MÉTODOS DE ARMAZENAMENTO DO SORO DE LEITE E DESEMPENHO DE LEITÕES EM FASE DE CRECHE

FLORENCE DALILA PERES1, MILENA ALVES DA SILVA SOUZA2, ADRYZE GABRIELLE DORÁSIO DE SOUZA3, JEAN KAIQUE VALENTIM4, ESTEFANIA FERREIRA DIAS5
1 - UFVJM
2 - IFMG - Campus Bambuí
3 - IFMG - Campus Bambuí
4 - UFVJM
5 - UFVJM

RESUMO -

A alimentação é o componente de maior participação no custo de produção na suinocultura.Para se obter o máximo desempenho na fase de creche e,ao longo da vida do suíno é necessária a adoção de um programa efetivo de alimentação.Dietas com produtos lácteos melhoram a taxa de crescimento de leitões, lácteos conhecidos como o soro de leite,subproduto da fabricação do queijo,pode ser utilizado na alimentação de suínos.Este trabalho teve como objetivo analisar o desempenho dos leitões utilizando diferentes níveis de soro de leite na ração e mostrar qual a melhor forma de conservação do soro.Foram utilizados 20 leitões machos com peso médio de 6 kg±0,200g com idade de 23 dias.Os tratamentos foram baseados na inclusão do soro de leite na ração controle.Conclui-se que a utilização do soro de leite em dietas na fase de creche é viável até 7%,pois apesar de aumentar o consumo de ração, melhora a conversão alimentar e o melhor método de conservação do soro é mantê-lo resfriado por até uma semana.

Palavras-chave: alimento alternativo, fase de creche, desempenho

METHODS OF STORAGE OF WHEY AND PERFORMANCE OF DAY-CARE PIGLETS

ABSTRACT - Pig farms have undergone profound technological changes in recent decades,mainly aimed at increasing productivity and reducing production costs.Feeding continues to be the largest component of production cost and to achieve maximum performance in the day-care phase.Diets with dairy products can improve the growth rate of piglets, so there are dairy products known as whey, which is a by-product of cheese manufacture and can be used in pig feed.The objective of this work was to show the best way of preserving whey and the performance of pigs using different levels of whey in the diet.Twenty male piglets with a mean weight of 6 kg±0,200g were used at age 23 days.The treatments were based on the inclusion of whey in the control diet. With this work we can conclude that the best method of preserving whey is to keep it cooled for up to a week. The use of whole whey in piglet diets in the day-care phase is feasible up to 7%,because despite increasing feed consumption,feed conversion improves.
Keywords: alternative food, day-care phase, whey, swine breeding


Introdução

A suinocultura brasileira, a exemplo de outras cadeias produtivas do agronegócio, cresceu significativamente. Esse crescimento é notado quando se analisa os vários indicadores econômicos e sociais, como volume de exportações, participação no mercado mundial, número de empregos diretos e indiretos, entre outros. (GONÇALVES & PALMEIRA, 2006). O soro de leite é pouco aproveitado no setor tecnológico alimentício, representando ainda um grande desperdício nutricional e financeiro, sendo grandes volumes enviados para nutrição de suínos, ou direcionados a sistemas de tratamento de efluentes com baixa eficiência ou altos custos, este desperdício está aliado ao valor nutritivo do soro de leite, leva a direcionar a atenção do meio científico ao seu estudo, para a criação de alternativas economicamente viáveis para o aproveitamento de suas proteínas (alto valor nutricional e comercial), sua gordura residual e principalmente a lactose, a qual é uma das responsáveis pela contaminação de mananciais (SERPA et al., 2009). O soro de leite pode ser fornecido aos leitões na sua forma natural líquida. Embora essa prática seja conhecida pelos suinocultores, poucos estudos científicos foram realizados para avaliar a viabilidade técnica e econômica de leitões na fase de creche alimentados com soro de leite integral. Este trabalho objetivou mostrar a melhor forma de conservação do soro de leite e o desempenho dos suínos na fase de creche utilizando diferentes níveis de soro de leite na ração.

