PERFIL SÉRICO DE CAPRINOS CASTRADOS E INTEIROS SUPLEMENTADOS COM VITAMINA E (ACETATO –ALPHA – TOCOFEROL)

Saulo AntonioAraujo Mesquita1, Danilo Rodrigues Barros Brito2, José Antonio Alves Cutrim Junior3, Lucimeire Amorim Castro4, Igor Cassiano Saraiva Silva5, Anderson Lopes Pereira6, Carlos Nunes da Silva Neto7, Edneide Marques da Silva8
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RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi caracterizar o perfil sérico de caprinos castrados e inteiros suplementados ou não com vitamina E. A pesquisa foi conduzida no Setor de Ovinocaprinocultura do IFMA, São Luís – Campus Maracanã. Os tratamentos foram determinados na forma fatorial 2 x 2, com quatro combinações de categoria animal (Inteiros ou Castrados), aplicando Vitamina E intramuscular. Foram avaliadas as concentrações de Cálcio, Magnésio, Ferro, Proteína Albumina, Ureia, Creatinina, Glicose e das enzimas AST, GGT e ALP. Não houve efeito (P>0,05) entre as condições fisiológicas e nem da suplementação com Vitamina E para as concentrações médias de Proteína, Cálcio, Fósforo, Albumina, Globulina, Ureia, Creatinina, GGT, Glicose Ferro e Magnésio. Houve influência (P<0,05) da Vitamina E para as variáveis AST e ALP que ficaram abaixo dos valores de referência entre os tratamentos inteiro e castrado.

Palavras-chave: bioquímica, confinamento, suplementação

SERIES PROFILE OF CASTRATED AND ENTIRE SUPPLEMENTED GOATS WITH VITAMIN E (ACETATE -ALPHA - TOCOFEROL)

ABSTRACT - The objective of this work was to characterize the serum profile of castrated / whole goats supplemented with vitamin E. The research was conducted in the Sector of Ovinocaprinoculture of IFMA, São Luís - Maracanã. The treatments were determined in factorial form 2 x 2, with four combinations of animal category (Whole or Castrated), applying intramuscular Vitamin E. The concentrations of Calcium, Magnesium, Iron, Albumin Protein, Urea, Creatinine, Glucose and AST, GGT and ALP were evaluated. There was no effect (P> 0.05) between physiological conditions nor vitamin E supplementation for the average concentrations of Protein, Calcium, Phosphorus, Albumin, Globulin, Urea, Creatinine, GGT, Iron and Magnesium Glucose. There was influence (P <0.05) of Vitamin E for the AST and ALP variables.
Keywords: biochemistry, confinement, supplementation.


Introdução

Um dos problemas encontradas na região Nordeste, bem como no estado do Maranhão, é a nutrição a qual caprinos são submetidos, caracterizada geralmente por alimento de baixa qualidade, que acaba comprometendo o desempenho produtivo e a sanidade do rebanho. A vitamina E ou alfa-tocoferol está disponível nos vegetais e pastos verdes, óleo de sementes e como éster acetato sintético. É uma molécula lipossolúvel presente nas membranas celulares e nas lipoproteínas plasmáticas (HALLIWEL, 1991). É conhecido como um importante antioxidante não enzimático, que rompe reações em cadeia nos estágios iniciais de lipoperoxidação, controla a biosíntese de prostaglandinas e a produção de heme nos eritrócitos, mantêm a integridade da membrana dos eritrócitos e dos vasos sanguíneos capilares, inibe a agregação plaquetária, potencializa as funções imunológicas, previne a distrofia muscular nutricional e encefalomalácia e influencia o status  reprodutivo dos animais, protegendo as células de estresse oxidativo e de danos da membrana e do DNA (SIKKA, 2004). Este trabalho teve como objetivo, caracterizar o perfil bioquímico, levando - se em consideração as alterações metabólicas e a bioquímica sérica, de caprinos castrados e inteiros suplementados com vitamina E (Acetato – α – Tocoferol).

