alimentação humana. No Brasil, com o crescimento da economia e as alterações nos padrões de consumo alimentar, há grande expectativa no aumento do consumo de pescado pela população. O uso de produtos naturais ganha destaque na nutrição e sanidade animal, pois são menos prejudiciais ao meio ambiente e menos agressivos à saúde humana, no que se refere aos resíduos presentes nos alimentos. A espécie L. alba vem sendo explorada em diferentes áreas, devido seu potencial (SOARES e TAVARES-DIAS, 2013). No Brasil, nos últimos anos tem aumentado a demanda pela criação de peixes em cativeiro, dentre as espécies nativas, o jundiá (Rhamdia quelen), que pertence à ordem Siluriforme, família Hepteridae, a qual, merece destaque na Região Sul do país, pois apresenta desenvolvimento satisfatório durante o inverno (BOCKMANN e GUAZZELLI, 2003). A hematologia é uma ferramenta para avaliar a condição fisiológica em peixes e auxilia no diagnóstico de doenças. A partir de amostras de sangue, é possível realizar exames bacteriológicos, parasitológicos, bioquímicos, toxicológicos, sorológicos, assim tendo a sua importância como estudo evolutivo (RANZANI-PAIVA et al., 2013). Devido ao exposto, buscou-se avaliar diferentes estratégias alimentares e o uso do pó da folha de L. alba no metabolismo e os parâmetros sanguíneos do jundiá (Rhamdia quelen).

Revisão Bibliográfica

Desde a década de 70, estudos sobre o crescimento compensatório em peixes são conduzidos, pois os peixes manifestam várias alterações fisiológicas, resultando em implicações para a aquicultura. Estas respostas podem, nos sistemas de produção, resultar na menor quantidade de ração fornecida, custos com mão de obra, redução da emissão de efluentes durante o período de restrição e melhora na conversão alimentar quando o fornecimento de ração é normalizado. Entretanto, há necessidade de se conhecer as implicações da restrição alimentar em peixes nativos, como o jundiá (ALI et al. 2003). Segundo Ali et al. (2003), existem diferentes graus de compensação para peixes que passaram por restrição alimentar, sendo estes: sobre-compensação – animais atingem maior tamanho, em um mesmo período de tempo, comparado aos animais que não sofreram restrição de alimento; compensação total - atingem o mesmo tamanho, no mesmo tempo que os animais alimentados continuamente; compensação parcial – não atingem o mesmo tamanho no mesmo tempo, porém apresentam uma alta taxa de crescimento e eficiência alimentar; não compensação – não ocorrem respostas compensatórias no período de realimentação, após a privação alimentar. Durante a restrição, é observado um decréscimo da taxa de crescimento do animal, que resulta em alterações fisiológicas e morfológicas, como a redução do tamanho do trato gastrointestinal e fígado, além da exigência energética de manutenção possibilitando regular a taxa metabólica basal, que, por sua vez, induzirá um decréscimo na exigência da alteração corporal, resultando na diminuição dos estoques corporais de nutrientes para a manutenção do peixe (SOUZA et al., 2000). A L. alba vem sendo pesquisada atualmente na piscicultura e largamente utilizada na medicina popular (AGUIAR et al., 2008). É uma planta de arbusto aromático, cujo aroma está relacionado aos constituintes predominantes aos óleos essenciais, que podem variar em função de diversos fatores, como: estações do ano, época de floração, idade da planta, quantidade de água circulante, resultante da precipitação, fatores geográficos e climáticos (TAVARES et al., 2005). Em razão do enorme crescimento da produção de peixes, é cada vez mais importante que o bem-estar desses animais em seus ambientes de cultivo seja monitorado. Sendo necessário entender as respostas celulares, teciduais e orgânicas dos peixes quando alimentados com rações variadas, fármacos e suplementos alimentares (FIUZA et al., 2011).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Laboratório de Piscicultura da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus Palmeira das Missões – Rio Grande do Sul (RS). Foram utilizados 18 tanques com volume de 250L, em sistema de recirculação de água e filtragem biológica. Foram utilizados 360 juvenis de jundiá (Rhamdia quelen) com peso médio inicial aproximado de 6,25g±3,18 (20 por tanque). Durante todas as manipulações os peixes foram anestesiados com benzocaína (35 mg/L). A L. alba utilizada nas rações foi cultivada na UFSM - Campus Frederico Westphalen – RS e as dietas foram confeccionadas no Laboratório de Piscicultura na UFSM - Campus Palmeira das Missões – RS. O manejo de alimentação foi: alimentação diária, sem restrição (7A-0R); seis dias de alimentação, seguido de um dia de restrição (6A-1R); cinco dias de alimentação, seguido de dois de restrição (5A-2R). Ambas as estratégias alimentares, ao final da semana, receberam a mesma quantidade de ração, equivalente a 35% da biomassa, além de todas as estratégias receberem alimentação duas vezes ao dia, quando alimentadas. O ajuste da quantidade de ração foi feito semanalmente através da pesagem da biomassa de cada unidade experimental. No final do experimento foi coletado sangue de 10 peixes por tratamento, por punção caudal com auxílio de seringas e agulhas descartáveis contendo EDTA a 10%. A análise hematológica se deu a partir de hematócrito (HT), hemoglobina (HB), eritrócitos (ERIT), volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). Para contagem total de eritrócitos foi diluído o plasma em formol citrato e posteriormente foi realizada a contagem com auxílio de microscópio óptico em câmara de Neubauer. A hemoglobina foi determinada por espectrofotometria. Para o cálculo dos índices foi utilizado as seguintes fórmulas: VCM= (hematócrito*10)/número de eritrócitos; HCM= (hemoglobina*10)/número de eritrócitos; CHCM= (hemoglobina*100)/hematócrito.