Revisão Bibliográfica

A alimentação é o componente de maior participação no custo de produção, exigindo uma atenção especial dos suinocultores. O consumo do leitão na fase de creche representa apenas 2,6% do total de ração sólida até o abate, no entanto, necessita de uma escolha cuidadosa dos alimentos, na formulação correta das rações, e também, na correta mistura dos ingredientes. (ZARDO & LIMA, 1999). Na fase de creche que acontece logo após o desmame, a composição da dieta dos leitões muda drasticamente, sendo o leite da porca substituído por uma dieta com maior nível de matéria seca e a lactose pelo amido, ao passo que a caseína do leite (de alto valor biológico) é substituída por proteínas vegetais menos digestíveis para o leitão, também associadas, muitas vezes, a problemas de hipersensibilidade no trato gastrointestinal, sendo assim, uma queda de desempenho é observada após o desmame, em função dos problemas advindos da imaturidade fisiológica do trato gastrointestinal frente ao novo alimento (BRUNO, 2010). O  soro  do  leite  é  o  líquido  resultante  da  separação  da  caseína  e  da  gordura  do  leite  no processo  de  elaboração  do  queijo,  apresentando  alto  valor  nutricional,  com  mais  da  metade  dos sólidos presentes no leite integral original, incluindo a maior parte da lactose, minerais e vitaminas hidrossolúveis e cerca de 20% das proteínas do leite. Embora o soro de leite contenha substâncias de  alto  valor  nutricional  (HARAGUCHI  et  al.,  2006;  SILVA  et  al.,  2004),  ainda  é  pouco  aproveitado  e grandes   volumes   são   desperdiçados,   sendo constituinte   das   águas   residuárias   advindas   dos lacticínios e direcionado diretamente aos corpos receptores ou em sistemas de tratamento com baixa eficiência,  contaminando  drasticamente  o  meio  ambiente,  caracterizando  grave  impacto  negativo das indústrias de laticínios no mundo (HOSSEINI et al., 2003).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na suinocultura do IFMG – campus Bambuí de outubro a dezembro de 2013. Utilizou-se 20 leitões machos com peso médio de 6 kg ± 0,200g com idade de 23 dias. Os animais foram distribuídos em 5 tratamentos com inclusão do soro de leite integral (em gramas),onde os tratamentos foram baseados na inclusão o soro de leite na ração controle: D0- Dieta testemunha sem soro; D1– substituição de 7% da dieta D0 por soro de leite; D2–substituição de 14% da D0 por soro de leite e D3 – substituição de 21% da dieta D0 por soro de leite; D4 – substituição de 28% da dieta D0 por soro de leite, com 4 repetições por tratamento em delineamento inteiramente casualizado. As dietas experimentais foram elaboradas com milho e farelo de soja e formuladas de acordo com ROSTAGNO (2011).A alimentação foi fornecida duas vezes ao dia, sendo na manhã (09:00 horas) e a tarde (15:00 horas). O soro de leite foi fornecido pelo Laticínio do campus, conservado em refrigeração (8°C), transportado até a suinocultura e incluído à ração. Para avaliação da eficiência da conservação do soro, utilizou-se três formas de armazenamento: T1=Soro de leite integral in natura resfriado, mantido a uma temperatura de 8ºC; T2=Soro de leite pasteurizado e resfriado, mantido a uma temperatura de 8ºC; T3=Soro de leite pasteurizado e congelado, mantido a uma temperatura de -2ºC. Os soros obtidos de cada tratamento foram armazenados por 3 semanas sendo submetidos a análise de acidez Dornic (ºD) semanalmente. Os parâmetros avaliados foram a acidez em graus Dornic, consumo de ração em kg (CR), conversão alimentar (CA) e ganho de peso médio diário em kg (GPMD). Foram realizadas coletas dos dados ao final de cada semana até aos 65 dias de idade. Os dados referentes ao consumo diário de ração foram obtidos pela quantidade de ração fornecida medida diariamente. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as diferenças significativas entre as médias comparadas pelo teste de Tukey.