Revisão Bibliográfica

As proteínas plasmáticas são fontes de aminoácidos, componentes essenciais de todas as dietas, e formam a base da estrutura celular, órgãos e tecidos, mantêm a pressão colóideosmótica, catalisam reações bioquímicas na forma de enzimas, mantém o equilíbrio ácido base, são reguladoras como hormônios, atuam na coagulação sanguínea, na defesa humoral como anticorpos e servem de carreadores e transporte para muitos constituintes plasmáticos (CUNNINGHAN e KLEIN, 2008). A albumina e as frações alfa e beta globulinas são sintetizadas no fígado, e a gama globulina nos tecidos linfóides (THRALL, 2007). Para a análise de proteínas, dentro de um perfil básico, inclui-se a determinação de proteína total e dos teores de albumina e globulinas (GONZÁLEZ e SILVA, 2006). Para Lopes et al. (1996) a melhor maneira de se avaliar as alterações da proteína total é através da interpretação do quociente albumina:globulina (A:G), associado, quando possível, com o perfil eletroforético das proteínas. A uréia é sintetizada no fígado a partir da amônia, que é proveniente do catabolismo de proteínas e da reciclagem de amônia do rúmen. Os níveis séricos de uréia são analisados em relação ao nível de proteína na dieta e ao funcionamento renal (GONZÁLEZ e SILVA, 2006). A creatinina plasmática é formada da degradação da creatina nos músculos e a sua concentração depende da taxa de síntese e de excreção. A taxa de síntese ocorre de forma constante, porém a creatinina é totalmente excretada pelos glomérulos, não havendo reabsorção tubular (KANEKO et al., 1997). Exercícios prolongados, doenças musculares ou emagrecimento pronunciado podem afetar os valores de creatinina. A enzima aspartatoaminotransferase (AST) está amplamente distribuída nos tecidos, e é encontrada principalmente no fígado, eritrócitos e nos músculos esquelético e cardíaco (KERR, 2003). É utilizada para avaliar lesão muscular, e em ruminantes, é um bom indicador do funcionamento hepático (GONZÁLEZ e SILVA, 2006). A enzima gama glutamiltransferase (GGT) possui alta atividade em ruminantes e encontra-se associada às membranas, mas também está no citosol, especialmente nos epitélios dos dutos biliares e renais, embora possa ser encontrada no pâncreas e no intestino delgado, mas somente aquela de origem hepática está normalmente presente no plasma, pois a de origem renal é excretada na urina (GONZÁLEZ e SILVA, 2006).

Materiais e Métodos

A pesquisa foi conduzida no Setor de Ovinocaprinocultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus São Luís – Maracanã. Os tratamentos foram as combinações entre condição fisiológica (Castrado e Não castrado), e uso ou não de Vitamina E via intramuscular com aplicação semanal, num delineamento inteiramente casualizado em arranjo fatorial 2x2 com 5 repetições. Animais foram castrados aos cinco meses de idade. Os animais utilizados tinham aproximadamente 8 meses de idade, peso vivo inicial médio de18 kg, sem padrão racial definido (SPRD), alocados em baias individuais. Foram alimentados com volumoso (feno de capim-tífton-85), concentrado, fornecida água “ad libitum”, e sal. As dietas foram formuladas segundo NRC (2007) permitindo um ganho de peso médio diário de 150 g/dia. O confinamento compreendeu um período de 14 primeiros dias destinados a adaptação dos animais às baias e dietas experimentais e 60 dias para o período experimental destinado a coleta de dados. A coleta de sangue foi realizada via punção da veia jugular, sendo avaliado as concentrações séricas de cálcio total (método Labtest), fósforo (método de Basques-Lustosa), magnésio (Labtest), ferro (método de Goodwil), proteína total (método do biureto), albumina (método do azul de bromocresol), uréia (método da urease) e creatinina (método cinético), teor plasmático de glicose (método da ortotoluidina) e as atividades séricas das enzimas aspartato-amino-transferase-AST (Reitman-Frankel), gama-glutamil-transferase-GGT (Szasz modificado) e fosfatase-alcalina-ALP (Labtest). As leituras dos parâmetros bioquímicos foram realizadas em espectrofotômetro semiautomático, em comprimentos de onda específicos para cada constituinte, e em dosador de íons seletivos. . As médias foram comparadas por meio do teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Como ferramenta de auxílio às análises estatísticas, foi utilizado o procedimento PROC GLM, do pacote estatístico SAS (SAS INSTITUTE, 2003).