Resultados e Discussão

No presente estudo, foram observados efeitos significativos das estratégias alimentares nos parâmetros de HB e CHCM, onde o tratamento com 2 dias de jejum obteve valor inferior aos demais. Para a HCM o tratamento com 1 dia de jejum foi menor que nos animais alimentados diariamente. Os níveis de Lippia alba influenciaram nos parâmetros de HT, VCM, HCM e na concentração de CHCM. Os parâmetros de HT e VCM na dieta controle apresentaram os menores valores, enquanto de HCM e CHCM apresentaram valores maiores (Tabela 1). Os parâmetros sanguíneos apresentaram diferença significativa entre tratamentos e os níveis de L. alba. As estratégias alimentares tiveram efeitos sobre as concentrações de HB, VCM e CHCM que foram inferiores nos tratamentos com privação alimentar, enquanto a adição de L. alba resultou em aumento no número de HT e VCM, e na diminuição de HCM e CHCM. Os parâmetros sanguíneos indicam alterações negativas no estado de higidez (TAVARES-DIAS et al. 2003), a concentração de hemoglobina para peixes saudáveis é de 10g/100dL, podendo variar segundo a espécie, as alterações nutricionais, as condições ambientais, a fase de crescimento (POST., 1987) e a estação do ano (LOCHMILLER et al., 1989), resultados esses que divergem com o presente estudo, o qual obteve valor médio de 3,86±0,48. Com isso, esses resultados hematológicos remetem a um quadro anêmico o que pode estar associado ao menor desempenho produtivo desses animais. A diminuição da taxa de HB com a privação alimentar pode ter sido ocasionada pelo fato dos peixes terem passado por períodos de jejum que os leva a uma condição de estresse. Ranzani-Paiva (1999) relata que a concentração de HB e CHCM variam inter e intraespécie e tais variações podem ser atribuídas a fatores exógenos, como a temperatura, concentração de oxigênio dissolvido na água, ciclo sazonal, estresse e fatores endógenos, tais como sexo, estágio de maturação gonadal, estado nutricional e doenças. Entretanto, com a adição do pó da folha de L. alba esta diminuição pode ter ocorrido pela menor biodisponibilidade do ferro, que está relacionada com a presença de fatores antinutricionais inibidores da absorção desse mineral (AGUIAR et al., 2014). Possivelmente, esses antinutrientes são taninos ou outros compostos fenólicos, que podem diminuir a absorção do ferro, por formarem complexos insolúveis entre si, afetando a biodisponibilidade do mineral (CARVALHO et al., 2006). Resultados encontrados por Prusty et al. (2007) em estudo com a adição de taninos na dieta de Labeo rohita, mostraram que a presença desse composto provocou diminuição dos eritrócitos e da taxa de hemoglobina nos peixes, dados este que corroboram com o presente trabalho.

Conclusões

Com base nos parâmetros sanguíneos, o recomendado como estratégia alimentar para juvenis de jundiá é o manejo de um curto período de restrição alimentar de apenas 1 dia de restrição, sem o acréscimo de pó da folha de L. alba para evitar que o peixe passe por um estado de anemia.

Gráficos e Tabelas




Referências

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