Resultados e Discussão

Os resultados de desempenho estão representados na tabela 1. O ganho de peso diferiu (P<0,05) ente os tratamentos. As dietas com 7% (D1) e 14% (D2) de soro não diferiram entre si (P<0,05). As dietas com 21% (D3) e 28% (D4) apresentaram os piores ganhos de peso entre os tratamentos. Os leitões alimentados com a dieta com 7% (D1) de inclusão de soro de leite tiveram o maior consumo médio de ração por dia (P<0,05). As dietas 21% (D3) e 14% (D2) de soro não diferiram entre si (P<0,05), mas os leitões consumiram mais ração do que nas dietas com 28% (D4) e dieta sem soro de leite (D0). Os leitões alimentados com as dietas sem soro de leite e com 28% (D4) de inclusão de soro de leite tiveram o menor consumo médio por dia (P<0,05). As dietas com 21% e 28% de inclusão apresentaram os piores ganhos de peso entre os tratamentos devido à redução no consumo.A energia metabolizável das dietas apresentou redução gradativa com a inclusão crescente do soro, que pode explicar a redução no ganho de peso, com o nível de substituição de soro de leite, indicando uma carência significativa nos níveis de nutrientes necessários para seu desenvolvimento, como descrito por BERTOL et al. (1996).Os leitões alimentados com a dieta com 7% de inclusão de soro de leite tiveram o maior consumo médio de ração por dia (P<0,05) e melhor conversão alimentar. As dietas com 21% e 14% de soro não diferiram entre si (P<0,05), mas consumiram mais ração do que nas dietas com 28% e D0, contribuindo para o melhor desempenho em relação à conversão. Os leitões alimentados com as dietas sem soro de leite com 28% de soro tiveram o menor consumo médio por dia e pior CA. (P<0,05) conforme tabela 1. Embora não haja relatos consolidados do uso do soro de leite para suínos, em um experimento similar Hauptli (2005) concluiu que a utilização de soro de leite em níveis de até 21% em dietas de leitões na creche melhora a conversão alimentar, como foi observado neste experimento, para o nível de 7% de inclusão.Leitões alimentados com soro de leite no período pós-desmame apresentaram aumento no consumo de ração quando comparados a leitões inicialmente alimentados com dietas baseadas em milho e farelo de soja (NESSMITH et al., 1997). Dados estes, que corroboram com os obtidos no presente estudo. As análises do soro são  apresentadas na tabela 2. O que determina a acidez do soro inicial (S0) é sua composição físico-química.A acidez é determinada pela multiplicação de bactérias presentes.Após a primeira semana de armazenamento (S1) o soro de leite integral in natura variou sua acidez de 11ºD a 16ºD,este foi armazenado em câmara fria sobre temperatura de 8ºC. Os dados mostram que o soro de leite pasteurizado na segunda semana de armazenamento (S2) obteve uma acidez de 21ºD; e o soro de leite pasteurizado e congelado, obteve níveis de acidez de 22ºD na primeira semana de armazenamento.Pode ser explicado pois o descongelamento do soro foi realizado a temperatura ambiente antes da realização da análise e fornecimento.

Conclusões

  Com a realização deste trabalho pode-se concluir que o soro de leite in natura é viável com 7% de inclusão na alimentação, pois apesar de aumentar o consumo, melhora a conversão alimentar. Em função da maior praticidade de uso, pode-se perceber nas condições avaliadas,  que o método mais acessível a uma unidade de produção é apenas manter o soro de leite “in natura” sobre refrigeração.  O melhor método de conservação do soro foi o mantido resfriado por até uma semana a uma temperatura de 8ºC.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRUNO, D. G. Soro de leite: Utilização na alimentação animal e aspectos qualitativos – nutrition for tomorrow – 22/09/2010.   BERTOL, T.M. et al. Soro de leite integral na alimentação dos suínos. Suinocultura Dinâmica, Ano V, .17, 8p, 1996.   GONÇALVES, R. G.; PALMEIRA, E. M. Econômia do Brasil, Suinocultura Brasileira - Revista acadêmica de economia con el Número Internacional Normalizado de Publicaciones Seriadas ISSN 1696-8352 N°71, diciembre 2006.   HARAGUCHI, F. K.; ABREU, W. C.; PAULA, H. Proteínas do soro do leite: composição, propriedades nutricionais, aplicações no esporte e benefícios para a saúde humana. Revista de Nutrição, v.19, p.479-488, 2006.   HAUPITLI, L. Níveis de soro de leite integral na dieta de leitões na creche. Ciência Rural, Santa Maria, v35, n.5, p. 1161-1165, set-out, 2005.   HOSSEINI, M.; SHOJAOSADATI, S. A.; TOWFIGHI, J. Application of a bubble-column reactor for the production of a single-cell protein from cheese whey. Chemical Engineering Research, v.42, p.764-766, 2003.   NESSMITH, W.B. et al. Evaluation of the interrelationships among lactose and protein sources in diets for segregated early-weaned pigs. J Anim Sci, n.75, p.3214–3221, 1997.   ROSTAGNO, H. S. Tabelas brasileiras para aves e suínos; composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa: UFV, 2011. 252p.   SILVA, K.; BOLINI, H. M. A.; ANTUNES, A. J. Soro de leite bovino em sorvete. Alimentos e Nutrição, v.15, p.187-196, 2004.   SERPA, L.; PRIAMO, W. L., REGINATTO, V. Destino Ambientalmente Correto a Rejeitos de Queijaria e Análise de Viabilidade Econômica. 2nd International Workshop, Advances in Cleaner 5 Production KEY ELEMENTS FOR A SUSTAINABLE WORLD: ENERGY, WATER AND CLIMATE CHANGE São Paulo – Brazil – May 20th -22nd – 2009.   ZARDO, A. O.; LIMA, G. J. M. M. Alimentos para Suínos. Ano 8, BIPERS nº12 Boletim Informativo de Pesquisa Embrapa Suínos e Aves e Extensão da EMATER/RS., Rio Grande do Sul, 1999.