Resultados e Discussão

Não houve influência entre as reações fisiológicas e nem da suplementação com vitamina E para as concentrações médias de Proteína (5,79 mg/dL) e Cálcio (11,20 mg/dL), Fósforo (6,78 mg/L), Albumina (2,11 g/dL), Globulina (3,65 g/dL), Ureia (38,35 mg/dL), Creatinina (0,68 mg/L), Glicose (56,29 mg/dL) e GGT (39,60 UI/L), Ferro (143,54 mg/dL) e Magnésio (1,84 mg/dL) (tabelas 01 e 02). Os valores médios obtidos para a variável Cálcio encontram-se dentro dos limites de referência propostos por Kaneko et. al. (1997). O fato dos valores de Cálcio estarem dentro da normalidade em animais jovens, não representa alta taxa de desenvolvimento e mobilização óssea, justificado pela menor reabsorção renal, mesmo estando em fase de crescimento (BARIONI, 2001) (tabela 01). Os valores médios para Fósforo (6,78 mg/L), deste trabalho, se aproximaram aos de Barioni et. al. (2001), que obteve 11,05 mg/L., entretanto, os valores médios da Albumina (2,11 g/dL) e da Globulina (3,65 g/dL), foram diferentes dos obtidos pelo mesmo autor, ao avaliar cabras Parda Alpina, que apresento 3,41 g/dL e 2,97 g/dL (tabelas 01e 02). Os valores de ureia entre os grupos testados não ficaram dentro do intervalo de referência para a espécie, apresentados por Yanaka et. al. (2012), que foram de 64,32 a 133,15 mg/dL. A atividade da GGT se assemelham aos resultados de Yanaka, que apresentou os valores dentro da faixa de normalidade (20 a 56 UI/L), assim como os valores encontrados para glicose (50 a 75 mg/dL), que se apresentaram dentro das referências para animais adultos (tabela 02). Não houve influência (P>0,05) da suplementação com Vitamina E, nem da condição fisiológica dos animais para os valores médios de Ferro (143,54 mg/dL) e Magnésio (1,84 mg/dL). Segundo González & Silva (2006) fatores como a anemia hemolítica, doenças hepáticas, leucemia aguda, transfusões sanguíneas, dentre outros, podem aumentar os valores de ferro no plasma. Silva et. al. (2013) obteve valores séricos diferentes para Magnésio, onde foi obtido 2,48 mg/dL em sua média geral, ao avaliar o perfil mineral do soro sanguíneo de ovelhas em lactação (tabela 01). Houve diferença estatística (P<0,05) dos grupos suplementados ou não com vitamina E para as variáveis AST e ALP. Os animais com e sem suplementação apresentaram médias das atividades de AST (77,47 UI/L) e ALP (60,31 UI/L) abaixo das referências para espécie (93 a 387 UI/L) e (167 a 513 UI/L), respectivamente, determinados por Kaneko (1989). Ha divergências na literatura quanto às variações de AST, em função da faixa etária (YANAKA, 2009).  No entanto, os valores séricos de ALP em caprinos podem aumentar até dez vezes sem evidencia de dano hepático (KRAMER, 1989), e a elevação pode ocorrer durante os períodos que envolvem maior atividade óssea, como a fase de crescimento (MEYER et. al.,1995) (tabela 02).

Conclusões

As atividades das enzimas se mantiveram abaixo dos valores de referência para caprinos, indicando que a suplementação com vitamina E não influenciou a função hepatobiliar e/ou óssea dos animais. Entretanto, variáveis como Ferro, creatinina e ureia que apresentaram valores fora das referências de normalidade podem relatar alguma disfunção orgânica do animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

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